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sábado, 30 de maio de 2015

Steve McQueen: O maior "filho da mãe" do cinema




McQueen pilotando de verdade o Mustang em "Bullit"
Ele foi o maior “filho da mãe” que já existiu no cinema. Steve McQueen era várias pessoas numa só. Honesto, desonesto, amável, odioso, modesto, presunçoso, inteligente, maduro, infantil. Era capaz de jurar amor eterno à esposa e ter um caso logo a seguir. Era desatento com os amigos, mas extremamente generoso com estranhos. Falava sobre os perigos das drogas, mas não conseguia evitá-las. Os paradoxos eram fascinantes em Steve McQueen, que era o derradeiro paradoxo. Sua complexidade era tão grande assim como a lista de mulheres que ele levou para cama. O ator sempre foi tido como uma pessoa difícil e competitiva, mas ao mesmo tempo de uma intensidade e generosidade humana enorme. Buscou autenticidade em todos os seus papéis no cinema, desde pilotar ele mesmo os carros e motos nas perseguições de “Bullit”, “Le Mans” e “Fugindo do Inferno”, a cortar o cano de uma arma para ser mais autêntico ou mesmo desafiar Yul Brynner com as técnicas de Lee Strasberg no set de “Sete Homens e um Destino”.
Colecionou carros, aviões e motos, teve mais de 100, assim como mulheres, das quais teve bem mais. Era um grande “come quieto”: roubou Ali Mcgraw de Robert Evans nas filmagens de “The Getaway“, de Sam Peckinpah, em 1972. Evans o odiou para sempre. Não poupou as esposas e namoradas de outros atores, produtores e diretores. Mas nunca cedeu às investidas de Natalie Wood por ser grande amigo de Robert Wagner. Semeava a discórdia e inveja por onde passava. Parte dos atores hollywoodianos o detestavam e quase nunca o indicavam para prêmio algum. Não foi nomeado ao Oscar por “Papillon” (recebeu apenas uma nomeação na vida), o maior papel de sua carreira e, quando foi indicado ao Globo de Ouro, pediu que enviassem o prêmio pelo correio.
Com Ali McGraw em "The Getaway",
um de seus inúmeros casos amorosos
Seu maior rival no cinema foi Paul Newman. Chegaram a brigar para ver quem teria o nome em maior destaque no cartaz de “Inferno na Torre”. Assim também foi com Brynner, Faye Dunaway e Dustin Hoffman, a quem ele dava conselhos não muito bem aceitos pelo colega de “Papillon”. Mas foi Bruce Lee, seu grande amigo e professor, quem mais o invejou na vida. Chegaram a discutir por cartas para ver quem era o mais famoso. McQueen dizia que ele queria ser o McQueen da Ásia. Já com James Coburn e Robert Wagner existia uma admiração mútua e grande amizade.
A rebeldia do “King of Cool” era fruto de um lar violento e do pai que ele não conheceu segundo alguns amigos. Isso fez com que ele fosse para um reformatório na juventude e depois saísse na busca de um sucesso que, por fim, ele considerou efêmero. No início da carreira, o ator fez muitos filmes por dinheiro e depois acabou repudiando e criticando o sistema de Hollywood. Recusou ofertas milionárias de filmes como “Apocalypse Now”, “Dirty Harry” e “Operação França” e optou por fazer as suas escolhas. Muitas delas em produções duvidosas e de fracassos comerciais anunciados, Mesmo assim, seu legado para filmes que envolvem ação e perseguições é considerado enorme até hoje. Como esquecer a cena de “Bullit” em que McQueen fez sua própria pilotagem, neste que foi o primeiro filme com som ao vivo da história (sim, sem usar nada de sonoridade adicional!), ou ele de novo se aventurando a pilotar uma moto Triumph em “Fugindo do Inferno”, tudo porque os pilotos alemães eram lentos demais. O cara era de Indianápolis, tudo explicado.
A rara última foto do ator
antes de morrer, em 1980
Em 1980, o ator foi diagnosticado com um câncer raro de pulmão. Neste ano ele filmaria “The Hunter”, seu último filme. McQueen saiu em busca da cura e foi ao México. Tentou todas as formas alternativas para conter a doença: dietas, ervas, curas holísticas, etc. Mas nada foi eficiente e o câncer se alastrou. Ele dizia que estava nas mãos de Deus e que o divino já tinha sido generoso antes, pois há anos atrás o ator tinha sido convidado para o jantar na casa de Roman Polanski na noite em que os Manson fizeram a chacina que matou a atriz Sharon Tate e mais quatro pessoas. Ele teria ligado a ela e desistido na última hora. Mesmo assim, nada foi suficiente. Em novembro de 1980, ele sucumbiria aos 50 anos de uma vida breve mas cheia de intensidade e brilhantismo a uma doença causada pelo contato com amianto. Martin Landau disse certa vez: “Sei que poucos vão chorar por este ‘filho da mãe’, mas entre 2 mil atores da audição histórica de Lee Strasberg, só eu e eles passamos, entende, só eu e ele, ele era um ‘filho da mãe’ e tanto".
Depois de sua morte, soube-se que McQueen em seus anos de reclusão visitava em segredo entidades sociais e doava milhões a lares de crianças e idosos. Em um destes lares sentado ao chão ao lado de um menino, ele disse com lágrimas nos olhos: "Aqui é muito difícil, lá fora também é, a vida não é como nos filmes, mas jamais percam seus sonhos e suas esperanças, tio Steve sempre estará aqui”. E assim foi.


terça-feira, 26 de abril de 2016

15 filmes essenciais de prisão



Assim como os de gângster ou que retratam a Segunda Guerra Mundial, os filmes de prisão são bastante atrativos. Até mesmo os mais puramente aventurescos, como “Condenação Brutal”, com Sylvester Stallone, ou “A Rocha”, com Sean Connery, se estiverem passando na TV te puxam para que se assista pelo menos um pouco ou mesmo daquele ponto até o final. De fato, os filmes sobre sistema prisional guardam uma magia especial. Talvez porque, assim como os de gângster ou Segunda Guerra, muitas vezes se baseiem em fatos reais. Quando não, são tão passíveis de verdade quanto um verídico, haja vista a identificação que seus personagens geram junto ao espectador ou mesmo pelas barbaridades que geralmente denunciam, sejam ficção ou não. Não raro estão em jogo os mais basais direitos humanos.

Desta forma, busquei listar 15 títulos bem abrangentes e interessantes sobre o tema. De produções europeias a asiáticas, passando pelos cinemas brasileiro (bem representado), argentino e, claro, norte-americano, que domina largamente neste quesito. Desde clássicos do passado até os dias de hoje, os Estados Unidos são imbatíveis em filmes de prisão. Valeu entrarem filmes não apenas de penitenciária – embora sejam a maioria – mas também de cadeias comuns e de prisioneiros de guerra. De presos políticos, como nos essenciais “A Confissão” (Costa-Gavras) ou “Pra Frente, Brasil” (Roberto Farias), ficaram para uma outra seleção. Como valeu apenas longas-metragens, merece menção honrosa “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, curta-metragem de Jorge Furtado e José Pedro Goulart, uma obra-prima que, inclusive, completa 30 anos de seu lançamento em 2015.

Sem ordem de preferência, a condição foi a de que a história se passe, se não inteiramente, pelo menos a maior parte do tempo dentro das celas, sendo-lhes um elemento narrativo preponderante. Assim, ficaram de fora ótimos exemplares como “Dançando no Escuro”, de von Trier, “O Último Imperador”, de Bertolucci, ou “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, que têm, sim, sequências em prisões, mas relatam muito mais do que isso em suas tramas. No nosso caso, não basta: tem que estar encarcerado mesmo, atrás das grades, em cana, no xadrez, detido, vendo o sol nascer quadrado. Então, “teje preso” a esses 15 títulos essenciais sobre prisão:


- “O Homem de Alcatraz”, de John Frankenheimer (“Birdman of Alcatraz” - EUA, 1962)
Com a mão do craque John Frankenheimer, diretor que nunca se omitiu de mostrar mazelas do sistema norte-americano e nem de aprofundar aspectos psicológicos muitas vezes relegados à superficialidade, este filme traz a realidade de uma penitenciária típica dos Estados Unidos a partir de um conflito entre o pragmatismo e o humanismo. Um prisioneiro (Robert Stroud, por Burt Lancaster) condenado pelo assassinato de dois homens passa a vida na cadeia. Lá se torna um autodidata sobre pássaros, sendo reconhecido mundialmente como uma grande autoridade no assunto. Mas, apesar de demonstrar regeneração e um intelecto superior, o Estado se recusa a libertá-lo.






- “O Processo de Joana D’arc”, de Robert Bresson (“Procès de Jeanne D´Arc” - FRA, 1962)
 A austeridade e sobriedade de Robert Bresson emprestam ao filme uma narrativa absolutamente austera, desde o uso de atores não-profissionais até o centramento exclusivo aos documentos oficiais sobre o caso, passado no século XV. Para muitos o grande filme do diretor, “O Processo...” mostra outro tipo de prisão, a religiosa, uma vez que a iluminada Joana era considerada bruxa pelas visões e percepções espirituais que tinha naturalmente. Com rigor, Reconstituiu a prisão, o julgamento e a execução da mártir.






- “Fugindo do Inferno”, de John Sturges (“The Great Escape” - EUA, 1963)
Clássico filme de prisão de guerra à época da Segunda Guerra e baseado em fatos reais. Aliados tentam fugir de um campo de concentração alemão, o Stalag Luft III, considerado como o mais seguro do gênero. Elenco impagável com Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, Charles Bronson, James Coburn, entre outros feras. Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama.









- “Rebeldia Indomável”, de Stuart Rosemberg (“Cool Hand Luke” - EUA, 1967)
Filme impactante e com a excelente atuação de Paul Newman, que faz o rebelde e inconsequente Luke Jackson. Preso, ele recusa-se a obedecer as regras do local e ganha o respeito dos demais presidiários por sua valentia e malandragem. Insiste em fugir, mas a cada nova recaptura as punições são mais severas, aumentando constantemente o ódio entre ele e os guardas. Indicado ao Oscar, Newman não levou este, que foi para o ator coadjuvante, George Kennedy. Porém, em 2003, seu personagem Luke foi escolhido pelo American Film Institute (AFI) como o trigésimo maior herói dos filmes norte-americanos.







Dustin Hoffman e Steve McQueen
em "Pappilon"
- “Papillon”, de Franklin Schaeffner (EUA, 1973)
Obra-prima ainda pouco valorizada, esta superprodução é dos filmes mais realistas e impactantes do gênero. Conta a história verídica de Henri Charrière (Steve McQueen, novamente encarcerado), conhecido como Papillon, que, apesar de reclamar inocência da acusação de assassinato, é condenado à prisão perpétua e enviado para cumprir a sentença na Guiana Francesa, na Ilha do Diabo, num presídio de segurança máxima. A direção de Schaeffner não deixa nada às escuras: as torturas, a fome, as punições, a desumanidade do presídio, está tudo ali. McQueen, impecável, assim como Dustin Hoffman (o amigo francês Dega). Incrivelmente, recebeu apenas indicações no Oscar e Globo de Ouro, mas não levou nada. Das injustiças históricas.




- “O Expresso da Meia-Noite”, de Alan Parker (“Midnight Express” - ING, 1978)
Dos mais impactantes e dramáticos filmes do gênero, passa-se, ao contrário das jaulas superequipadas dos Estados Unidos, numa insalubre e insana prisão da Turquia. O saudoso Brad Davis interpreta magistralmente Billy Hayes, um estudante norte-americano que é pego traficando drogas num aeroporto de Istambul. Não só vai parar numa prisão degradante, onde é torturado física e psicologicamente, como ainda recebe como exemplo uma pena mais rigorosa que o normal. Parker, em ótima fase, leva o espectador a entrar num mundo de introspecção e loucura, dando um sentido metafórico e simbólico ao título. Oscar de Melhor roteiro adaptado, de Oliver Stone, e de Melhor Trilha Sonora, com os marcantes temas synth-pop de Giorgio Moroder.




- “Alcatraz – Fuga Impossível”, de Don Siegel (“Escape from Alcatraz” - EUA, 1979)
Para muitos, o maior filme de penitenciária já realizado, o que não é nenhum absurdo. Ápice da parceria entre Siegel e Clint Eastwood, que interpreta Frank Morris, um condenado que tem várias tentativas de fugas em seu histórico e é enviado para a prisão de segurança máxima da Ilha de Alcatraz, conhecida por não deixar nenhum preso fugir ou sair vivo numa escapada. Porém, obstinado e calculista, Frank vê os pontos vulneráveis de Alcatraz e, com a ajuda de alguns outros internos, cria uma rota de fuga perigosa e improvável. Não tem como não torcer pelo bandido!




- “Furyo – Em Nome da Honra”, de Nagisa Oshima (“Merry Christmas, Mr. Lawrence” - JAP/ING/NZL, 1983)
Raro filme do sempre profundo Oshima, que reúne dois gênios da música como atores: David Bowie (em sua melhor atuação no cinema) e Ryuichi Sakamoto, que assina também a ótima trilha. Na Segunda Guerra, num campo de concentração na Ilha de Java, o prisioneiro inglês Jack Celliers (Bowie) provoca um conflito quando decide não obedecer às rígidas regras do capitão Yonoi (Sakamoto), insolência repudiada com violência. Porém, o oficial inglês se mantém irredutível, o que enfurece ainda mais o capitão. Interessante reflexão sobre orgulho, honra e os limites humanos tanto físicos quanto psicológicos.






Sônia Braga nos lances oníricos
do filme.
- “O Beijo da Mulher Aranha”, de Hector Babenco (BRA/EUA, 1984)
Um dos cineastas mais talentosos vivos, Babenco está nesta lista com dois filmes. Um deles é este até então raro acerto de coprodução brasileira com os EUA, uma vez que, quando se fazia, prevalecia o poderio yankee. Com equilíbrio, Babenco consegue fazer com que Milton Gonçalves e José Lewgoy ficassem no mesmo nível de William Hurt (Oscar de Melhor Ator pela atuação) e Raul Julia, sem falar, claro, na participação mais que especial de Sônia Braga. As sequências em que Hurt e Julia contracenam na cela são históricas em diálogos e afinação entre atores, pois, além de talentosos, nota-se que estão muito bem dirigidos.




- “Memórias do Cárcere”, de Nelson Pereira dos Santos (BRA, 1984)
Prêmio da crítica em Cannes e Melhor Filme em Moscou (quando o evento ainda era importante), este épico do cinema brasileiro é uma aula de construção narrativa, a qual dialoga metalinguisticamente o tempo todo com a obra de memórias escrita por Graciliano Ramos, quando este fora preso na vida real pelo governo Getúlio Vargas. Ainda, atuações impecáveis de Carlos Vereda, José Dumont, Tonico Pereira, os saudosos Jofre Soares e Wilson Grey e da jovem Glória Pires. Cenas memoráveis, como a “transmissão” da Rádio Libertadora dentro do quartel, o momento da deportação de Olga Benário e a ajuda dos presos a esconderem os escritos do  suposto livro, entre outras várias. 





- “Barrela: Escola de Crimes”, de Marco Antonio Cury (BRA, 1990)
Daqueles filmes que tem tudo para ser monótono, mas o roteiro, as atuações e a direção são tão bons que formam uma obra coesa. O texto teatral de Plínio Marcos se encaixa com densidade à adaptação cinematográfica, sustentada no jogo certo de distribuição das falas de cada personagem (todos MUITO nem construídos) e nas atuações intensas de cada um dos atores. São seis presos condenados a longas penas e confinados numa cela onde cada qual disputa seu espaço. A situação se torna mais angustiante quando junta-se a eles um jovem de classe média preso durante briga. Frustração, tristeza, humilhação, autoproteção. Plínio Marcos tece tudo isso numa teia em que coabitam o amor mais profundo e inalcançável ao abandono concreto e degradante.






- “Um Sonho de Liberdade”, de Frank Darabont (“The Shawshank Redemption” - EUA, 1994)
Junto com “Alcatraz”, disputa o posto de grande filme de prisão da história. Emocionante, toca em temas fortes como morte, amizade, religião, injustiça e desejos essenciais do ser humano. Em 1946, Andy Dufresne (Tim Robbins), um bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao ser condenado por um crime que nunca cometeu, o homicídio de sua esposa e do amante dela. É mandado para a Penitenciária Estadual de Shawshank, para cumprir pena perpétua. Lá, conhece muita gente, desde o corrupto e cruel agente penitenciário, o prisioneiro Ellis Boyd Redding (Morgan Freeman), com que faz amizade, e até Al Capone, que cumpria sua pena lá depois de ser pego por Elliot Ness. Figura na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos pelo AFI.



- “Carandiru”, de Hector Babenco (BRA, 2003)
Outro de Babenco, este ainda mais imerso na questão prisional. Ao contrário de “O Beijo...”, entretanto, faz o movimento narrativo inverso: parte do ambiente social para o da prisão, estabelecendo uma permanente comotivação entre os dois espaços – física e psicologicamente. De narrativa moderna, faz com estes paralelismos um dos melhores filmes nacionais da primeira década dos anos 2000, estabelecendo diversos atores que se tornariam astros nos anos seguintes, como Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Caio Blat. A história, baseada no best seller do médico e escritor Dráuzio Varella, culmina no fatídico Massacre de 1992. Filmaço.






Os próprios presos constroem a
narrativa no documentário.
- “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, de Paulo Sacramento (BRA, 2003)
Brilhante documentário de Sacramento em que ele coloca os próprios presos a construir com ele o filme, numa cocriação que reforça o realismo documental da proposta. Utilizando as técnicas aprendidas em um curso de filmagem ministrado dentro do presídio, os detentos encarcerados no maior centro de detenção da América Latina, o Carandiru, documentam seu cotidiano, registrando as condições precárias nas quais sobrevivem. Filmado 10 anos após o Massacre do Carandiru, que custou a vida de mais de uma centena de detentos, mostra o quanto uma tragédia como esta promovida pelo Estado não se apaga com facilidade, haja vista as marcas inapagáveis nas pessoas e na sociedade.



- “Leonera”, de Pablo Trapero (ARG – 2008)
Do grande cineasta argentino Pablo Trapero, um dos maiores da atualidade, tem a peculiaridade de contar a vida dentro de uma penitenciária feminina, no caso uma para mães e grávidas sentenciadas. No caso de Julia (a bela e talentosa Martina Gusman), acusada de um crime sem provas, o filme mostra sua adaptação à nova realidade social, o que a transforma intimamente. Porém, seu desejo de fugir dali nunca esmorece, e é isso que a move. Não é o melhor de Trapero, mas guarda várias qualidades de seu cinema.





domingo, 9 de novembro de 2014

Robert Evans: o homem que bancou Coppola


Não sei o que mais chama a atenção nesta foto: a superbarba do Lee Marvin, o tapa-olho do John Wayne ou a elegância do Clint. Mas uma coisa eu sei: o que tem as mais escabrosas histórias a contar é o Robert Evans. O homem já era um milionário da Costa Leste, ligado à indústria da moda, quando foi descoberto por Norma Shearer nadando numa piscina de hotel em LA. Virou ator famoso, ainda que medíocre. Não se contentou: queria ser o novo Darryl Zanuck, o bambambam dos estúdios de “OIiú”. E conseguiu. Como produtor, tirou a Paramount da ingrata nona posição entre os maiores estúdios para o primeiro lugar – em apenas quatro anos, entre o fim dos 60 e o começo dos 70. Produziu “Love Story”, "O Poderoso Chefão", “Ensina-me a Viver”, “Chinatown” e “Maratona da Morte”.
Quando ninguém queria dirigir o filme inspirado no livro de Mario Puzo, foi ele quem teve a ideia de chamar Coppola, um jovem de 30 anos que tinha feito três fracassos até então, mas que reunia uma virtude: era o único diretor ítalo-americano da época. E um filme sobre a máfia só funcionaria se fosse comandado por alguém "de dentro" – até então, a maioria dos filmes de gângster eram dirigidos por judeus. E não emplacavam.
À época de ‘Love Story” (filme que causou uma explosão de nascimentos de crianças nove meses depois do lançamento), Evans casou com a Ali McGraw. Era rico, bonito, bem-sucedido, tinha a mulher mais linda da época e linha direta com Henry Kissinger. Enfim, a vida mais invejável do mundo, aparentemente. Mas ele se preocupava demais em trabalhar. Em novos sucessos. Depois de dois meses na Europa comercializando os direitos de “O Poderoso Chefão”, Evans lembrou de ligar para a esposa, que filmava “Os implacáveis”, com Steve McQueen. Pobre Evans. Logo para quem acabou perdendo a mulher. "Você poderia ser o homem mais poderoso do mundo, mas perder a esposa para McQueen fazia me sentir insignificante", reconheceu.
Dali em diante, Evans ainda emplacou algumas coisas nos anos 70, como o próprio “Chinatown”, baseado num roteiro que ninguém entendia. "Eu não compreendia aqueles diálogos, mas se o Robert Towne garantia que era bom, então eu insisti", relembra. Valeu e pena, tanto que ganhou tudo quanto é prêmio, como todos sabem. Fato é que a traição pesou. Nos 80, Evans apostou todas as suas fichas em “Cottom Club”, também de Coppola e com o Richard Gere, que acabou sendo um fracasso. Ali, na verdade, o próprio produtor já estava fracassando. Pirou na cocaína, foi parar num hospital psiquiátrico – de onde conseguiu fugir a muito custo. Perdeu sua mansão em LA. Como não conseguia se desvencilhar da velha vida, acabou alugando a ex-casa para morar. Pagava 25 mil dólares mensais – isso estando quebrado. A casa acabou recomprada por Jack Nicholson, que presenteou o amigo com o pequeno regalo.

Quando recomeçava, foi acusado de assassinato, em um processo inconclusivo que levou quase uma década. Nos 90, recomeçou como produtor, tentando emplacar porcarias como “O Santo”, “O Fantasma” e “Jade”. Ganhou dinheiro (e provavelmente mais alguma coisa da Sharon Stone) com “Invasão de Privacidade”. Na prática, a melhor coisa que fez desde então foi escrever o livro "The Kid Stays in the Picture", que deu origem ao documentário "O Show Não Pode Parar", de 2002 – onde conta tudo isso. Na carreira, no entanto, fico em dúvida entre as coisas pelas quais mais o admiro: 1) Ter batido pé para Coppola estender “O Poderoso Chefão”, quando o diretor entregou o filme com 2h7min; 2) Ter metido a mão na trilha de “Ensina-me a Viver”, colocando Cat Stevens no filme mais sui generis que já vi; ou, claro, 3) Ter casado com a Ali McGraw. Cara legal esse Evans.


por Ricardo Lacerda

sábado, 6 de junho de 2015

A Calcinha da Sharon Tate


Na manhã de 8 de agosto de 1969, a atriz e modelo Sharon Tate acordou chateada. Estava a poucos dias de ganhar seu primeiro filho e seu marido, o diretor Roman Polanski, ainda não tinha conseguido voltar de Londres, onde tinha "compromissos" tanto no cinema quanto sexuais com Michelle Phillips, do The Mamas and The Papas, com quem tinha um caso. Sharon, acostumada às passarelas do mundo inteiro e eleita umas das mulheres mais lindas do cinema dos anos 60, mesmo grávida mantinha intocável toda sua beleza e por dentro uma profunda tristeza por saber da traição do marido. No cinema, ela era ainda uma grande promessa, chegando a ser considerada a nova Marilyn Monroe. O seu casamento com Polanski tinha aberto algumas portas, mas a atriz já havia trabalhado com grandes diretores e chegou a receber uma indicação ao Globo de Ouro. Mas naquele momento era hora de relevar as mágoas e se dedicar ao filho.
Polanski tinha alugado uma casa em Cielo Drive, que pertencia a Candice Bergen, onde adorava juntar os amigos para um clima descontraído de drogas e conversa fora a lá anos 60. Mas na madrugada de sábado do dia 9 de agosto de 1969, algo iria mudar e o lugar seria o palco do assassinato mais selvagem da história de Hollywood. Perto do meio dia, Sharon recebeu uma ligação de sua irmã, lhe oferecendo companhia para jantar à noite. A atriz disse que já tinha marcado com amigos uma ida a um famoso restaurante de Los Angeles e, posteriormente, se reuniriam na casa. Dentre os convidados para o pós-jantar estavam: Steve McQueenRobert Evans e Robert Towne e o cabeleireiro das estrelas Jay Sebring e mais dois amigos do casal. Nesse mesmo instante, no Spahn Ranch, um grupo de jovens seguidores de Charles Manson se preparava com armas e facas para sair à caça com uma lista de artistas a serem mortos. Nomes como Elisabeth Taylor, Steve McQueen e Sharon Tate eram prioridade. Por volta das 22h30, todos tinham retornado à casa: Steve, Bob e Towne tinham cancelado sua ida. Além de Seibrig, os amigos Abigail Folger e Wojciech Frykowski ficaram. O assunto do momento era o filme “Sem Destino”, com Hopper e Fonda, e o “White Album”, do The Beatles, mas em poucas horas todos ali seriam o assunto para muitas capas de jornais durante muito tempo.
Logo após a meia noite, a trupe dos Manson invadiu a casa. Entre o grupo, um rapaz de 23 anos e três moças quase que da mesma idade. Todos armados e decididos a matar. Frykowski, que era faixa-preta em Karatê, tentou defender todos, mas foi morto a tiros, pauladas e facadas, assim como Folger e Jay . Tate tentou fugir aos gritos, mas foi capturada por duas moças que a torturaram e bateram na atriz. Ela gritava e chorava implorando por sua vida e a de seu filho. De nada adiantou. Foi morta com 16 facadas, muitas delas direto na barriga. Os Manson ainda matariam na saída o amigo do caseiro da família e, dois dias depois, o casal Leno e Rosemary LaBianca. Em ambas as cenas dos crimes, as palavras “Pigs” e "Helter Skelter" seriam escritas com sangue dos mortos, pois elas eram o "sinal" do "Álbum Branco" dos Beatles para a guerra dos Manson começar.
A comunidade do cinema na época ficou apavorada e tratou de se armar ou contratar guarda-costas, cercar as casas, mas Polanski ficou tão abalado que dispensou tudo isso. Apenas, como consolo, carregou na mala durante anos e para onde quer que fosse a calcinha de sua amada Sharon Tate, onde enxugava as lágrimas de eterna culpa.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

"Infiltrado na Klan", de Spike Lee (2018)


Pessimista
por Vagner Rodrigues


Até os momentos finais do filme, meu texto teria um tom mais alegre. Reflexivo, sim, mas ainda assim positivo. Mas meus amigos, acho que minhas esperanças estão indo embora. Mas, a propósito,... que baita filme!
Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas e, quando precisava estar fisicamente presente, enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.
“Infiltrado na Klan” algumas vezes acaba pendendo para um lado cômico demais ao retratar alguns personagens, até aliviando um pouco o peso de suas atitudes erradas, fazendo até parecer que não seriam pessoas tão más (E SIM, SÃO, SIM) e, sim, apenas idiotas (SIM. SÃO ISSO TAMBÉM). Mas com uma direção segura, mesmo nesses momentos onde o humor parece exagerado percebemos que Spike Lee o está fazendo propositadamente para que o impacto no final seja ainda maior.  Lee não perde a oportunidade de fazer um discurso forte, político e de posicionamento bem claro. Se é isso que espectador espera dele num filme como esse, é exatamente isso que ganha.
As impactantes e divertidas ligações de Ron para a KKK.
Adam Driver, que faz Flip Zimmerman, é o personagem que mais evolui ao longo da trama, o que mais sofre mudanças, mudando sua percepção de si mesmo e do mundo à sua volta, destacando-se bastante exatamente por conseguir transmitir isso de manira bastante convincente. John David Washington, como Ron Stallworth, é outro que está superbem. Sua veia cômica e incrível mas se sai muito bem, igualmente, nas cenas mais sérias e tensas mantendo um bom equilíbrio.
Ainda que a evolução do personagem Flip chamem atenção e suas cenas infiltrado serem bem tensas, como a da reunião da KKK, por exemplo, gosto bastante também das cenas em que fica evidente o desconforto interno que o personagem passa por estar naquele ambiente e ainda assim ter que manter a tranquilidade. Porém é obvio que as cenas fortes são as mais impactantes. Temos o segundo discurso para universitários negros relatando um caso de violência, com fotos e fazendo referência ao filme “Nascimento de uma Nação”(1915), e, especialmente, os 5 minutos finais do longa que, meu amigo e minha amiga, são de chorar. Prepare seu psicológico senão você vai desabar.
Um filme que cumpre todos os objetivos: é muito bem, diverte, e nos faz refletir. Não tenho intenção de influenciar as pessoas positivas mas, após assistir ao filme e chegar ao seu final, eu fiquei pessimista quanto ao nosso futuro próximo. Espero estar errado. Spike Lee mostra mais uma vez que é genial. Atira para todos os lados e acerta em todos.


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Merece mas não leva
por Daniel Rodrigues


Patrice Dumas (Laura) e Ron Stallworth (Washington):
par no romance e no ativismo
Não é tarefa fácil contar uma história passada há mais de 40 anos e atá-la com a realidade atual com incisão. Ainda mais quando o enredo toca em questões delicadas e polêmicas, como racismo e os direitos civis. Pois o experiente Spike Lee conseguiu esse feito com “Infiltrados na Klan” (2018), seu novo filme, pelo qual recebeu, com décadas de atraso, a primeira indicação ao Oscar de Melhor Diretor. No centro da trama: a ação nazifascista da Ku Klux Klan em meados dos anos 70. Com isso em mãos, o cineasta (que assina ainda o Roteiro Adaptado, pelo qual também é indicado, igualmente em Filme) expõe o quanto não se evoluiu o suficiente neste aspecto na sociedade norte-americana – ou o quanto se retrocedeu. O resultado é um dos melhores filmes da extensa e referencial filmografia do autor de “Faça a Coisa Certa” e “Febre da Selva”, aliando entretenimento, cinema de arte e registro documental.
Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, consegue, incrivelmente, se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunica com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, mas quando precisa estar fisicamente presente, envia outro policial branco no seu lugar, o colega Flip Zimmerman (Adam Driver, concorrente ao Oscar de Ator Coadjuvante). Depois de meses de investigação, Ron se torna, ainda mais absurdamente, o líder da seita, sendo responsável por, às escondidas, sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. As coisas se complicam, contudo, quando ele se envolve com a ativista Patrice Dumas (Laura Harrier), alvo do grupo extremista por sua atividade militante.
Spike Lee, como ocorre com todo negro que consegue se destacar nos Estados Unidos, é produto da dor. Angela Davis, Martin Luther KingLouis ArmstrongMuhammad Ali e Jean-Michel Basquiat são exemplos de afrodescendentes que, com talento e, principalmente, perseverança, não apenas passaram por cima das dificuldades impostas em uma nação institucionalmente racista para trazerem a público suas contribuições como têm, justamente, o objeto de suas ações focado nesta causa. Lee, desde o curta “The Answer”, de 1980, é afetado pelo totalmente justificável sentimentos de reação. Crítico da sociedade em que vive, ele trilhou muitas vezes pelo caminho do combate ao racismo e ao direito à cidadania das “minorias” em suas obras, tornando-se um ícone ativista. Em “Infiltrados...”, não é diferente, mas o recado político é dado de forma mais inteira.
O tempo parece ter ajudado a melhorar o discurso de Lee e lhe trazido, aos 61 anos de vida e mais de 40 atrás das câmeras, maior maturidade. “Infiltrados...” é uma prova disso. Unindo os elementos característicos de seu estilo – cenas de ação, humor ácido, romance, resgate histórico e, claro, crítica social – o filme tem provavelmente sua mais bem conduzida direção, acertando em ritmo, contrastes narrativos, estética e no próprio discurso. Divertido e empolgante, concilia a representação ficcional e os elementos documentais por meio da edição de Barry Alexander Brown, outro concorrente ao Oscar nessa categoria. O filme dá, assim, um claro recado ao expectador de que o cinema pode ser tanto entretenimento quanto campo de discussão, pois a realidade é, acima de tudo, muito mais brutal e impiedosa. Isso tudo, aliado a diálogos impagáveis (como as ligações de Ron para o líder da KKK, Michael Buscemi), direção de arte competente (Marci Mudd), que faz boas referências à Blackexplotation, e, igualmente, a trilha sonora (também indicada a Oscar). “Infiltrados...”, assim, guarda a contundência peculiar de Lee, porém com um controle absoluto do tom narrativo que os anos lhe trouxeram.
Lee no set com o ator Adam Driver,
que como ele, também concorre ao Oscar
Com um delay de 30 anos, entretanto, veio a Lee a indicação ao Oscar de Melhor Direção. E o pior: ele não deve ganhar. Mesmo com as recentes presenças de outros cineastas negros nesta categoria, como Jordan Peele, Steve McQueen e Barry Jenkins (estes dois últimos, vencedores pelos filmes que realizaram, “12 Anos de Escravidão” e “Moonlight”, respectivamente, mas não pela direção), a falta do nome de Lee em outras edições vem se somar às igualmente injustificáveis ausências de Don Cheadle por seu “Miles Ahead” ou de Antoine Fuqua por “Sete Homens e um Destino”, ambos em 2016. A explicação para isso é bem menos devido à proporcionalidade de profissionais negros aptos, em menor quantidade em comparação a cineastas de origem “não-africana” por motivos histórico-sociais evidentes, e mais pela relutância de se enfrentar questões espinhosas e maculáveis à imagem da democrática “América”. Afinal, quando se fala de Spike Lee, essa premissa é totalmente refutável, uma vez que ele, um dos mais talentosos cineastas de sua geração, é merecedor já de muito tempo. “Faça...”, de 1989, um dos melhores filmes da história da cinematografia norte-americana, e “Malcom X”, de 1992, outra realização impecável, são pelo menos dois exemplos.
Em épocas de governo Trump e da ascensão da extrema-direita em vários países – entre eles, o Brasil –, “Infiltrados...” é, assim, não apenas essencial como necessário. As cenas finais mostrando as imagens reais das passeatas neonazistas ocorridas recentemente em Charlottesville, na Virgínia, denotam a urgência da obra. Porém, por melhor resultado que tenha obtido, Spike Lee provavelmente não vencerá o Oscar ao qual concorre. A Academia, embora a visível tentativa de maior arejamento nas duas últimas décadas, geralmente, quase que por convenção, premia o diretor da produção que não leva o principal Oscar da noite, o de Melhor Filme, numa estratégia de equilibro entre aqueles que, geralmente, são os favoritos. Ou seja: pelas estimativas, este ano a coisa deve ficar entre “A Favorita” (Yorgos Lanthimos) e “Roma” (Alfonso Cuarón), no máximo “Vice” (Adam McKay).
A questão é que Spike Lee, o ativista e o artista, representa justamente a injustificável venda nos olhos da Academia para com a sua obra e, logicamente, para a questão do racismo e das injustiças sociais. Um reflexo da sociedade norte-americana em formato de estatueta dourada. Em quase 40 anos de realizações, é sabido por que Lee nunca havia sido indicado: sua cor e seu discurso, seu discurso e sua cor. Como ocorreu, por outros motivos, com os Oscar para Scorsese, Chaplin e Hitchcock, a Academia relutou, relutou, mas uma hora teve que dar o braço a torcer – ainda que quase tarde demais em alguns casos. Por esta lógica, o desafio de Lee se faz imenso e ainda instransponível, o que, em compensação, talvez só aumente a façanha de “Infiltrados...”.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

5 Importantes Protagonistas Negros do Cinema


O ator Chiwetel Ejiofor em "12 Anos
de Escravidão": essencial
A morte precoce do ator Chadwick Boseman deixou de luto seus fãs e cinéfilos do mundo inteiro. Sua partida marcou principalmente a comunidade negra, que tinha no artista afro-americano um símbolo de representatividade e de empoderamento em um mundo ainda pautado pelo racismo e pela discriminação.

Ao encarnar o super-herói “Pantera Negra”, Boseman se transformou em uma referência. Mas, antes dele, muitos outros personagens negros do cinema também deram sua contribuição para essa história de reconhecimento e pertencimento. Por conta disso, fui convidado pela Cinemateca Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, em nome de sua programadora, a jornalista Mônica Kanitz a destacar alguns destes filmes, que figuram neste vídeo especial produzido pela instituição. Confira o vídeo e a lista dos respectivos filmes aos quais selecionei.




Vídeo "Chadwick Boseman e Outros Protagonistas Negros no Cinema"
Cinemateca Paulo Amorim

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1 - "Adivinhe Quem Vem para Jantar", de Stanley Kramer (1967)

Em São Francisco, Matt Drayton (Spencer Tracy) e Christina Drayton (Katharine Hepburn), um conceituado casal, se choca ao saber que Joey Drayton (Katharine Houghton), sua filha, está noiva de John Prentice (Sidney Poitier), um negro. A partir de então dão início à uma tentativa de encontrar algo desabonador no pretendente, mas só descobrem qualidades morais e profissionais acima da média. Primeiro filme a abordar o tema do racismo e dos conflitos nas relações socioraciais. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Hepburn), Melhor Roteiro Original (William Rose) e Melhor Ator (Tracy).




2 - "Faça a Coisa Certa", de Spike Lee (1989)

Numa pizzaria no bairro do Brooklyn, NY, onde a maioria da população é negra, há uma parede com fotos de ídolos ítalo-americanos. Quando o ativista Buggin' Out (Giancarlo Esposito) pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega, inicia-se um boicote ao lugar, o que desencadeia uma série de incidentes. Spike Lee surgia para o mundo com essa obra-prima marcante na história do cinema e da causa negra diretamente contundente contra o racismo. Indicado a dois Oscars, incluindo o de Melhor Roteiro Original.





3 - "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen (2013)

Adaptação da autobiografia homônima de 1853 de Solomon Northup, conta a história real de um negro livre nascido em Nova Iorque, que é sequestrado em Washington e vendido como escravo. Ele trabalhou em plantações no estado de Louisiana por 12 anos antes de sua libertação, passando por todo tipo de sofrimento, violência e desumanidade. Primeiro filme de um cineasta negro a ganhar o Oscar de Melhor Filme, além de ter conquistado também os de Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o) e Melhor Roteiro Adaptado (John Ridley).





4 - "Madame Satã", de Karim Ainouz (2002)

O filme retrata a vida de uma referência na cultura marginal urbana do Rio de Janeiro, o célebre transformista João Francisco dos Santos. Malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre, homossexual, o artista, conhecido como "Madame Satã", se transformou num mito da vida boêmia carioca. Entre os vários prêmios, que recebeu, destacam-se o de Melhor Filme no Chicago International Film Festival, o Prêmio Especial do Júri para melhor primeiro trabalho (Ainouz) no Festival de Havana e os quatro que abocanhou no Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, incluindo o de Melhor Ator para Lázaro Ramos.





5 - "Pantera Negra", de Ryan Coogler (2018)

Após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, T’Challa (Chadwick Boseman) volta para casa para a isolada e tecnologicamente avançada nação africana para a sucessão ao trono e para ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho e poderoso inimigo, o valor de T’Challa como rei – e como Pantera Negra – é testado quando ele é levado a um conflito formidável que coloca o destino de Wakanda, e do mundo todo em risco. Marco na história do cinema, "Pantera..." é o primeiro filme com um super-herói negro, o personagem criado nos anos 60 por Stan Lee, e também um símbolo necessário para uma época de empoderamento de homens e mulheres negras. Levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Ludwig Göransson), Figurino (Ruth E. Carter) e Direção de Arte para Hannah Beachler, também a primeira negra a ganhar a estatueta nesta categoria.




Daniel Rodrigues


segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Paul Newman





Em tempo, queria postar algo sobre o grande ator norte-americano Paul Newman.
Me marcou, principalmente o filme Butch Cassidy que vi numa época que começava a gostar mais de cinema e naquele momento foi um filme que me empolgou bastante. Aquele final fantástico com a foto congelada ficou muito tempo na minha retina.
Adorei também o Golpe de Mestre (que assim como Butch Cassidy, é com Robert Redford) com sua engenhosidade e surpresa, o ótimo O Indomado, e o melhor ainda Rebeldia Indomável, além de alguns outros que tive o prazer de ver.
Revi ontem, num desses especiais pela morte do ator, a Inferno na Torre. É bem legal mas a grande atuação neste caso é a do bombeiro Steve McQueen. Apesar de ter um papel destacado, a atuação de Newmann fica no normal.
Mas a que destaco mesmo é do filme A Cor do Dinheiro, de Martin Scorscese, que merecidamente lhe rendeu um Oscar e que tem uma das melhores frases de final de filme de todos os tempos. Depois de uma discussão com Tom Cruise, seu ex-pupilo nas mesas de jogo de sinuca, Paul pega seu taco se inclina sobre a mesa dá uma tacada forte e diz "Eu estou de volta!". Entra tela preta e o filme acaba.
Adoro usar esta frase pensando no filme, tipo, como se estivesse dando a nova tacada inicial em alguma coisa. O jogo recomeçou e eu estou dentro.


Cly Reis

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Oscar 2014 - Indicados



E domingo tem o quê?
Carnaval?
Não!!!
O Oscar.
Pois é, este ano a grande festa mundial do cinema cai junto com a festa de Momo tão celebrada pelos brasileiros. Para os amantes do cinema as atenções se voltam mesmo para Los Angeles, onde acontece a festa de premiação, no pr´ximo dia 02 de março.
Este ano, na corrida pelo prêmio de melhor filme, ao que parece, "Trapaça" de David Russel e "Gravidade" de Alfonso Cuarón saem na frente no favoritismo, mas 'zebras' como "O Lobo de Wall Street" do oscarizado Martin Scorsese, e o já cultuado "Ela" do doidão Spike Jonze, podem surpreender.
Cate Blanchett parece despontar com uma pequena vantagem sobre suas concorrentes, por seu papel em "Blue Jasmine" e Mathew McConnaughey e Bruce Dern prometem uma disputa acirrada pela estatueta de ator.
Com disputas muito equilibradas, de filmes de muito boa qualidade, a maioria das categorias não tem favoritaços disparados, embora algumas tenham bons indicativos. Mas vamos deixar para descobrir no domingo, não?
Abaixo a lista com os indicados em cada categoria:


Melhor filme
Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
Ela
Nebraska
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street


Melhor diretor
David O. Russell - Trapaça
Alfonso Cuarón - Gravidade
Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão
Martin Scorsese - O Lobo de Wall Street
Alexander Payne - Nebraska


Melhor atriz
Cate Blanchett - Blue Jasmine
Amy Adams - Trapaça
Sandra Bullock - Gravidade
Judi Dench - Philomena
Meryl Streep - Álbum de Família


Melhor ator
Christian Bale - Trapaça
Bruce Dern - Nebraska
Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão
Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas


Melhor ator coadjuvante
Barkhad Abdi - Capitão Phillips
Bradley Cooper - Trapaça
Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
Jonah Hill - O Lobo de Wall Street
Jared Leto - Clube de Compras Dallas


Melhor atriz coadjuvante
Sally Hawkins - Blue Jasmine
Jennifer Lawrence - Trapaça
Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão
Julia Roberts - Álbum de Família
June Squibb - Nebraska


Melhor canção original
"Alone Yet Not Alone" - Alone Yet Not Alone
"Happy" - Meu Malvado Favorito 2
"Let it Go" - Frozen - Uma Aventura Congelante
"The Moon Song" - Ela
"Ordinary Love" - Mandela

Melhor roteiro adaptado
Antes da Meia-Noite
Capitão Phillips
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street


Melhor roteiro original
Trapaça
Blue Jasmine
Clube de Compras Dallas
Ela
Nebraska


Melhor longa de animação
Os Croods
Meu Malvado Favorito 2
Ernest & Celestine
Frozen - Uma Aventura Congelante
The Wind Rises


Melhor documentário em longa-metragem
The Act of Killing
Cutie and the Boxer
Dirty Wars
The Square
20 Feet From Stardom


Melhor longa estrangeiro
The Broken Circle Breakdown
A Grande Beleza
A Caça
The Missing Picture
Omar


Melhor fotografia
O Grande Mestre
Gravidade
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
Nebraska
Os Suspeitos


Melhor figurino
Trapaça
O Grande Mestre
O Grande Gatsby
The Invisible Woman
12 Anos de Escravidão

Melhor documentário em curta-metragem
CaveDigger
Facing Fear
Karama Has No Walls
The Lady in Number 6: Music Saved My Life
Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall


Melhor montagem
Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
12 Anos de Escravidão


Melhor maquiagem e cabelo
Clube de Compras Dallas
Vovô Sem-Vergonha
O Cavaleiro Solitário


Melhor trilha sonora
A Menina que Roubava Livros
Gravidade
Ela
Philomena
Walt nos Bastidores de Mary Poppins


Melhor design de produção
Trapaça
Gravidade
O Grande Gatsby
Ela
12 Anos de Escravidão


Melhor animação em curta-metragem
Feral
Get a Horse!
Mr. Hublot
Possessions
Room on the Broom


Melhor curta-metragem
Aquel No Era Yo (That Wasn't Me)
Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything)
Helium
Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?)
The Voorman Problem


Melhor edição de som
Até o Fim
Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
O Grande Herói


Melhor mixagem de som
Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
O Grande Herói


Melhores efeitos visuais
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Homem de Ferro 3
O Cavaleiro Solitário
Star Trek - Além da Escuridão

C.R.