McQueen pilotando de verdade o Mustang em "Bullit"
Ele foi o maior
“filho da mãe” que já existiu no cinema. Steve McQueen era
várias pessoas numa só. Honesto, desonesto, amável, odioso,
modesto, presunçoso, inteligente, maduro, infantil. Era capaz de
jurar amor eterno à esposa e ter um caso logo a seguir. Era
desatento com os amigos, mas extremamente generoso com estranhos.
Falava sobre os perigos das drogas, mas não conseguia evitá-las. Os
paradoxos eram fascinantes em Steve McQueen, que era o derradeiro
paradoxo. Sua complexidade era tão grande assim como a lista de
mulheres que ele levou para cama. O ator sempre foi tido como uma
pessoa difícil e competitiva, mas ao mesmo tempo de uma intensidade
e generosidade humana enorme. Buscou autenticidade em todos os seus
papéis no cinema, desde pilotar ele mesmo os carros e motos nas
perseguições de “Bullit”, “Le Mans” e “Fugindo do
Inferno”, a cortar o cano de uma arma para ser mais autêntico ou
mesmo desafiar Yul Brynner com as técnicas de Lee Strasberg no set
de “Sete Homens e um Destino”.
Colecionou carros,
aviões e motos, teve mais de 100, assim como mulheres, das quais
teve bem mais. Era um grande “come quieto”: roubou Ali Mcgraw de
Robert Evans nas filmagens de “The Getaway“, de Sam Peckinpah, em
1972. Evans o odiou para sempre. Não poupou as esposas e namoradas
de outros atores, produtores e diretores. Mas nunca cedeu às
investidas de Natalie Wood por ser grande amigo de Robert Wagner.
Semeava a discórdia e inveja por onde passava. Parte dos atores
hollywoodianos o detestavam e quase nunca o indicavam para prêmio
algum. Não foi nomeado ao Oscar por “Papillon” (recebeu apenas
uma nomeação na vida), o maior papel de sua carreira e, quando foi
indicado ao Globo de Ouro, pediu que enviassem o prêmio pelo
correio.
Com Ali McGraw em "The Getaway",
um de seus inúmeros casos amorosos
Seu maior rival no
cinema foi Paul Newman. Chegaram a brigar para ver quem teria o nome
em maior destaque no cartaz de “Inferno na Torre”. Assim também
foi com Brynner, Faye Dunaway e Dustin Hoffman, a quem ele dava
conselhos não muito bem aceitos pelo colega de “Papillon”. Mas
foi Bruce Lee, seu grande amigo e professor, quem mais o invejou na
vida. Chegaram a discutir por cartas para ver quem era o mais famoso.
McQueen dizia que ele queria ser o McQueen da Ásia. Já com James
Coburn e Robert Wagner existia uma admiração mútua e grande
amizade.
A rebeldia do “King
of Cool” era fruto de um lar violento e do pai que ele não
conheceu segundo alguns amigos. Isso fez com que ele fosse para um
reformatório na juventude e depois saísse na busca de um sucesso
que, por fim, ele considerou efêmero. No início da carreira, o ator
fez muitos filmes por dinheiro e depois acabou repudiando e
criticando o sistema de Hollywood. Recusou ofertas milionárias de
filmes como “Apocalypse Now”, “Dirty Harry” e “Operação
França” e optou por fazer as suas escolhas. Muitas delas em
produções duvidosas e de fracassos comerciais anunciados, Mesmo
assim, seu legado para filmes que envolvem ação e perseguições é
considerado enorme até hoje. Como esquecer a cena de “Bullit” em
que McQueen fez sua própria pilotagem, neste que foi o primeiro
filme com som ao vivo da história (sim, sem usar nada de sonoridade
adicional!), ou ele de novo se aventurando a pilotar uma moto Triumph
em “Fugindo do Inferno”, tudo porque os pilotos alemães eram
lentos demais. O cara era de Indianápolis, tudo explicado.
A rara última foto do ator
antes de morrer, em 1980
Em 1980, o ator foi
diagnosticado com um câncer raro de pulmão. Neste ano ele filmaria
“The Hunter”, seu último filme. McQueen saiu em busca da cura e
foi ao México. Tentou todas as formas alternativas para conter a
doença: dietas, ervas, curas holísticas, etc. Mas nada foi
eficiente e o câncer se alastrou. Ele dizia que estava nas mãos de
Deus e que o divino já tinha sido generoso antes, pois há anos
atrás o ator tinha sido convidado para o jantar na casa de Roman Polanski na noite em que os Manson fizeram a chacina que matou a
atriz Sharon Tate e mais quatro pessoas. Ele teria ligado a ela e
desistido na última hora. Mesmo assim, nada foi suficiente. Em
novembro de 1980, ele sucumbiria aos 50 anos de uma vida breve mas
cheia de intensidade e brilhantismo a uma doença causada pelo
contato com amianto. Martin Landau disse certa vez: “Sei que
poucos vão chorar por este ‘filho da mãe’, mas entre 2 mil
atores da audição histórica de Lee Strasberg, só eu e eles
passamos, entende, só eu e ele, ele era um ‘filho da mãe’ e
tanto".
Depois de sua morte,
soube-se que McQueen em seus anos de reclusão visitava em segredo
entidades sociais e doava milhões a lares de crianças e idosos. Em
um destes lares sentado ao chão ao lado de um menino, ele disse com
lágrimas nos olhos: "Aqui é muito difícil, lá fora também
é, a vida não é como nos filmes, mas jamais percam seus sonhos e
suas esperanças, tio Steve sempre estará aqui”. E assim foi.
Assim como os de gângster ou que retratam a Segunda Guerra Mundial, os
filmes de prisão são bastante atrativos. Até mesmo os mais puramente
aventurescos, como “Condenação Brutal”, com Sylvester Stallone, ou “A Rocha”,
com Sean Connery, se estiverem passando na TV te puxam para que se assista pelo
menos um pouco ou mesmo daquele ponto até o final. De fato, os filmes sobre
sistema prisional guardam uma magia especial. Talvez porque, assim como os de
gângster ou Segunda Guerra, muitas vezes se baseiem em fatos reais. Quando não,
são tão passíveis de verdade quanto um verídico, haja vista a identificação que
seus personagens geram junto ao espectador ou mesmo pelas barbaridades que
geralmente denunciam, sejam ficção ou não. Não raro estão em jogo os mais
basais direitos humanos.
Desta forma, busquei listar 15 títulos bem abrangentes e interessantes
sobre o tema. De produções europeias a asiáticas, passando pelos cinemas
brasileiro (bem representado), argentino e, claro, norte-americano, que domina
largamente neste quesito. Desde clássicos do passado até os dias de hoje, os
Estados Unidos são imbatíveis em filmes de prisão. Valeu entrarem filmes não
apenas de penitenciária – embora sejam a maioria – mas também de cadeias comuns
e de prisioneiros de guerra. De presos políticos, como nos essenciais “A
Confissão” (Costa-Gavras) ou “Pra Frente, Brasil” (Roberto Farias), ficaram
para uma outra seleção. Como valeu apenas longas-metragens, merece menção
honrosa “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda”, curta-metragem de Jorge
Furtado e José Pedro Goulart, uma obra-prima que, inclusive, completa 30 anos
de seu lançamento em 2015.
Sem ordem de preferência, a condição foi a de que a história se passe,
se não inteiramente, pelo menos a maior parte do tempo dentro das celas,
sendo-lhes um elemento narrativo preponderante. Assim, ficaram de fora ótimos exemplares
como “Dançando no Escuro”, de von Trier, “O Último Imperador”, de Bertolucci, ou
“Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, que têm, sim, sequências em prisões,
mas relatam muito mais do que isso em suas tramas. No nosso caso, não basta:
tem que estar encarcerado mesmo, atrás das grades, em cana, no xadrez, detido, vendo
o sol nascer quadrado. Então, “teje preso” a esses 15 títulos essenciais sobre prisão:
- “O Homem de Alcatraz”, de John
Frankenheimer (“Birdman of Alcatraz” - EUA, 1962)
Com a mão do craque John Frankenheimer, diretor que nunca se omitiu de
mostrar mazelas do sistema norte-americano e nem de aprofundar aspectos
psicológicos muitas vezes relegados à superficialidade, este filme traz a
realidade de uma penitenciária típica dos Estados Unidos a partir de um
conflito entre o pragmatismo e o humanismo. Um prisioneiro (Robert Stroud, por
Burt Lancaster) condenado pelo assassinato de dois homens passa a vida na
cadeia. Lá se torna um autodidata sobre pássaros, sendo reconhecido
mundialmente como uma grande autoridade no assunto. Mas, apesar de demonstrar
regeneração e um intelecto superior, o Estado se recusa a libertá-lo.
- “O Processo de Joana D’arc”,
de Robert Bresson (“Procès de Jeanne D´Arc” - FRA, 1962)
A austeridade e sobriedade de Robert Bresson emprestam ao filme uma
narrativa absolutamente austera, desde o uso de atores não-profissionais até o
centramento exclusivo aos documentos oficiais sobre o caso, passado no século
XV. Para muitos o grande filme do diretor, “O Processo...” mostra outro tipo de
prisão, a religiosa, uma vez que a iluminada Joana era considerada bruxa pelas
visões e percepções espirituais que tinha naturalmente. Com rigor, Reconstituiu
a prisão, o julgamento e a execução da mártir.
- “Fugindo do Inferno”, de John
Sturges (“The Great Escape” - EUA, 1963)
Clássico filme de prisão de guerra à época da Segunda Guerra e baseado
em fatos reais. Aliados tentam fugir de um campo de concentração alemão, o
Stalag Luft III, considerado como o mais seguro do gênero. Elenco impagável com Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, Charles Bronson, James Coburn, entre outros feras. Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama.
- “Rebeldia Indomável”, de Stuart Rosemberg (“Cool
Hand Luke” - EUA, 1967)
Filme impactante e com a excelente atuação de Paul Newman, que faz o
rebelde e inconsequente Luke Jackson. Preso, ele recusa-se a obedecer as regras
do local e ganha o respeito dos demais presidiários por sua valentia e
malandragem. Insiste em fugir, mas a cada nova recaptura as punições são mais
severas, aumentando constantemente o ódio entre ele e os guardas. Indicado ao
Oscar, Newman não levou este, que foi para o ator coadjuvante, George Kennedy.
Porém, em 2003, seu personagem Luke foi escolhido pelo American Film Institute
(AFI) como o trigésimo maior herói dos filmes norte-americanos.
Dustin Hoffman e Steve McQueen
em "Pappilon"
- “Papillon”, de Franklin Schaeffner (EUA,
1973)
Obra-prima ainda pouco valorizada, esta superprodução é dos filmes mais
realistas e impactantes do gênero. Conta a história verídica de Henri Charrière
(Steve McQueen, novamente encarcerado), conhecido como Papillon, que, apesar de
reclamar inocência da acusação de assassinato, é condenado à prisão perpétua e
enviado para cumprir a sentença na Guiana Francesa, na Ilha do Diabo, num
presídio de segurança máxima. A direção de Schaeffner não deixa nada às
escuras: as torturas, a fome, as punições, a desumanidade do presídio, está
tudo ali. McQueen, impecável, assim como Dustin Hoffman (o amigo francês Dega).
Incrivelmente, recebeu apenas indicações no Oscar e Globo de Ouro, mas não
levou nada. Das injustiças históricas.
- “O Expresso da Meia-Noite”, de
Alan Parker (“Midnight Express” - ING, 1978)
Dos mais impactantes e dramáticos filmes do gênero, passa-se, ao
contrário das jaulas superequipadas dos Estados Unidos, numa insalubre e insana
prisão da Turquia. O saudoso Brad Davis interpreta magistralmente Billy Hayes,
um estudante norte-americano que é pego traficando drogas num aeroporto de
Istambul. Não só vai parar numa prisão degradante, onde é torturado física e
psicologicamente, como ainda recebe como exemplo uma pena mais rigorosa que o
normal. Parker, em ótima fase, leva o espectador a entrar num mundo de
introspecção e loucura, dando um sentido metafórico e simbólico ao título.
Oscar de Melhor roteiro adaptado, de Oliver Stone, e de Melhor Trilha Sonora,
com os marcantes temas synth-pop de Giorgio Moroder.
- “Alcatraz – Fuga Impossível”,
de Don Siegel (“Escape from Alcatraz” - EUA, 1979)
Para muitos, o maior filme de penitenciária já realizado, o que não é
nenhum absurdo. Ápice da parceria entre Siegel e Clint Eastwood, que interpreta
Frank Morris, um condenado que tem várias tentativas de fugas em seu histórico
e é enviado para a prisão de segurança máxima da Ilha de Alcatraz, conhecida
por não deixar nenhum preso fugir ou sair vivo numa escapada. Porém, obstinado
e calculista, Frank vê os pontos vulneráveis de Alcatraz e, com a ajuda de
alguns outros internos, cria uma rota de fuga perigosa e improvável. Não tem
como não torcer pelo bandido!
- “Furyo – Em Nome da Honra”, de
Nagisa Oshima (“Merry Christmas, Mr. Lawrence” - JAP/ING/NZL, 1983)
Raro filme do sempre profundo Oshima, que reúne dois gênios da música
como atores: David Bowie (em sua melhor atuação no cinema) e Ryuichi Sakamoto,
que assina também a ótima trilha. Na Segunda Guerra, num campo de concentração
na Ilha de Java, o prisioneiro inglês Jack Celliers (Bowie) provoca um conflito
quando decide não obedecer às rígidas regras do capitão Yonoi (Sakamoto),
insolência repudiada com violência. Porém, o oficial inglês se mantém
irredutível, o que enfurece ainda mais o capitão. Interessante reflexão sobre
orgulho, honra e os limites humanos tanto físicos quanto psicológicos.
Sônia Braga nos lances oníricos
do filme.
- “O Beijo da Mulher Aranha”, de
Hector Babenco (BRA/EUA, 1984)
Um dos cineastas mais talentosos vivos, Babenco está nesta lista com
dois filmes. Um deles é este até então raro acerto de coprodução brasileira com
os EUA, uma vez que, quando se fazia, prevalecia o poderio yankee. Com
equilíbrio, Babenco consegue fazer com que Milton Gonçalves e José Lewgoy
ficassem no mesmo nível de William Hurt (Oscar de Melhor Ator pela atuação) e
Raul Julia, sem falar, claro, na participação mais que especial de Sônia Braga.
As sequências em que Hurt e Julia contracenam na cela são históricas em
diálogos e afinação entre atores, pois, além de talentosos, nota-se que estão
muito bem dirigidos.
- “Memórias do Cárcere”, de
Nelson Pereira dos Santos (BRA, 1984)
Prêmio da crítica em Cannes e Melhor Filme em Moscou (quando o evento
ainda era importante), este épico do cinema brasileiro é uma aula de construção
narrativa, a qual dialoga metalinguisticamente o tempo todo com a obra de
memórias escrita por Graciliano Ramos, quando este fora preso na vida real pelo
governo Getúlio Vargas. Ainda, atuações impecáveis de Carlos Vereda, José
Dumont, Tonico Pereira, os saudosos Jofre Soares e Wilson Grey e da jovem
Glória Pires. Cenas memoráveis, como a “transmissão” da Rádio Libertadora
dentro do quartel, o momento da deportação de Olga Benário e a ajuda dos presos
a esconderem os escritos do suposto
livro, entre outras várias.
- “Barrela: Escola de Crimes”,
de Marco Antonio Cury (BRA, 1990)
Daqueles filmes que tem tudo para ser monótono, mas o roteiro, as
atuações e a direção são tão bons que formam uma obra coesa. O texto teatral de
Plínio Marcos se encaixa com densidade à adaptação cinematográfica, sustentada
no jogo certo de distribuição das falas de cada personagem (todos MUITO nem
construídos) e nas atuações intensas de cada um dos atores. São seis presos
condenados a longas penas e confinados numa cela onde cada qual disputa seu
espaço. A situação se torna mais angustiante quando junta-se a eles um jovem de
classe média preso durante briga. Frustração, tristeza, humilhação, autoproteção.
Plínio Marcos tece tudo isso numa teia em que coabitam o amor mais profundo e inalcançável
ao abandono concreto e degradante.
- “Um Sonho de Liberdade”, de
Frank Darabont (“The Shawshank Redemption” - EUA, 1994)
Junto com “Alcatraz”, disputa o posto de grande filme de prisão da
história. Emocionante, toca em temas fortes como morte, amizade, religião,
injustiça e desejos essenciais do ser humano. Em 1946, Andy Dufresne (Tim
Robbins), um bem sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao
ser condenado por um crime que nunca cometeu, o homicídio de sua esposa e do
amante dela. É mandado para a Penitenciária Estadual de Shawshank, para cumprir
pena perpétua. Lá, conhece muita gente, desde o corrupto e cruel agente
penitenciário, o prisioneiro Ellis Boyd Redding (Morgan Freeman), com que faz
amizade, e até Al Capone, que cumpria sua pena lá depois de ser pego por Elliot
Ness. Figura na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos pelo AFI.
- “Carandiru”, de Hector Babenco
(BRA, 2003)
Outro de Babenco, este ainda mais imerso na questão prisional. Ao
contrário de “O Beijo...”, entretanto, faz o movimento narrativo inverso: parte
do ambiente social para o da prisão, estabelecendo uma permanente comotivação
entre os dois espaços – física e psicologicamente. De narrativa moderna, faz
com estes paralelismos um dos melhores filmes nacionais da primeira década dos
anos 2000, estabelecendo diversos atores que se tornariam astros nos anos
seguintes, como Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura e Caio Blat. A
história, baseada no best seller do médico e escritor Dráuzio Varella, culmina
no fatídico Massacre de 1992. Filmaço.
Os próprios presos constroem a
narrativa no documentário.
- “O Prisioneiro da Grade de
Ferro”, de Paulo Sacramento (BRA, 2003)
Brilhante documentário de Sacramento em que ele coloca os próprios
presos a construir com ele o filme, numa cocriação que reforça o realismo
documental da proposta. Utilizando as técnicas aprendidas em um curso de
filmagem ministrado dentro do presídio, os detentos encarcerados no maior
centro de detenção da América Latina, o Carandiru, documentam seu cotidiano,
registrando as condições precárias nas quais sobrevivem. Filmado 10 anos após o
Massacre do Carandiru, que custou a vida de mais de uma centena de detentos,
mostra o quanto uma tragédia como esta promovida pelo Estado não se apaga com
facilidade, haja vista as marcas inapagáveis nas pessoas e na sociedade.
- “Leonera”, de Pablo Trapero
(ARG – 2008)
Do grande cineasta argentino Pablo Trapero, um dos maiores da
atualidade, tem a peculiaridade de contar a vida dentro de uma penitenciária
feminina, no caso uma para mães e grávidas sentenciadas. No caso de Julia (a
bela e talentosa Martina Gusman), acusada de um crime sem provas, o filme
mostra sua adaptação à nova realidade social, o que a transforma intimamente.
Porém, seu desejo de fugir dali nunca esmorece, e é isso que a move. Não é o
melhor de Trapero, mas guarda várias qualidades de seu cinema.
Não sei o que mais
chama a atenção nesta foto: a superbarba do Lee Marvin, o tapa-olho
do John Wayne ou a elegância do Clint. Mas uma coisa eu sei: o que
tem as mais escabrosas histórias a contar é o Robert Evans. O homem
já era um milionário da Costa Leste, ligado à indústria da moda,
quando foi descoberto por Norma Shearer nadando numa piscina de hotel
em LA. Virou ator famoso, ainda que medíocre. Não se contentou:
queria ser o novo Darryl Zanuck, o bambambam dos estúdios de “OIiú”.
E conseguiu. Como produtor, tirou a Paramount da ingrata nona posição
entre os maiores estúdios para o primeiro lugar – em apenas quatro
anos, entre o fim dos 60 e o começo dos 70. Produziu “Love Story”, "O Poderoso Chefão", “Ensina-me a Viver”, “Chinatown” e
“Maratona da Morte”.
Quando ninguém
queria dirigir o filme inspirado no livro de Mario Puzo, foi ele quem
teve a ideia de chamar Coppola, um jovem de 30 anos que tinha feito
três fracassos até então, mas que reunia uma virtude: era o único
diretor ítalo-americano da época. E um filme sobre a máfia só
funcionaria se fosse comandado por alguém "de dentro" –
até então, a maioria dos filmes de gângster eram dirigidos por
judeus. E não emplacavam.
À época de ‘Love
Story” (filme que causou uma explosão de nascimentos de crianças
nove meses depois do lançamento), Evans casou com a Ali McGraw. Era
rico, bonito, bem-sucedido, tinha a mulher mais linda da época e
linha direta com Henry Kissinger. Enfim, a vida mais invejável do
mundo, aparentemente. Mas ele se preocupava demais em trabalhar. Em
novos sucessos. Depois de dois meses na Europa comercializando os
direitos de “O Poderoso Chefão”, Evans lembrou de ligar para a
esposa, que filmava “Os implacáveis”, com Steve McQueen. Pobre
Evans. Logo para quem acabou perdendo a mulher. "Você
poderia ser o homem mais poderoso do mundo, mas perder a esposa para
McQueen fazia me sentir insignificante", reconheceu.
Dali em diante,
Evans ainda emplacou algumas coisas nos anos 70, como o próprio
“Chinatown”, baseado num roteiro que ninguém entendia. "Eu
não compreendia aqueles diálogos, mas se o Robert Towne garantia
que era bom, então eu insisti", relembra. Valeu e pena,
tanto que ganhou tudo quanto é prêmio, como todos sabem. Fato é
que a traição pesou. Nos 80, Evans apostou todas as suas fichas em
“Cottom Club”, também de Coppola e com o Richard Gere, que
acabou sendo um fracasso. Ali, na verdade, o próprio produtor já
estava fracassando. Pirou na cocaína, foi parar num hospital
psiquiátrico – de onde conseguiu fugir a muito custo. Perdeu sua
mansão em LA. Como não conseguia se desvencilhar da velha vida,
acabou alugando a ex-casa para morar. Pagava 25 mil dólares mensais
– isso estando quebrado. A casa acabou recomprada por Jack
Nicholson, que presenteou o amigo com o pequeno regalo.
Quando recomeçava,
foi acusado de assassinato, em um processo inconclusivo que levou
quase uma década. Nos 90, recomeçou como produtor, tentando
emplacar porcarias como “O Santo”, “O Fantasma” e “Jade”.
Ganhou dinheiro (e provavelmente mais alguma coisa da Sharon Stone)
com “Invasão de Privacidade”. Na prática, a melhor coisa que
fez desde então foi escrever o livro "The Kid Stays in the
Picture", que deu origem ao documentário "O Show Não Pode
Parar", de 2002 – onde conta tudo isso. Na carreira, no
entanto, fico em dúvida entre as coisas pelas quais mais o admiro:
1) Ter batido pé para Coppola estender “O Poderoso Chefão”,
quando o diretor entregou o filme com 2h7min; 2) Ter metido a mão na
trilha de “Ensina-me a Viver”, colocando Cat Stevens no filme
mais sui generis que já vi; ou, claro, 3) Ter casado com a
Ali McGraw. Cara legal esse Evans.
Na manhã de 8 de
agosto de 1969, a atriz e modelo Sharon Tate acordou chateada. Estava
a poucos dias de ganhar seu primeiro filho e seu marido, o diretor Roman Polanski, ainda não tinha conseguido voltar de Londres, onde
tinha "compromissos" tanto no cinema quanto sexuais com
Michelle Phillips, do The Mamas and The Papas, com quem tinha um
caso. Sharon, acostumada às passarelas do mundo inteiro e eleita
umas das mulheres mais lindas do cinema dos anos 60, mesmo grávida
mantinha intocável toda sua beleza e por dentro uma profunda
tristeza por saber da traição do marido. No cinema, ela era ainda
uma grande promessa, chegando a ser considerada a nova Marilyn
Monroe. O seu casamento com Polanski tinha aberto algumas portas, mas
a atriz já havia trabalhado com grandes diretores e chegou a receber
uma indicação ao Globo de Ouro. Mas naquele momento era hora de
relevar as mágoas e se dedicar ao filho.
Polanski tinha
alugado uma casa em Cielo Drive, que pertencia a Candice Bergen, onde
adorava juntar os amigos para um clima descontraído de drogas e
conversa fora a lá anos 60. Mas na madrugada de sábado do dia 9 de
agosto de 1969, algo iria mudar e o lugar seria o palco do
assassinato mais selvagem da história de Hollywood. Perto do meio
dia, Sharon recebeu uma ligação de sua irmã, lhe oferecendo
companhia para jantar à noite. A atriz disse que já tinha marcado
com amigos uma ida a um famoso restaurante de Los Angeles e,
posteriormente, se reuniriam na casa. Dentre os convidados para o
pós-jantar estavam: Steve McQueen, Robert Evans e Robert Towne e o cabeleireiro das estrelas Jay Sebring e mais dois amigos do casal.
Nesse mesmo instante, no Spahn Ranch, um grupo de jovens seguidores
de Charles Manson se preparava com armas e facas para sair à caça
com uma lista de artistas a serem mortos. Nomes como Elisabeth
Taylor, Steve McQueen e Sharon Tate eram prioridade. Por volta das
22h30, todos tinham retornado à casa: Steve, Bob e Towne tinham
cancelado sua ida. Além de Seibrig, os amigos Abigail Folger e
Wojciech Frykowski ficaram. O assunto do momento era o filme “Sem
Destino”, com Hopper e Fonda, e o “White Album”, do The
Beatles, mas em poucas horas todos ali seriam o assunto para muitas
capas de jornais durante muito tempo.
Logo após a meia
noite, a trupe dos Manson invadiu a casa. Entre o grupo, um rapaz de
23 anos e três moças quase que da mesma idade. Todos armados e
decididos a matar. Frykowski, que era faixa-preta em Karatê, tentou
defender todos, mas foi morto a tiros, pauladas e facadas, assim como
Folger e Jay . Tate tentou fugir aos gritos, mas foi capturada por
duas moças que a torturaram e bateram na atriz. Ela gritava e
chorava implorando por sua vida e a de seu filho. De nada adiantou.
Foi morta com 16 facadas, muitas delas direto na barriga. Os Manson
ainda matariam na saída o amigo do caseiro da família e, dois dias
depois, o casal Leno e Rosemary LaBianca. Em ambas as cenas dos
crimes, as palavras “Pigs” e "Helter Skelter" seriam escritas
com sangue dos mortos, pois elas eram o "sinal" do "Álbum Branco" dos Beatles para a guerra dos Manson começar.
A comunidade do
cinema na época ficou apavorada e tratou de se armar ou contratar
guarda-costas, cercar as casas, mas Polanski ficou tão abalado que
dispensou tudo isso. Apenas, como consolo, carregou na mala durante
anos e para onde quer que fosse a calcinha de sua amada Sharon Tate,
onde enxugava as lágrimas de eterna culpa.
Até os momentos finais do filme, meu texto teria um tom mais alegre. Reflexivo, sim, mas ainda assim positivo. Mas meus amigos, acho que minhas esperanças estão indo embora. Mas, a propósito,... que baita filme!
Em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas e, quando precisava estar fisicamente presente, enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. “Infiltrado na Klan” algumas vezes acaba pendendo para um lado cômico demais ao retratar alguns personagens, até aliviando um pouco o peso de suas atitudes erradas, fazendo até parecer que não seriam pessoas tão más (E SIM, SÃO, SIM) e, sim, apenas idiotas (SIM. SÃO ISSO TAMBÉM). Mas com uma direção segura, mesmo nesses momentos onde o humor parece exagerado percebemos que Spike Lee o está fazendo propositadamente para que o impacto no final seja ainda maior. Lee não perde a oportunidade de fazer um discurso forte, político e de posicionamento bem claro. Se é isso que espectador espera dele num filme como esse, é exatamente isso que ganha.
As impactantes e divertidas ligações de Ron para a KKK.
Adam Driver, que faz Flip Zimmerman, é o personagem que mais evolui ao longo da trama, o que mais sofre mudanças, mudando sua percepção de si mesmo e do mundo à sua volta, destacando-se bastante exatamente por conseguir transmitir isso de manira bastante convincente. John David Washington, como Ron Stallworth, é outro que está superbem. Sua veia cômica e incrível mas se sai muito bem, igualmente, nas cenas mais sérias e tensas mantendo um bom equilíbrio.
Ainda que a evolução do personagem Flip chamem atenção e suas cenas infiltrado serem bem tensas, como a da reunião da KKK, por exemplo, gosto bastante também das cenas em que fica evidente o desconforto interno que o personagem passa por estar naquele ambiente e ainda assim ter que manter a tranquilidade. Porém é obvio que as cenas fortes são as mais impactantes. Temos o segundo discurso para universitários negros relatando um caso de violência, com fotos e fazendo referência ao filme “Nascimento de uma Nação”(1915), e, especialmente, os 5 minutos finais do longa que, meu amigo e minha amiga, são de chorar. Prepare seu psicológico senão você vai desabar.
Um filme que cumpre todos os objetivos: é muito bem, diverte, e nos faz refletir. Não tenho intenção de influenciar as pessoas positivas mas, após assistir ao filme e chegar ao seu final, eu fiquei pessimista quanto ao nosso futuro próximo. Espero estar errado. Spike Lee mostra mais uma vez que é genial. Atira para todos os lados e acerta em todos.
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Merece mas não leva porDaniel Rodrigues
Patrice Dumas (Laura) e Ron Stallworth (Washington):
par no romance e no ativismo
Não é tarefa fácil contar uma história passada há mais de 40
anos e atá-la com a realidade atual com incisão. Ainda mais quando o enredo
toca em questões delicadas e polêmicas, como racismo e os direitos civis. Pois
o experiente Spike Lee conseguiu esse feito com “Infiltrados na Klan” (2018),
seu novo filme, pelo qual recebeu, com décadas de atraso, a primeira indicação
ao Oscar de Melhor Diretor. No centro da trama: a ação nazifascista da Ku Klux
Klan em meados dos anos 70. Com isso em mãos, o cineasta (que assina ainda o
Roteiro Adaptado, pelo qual também é indicado, igualmente em Filme) expõe o quanto não se evoluiu o
suficiente neste aspecto na sociedade norte-americana – ou o quanto se
retrocedeu. O resultado é um dos melhores filmes da extensa e referencial
filmografia do autor de “Faça a Coisa Certa” e “Febre da Selva”, aliando entretenimento, cinema de arte e registro documental.
Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial
negro do Colorado, consegue, incrivelmente, se infiltrar na Ku Klux Klan local.
Ele se comunica com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas,
mas quando precisa estar fisicamente presente, envia outro policial branco no
seu lugar, o colega Flip Zimmerman (Adam Driver, concorrente ao Oscar de Ator Coadjuvante).
Depois de meses de investigação, Ron se torna, ainda mais absurdamente, o líder
da seita, sendo responsável por, às escondidas, sabotar uma série de
linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. As coisas se
complicam, contudo, quando ele se envolve com a ativista Patrice Dumas (Laura
Harrier), alvo do grupo extremista por sua atividade militante.
Spike Lee, como ocorre com todo negro que consegue se
destacar nos Estados Unidos, é produto da dor. Angela Davis, Martin Luther King, Louis Armstrong, Muhammad Ali e Jean-Michel Basquiat são exemplos de
afrodescendentes que, com talento e, principalmente, perseverança, não apenas
passaram por cima das dificuldades impostas em uma nação institucionalmente
racista para trazerem a público suas contribuições como têm, justamente, o
objeto de suas ações focado nesta causa. Lee, desde o curta “The Answer”, de
1980, é afetado pelo totalmente justificável sentimentos de reação. Crítico da
sociedade em que vive, ele trilhou muitas vezes pelo caminho do combate ao
racismo e ao direito à cidadania das “minorias” em suas obras, tornando-se um
ícone ativista. Em “Infiltrados...”, não é diferente, mas o recado político é
dado de forma mais inteira.
O tempo parece ter ajudado a melhorar o discurso de Lee e
lhe trazido, aos 61 anos de vida e mais de 40 atrás das câmeras, maior
maturidade. “Infiltrados...” é uma prova disso. Unindo os elementos
característicos de seu estilo – cenas de ação, humor ácido, romance, resgate
histórico e, claro, crítica social – o filme tem provavelmente sua mais bem
conduzida direção, acertando em ritmo, contrastes narrativos, estética e no
próprio discurso. Divertido e empolgante, concilia a representação ficcional e
os elementos documentais por meio da edição de Barry Alexander Brown, outro
concorrente ao Oscar nessa categoria. O filme dá, assim, um claro recado ao
expectador de que o cinema pode ser tanto entretenimento quanto campo de
discussão, pois a realidade é, acima de tudo, muito mais brutal e impiedosa.
Isso tudo, aliado a diálogos impagáveis (como as ligações de Ron para o líder
da KKK, Michael Buscemi), direção de arte competente (Marci Mudd), que faz boas
referências à Blackexplotation, e, igualmente, a trilha sonora (também indicada
a Oscar). “Infiltrados...”, assim, guarda a contundência peculiar de Lee, porém
com um controle absoluto do tom narrativo que os anos lhe trouxeram.
Lee no set com o ator Adam Driver,
que como ele, também concorre ao Oscar
Com um delay de 30 anos, entretanto, veio a Lee a indicação
ao Oscar de Melhor Direção. E o pior: ele não deve ganhar. Mesmo com as recentes
presenças de outros cineastas negros nesta categoria, como Jordan Peele, Steve
McQueen e Barry Jenkins (estes dois últimos, vencedores pelos filmes que
realizaram, “12 Anos de Escravidão” e “Moonlight”, respectivamente, mas não pela
direção), a falta do nome de Lee em outras edições vem se somar às igualmente
injustificáveis ausências de Don Cheadle por seu “Miles Ahead” ou de Antoine
Fuqua por “Sete Homens e um Destino”, ambos em 2016. A explicação para isso é
bem menos devido à proporcionalidade de profissionais negros aptos, em menor
quantidade em comparação a cineastas de origem “não-africana” por motivos
histórico-sociais evidentes, e mais pela relutância de se enfrentar questões
espinhosas e maculáveis à imagem da democrática “América”. Afinal, quando se
fala de Spike Lee, essa premissa é totalmente refutável, uma vez que ele, um
dos mais talentosos cineastas de sua geração, é merecedor já de muito tempo.
“Faça...”, de 1989, um dos melhores filmes da história da cinematografia
norte-americana, e “Malcom X”, de 1992, outra realização impecável, são pelo
menos dois exemplos.
Em épocas de governo Trump e da ascensão da extrema-direita
em vários países – entre eles, o Brasil –, “Infiltrados...” é, assim, não
apenas essencial como necessário. As cenas finais mostrando as imagens reais
das passeatas neonazistas ocorridas recentemente em Charlottesville, na Virgínia, denotam a
urgência da obra. Porém, por melhor resultado que tenha obtido, Spike Lee
provavelmente não vencerá o Oscar ao qual concorre. A Academia, embora a visível
tentativa de maior arejamento nas duas últimas décadas, geralmente, quase que
por convenção, premia o diretor da produção que não leva o principal Oscar da
noite, o de Melhor Filme, numa estratégia de equilibro entre aqueles que,
geralmente, são os favoritos. Ou seja: pelas estimativas, este ano a coisa deve
ficar entre “A Favorita” (Yorgos Lanthimos) e “Roma” (Alfonso Cuarón), no
máximo “Vice” (Adam McKay).
A questão é que Spike Lee, o ativista e o artista,
representa justamente a injustificável venda nos olhos da Academia para com a
sua obra e, logicamente, para a questão do racismo e das injustiças sociais. Um
reflexo da sociedade norte-americana em formato de estatueta dourada. Em quase
40 anos de realizações, é sabido por que Lee nunca havia sido indicado: sua cor
e seu discurso, seu discurso e sua cor. Como ocorreu, por outros motivos, com
os Oscar para Scorsese, Chaplin e Hitchcock, a Academia relutou, relutou, mas
uma hora teve que dar o braço a torcer – ainda que quase tarde demais em alguns
casos. Por esta lógica, o desafio de Lee se faz imenso e ainda instransponível,
o que, em compensação, talvez só aumente a façanha de “Infiltrados...”.
O ator Chiwetel Ejiofor em "12 Anos de Escravidão": essencial
A morte precoce do ator Chadwick Boseman deixou de luto seus fãs e cinéfilos do mundo inteiro. Sua partida marcou principalmente a comunidade negra, que tinha no artista afro-americano um símbolo de representatividade e de empoderamento em um mundo ainda pautado pelo racismo e pela discriminação. Ao encarnar o super-herói “Pantera Negra”, Boseman se transformou em uma referência. Mas, antes dele, muitos outros personagens negros do cinema também deram sua contribuição para essa história de reconhecimento e pertencimento. Por conta disso, fui convidado pela Cinemateca Paulo Amorim, da Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, em nome de sua programadora, a jornalista Mônica Kanitz a destacar alguns destes filmes, que figuram neste vídeo especial produzido pela instituição. Confira o vídeo e a lista dos respectivos filmes aos quais selecionei.
Vídeo"Chadwick Boseman e Outros Protagonistas Negros no Cinema" Cinemateca Paulo Amorim
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1 -"Adivinhe Quem Vem para Jantar", de Stanley Kramer (1967)
Em São Francisco, Matt Drayton (Spencer Tracy) e Christina Drayton (Katharine Hepburn), um conceituado casal, se choca ao saber que Joey Drayton (Katharine Houghton), sua filha, está noiva de John Prentice (Sidney Poitier), um negro. A partir de então dão início à uma tentativa de encontrar algo desabonador no pretendente, mas só descobrem qualidades morais e profissionais acima da média. Primeiro filme a abordar o tema do racismo e dos conflitos nas relações socioraciais. Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Hepburn), Melhor Roteiro Original (William Rose) e Melhor Ator (Tracy).
2 -"Faça a Coisa Certa", de Spike Lee (1989)
Numa pizzaria no bairro do Brooklyn, NY, onde a maioria da população é negra, há uma parede com fotos de ídolos ítalo-americanos. Quando o ativista Buggin' Out (Giancarlo Esposito) pede ao dono do lugar que a parede tenha ídolos negros e ele nega, inicia-se um boicote ao lugar, o que desencadeia uma série de incidentes. Spike Lee surgia para o mundo com essa obra-prima marcante na história do cinema e da causa negra diretamente contundente contra o racismo. Indicado a dois Oscars, incluindo o de Melhor Roteiro Original.
3 - "12 Anos de Escravidão", de Steve McQueen (2013)
Adaptação da autobiografia homônima de 1853 de Solomon Northup, conta a história real de um negro livre nascido em Nova Iorque, que é sequestrado em Washington e vendido como escravo. Ele trabalhou em plantações no estado de Louisiana por 12 anos antes de sua libertação, passando por todo tipo de sofrimento, violência e desumanidade. Primeiro filme de um cineasta negro a ganhar o Oscar de Melhor Filme, além de ter conquistado também os de Melhor Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong'o) e Melhor Roteiro Adaptado (John Ridley).
4 - "Madame Satã", de Karim Ainouz (2002)
O filme retrata a vida de uma referência na cultura marginal urbana do Rio de Janeiro, o célebre transformista João Francisco dos Santos. Malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre, homossexual, o artista, conhecido como "Madame Satã", se transformou num mito da vida boêmia carioca. Entre os vários prêmios, que recebeu, destacam-se o de Melhor Filme no Chicago International Film Festival, o Prêmio Especial do Júri para melhor primeiro trabalho (Ainouz) no Festival de Havana e os quatro que abocanhou no Grande Prêmio BR do Cinema Brasileiro, incluindo o de Melhor Ator para Lázaro Ramos.
5 -"Pantera Negra", de Ryan Coogler (2018)
Após a morte de seu pai, o Rei de Wakanda, T’Challa (Chadwick Boseman) volta para casa para a isolada e tecnologicamente avançada nação africana para a sucessão ao trono e para ocupar o seu lugar de direito como rei. Mas, com o reaparecimento de um velho e poderoso inimigo, o valor de T’Challa como rei – e como Pantera Negra – é testado quando ele é levado a um conflito formidável que coloca o destino de Wakanda, e do mundo todo em risco. Marco na história do cinema, "Pantera..." é o primeiro filme com um super-herói negro, o personagem criado nos anos 60 por Stan Lee, e também um símbolo necessário para uma época de empoderamento de homens e mulheres negras. Levou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original (Ludwig Göransson), Figurino (Ruth E. Carter) e Direção de Arte para Hannah Beachler, também a primeira negra a ganhar a estatueta nesta categoria.
Em tempo, queria postar algo sobre o grande ator norte-americano Paul Newman.
Me marcou, principalmente o filme Butch Cassidy que vi numa época que começava a gostar mais de cinema e naquele momento foi um filme que me empolgou bastante. Aquele final fantástico com a foto congelada ficou muito tempo na minha retina.
Adorei também o Golpe de Mestre (que assim como Butch Cassidy, é com Robert Redford) com sua engenhosidade e surpresa, o ótimo O Indomado, e o melhor ainda Rebeldia Indomável, além de alguns outros que tive o prazer de ver.
Revi ontem, num desses especiais pela morte do ator, a Inferno na Torre. É bem legal mas a grande atuação neste caso é a do bombeiro Steve McQueen. Apesar de ter um papel destacado, a atuação de Newmann fica no normal.
Mas a que destaco mesmo é do filme A Cor do Dinheiro, de Martin Scorscese, que merecidamente lhe rendeu um Oscar e que tem uma das melhores frases de final de filme de todos os tempos. Depois de uma discussão com Tom Cruise, seu ex-pupilo nas mesas de jogo de sinuca, Paul pega seu taco se inclina sobre a mesa dá uma tacada forte e diz "Eu estou de volta!". Entra tela preta e o filme acaba.
Adoro usar esta frase pensando no filme, tipo, como se estivesse dando a nova tacada inicial em alguma coisa. O jogo recomeçou e eu estou dentro.
Pois é, este ano a grande festa mundial do cinema cai junto com a festa de Momo tão celebrada pelos brasileiros. Para os amantes do cinema as atenções se voltam mesmo para Los Angeles, onde acontece a festa de premiação, no pr´ximo dia 02 de março.
Este ano, na corrida pelo prêmio de melhor filme, ao que parece, "Trapaça" de David Russel e "Gravidade" de Alfonso Cuarón saem na frente no favoritismo, mas 'zebras' como "O Lobo de Wall Street" do oscarizado Martin Scorsese, e o já cultuado "Ela" do doidão Spike Jonze, podem surpreender.
Cate Blanchett parece despontar com uma pequena vantagem sobre suas concorrentes, por seu papel em "Blue Jasmine" e Mathew McConnaughey e Bruce Dern prometem uma disputa acirrada pela estatueta de ator.
Com disputas muito equilibradas, de filmes de muito boa qualidade, a maioria das categorias não tem favoritaços disparados, embora algumas tenham bons indicativos. Mas vamos deixar para descobrir no domingo, não?
Abaixo a lista com os indicados em cada categoria:
Melhor filme Trapaça Capitão Phillips Clube de Compras Dallas Gravidade Ela Nebraska Philomena 12 Anos de Escravidão O Lobo de Wall Street
Melhor diretor David O. Russell - Trapaça Alfonso Cuarón - Gravidade Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão Martin Scorsese - O Lobo de Wall Street Alexander Payne - Nebraska
Melhor atriz Cate Blanchett - Blue Jasmine Amy Adams - Trapaça Sandra Bullock - Gravidade Judi Dench - Philomena Meryl Streep - Álbum de Família
Melhor ator Christian Bale - Trapaça Bruce Dern - Nebraska Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas
Melhor ator coadjuvante Barkhad Abdi - Capitão Phillips Bradley Cooper - Trapaça Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão Jonah Hill - O Lobo de Wall Street Jared Leto - Clube de Compras Dallas
Melhor atriz coadjuvante Sally Hawkins - Blue Jasmine Jennifer Lawrence - Trapaça Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão Julia Roberts - Álbum de Família June Squibb - Nebraska Melhor canção original "Alone Yet Not Alone" - Alone Yet Not Alone "Happy" - Meu Malvado Favorito 2 "Let it Go" - Frozen - Uma Aventura Congelante "The Moon Song" - Ela "Ordinary Love" - Mandela Melhor roteiro adaptado Antes da Meia-Noite Capitão Phillips Philomena 12 Anos de Escravidão O Lobo de Wall Street Melhor roteiro original Trapaça Blue Jasmine Clube de Compras Dallas Ela Nebraska
Melhor longa de animação Os Croods Meu Malvado Favorito 2 Ernest & Celestine Frozen - Uma Aventura Congelante The Wind Rises
Melhor documentário em longa-metragem The Act of Killing Cutie and the Boxer Dirty Wars The Square 20 Feet From Stardom
Melhor longa estrangeiro The Broken Circle Breakdown A Grande Beleza A Caça The Missing Picture Omar Melhor fotografia O Grande Mestre Gravidade Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum Nebraska Os Suspeitos
Melhor figurino Trapaça O Grande Mestre O Grande Gatsby The Invisible Woman 12 Anos de Escravidão Melhor documentário em curta-metragem CaveDigger Facing Fear Karama Has No Walls The Lady in Number 6: Music Saved My Life Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall Melhor montagem Trapaça Capitão Phillips Clube de Compras Dallas Gravidade 12 Anos de Escravidão
Melhor maquiagem e cabelo Clube de Compras Dallas Vovô Sem-Vergonha O Cavaleiro Solitário
Melhor trilha sonora A Menina que Roubava Livros Gravidade Ela Philomena Walt nos Bastidores de Mary Poppins Melhor design de produção Trapaça Gravidade O Grande Gatsby Ela 12 Anos de Escravidão
Melhor animação em curta-metragem Feral Get a Horse! Mr. Hublot Possessions Room on the Broom
Melhor curta-metragem Aquel No Era Yo (That Wasn't Me) Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything) Helium Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?) The Voorman Problem
Melhor edição de som Até o Fim Capitão Phillips Gravidade O Hobbit - A Desolação de Smaug O Grande Herói
Melhor mixagem de som Capitão Phillips Gravidade O Hobbit - A Desolação de Smaug Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum O Grande Herói Melhores efeitos visuais Gravidade O Hobbit - A Desolação de Smaug Homem de Ferro 3 O Cavaleiro Solitário Star Trek - Além da Escuridão