Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Maracanã. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Maracanã. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

The Police - Estádio Maracanã - Rio de Janeiro / RJ (08/12/2007)


Se tem um cara que tem um agente bom, uma gravadora atuante, uma retaguarda comprometida, é o Sting. Que ele é um baita músico, isso não há dúvidas, mas que ele nunca foi do tamanho que a promoção dele o faz, isso temos que concordar. Tá certo, lá, que foi vocalista de uma banda de sucesso, tá bem que tem carisma e tal, mas o que fizeram na primeira vinda solo dele ao Brasil, em 1987, foi algo, assim, de um Elvis, de um John Lennon, de um Michael Jackson! Tinha boa circulação, boa aceitação, reconhecimento, mas não tinha bola pra lotar um Maracanã!

Só que, na ocasião, rádios, TV's, jornais, todo tipo de mídia, divulgaram tão insistentemente aquela turnê, enaltecendo tanto o artista, que todo mundo, mesmo quem mal conhecia, queria ir no show do cara. Por extensão, promoviam o recém lançado álbum "...Nothing Like The Sun", um disco interessante, mas nada mais que regular, um tanto cansativo em seu formato duplo, que trazia alguns hits, é verdade, mas que cativara muito a brasileirada, em especial, pelo fato de Sting cantar uma das canções em português em português, "Frágil", sem falar numa visita a uma tribo indígena, cocar na cabeça, foto com Cacique e tudo mais. 

O resultado dessa forçação toda foi Sting lotando estádios pelo Brasil, inclusive o gigantesco Maracanã, sem que, grande parte do público conhecesse sequer metade de suas músicas, mesmo as do tempo de Police, e quase nenhuma de sua, então recente, carreira solo. Pra ele, no fim das contas, deu certo. O público é que ficou meio, assim, "o que é que eu tô fazendo aqui?", e depois , em casa, o "e, gora, o que é que eu faço com esse disco?".

Introduzi com tudo isso para chegar ao show do The Police, em 2007, que foi mais ou menos a mesma coisa. Tá certo que a banda fez muito mais sucesso que a carreira solo de seu líder e vocal mas, mesmo em sua melhor época, nunca foi banda de arena, nada assim de apelo tão forte, idolatria para deslocar multidões. Pra se ter uma ideia, em seu auge, em 1982, sequer encheram o Maracanãzinho. 

No entanto, contra tudo isso, marcaram o evento para o Maracanã.

E, de novo, o pessoal da retaguarda fez a lição de casa: começou a divulgar meses antes, insistiu, botou outdoors, conseguiu levar de novo o Police às rádios, refrescou a memória de eventuais desinteressados que viveram na época e que resolveram reviver aquilo, e plantou uma curiosidade e uma certo estímulo em um público que sequer conhecia o grupo. De minha parte, fazia parte dos que tinham ouvido aquilo nos anos 80, gostava o suficiente para ir num revival da minha época, embora não entendesse muito bem como uma banda com um apelo nada mais que médio pudesse encher um dos grandes estádios do mundo. Mas...

Mas o fato é que o esforço da produção valeu e o Maracanã, se não encheu, não fez feio de público.

Muito bom show!

Banda competentíssima!

Lembro de ficar de olho ligado, especialmente, no baterista Stewart Copeland, que admiro demais, e em sua performance e desenvolvimento em cada canção. Mas Sting também é fera, é claro, manda muito bem no baixo e tem um dos vocais mais marcantes do rock, sem falar em Andy Summers que sempre deu conta do recado numa boa, e no show, em momentos solo, até superou minhas expectativas.

De quebra, ainda teve Paralamas do Sucesso, na abertura, uma ótima escolha considerando a conexão muito próxima entre o som deles com o do Police, e uma excelente atração e entretenimento para o público, antes do evento de fundo, ao contrário do que costuma acontecer quando a gente só quer que o show de abertura acabe logo.

Curioso desse show é que eu trabalhei nos bastidores do evento o dia inteiro e poderia tê-lo assistido sem custo e em posições mais privilegiadas do que a que fiquei no estádio. Como a empresa que eu trabalhava, na época, faria montagem de infra-estrutura, bares, divisórias, etc., eu tinha a possibilidade de ficar no grupo da manutenção. Até já tinha o ingresso, comprado com bastante antecedência, mas poderia pedir para entrar na escala da noite, venderia o ingresso e ainda faria algum lucro. Mas era tudo muito complicado. Tinha o ingresso da minha esposa também, eu teria que encontrá-la lá dentro e talvez conseguir uma credencial para ela para os setores privados sem falar que eu poderia ser chamado a qualquer momento por causa de um problema com funcionário ou um conserto qualquer ... Ah, quer saber: a melhor coisa era entrar pelo portão, passar pela roleta, sentar na arquibancada, comprar uma cerveja e desfrutar do show.

The Police- Rio de Janeiro (08/12/2007)
show completo


Cly Reis

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Fazendo turismo na cidade onde vivo





MARACANÃ - Rio de Janeiro (10/07/2010)

Por incrível que pareça, mesmo morando no Rio há seis anos e já tendo visto um bocado de jogos no Maracanã, nunca havia feito a tour do estádio. Sábado passado, aproveitando a visita de meu irmão à capital fluminense, banquei de guia e ao mesmo tempo turista no legendário palco da Copa de 50.
com a marca de Falcão, na Calçada da Fama
Para amantes do futebol como eu, é uma coisa mágica estar ali entre as pegadas dos maiores nomes do futebol brasileiro e mundial na Calçada da Fama, localizado logo no início do passeio. É como se estivéssemos entre os mestres, como se, com os pés gravados ali, suas energias estivessem presentes; cada jogada, cada drible, cada gol: Garrincha, Zico, Beckenbauer, Pelé, Ghiggia, Ronaldo; todos ali. Encontrei até os ídolos do meu time, o Internacional, os inesquecíveis, Figueroa, Falcão (que fiz questão de tirar foto junto às pegadas) e Carpeggiane que também brilhou no Rio defendendo as cores do Flamengo.
Já no interior do estádio um grande hall traz imagens de momentos inesquecíveis vividos naquele palco, desde os títulos e decisões dos quatro grandes da capital, passando por momentos históricos como o Gol 1000 do Rei, até a momentos como shows de Sinatra , Madonna e Stones.
O Rei comemorando o milésimo gol.
Subindo, lá nas cadeiras, se tem a visão ampla do estádio e todo seu porte na visão do torcedor; e descendo dali, indo aos vestiários, a mesma sensação mas do ponto de vista de quem faz o espetáculo, do nível do gramado, como uma pequena mostra do que deve ser estar ali, dentro do campo, jogando; jogando bola.
Agora, não sei por quê, desde a primeira vez que fui ao Maracanã, a imagem que tenho na cabeça olhando para o campo é a do Ghiggia invadindo pela direita em velocidade e chutando rasteiro no canto entre a trave e o goleiro Barbosa. Queira ou não queira, esta é minha imagem definitiva do estádio e que, provavelmente não se apagará nem com um título em 2014.
Ah, e a propósito, tenho uma camisa retrô do Ghiggia do gol de 50.


***************************


'turistando' no gramado
Detalhe: Realmente o Maracanã, por mais simbólico e legendário que seja, precisa, sim, de reformas e modernizações consideráveis para encarar um mundial e ser o principal palco como se pretende.
Está velho, ultrapassado e fora dos padrões atuais de conforto, acessibilidade e instalações.
Mãos à obra!
A Copa tá logo ali.








Cly Reis

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Seleção Brasileira - 11 discos nacionais que têm a cara do nosso futebol


A relação do futebol com a música, no Brasil, é algo muito especial e particular. A ginga, o ritmo, a malandragem, a criatividade, a poesia, são compartilhadas por ambos e é como se um se utilizasse das virtudes do outro. Seja pela constituição do povo, pela formação cultural, pela configuração social, por questões comportamentais, por tudo isso, o jogo de bola, popular, democrático, que se pode praticar na rua, num pátio, num terreno qualquer, com qualquer coisa que seja ligeiramente arredondado, é ligado intimamente à musicalidade do brasileiro que pode ser colocada em prática em qualquer lugar ou esfera social, numa mesa, numa lata, numa caixinha de fósforo, no morro numa roda de amigos, ou numa garagem com três caras, duas guitarras e uma bateria.

Nessa época de Copa, pensando nessa íntima ligação, selecionamos alguns discos que tem tudo a ver com esse laço. Quando artistas de música colocaram o futebol de forma significativa dentro de suas obras.

É lógico que teríamos muitos, inúmeros exemplos e possibilidades, aqui, mas ilustramos esse caso de amor futebol & música com 11 discos que têm a cara do futebol. Onze!!! Um para cada posição.

Uma verdadeira Seleção Brasileira.

Dá uma olhada aí:

*****




"A perfeição é uma meta
defendida pelo goleiro"
da música "Meio de Campo"

Gilberto Gil - "Cidade de Salvador" (1973): Embora tenha feito o tema brasileiro para a Copa do Mundo de 1998, Gilberto Gil não é exatamente um cara de referências tão constantes ao futebol em sua discografia. Tem, lá, o Hino do Bahia, em 1969, no disco ao vivo com Caetano, tem "Abra o Olho", do disco Ao Vivo de 1974, que faz menções a Pelé e Zagallo, mas, em sua obra, o álbum mais relevante nesse sentido e que mais traz referências ao esporte das massas do Brasil, é "Cidade de Salvador", de 1984. Nele temos a faixa "Meio de Campo", que reverenciava o, então jogador, Afonsinho, do Botafogo, jogador atuante, engajado, um dos pioneiros na luta pelo direito ao passe-livre, além da luta própria liberdade pessoal, uma vez que seu clube, na época, o Botafogo, exigia que ele tirasse a barba e cortasse o cabelo comprido, ao que o mesmo resistiu, exigindo a rescisão de contrato.

Como se não bastasse uma música tão relevante sobre um personagem tão simbólico do futebol brasileiro, o álbum ainda trazia a faixa "Tradição", belíssima crônica cotidiana, que, embora não fosse uma música sobre futebol, também citava o jogo, mencionando Lessa, um lendário goleiro do Bahia nos anos 50, segundo a letra, "um goleiro, uma garantia".






João Bosco - "Galos de Briga" (1976): A dupla João Bosco e Aldir Blanc, quando se trata de música com futebol, é que nem Pelé e Garrincha, Romário e Bebeto, Careca e Maradona. Eram craques! Sintonia perfeita. Embora muitas vezes na discografia de Bosco possamos encontrar referências ao futebol, como nas clássicas "Linha de Passse" e "De Frente pro Crime", em "Galos de Briga"; disco combativo, lançado em 1976, meio à ditadura militar, podemos encontrar dois exemplares dessa tabelinha entrosada: "Incompatibilidade de Gênios" e "Gol Anulado", duas brigas de casal repletas de elementos futebolísticos (e duplas interpretações a respeito da ditadura). Na primeira, o homem reclama que a mulher, zangada, ranzinza, sequer quer permitir que ele escute no rádio o jogo do Flamengo ("Dotô/ Jogava o Flamengo, eu queria escutar / Chegou / Mudou de estação, começou a cantar ..."); na outra, um marido descobre por um grito de gol que a esposa, que julgava tão perfeita e exemplar em tudo, não torcia, na verdade, pelo seu mesmo time, o Vasco da Gama ("Quando você gritou mengo /No segundo gol do Zico / Tirei sem pensar o cinto / E bati até cansar / Três anos vivendo juntos / E eu sempre disse contente / Minha preta é uma rainha / Porque não teme o batente / Se garante na cozinha / E ainda é Vasco doente (...)", e compara a sensação da frustração à de um gol anulado ("Eu aprendi que a alegria /De quem está apaixonado / É como a falsa euforia / De um gol anulado").

Blanc e Bosco tem mais um monte de futebolices em sua discografia, mas "Galos de Briga", é um dos trabalhos que melhor simboliza bem esse entrosamento.





Neguinho da Beija-Flor - "É melhor sorrir" (1982): Quando uma música tem o poder de ser adaptada para todos os grandes times de uma cidade e ser cantada por cada uma de suas torcidas num estádio lotado, essa música tem lugar garantido entre as mais significativas do futebol. "O Campeão", conhecida também por "Meu Time", de Neguinho da Beija-Flor, integrante do álbum "É Melhor Sorrir", celebra um dia de futebol, desde a preparação, a espera, a ansiedade, até o momento mágico de torcer e vibrar pelo time do coração dentro do estádio. "Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã / Vou levar foguetes e bandeira / Não vai ser de brincadeira / Ele vai ser campeão / Não quero cadeira numerada / Vou ficar na arquibancada / Prá sentir mais emoção / Porque meu time bota pra ferver / E o nome dele são vocês que vão dizer / Ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô, ô..........", e aí completa com o nome do seu time. Quem já ouviu isso no Maracanã, só trocando o nome do time no refrão, não tem como não se arrepiar.

O restante das faixas do disco não tem ligação com futebol, mas com uma dessas, que foi oficializada como hino do estádio, que serve para quatro dos maiores clubes do país, normalmente é entoado por milhares de vozes no maior templo do futebol mundial, há motivos mais que suficientes para incluir "É Melhor Sorrir" entre os álbuns importantes na relação música-futebol.





"A defesa é segura
e tem rojão"
da música "Um a Um"

Jackson do Pandeiro - "Jackson do Pandeiro" (1955): Uma das músicas mais marcantes na qual o futebol figura com protagonismo é a clássica "Um a Um", de Jackson do Pandeiro. A letra discorre sobre todas as posições de um time, setores do campo, situações de jogo, xinga o juiz, e exalta entusiasticamente as qualidades e virtudes do time do coração ("O meu clube tem time de primeira / Sua linha atacante é artilheira / A linha média é tal qual uma barreira / O center-forward corre bem na dianteira / A defesa é segura e tem rojão / E o goleiro é igual um paredão (...)  / Mas rapaz uma coisa dessa também tá demais / O juiz ladrão, rapaz! / Eu vi com esses dois olhos que a terra há de comer / Quando ele pegou o rapaz pelo calção / O rapaz ficou sem calção!..."). E, mais atual do que nunca, não aceitando derrota ou empate em hipótese alguma, ainda adverte:  "Se o meu time perder vai ter zum zum zum". E não é assim sempre ainda hoje?





Chico Buarque - Chico Buarque (1984): Chico Buarque, apaixonado por futebol, volta e meio tem alguma coisa relacionada ao esporte mais popular do mundo em seus discos. Um detalhezinho aqui outro ali, um verso, uma metáfora, uma referência... Poderia citar um monte delas aqui, mas escolhemos a música "Pelas Tabelas", do álbum "Chico Buarque", de 1984, por reunir uma série de elementos interessantes como o Maracanã, a torcida, a tabelinha e uma multidão na rua de verde e amarelo que naquele momento, poderia ser pela Seleção ou pelas manifestações pró-diretas, mas que nos últimos tempos se transformou numa imagem de terror de fanáticos conservadores fascistas. Saudades do tempo em que sair na rua de verde e amarelo era só para comemorar vitórias da Seleção ou reivindicar direitos democráticos.

"(...) Quando vi um bocado de gente descendo as favelas/ Achei que era o povo que vinha pedir / A cabeça do homem que olhava as favelas / Minha cabeça rolando no Maracanã / Quando vi a galera aplaudindo de pé as tabelas /Jurei que era ela que vinha chegando / Com minha cabeça já numa baixela / Claro que ninguém se toca com minha aflição / Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela / Pensei que era ela puxando um cordão".





Engenheiros do Hawaii - "Várias Variáveis" (1991): Os Engenheiros do Hawaii, banda da capital gaúcha, sempre demonstrou estreita ligação com o futebol. Volta e meia usavam em suas letras expressões referentes ao jogo ("jogam bombas em Nova Iorque / jogam bombas em Moscou / como se jogassem beijos pra torcida / depois de marcar um gol" - "Beijos Pra Torcida" 1986); subiam ao palco, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, Gessinger, gremista fanático, coma do Tricolor, é claro; e tinham, até mesmo, em uma de suas músicas, "Anoiteceu em Porto Alegre", uma narração de rádio do gol do título mundial do Grêmio, de 1983. No entanto "Várias Variáveis", de 1991, que não continha especificamente nenhuma música com qualquer menção ao esporte, destaca-se pela capa, que o justifica em estar nessa lista. Nela, entre várias engrenagens, símbolo adotado pelo grupo como marca, preenchidas com ícones pop, símbolos, imagens geográficas, históricas, comerciais, encontramos os escudos dos dois grandes clubes do Rio Grande do Sul, InternacionalGrêmio. Uma capa que dimensiona bem a importância do futebol e a paixão dos gaúchos por seus clubes situando-os entre as coisas mais importantes entre tantos elementos como ideologias, religiões, comportamento, economia, coisas que fazem mexer as engrenagens do mundo. Afinal, como dizem, o futebol é a coisa desimportante mais importante do mundo. Não é mesmo?





Novos Baianos - "Novos Baianos F.C. (1973): O que era aquilo? Uma banda? Uma família? Uma comunidade? Um time de futebol? Tudo isso! Os Novos Baianos meio que inauguraram um novo conceito de grupo musical: moravam juntos, todos colaboravam em tarefas, faziam música e, apaixonados por futebol, batiam uma bolinha. Para isso, montaram dois campos de futebol no sítio onde a banda vivia, na zona leste do Rio, onde, entre uma gravação e outra, jogavam aquela pelada, ou ao contrário, entre uma partidinha e outra, rolava algum som. Um desses momentos de descontração e atividade paralela é captado na capa do disco "Novos Baianos F.C.", de 1973, com a banda "rolando um caroço" no seu campinho em Jacarepaguá. Além do registro da foto, e da extensão (Futebol Clube) não deixa dúvidas quanto à paixão daquela turma pelo jogo de bola, o disco ainda traz a faixa "Só se não for brasileiro nessa hora", que exalta a pelada, o jeito moleque, o gosto por correr atrás da bola: "Que a vida que há no menino atrás da bola / Pára carro, para tudo / Quando já não há tempo / Para apito, para grito / E o menino deixa a vida pela bola / Só se não for brasileiro nessa hora".

"Novos Baianos F.C", de certa forma, resume o espírito do grupo. Um time. Uma equipe entrosada, quase um Carrossel Holandês onde todos se revezavam e executavam mais de uma tarefa dentro de campo. Futebol total. Ou seria música total? 





Pixinguinha - "Som Pixinguinha" (1971) - Uma das primeiras composições alusivas ao futebol foi "1x0" do mestre Pixinguinha. Gravada no final dos anos 1920, a canção instrumental, homenageava o grande feito da conquista do Campeonato Sul-Americano de 1919, numa partida contra o Uruguai, vencida arduamente, depois de duas prorrogações, pelo placar mínimo, 1x0, gol do ídolo da época, Arthur Friedenreich. 

A música até ganhou letra nos anos 1990, do músico Nelson Ângelo, que a regravou então, cantada, em parceria com Chico Buarque, mas nem precisava: instrumentalmente ela, com seu ritmo, fluidez, construção, já consegue transmitir a dinâmica de um jogo, a ginga, a expectativa do torcedor, a movimentação dentro de campo..., tudo!

A canção foi gravada, originalmente, nos anos 1920, saiu em compactos posteriores, em algumas coletâneas, mas o registro que destacamos aqui é o álbum "Som Pixinguinha", de 1971, o último disco gravado pelo mestre do choro, que viria a ser reeditado, anos depois, no Projeto Pixinguinha, rebatizado como "São Pixinguinha". Nada mais justo. Só coisas divinas. Amém, Pixinguinha! Amém!






"O centroavante, o mais importante
Que emocionante, é uma partida de futebol"
da música "Uma partida de futebol"

Skank - "Samba Poconé" (1996): Logo depois que o Brasil ganhou a Copa do Mundo de 1994, o futebol voltou a virar mania nacional. Literalmente, virou moda. As camisetas de clubes, antes restritas às peladas e aos estádios, naquele momento tomavam as ruas. Embora vários artistas manifestassem esse momento, nenhuma banda soube traduzir tão bem esse momento como o Skank. Além dos integrantes se apresentarem, não raro, com camisetas de seus clubes do coração, os grandes de Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético, talvez tenham feito a mais empolgante e entusiástica música daquele período e uma das mais marcantes da história da música braseira, sobre futebol. "É Uma Partida de Futebol" transmitia, com rara felicidade às emoções de dentro e fora de campo, com expectativa do jogo, lances de perigo, reação da torcida, tudo com muita alegria e ritmo ("Bola na trave não altera o placar / Bola na área sem ninguém pra cabecear / Bola na rede pra fazer o gol / Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? / A bandeira no estádio é um estandarte / A flâmula pendurada na parede do quarto / O distintivo na camisa do uniforme / Que coisa linda é uma partida de futebol (...)"). Sem dúvida, um marco na histórica relação bola-microfone, tão estreita na música brasileira.





"É camisa dez da Seleção
laiá, laiá, laiá!"
da música "Camisa 10

Luiz Américo - "Camisa 10" (1974): É o típico exemplo de artista de uma música só. Luiz Américo gravou a música "Camisa 10" para a Copa do Mundo de 1974, lamentando a ausência de Pelé, que se despedira da Seleção depois da Copa do México em 1970, e questionando as escolhas do técnico Zagallo, campeão na Copa anterior, mas de escolhas bastante duvidosas para o Mundial seguinte. A letra, inteligente, cheia de boas sacadas e trocadilhos com os nomes dos jogadores ("Desculpe seu Zagalo/ Puseram uma palhinha na sua fogueira / E se não fosse a força desse tal Pereira / Comiam um frango assado lá na jaula do leão / Mas não tem nada não!"), acabaria por confirmar os temores dos autores, Hélio Matheus e Luís Vagner, de um time confuso, mal convocado e mal escalado que não convenceu em nenhum momento e acabou eliminado de maneira impiedosa pela Laranja Mecânica de Johan Cruyff.

Lançada em um álbum sem outras alusões a futebol, "Camisa 10", além de ser, com certeza, a maior cornetada musical da discografia nacional, talvez seja a canção mais marcante da tabelinha música-futebol no Brasil.





Jorge Ben - "Ben" (1972)Jorge Benjor, talvez seja o músico com mais referências ao futebol em sua obra. Volta e meia tem! Tem menção a clube, exaltação a craque de verdade, para craque inventado, música por posição, para infração dentro de campo, pra negociação entre clubes... Tem de tudo. "África Brasil" , disco já destacado aqui no ClyBlog, nos nossos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, provavelmente seja o álbum que mais contém referências ao esporte, com uma música cuja letra conta o desejo de um de seus filhos em querer ser jogador de futebol ("Meus filhos, meu tesouro"), uma para o craque Zico ("Camisa 10 da Gávea), e uma para um fictício meia-atacante africano de futebol encantador, "Umbabaraúma, Ponta de Lança Africano". No entanto, a canção de Jorge Benjor mais marcante sobre futebol, é, sem dúvida, uma das mais lembradas no quesito em toda a música brasileira, está no disco "Ben", de 1972. "Fio Maravilha" descreve, quase com a precisão de um locutor esportivo, o lance mágico do atacante Fio, do Flamengo, dos anos 70, em que ele faz, segundo o autor "uma jogada celestial". Jorge Benjor, exímio construtor de imagens musicais, soma à narração do lance, a reação da torcida e o grito de reverencia e agradecimento da massa para o craque, num dos refrões mais populares da música brasileira, "Fio Maravilha / Nós gostamos de você /Fio Maravilha / Fazmais um pr'a gente ver".

Curiosamente, anos depois, Fio acabou processando Jorge Benjor pela utilização de seu nome sem autorização. O próprio Fio desistiu do processo sem sentido até porque, antes da música ele não era ninguém e, pelo contrário, era conhecido, exatamente, por perder muitos gols. Simplesmente, um hino do futebol brasileiro!



por Cly Reis

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Pearl Jam - Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro (22/11/2015)



Já com as luzes acesas durante "Rockin' inthe Free World"
Não sei mas, tenho a impressão que só eu não fiquei empolgado com o show do Pearl Jam.
Show normal, normalzinho.
Tinha grande expectativa por conta da apresentação que havia presenciado deles em Porto Alegre em 2005 e por todos os comentários que vinham sendo feitos em relação aos outros pontos da turnê mas no fim das contas foi um show morno.
"Oceans" como escolha para a abertura já me pareceu uma opção pouco feliz, a não ser que fosse seguida por um dos mega-hits ou por uma paulada, o que não foi o caso. "Present Tense" do álbum "No Code" a seguiu e assim, já a partir daí, a primeira parte se arrastou num ritmo não lento, mas sem pegada. É verdade que a moderação era quebrada de vez em quando por algo mais agressivo como "Even Flow", a boa "Mind Your Manners", uma das melhores do novo álbum "Lighting Bolt" e a excelente "Do The Evolution", talvez a mais empolgante do primeiro segmento, mas não era o suficiente para engrenar de vez.
Considerei o planejamento do repertório um tanto equivocado no seu conceito, no seu ritmo, na sua sequência, mas não dá pra negar também que parte da sensação pouco satisfatória do início do show pode ser um atribuída ao som do estádio que prejudicava muito a qualidade de cada música e por vezes fazia com que estas soassem como uma massa sonora única.
Eddie Vedder vestindo a sunga vermelha com a qual
foi 'presenteado' por um fã da plateia.
Terminada a primeira parte, no primeiro bis, depois de algumas acústicas, Eddie Vedder camou o público ainda mais para junto da si com uma interpretação de "Imagine" de John Lennon, em homenagem a um fã morto num dos atentados de Paris com o público proporcionando um belo espetáculo visual com seu celulares acesos. Mas a balada de Lennon já trouxe no rastro a intensa "Jeremy" e a boa "Why Go" para quebrar a sequência morosa e fechando o segundo trecho com uma inusitada mas interessante participação de um fã aniversariante que pedira para cantar e que surpreendentemente mandou muito bem puxando a introdução de "Porch".
Com um Eddie Vedder simpático, falante e bem-humorado, o último bis compensou a desnecessária cover da infame banda que estava no Bataclan em Paris e da chata "Last Kiss" de Wayne Cochram (mas que, devo fazer justiça, todos cantaram juntos acompanhando com palmas) com as ótimas versões para os clássicos "Comfortably Num" do Pink Floyd e da já tradicional "Rockin' in the Free World" de Neil Young, talvez o melhor momento do show com as luzes do estádio já acesas, encaminhando o final e a galera se acabando no rock'n roll. Esta última parte também apresentou os clássicos "Black" e "Alive" que não poderiam faltar, até porque, no fim das contas, a maioria esmagadora das pessoas que estava no estádio estavam interessadas em ouvir as músicas do álbum "Ten" e na reta final foram recompensadas com o que esperavam. Aliás, ambas duas tiveram execuções e performances à altura de suas grandezas com a devida entusiasmada reação do público que as cantou em côro de forma emocionante.
Para ser justo, com o final se aproximando, com as covers, com os clássicos da banda e o clima descontraído, chegando ao ponto do vocalista vestir por cima da bermuda uma sunga jogada pelos fãs, dá pra dizer que a tepidez que dominava o espetáculo na maior parte do seu tempo deu lugar a um show, no fim das contas, interessante. Antológico? Incrível? Maravilhoso? Não, não. Um bom show. Bom. Só isso.


SET LIST - "Pearl Jam - Maracanã
Oceans 
Present Tense
Corduroy
Hail Hail
Mind Your Manners
Do the Evolution
Amongst the Waves
Save You
Even Flow
Who You Are
Setting Forth, da carreira solo de Eddie Vedder)
Not for You
Sirens
Given to Fly
I Want You So Hard (Boy’s Bad News), do Eagles of Death Metal
Comatose
Lukin
Rearviewmirror


Bis 1:
Yellow Moon (acústica)
Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town (acústica)
Just Breathe (acústica)
Imagine, de John Lennon (acústica)
Jeremy
Why Go
The Fixer
Porch

Bis 2:
Last Kiss, de Wayne Cochran
Comfortably Numb, do Pink Floyd
Spin the Black Circle
Black
Better Man
Alive
Rockin’ in the Free World, de Neil Young
Yellow Ledbetter

Só pelo registro, com imagem distante mas com som bastante razoável, segue o vídeo da execução de 
"Alive" - Maracanã (22/11/2015)




por Cly Reis

terça-feira, 8 de abril de 2014

Gigante da Beira-Rio - Jogo de Reinauguração 06/04/2014


Já tinha tido o prazer de conhecer um dos estádios que sediará a Copa do Mundo, o Maracanã reformado, mas agora tive a especial emoção de entrar no Novo Beira-Rio, que depois de 2 longos anos praticamente fechado, enfim ressurge belo, imponente e grandioso. O Beira-Rio está uma joia, um primor. A cobertura lhe confere um ar majestoso, os acessos internos estão fáceis e amplos, as circulações na plateia garantem bom fluxo, os banheiros espaçosos, limpos e organizados, e o aspecto geral do interior do estádio é simplesmente esplendoroso. Como eu já havia dito a respeito do maracanã, e agora afirmo em relação ao Beira-Rio, é uma verdadeira casa de espetáculos. Um teatro, um Opera, um Royal Albert Hall a serviço do futebol. é lógico, não vou esconder de ninguém que a área externa precisa ainda de muitos cuidados, de uma pavimentação adequada,  delimitações, sinalização, etc., mas pelo que vejo não são trabalhos que não devam apresentar grandes dificuldades e, provavelmente, em pouco tempo estejam satisfatoriamente executados.
Lindo ver o meu Gigante, já cheio de histórias, pronto para mais muitos anos de glórias e novos capítulos dessa história grandiosa do Sport Club Internacional. Meu pai viu a inauguração de 1969 no Gigante e eu dou continuidade a isso comparecendo à nova de 2014 e, assim, passando de geração para geração, o amor pelo Internacional e o respeito por essa casa que é de todos os colorados, e que verdadeiramente tem alma, tem coração, fazemos com que ontem, hoje e sempre, por nossos laços, o Gigante permaneça eterno.
Parabéns, Gigante da Beira-Rio, parabéns Internacional e parabéns torcida colorada pelo nosso belíssimo e reformulado estádio. Que venha a Copa do Mundo e depois, que venham mais gols colorados, mais emoções e mais glórias.

A visão do estádio na chegada pela Padre Cacique

O movimento dos torcedores procurando seus acessos

A parte externa, próxima ao edifício-garagem,
ainda precisando de pavimentação

Acessos e circulações internas bastante amplos

Times perfilados para os hinos

Bola rolando
A bela cobertura, vista do interior do estádio


Este ilustre blogueiro na social do Beira-Rio


Cly Reis




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Eu Fui!



The Rolling Stones - Olé Tour 2016
Maracanã - Rio de Janeiro (20/02/2016)
por Cly Reis



Mick Jagger, Richards e Watts, no palco.
Provavelmente não voltaremos a ver esse time junto novamente.
foto: Jacson Vogel
Meus caros, eu fiquei emocionado.
Fiquei com os olhos marejados por praticamente todo o show e em alguns momentos, devo admitir, não pude conter as lágrimas. Como se não bastasse estar ali diante da, possivelmente, maior banda de rock do planeta, uma lenda viva da humanidade, o que já seria suficiente para que uma pessoa como eu tão envolvida emocionalmente com a música, se entregar à emoção, os caras, senhores de idade, setentões, vovozinhos, fizeram um show absolutamente incrível, competente, profissional, vivaz e emocionante. Senhores, um dos melhores shows que vi em minha vida.
A emoção já começou com "Start Me Up", que como já falei aqui no blog, é a música da minha filha, o que a torna absolutamente especial para mim. Mas independente disso, pelo musicaço que é, pela energia que passa, é uma escolha sempre acertada da banda que a utiliza com frequência nas aberturas de show. E não foi diferente, "Start Me Up", literalmente ligou, acendeu o público, e dali pra frente eles incendiaram o Maracanã.
Num repertório praticamente só de grandes hits, com exceção, talvez, para "Doom and Gloom", o êxtase foi garantido do início ao fim. A energia ficou nas alturas praticamente o tempo todo, com um breve momento para respirar com a balada "Angie", mas que já seria sucedida pela devastadora "Paint It, Black" com a batida elegante mas potente de Charlie Watts e com Ron Wood tocando cítara como na original. No trecho "acústico" do show provavelmente para que o elétrico Mick Jagger pudesse ir fazer uma nebulização, se o ritmo também diminuiu, com a balada "You Got The Silver", a energia não, com uma emocionante, demorada e merecida ovação para o gênio da guitarra Keith Richards que depois ainda emendou nos vocais "Before They Make Me Run", do "Some Girls".
Escolhida pelo público em votação, "Like a Rolling Stone", de Bob Dylan, foi para mim uma agradabilíssima surpresa uma vez que não a tinha visto nas listas dos outros shows pela América Latina; a quilométrica "Midnight Rambler" foi absolutamente fantástica cheia de improvisos dos guitarristas que mostraram mais uma vez porque são dois dos monstros do instrumento; "Miss You", não menos incrível, com seu embalo convidativo foi um show à parte do baixista Darryl Jones que mandou ver, inclusive quando solicitado em solo; e a contagiante "Brown Sugar" teve seu tradicional coro regido pelo maestro Mick Jagger, provavelmente o melhor frontman que já pisou num placo.
"Gimme Shelter", irradiando aquela sua estranha aura pelo estádio inteiro, no seu misto de beleza, fascinação e terror, me levou definitivamente às lágrimas. Sua execução, as performances individuais e o efeito que causou no público justificam sua grandeza e mais confirmam que considero a maior dos Stones e uma das maiores da História.
De energia não menos estranha e mais sinistra ainda, "Sympathy For The Devil" começava como um verdadeiro inferno com o palco todo iluminado em vermelho, pentagramas no telão e o líder da seita vestido com sua tradicional capa de pele perguntando a todos ali conheciam seu nome. E não?
E a primeira parte fechava com a favorita da minha esposa que estava lá comigo, "Jumping Jack Flash", outro dos grandes clássicos da história do rock, cheia de energia e com seu o velho Richards executando seu inspirado e inconfundível riff. Espetacular!
E então, depois de uma breve pausa, da escuridão do palco, um suave côro gospel de voz femininas anunciava a música escolhida para abrir o bis: era a monumental "You Can't Always Get What You Want", um épico do rock, uma pequena grande obra prima que se estendeu, ganhou um ritmo acelerado no final e preparou terreno para um final ainda mais apoteótico. Pois quando o riff destruidor de "(I Can't Get No) Satisfaction" irrompeu rascante  e corrosiva nas caixas de som dos estádio a celebração então estava completa. O estádio foi abaixo! Aliás, tenho que dar uma passada por lá daqui a pouco pra ver se ainda restou alguma coisa dele porque "Satisfaction" foi simplesmente destruidora! Êxtase, êxtase! Um final mais que apropriado para um show como aquele. Um show à altura da maior banda de rock em atividade. Os caras justificaram plenamente porque é que são essa lenda. Porque são os ROLLING STONES!
E eu vi!
Eu estava lá.
E, não querendo secar, mas, tirando as brincadeiras que se faz com a longevidade dos 'rapazes', especialmente do "fenômeno" Keith Richards, provavelmente foi a última vez que tivemos a oportunidade de ver essa turma toda junto por essas bandas. Ou seja, quem viu, viu, quem não viu, acho que não verá mais.
Eu vi.


"Start Me Up" filmada do meu celular. O som, é claro, não está dos melhores, mas vale para sentir a vibração do lugar.



************

SETLIST
Start Me Up
It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
Tumbling Dice
Out of Control
Like a Rolling Stone
Doom and Gloom
Angie
Paint It Black
Honky Tonk Women
You Got the Silver (vocal: Keith Richards)
Before They Make Me Run (vocal: Keith Richardss)
Midnight Rambler
Miss You
Gimme Shelter
Brown Sugar
Sympathy for the Devil
Jumpin’ Jack Flash


Bis:
You Can’t Always Get What You Want
(I Can’t Get No) Satisfaction

Galeria de fotos

Galera chegando e o céu se preparando para um temporal.

Na rampa.
It's Only Rock'n Roll But I Like It

Com minha esposa no banner do show

Pré-show. Pessoal ainda chegando.

Este bloguiero e, ao fundo, o palco.

A multidão no ritmo dos Stones

Grande noite de rock'n roll!