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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

cotidianas #390 - Os Olhos de Mac


Forte, soturno, superior, mágico, misterioso, penetrante, místico, diabólico, poderoso, sedutor, letal. O título, de entrelinhas enigmáticas, poderia, num primeiro instante, fazer qualquer leitor mais sugestionável pensar em qualquer uma destas características atribuindo-a ao referido olhar. Mas perdoe-me o leitor derrubar o ar de mistério com o qual ele mesmo já começava a cobrir a história esperando talvez uma intrincada história policial de um policial sagaz e um vilão artimanhoso difícil de ser apanhado, um assustador conto de possessão demoníaca, uma tramam internacional de espionagem. Não é nada disso. Perdoem-me decepcioná-los, talvez, mas devo dizer-lhes que os olhos de Mac com os quais resolvi estampar o título desta crônica não passam de olhos de cachorro. Sim, olhos de um cão vira-lata. Um cachorro que minha mãe tivera na infância e que cujo olhar pedinte costumava ser tão condoído, tão sentido, tão compadecedor que minha avó consagrou-o em expressão para definir a cara dos próprios filhos quando dirigiam-se a elas para pedir alguma coisa. "Não me vem com esses olho de Mac!", dizia a Dona Isaura espantando qualquer eventual pedido antes mesmo que acontecesse, já adivinhando o desejo pela cara súplice de algum dos filhos, que normalmente, diante da prévia negativa, colocava o rabinho entre as pernas e dava meia volta, sem nem mesmo tentar levar  adiante a solicitação a que se propunha, muitas vezes depois de ter-se enchido de coragem por horas a fio. Algo do tipo, "não quero nem quero saber o que tu tá pensando em vir me pedir (ou até sei) mas nem quero ouvir e mesmo se eu ouvir, minha resposta será não". Um verdadeiro banho de água fria.
Não, olhos de Mac não funcionavam com a Dona Isaura.
Com a Dona Iara, minha mãe, até funcionava. Apesar de ter levado adiante a expressão criada por minha vó e utilizá-la muitas vezes lá em casa para mim ou para os meus irmãos, muitas vezes a fachada de durona derretia com um olho de Mac bem planejado e executado. Afinal, a técnica do olho de Mac tem que ser muito bem aplicada para que dê resultados e se for pode render ótimos frutos.
Vá, tente. Tente com sua mãe, namorada, esposa. Peça aquela coisa que elas normalmente negariam. Infelizmente eu não tenho uma foto do Mac aqui para demonstrar os zóio que aquele guaipeca faria. Mas acho que não é necessário. Acho que você entendeu a técnica.
Forte, soturno, superior, mágico, misterioso, penetrante, místico, diabólico, poderoso, sedutor, letal? Não¹. Apenas suplicante, manhoso, dengoso, cativante, choroso, apiedante. Nada mais que uma cara de cachorro pidão. Sim, isso sim são Olhos de Mac.



Cly Reis

sábado, 11 de fevereiro de 2017

"Vontade de Mundo" – Exposição coletiva – Coleção João Sattamini - Museu de Arte Contemporânea (MAC) – Niterói/RJ




Como já falei aqui no blog – e acho que sempre vou falar quando lá estiver –, ir ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o MAC, é por si um passeio e um exercício artístico, independentemente do que estiver em exposição. Aquele desenho de Oscar Niemeyer, que respeita e se integra com o redor, com a natureza exuberante do Mirante da Boa Viagem com mar, morros, verde, declives e aclives, faz com que o visitante também se integre àquela arquitetura. Niemeyer, através da beleza reveladora de sua arte, faz-nos revelar tal integralidade enquanto seres pertencentes a esta natureza. 
Impressionante pela técnica e efeito a obra de Del Santo

Dito isso, volto as atenções à exposição em destaque, que está no local até 2 de abril: "Vontade de Mundo". A mostra algumas guarda parecenças com outra que vimos em nossa estada no Rio de Janeiro em dezembro, “A Cor do Brasil”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), pois ambas têm como base o acervo do colecionador João Sattamini. Isso faz com que alguns artistas, como Mira Schendel, Iberê Camargo e Aluísio Carvão, por exemplo, apareçam nas duas. Porém, o conceito, este sim, é totalmente próprio em cada uma delas. Nesta do MAC, consideravelmente menor que a outra, mesmo que exposta no salão principal, são 30 obras selecionadas, cerca de 90% menos do que a do MAR, que traz mais de 300! 

Afora o fator quantidade, "Vontade...” traz como tema não a cor como mote, mas um (questionável) sentido de unidade por meio de incontáveis mundos possíveis em cada obra de arte. O objetivo deste recorte é provocar cada visitante a tecer relações entre as obras entendidas como um mundo em si aberto ao tempo. Essa leitura é de certa forma facilitada na segmentação dada: Mundos sem Nome, Invisível, Casa, Amor e Comunidade. Segmentação esta, todavia, um tanto resvalante.
O sempre minimalista e surpreendente Antonio Dias

Mira, a quem já me referi, como sempre impressiona com sua acrílica sobre tela de 1985, assim como um dos meus queridos da arte moderna brasileira, Antonio Dias com o invariavelmente interessante “Projeto para One & Three”, de 1974, uma acrílica e fita crepe sobre papel sobre madeira. “Linear cubo”, de Dionísio Del Santo, de 1976, também impressiona tanto pela técnica (óleo e fios de algodão sobre tela colada em aglomerado) quanto pelo efeito estético e de tridimensionalidade obtido. Ainda, merece destaque a escultura em bambu pintado a óleo de Ione Saldanha – cujas peças da mesma série se encontram na exposição do MAR, Quem também está no MAR e no MAC é o gaúcho Iberê Camargo com seu não-figurativo carregado. Nesta, não poderia ter caído em outra classificação que não a de Mundos sem Nome.


Quadro de Hermelindo Fiaminghi na série Mundos sem Nome


Se o conceito de “Vontade...” é um tanto aberto, numa forma quase preguiçosa de aproveitar esse o acervo de Sattamini, as obras que a compõem são de inegável qualidade. Se me perguntarem se vale a pena ir ao MAC para conferir a exposição, diria de pronto que “sim”. Afinal, mesmo que não se goste, tem o próprio MAC para se apreciar.
Enlameada, obra de Iberê, sempre expressivo


Mais uma vez, o mínimo dizendo muito


Arte indígeno-moderna de Ione Saldanha no bambu pintado a óleo
Simples e brilhante quadro a esmalte de Ione Saldanha

Instalação de Jorge Duarte toda em metal


Um dos quadros da série que tematiza o Amor

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“Vontade de Mundo” da Coleção MAC Niterói – João Sattamini 
local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC
período: até 2 de abril 
de terça a domingo, das 10h às 19h 
Ingresso: R$ 10 
Entrada gratuita às quartas-feiras 

Curadoria: Luiz Guilherme Vergara


Por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fleetwood Mac - "Tusk" (1979)



"Para mim, sou uma espécie de culpado por trás desse álbum singular, que foi feito de forma a minar uma espécie de fórmula de fazer apenas uma continuidade de ‘Rumors’.
Nós realmente estávamos prontos para fazer isso, o que poderia ter sido o início de uma autoimagem em termos de viver de acordo com os rótulos que nos estavam sendo colocados como banda.
Você sabe, tem havido vários momentos durante a trajetória da Fleetwood Mac ao longo dos anos em que tivemos que minar quaisquer que fossem as máximas que nos imputassem de maneira a nos mantermos com o espírito de artistas iniciantes,
e o álbum Tusk foi um desses momentos."
Lindsey Buckingham



Essa história começa em 1974. O grupo inglês Fleetwood Mac tava numa pior. O baterista Mick Fleetwood – e a metade do nome da banda, pois a outra é de John McVie, o baixista – foi visitar um estúdio e descobriu um casal de cantores e compositores e os convidou pra integrar o grupo. Eles eram Stevie Nicks e Lindsey Buckingham. Sem querer, tropeçou numa mina de ouro. O primeiro disco com os caras, “Fleetwood Mac”, de 1975, vendeu muito: cinco milhões de cópias. Mas ninguém esperava que o trabalho seguinte, “Rumours” se transformasse num fenômeno: 40 milhões de cópias vendidas e o terceiro disco mais comprado da história da música.
 Superar esta marca era uma tarefa inglória. Depois de excursionar pelo mundo inteiro, chegou a hora de fazer um novo disco. A pressão era muito grande. E, como quem é pressionado acaba fazendo exatamente o contrário, o guitarrista e cabeça musical da banda Lindsey Buckingham resolveu adotar um approach diferente. Trancou-se em casa e gravou metade das músicas do disco sozinho, tocando todos os instrumentos, fazendo vocais no banheiro – porque tinha a melhor reverberação – e detonando com as expectativas de todo mundo. Pra completar, usou as músicas que suas companheiras de banda e compositoras, a cantora Stevie Nicks e a tecladista Christine McVie, tinham na manga e fez um álbum duplo daqueles que parece ser, na verdade, três discos distintos. Mas que, numa ouvida do começo ao fim, apresenta uma coerência maluca. Se eu fosse louco, o compararia ao “Álbum Branco” dos Beatles, pela variedade estilística. Mas eu não sou. E este é “Tusk”, o 15º disco favorito aqui da casa.
Pra começar na manha e não assustar ninguém, Buckingham colocou uma balada romântica de McVie como primeira canção, “Over and Over”, daquelas que a gente ouvia na rádio nos anos 80. Mesmo num clima meloso desses, se ouve o toque LB: os vocais inspirados nos Beach Boys, grandes ídolos do guitarrista, especialmente o líder Brian Wilson. O vocal de Christine é bem característico das canções que ela interpretou no grupo até sua saída, em 1998.
 Em “The Ledge”, começa a viagem sonora do guitarrista. E a mensagem é dirigida diretamente à sua namorada da época, Carol Ann Harris (que, anos depois, escreveu um livro sobre suas aventuras e desventuras ao lado de Buckingham): “Você pode me amar/ mas não pode ir embora/ Alguém tem de te dizer/ o que tudo isso significa”. Os vocais são fantasmagóricos e ele toca todos os instrumentos. Não que tenham muitos nesta faixa: o trio básico de guitarra, baixo e bateria.
 Após o primeiro susto, Lindsey Buckingham amacia de novo com outra composição de McVie, “Think About Me”, essa mais no clima “Rumours” do Fleetwood Mac. Christine faz esta canção pra Dennis Wilson, o baterista dos Beach Boys (sempre eles) que namorava na ocasião. “Tudo que precisou foi um olhar especial/ e eu senti que te conhecia/ não pretendia te amar/ não achava que fosse dar certo... não vou te segurar/ deve ser por isso que você está aqui/ mas se eu for aquela que você ama/ pense em mim”.
 “Save me a Place” é um pedido de ajuda de Lindsey. Os violões e mandolins dão a medida da canção, na qual o guitarrista diz: “Guarde um lugar pra mim/ Eu virei correndo/ se você me amar hoje”. A confusão é uma tônica da música. “Não sei porque devo ir embora/ não sei porque devo ficar/ talvez eu queira ficar sozinho/ eu acho que preciso ser conquistado”.
 “Sara” foi o grande sucesso do disco e a primeira composição de Stevie Nicks no álbum. Dá pra se dizer que é uma clássica canção estilo FM dos anos 70: limpa, clara, pop e direta ao ponto, apesar da letra estranha de Nicks, numa carta à sua amiga - quem mais? - Sara: “Se afogando no mar do amor/ Onde todo mundo gostaria de se afogar/ mas agora se foi/ não interessa mais/ quando você construir sua casa/ me chame... Sara, você é uma poeta no meu coração/ nunca mude, nunca pare”. Estas palavras estranhas são embaladas por uma batida irresistível do baterista Mick Fleetwood, com o baixo seguro de John McVie, os teclados discretos de Christine McVie e pelos violões de Buckingham.
 Por falar no guitarrista, ele volta a se vingar da namorada em “What Makes You Think You're the One”, num título autoexplicativo que abre o Lado 2. Nesta canção, se pode dizer que ele, como baterista, é um ótimo guitar hero e produtor. “O que faz você pensar que é a única?/ Quem pode rir sem chorar... cada pedaço/ está aí/ para ser visto/ cada pedaço/ meu/ e seu”. E a retaliação continua: “O que faz você pensar que eu sou o cara?/ que vai te amar pra sempre?/ tudo o que você fez está feito/ e não vai durar pra sempre”. Tava furioso o moço... No livro, ela conta que as brigas eram diárias. E as reconciliações também.
 “Storms” vem de piano elétrico e guitarra se entrelaçando para criar a cama na qual Stevie Nicks vai cantar uma história de amor não muito bem sucedida. Certamente a que viveu ao lado de Lindsey Buckingham. “E eu não tenho lidado contigo, eu sei/ Apesar do amor ter sempre estado aqui/ Então tento encontrar uma resposta lá/ para que eu possa realmente ganhar”. Ao lavar a própria roupa suja, Nicks consegue ser sincera: “Então eu tento te dizer adeus, meu amigo/ Gostaria de te deixar com algo carinhoso/ mas eu nunca fui um mar calmo e azul/ eu tenho sido sempre uma tempestade”. Admitindo sua personalidade, ela consegue ir em frente.
 “That's All for Everyone” é uma canção de Lindsey Buckingham que tem um quê de folk song com uma wall of sound de vocais, muitos provavelmente feitos no banheiro. Como na maioria das canções do guitarrista, a perplexidade é que domina: “É tudo pra todo mundo/ É tudo pra mim/ última chamada para todo mundo/ deve ser exatamente o que eu preciso”. Durante a gravação de “Tusk”, o guitarrista se envolveu pesado com a cocaína e não se tornou um recluso porque Carol Ann Harris vivia na mesma casa que ele. Ela conta no livro “Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac” que ele se trancava no estúdio caseiro o dia inteiro com uma montanha de pó e ficava gravando infinitas faixas, muitas delas não usadas no disco.
 A barra pesada de Buckingham continua em “Not That Funny”. “Não é tão engraçado/ quando você não sabe o que é/ Mas não consegue o suficiente disso... não me culpe/ por favor/ você está aqui porque eu quis assim”. A impressão é que o músico entrava em seu bunker particular e dizia em música tudo o que não conseguia falar abertamente e ao vivo com sua namorada. Uma briga musical. E quem levou a melhor fomos nós.
 O tão falado misticismo de Nicks aparece em “Sisters of the Moon”. “Silêncio intenso/ quando ela entra no quarto/ suas roupas pretas esvoaçando/ Irmã da Lua”. Outra faixa com bateria marcada de Mick e as guitarras de Lindsey aqui a serviço da canção. Poderia se dizer que esta canção é uma sub-”Rhiannon”, o grande sucesso das canções solo de Stevie. Possui, inclusive, a mesma pegada de guitarra e os backing vocals uivantes, como lobos em lua cheia.
 O Lado 3 do LP inicia com mais uma canção de Nicks. A faixa mais pop de todo o álbum. “Angel”, que é mais uma direcionada ao guitarrista. “Às vezes/ as coisas mais bonitas/ as coisas mais inocentes/ e muitos destes sonhos/ passam pela gente/ e continuam passando/ Você se sente bem/ Eu digo que é engraçado que tu entendas/ Eu sabia que sim/ Quando você era bom/ Você era muito, muito bom”. Lá pelas tantas, Nicks vai direto na couve: “Houve um fim/ mas não houve um encerramento”. O piano elétrico de McVie é que dá o tom.
“That's Enough for Me” é mais um trabalho solo do disco que Buckingham gravou com o Fleetwood Mac. “Toda vez que você me faz sorrir/ é do mesmo jeito que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim/ Toda a vez que eu não consigo dormir/ é a mesma dor que sempre foi/ E isso é o suficiente pra mim”. Para Lindsey Buckingham, amor rima com dor.
 Na sequência, vem a minha preferida de todo o disco, “Brown Eyes”, composição de Christine McVIe e cantada por ela. O baterista Mick Fleetwood faz miséria com uma batida que tem bumbo num tempo, baqueta na ferragem da caixa, prato de condução e chimbau, cada um fazendo uma coisa. E o Fender Rhodes de McVie fazendo as harmonias, juntamente com a guitarra. O baixo de John McVie está totalmente solto. Mas o que chama a atenção são os vocais que parecem vindos de outra galáxia. Lindsey, McVie e Nicks fazem o que uma amiga chamou, um tempo atrás, de “sha-la-lá etéreo”. E é exatamente isso. Esta faixa é a mostra do talento de Lindsey Buckingham como produtor. Com quase nada, ele criou um belo momento do disco. 
“Never Make Me Cry” traz Christine num clima “mulherzinha da antiga”. “Vá e faça o que quiser/ Sei que tu tens tuas vontades/ Você sabe que eu vou esperar, quanto tempo for necessário/ então vá e faça o que quiser/ você nunca vai me fazer chorar... Eu não posso aceitar tudo/ mas fico feliz de ter o seu amor/ Então não se preocupe, eu estarei bem/ e eu nunca vou te fazer chorar”. Misoginia feminina. As feministas devem ter ficado furiosas com Christine.
 Pra fechar este lado do LP, "I Know I'm Not Wrong", mais um rock de Buckingham dizendo que "os sonhos de uma vida inteira/ me mostram que eu estava errado/ Tudo está certo/ E agora se foi/ Não me culpe, por favor seja forte, eu que não estou errado". Um astro pop se queixando da vida que leva. Pobre menino rico.
 O lado 4 começa com "Honey Hi", outra composição de Chrsitine McVie que parece que vai se desmanchar, tamanha a suavidade e a dolência. Novamente o piano elétrico Fender Rhodes comanda as ações, com Fleetwood nas percussões e o violão de Lindsey transformam a canção em uma daquelas músicas que a gente canta num luau ou numa ida à praia no inverno. Esta é a verdadeira “música para acampamento”.
 "Beautiful Child" é outra balada de Nicks, onde ela consegue sua melhor performance vocal em todo o disco. A dificuldade no relacionamento contado na música fica evidente quando Nicks canta: "Eu não sou mais uma criança/ Eu sou alta o suficiente/ para atingir as estrelas/ sou velha o suficiente pra te amar/á distância/ Para confiar?.. sim/ Mas normalmente as mulheres são confiáveis". As pressões de ser uma pop star e viver na estrada detonam qualquer relacionamento. É isso que Nicks quer dizer na canção.
 "Walk a Thin LIne" é uma das "canções de banheiro" de Buckingham que mais funcionam como um artefato pop, se é que vocês me entendem. Uma introdução nos moldes da cartilha, um refrão pegajoso e, desta vez, ele resolve fazer uma música que poderia ser gravada por qualquer um. E foi, pelo baterista Mick Fleetwood em seu disco africano "The Visitor" com direito a guitarra slide de George Harrison. Aqui, o compositor empilha vocais a la Brian Wilson, conseguindo um efeito muito interessante.
 A faixa-título é das mais pretensiosas do disco inteiro, mas, ao mesmo tempo, é das mais bem-sucedidas. Uma batida tribal de Fleetwood começa os trabalhos, com os vocais novamente fantasmagóricos dos três cantores. Aos poucos, vão entrando os outros instrumentos. A letra não poderia ser mais enigmática. tanto que existe no site The Penguin uma página inteira de divagações e possíveis explicações para: "Por que você não pergunta se ele vai ficar?/ Por que você não pergunta se ele vai embora?/ Por que você não me diz o que está acontecendo?/ Por que você não me diz quem está no telefone?/ Porque você não pergunta pra ele o que está acontecendo?/ Por que você não pergunta pra ele quem é o próximo em seu trono?/ Não me diga que me ama/ Apenas diga que me quer". No meio de tudo isso, entra a US Trojan Marching Band, uma banda marcial que começa a tocar um tema sugerido pela guitarra. Uma faixa esquisita, porém muito boa. Um verdadeiro clássico pop.
Pra fechar, mais uma balada de Christine McVie, "Never Forget", que dá o tom final desta grande viagem sonora proposta pelo grupo. “Tusk” começa e termina com canções de Christine McVie para aliviar a pressão imposta por Buckingham. Ao invés de lançar três discos individuais, os compositores da banda, Lindsey Buckingham, Stevie Nicks e Christine McVie resolveram juntar esforços (mais ou menos, né?) para conseguir alguma tipo de coerência musical nesta tentativa de dar prosseguimento à carreira depois do sucesso estrondoso de "Rumours". E receberam a ajuda de John McVIe e de Mick Flçeetwood, uma das cozinhas mais criativas do rock. Musicalmente, estes esforços deram certo. Em termos de vendagens para um álbum duplo até que “Tusk” foi bem: 4 milhões de cópias. Mas o disco custou 1 milhão de dólares e foi considerado, na época, um fracasso de vendas. A recuperação aconteceria só em 1982, com o disco "Mirage", e depois de Stevie Nicks e Lindsey Buckingham lançarem seus primeiros discos solo. Mas isso é outra história.
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FAIXAS:
1. Over & Over (Christine McVie) - 4:34               
2. The Ledge (Lindsey Buckingham) - 2:07          
3. Think About Me (McVie) - 2:44           
4. Save Me a Place (Buckingham)- 2:42
5. Sara (Stevie Nicks) - 6:30        
6. What Makes You Think You're the One (Buckingham) - 3:30 
7. Storms (Nicks) - 5:31
8. That's All for Everyone (Buckingham) - 3:02  
9. Not That Funny (Buckingham) - 3:14
10. Sisters of the Moon (Nicks) - 4:44   
11. Angel (Nicks) - 4:54
12. That's Enough for Me (Buckingham) - 1:50  
13. Brown Eyes (McVie) - 4:27  
14. Never Make Me Cry (McVie) - 2:18
15. I Know I'm Not Wrong (Buckingham) - 3:01
16. Honey Hi (McVie) - 2:45       
17. Beautiful Child (Nicks) - 5:21              
18. Walk a Thin Line (Buckingham) - 3:46             
19. Tusk (Buckingham) - 3:37    
20. Never Forget (McVie) - 3:38

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OUÇA O DISCO




segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Exposições "Oxalá Que Dê Bom Tempo", "Don't You (Forget About Me)" e "Versão Oficial" - MAC Niterói -RJ











O MAC, uma obra de arte por si só.
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói já é por si só uma grande obra de arte e uma visitação é sempre justificada independente do que estiver exposto em seu interior, mas tendo ido ao MAC dia desses com pretexto de um encontro de amigos, acabei por me deparar com três exposições, cada uma interessante sua maneira. A primeira delas, a principal e a mais destacada no espaço é a "Oxalá Que Dê Bom Tempo", da artista Regina Vater, que, bem diversificada no que diz respeito a técnicas e recursos, apresenta pinturas, instalações, fotografias, pinturas, vídeo, propõe uma reflexão sobre as relações de corpo, natureza, tempo e espaço. Bastante instigante e estimulante o trabalho da artista.
Em outra das exposições, "Don't You (Forget About Me)", de menor destaque, no corredor externo da área de exposições, o niteroiense Rafael Alonso com uma espécie de arte pop e ilusões ópticas propõe uma forma menos convencional de se ver a paisagem. Cores vibrantes, formas abstratas e sensações visuais estimulam os olhos e a maneira de reenxergar o que está à nossa volta.
A última delas, bastante diminuta e relegada a um cantinho também no anel externo de circulação, é a "Versão Oficial" que poderia ser a mais interessante delas com um pouco mais de espaço, aprofundamento e melhor apresentação. A pequena mostra organizada pelo pernambucano Bruno Faria destaca capas de LP's com ênfase para seus projetos gráficos e todo o significado que venham a conter (estético, artístico, político, social, etc.) fazendo com que de certa forma, as mesmas passem a limpo a história brasileira a partir dos anos 60. a ideia é boa mas parece-me mal executada. A exposição espremida num final de corredor, sem maiores atenções de estrutura ou informação, emoldurando um toca-discos que tocava clássicos da música brasileira, no fim das contas ficou parecendo mais uma banca de discos usados. Vi que havia atrás dos discos, nas paredes alguma informação sobre a obra mas não fica claro para o visitante se ele pode retirar o objeto do lugar e mesmo assim, quando se retira, ao recolocar ele fica instável em sua fixação e o interessado logo se intimida em não deixar cair outros como fatalmente terá acontecido com algum. Mas para mim, adorador de música, da discografia nacional e apreciador da arte das capas de álbuns, mesmo com todos os defeitos ainda assim foi bastante interessante e válida tendo lembrado muto uma seleção feita pelo ClyBlog há não muito tempo atrás sobre as melhores capas de discos do Brasil em todos os tempos..
Além das exposições, o museu ainda apresenta um pequeno espaço interativo para as crianças "brincarem" de arte com lápis de cor, cordas e com os elementos orgânicos como conchas, pedras e grãos numa extensão da exposição da artista Regina Vater.
Como eu disse no início, se nada disso lhe interessar, se não é seu tipo de arte, não vê graça nessas coisas, o próprio MAC e a maravilhosa paisagem que se pode apreciar dele já são motivos suficientes e válidos para uma visita.


A instalação que dá nome à exposição de Regina Vater,
"Oxalá que dê bom tempo"

Os elementos naturais e orgânicos na obra de Regina Vater:
"Mar de Tempo", pedras em um recipiente cerâmico

As naturezas vivas de Regina Vater

O tropicalismo presente na obra da artista com "Mulher Mutante"

Série fotográfica da artista

Instalação "Cascavida", foló com cascas de ovos 


A forma da mulher misturando-se à da paisagem.

Aqui o trabalho de Rafael Alonso e sua
"Don't You (Forget About Me)"

O olho e apercepção desafiadas na obra de Rafael.

Este blogueiro tendo como fundo as obras da exposição
(foto: José Júnior)


A exposição "Versão Oficial" e a convergência com a de Regina Vater,
o Tropicalismo

Capas de discos que contam não somente a história da música do Brasil,
como a da arte, comportamento e sociedade.

Alguns dos trabalhos mais importantes e expressivos
da arte de dar imagem a um álbum expostos em "Versão Oficial"

O espaço bastante exíguo e espremido
passa uma sensação de se estar num sebo de discos usados.

A agulha no vinil
(foto: José Júnior)


No espaço infantil das artes, papai blogueiro fazendo arte
com sua melhor criação artística
(foto: José Júnior)


Pedriscos, cascas, sementes e uma obra de arte
(foto: José Júnior)

Lá de cima, do vidro inclinado da "nave", pode-se ver a praia lá embaixo.
(foto: José Júnior)



texto: Cly Reis
fotos: Cly Reis e  José Júnior

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Joseph Beuys: Res-pública: Conclamação para uma Alternativa Global” – Museu de Arte Contemporânea – Niterói/RJ









foto: Leocádia Costa
“Não tenho nada a ver com a política: conheço somente a arte”
Joseph Beuys



texto e fotos Leocádia Costa

Joseph Beuys apareceu na minha biografia por quatro vezes num período de 20 anos, e somente agora posso dizer que começo a compreender esse notável cidadão contemporâneo.

Em 1993, o artista plástico Cláudio Ely, nosso Professor de Cerâmica no Atelier Livre da Prefeitura, apareceu animado comentando sobre um ativista cultural alemão numa das nossas discussões sobre política e Arte. Perguntei curiosa qual forma de expressão ele utilizava em sua Arte que tanto lhe impressionava e a resposta foi: “vassouras”. Ele se referia às perfomances realizadas nas ruas por Beuys, aos cartazes fotográficos dessas ações e a própria vassoura que servia de objeto-arte em instalações.  

Em 2009, numa das aulas de História da Arte Contemporânea com a Profª Dra. Glaucis de Moraes, na Feevale, me deparo com o Joseph Beuys novamente, conhecendo aí o registro crítico e totalmente provocativo: “I Like America and a America Likes Me”, onde por três dias ele convive com um coiote selvagem, chegando e saindo de Nova York sem tocar o solo americano com os pés.

Já em 2010, reencontro com Beuys no Santander Cultural Porto Alegre, quando seus trabalhos estão junto a de outros artistas da Mostra Horizonte Expandido, com curadoria dos artistas e pesquisadores André Severo e Maria Helena Bernardes. Esta mostra reuniu 72 obras de 16 artistas que influenciaram radicalmente o nascimento da cena artística contemporânea, e trouxe Beuys para meu círculo de artistas prediletos.

"Capri-Betterie"
foto: Leocádia Costa
Agora em 2013, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC tive a oportunidade de visitar por algumas horas a exposição “Res-Pública: conclamação para uma alternativa global” com mais de 100 obras coletadas de todas as fases de sua vida. Durante essa mostra individual, que realmente atingiu seu objetivo de perpassar todos os suportes, pude acessar uma impressão mais pessoal sobre sua produção que é, sem dúvida, um legado para às Artes e futuras gerações.

Da mostra destaco os trabalhos: o objeto: “Capri-Batterie”, de 1985; os cartazes “Não conseguiremos sem a rosa”, de 1972, e “Superem finalmente a ditadura dos partidos”, de 1971; o objeto “Encosto para uma pessoa bem esguia do século 20”, de 1972, parte da exposição Arte multiplicada 1965-1980, coleção Ulbricht; o múltiplo “Levantamento das Nádegas”, da exposição “Múltiplos, livros e catálogos da Coleção Sr. Speck”, de 1974, além de uma infinidade de materiais expostos em vitrines que respeitaram a estética alemã original de Beuys. Dentro de cada obra e à medida em que me deslocava pelo ambiente expositivo, avistava frestas do cidadão consciente da sua responsabilidade com o outro.
"Encosto para uma pessoa
bem eguia do século XX"
foto: Leocádia Costa

Beuys é um pensador-artista que deixou mensagens extremamente atuais depois de 27 anos de sua morte sobre meio-ambiente, utilizando com excelência os meios disponíveis da comunicação (cartazes, jornais, rádios e televisões), da política (manifestos, partidos, protestos, grupos de discussão) e das Artes (esculturas, instalações, desenhos, objetos, aquarelas e fotografia) como forma direta de expressão. Sua percepção político-social-sustentável de uma sociedade mais comprometida com o indivíduo e seu lugar dentro desse organismo vivo é um legado a futuras gerações. Envolvido com a democracia direta Beuys consegue interligar política e Arte ressaltando, assim, a importância do Artista no contexto social de qualquer comunidade organizada, fazendo o indivíduo tomar para si o compromisso social através da Arte. 
"Levantamento de Nádegas"

foto:Leocádia Costa


A Escultura Social de Beuys explicada por ele muitas vezes em canais de comunicação inicia-se na ideia de que o ato artístico está baseado na capacidade humana de pensar, refletir e na condição criativa nata do indivíduo. Para ele, a sociedade pode e deve se transformar, através da Arte, porque, segundo ele, “todo o ser humano é artista”. Seguindo o seu pensamento (que encontra eco/resposta em outros movimentos artístico-filosóficos, tais como na Arte-educação), de que todo o indivíduo é artista, não deveriam existir privilégios e, sim, democracia, igualdade e responsabilidade pessoal. 


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fotos Leocádia Costa 


Sempre notei nos filmes de Luís Buñuel, principalmente os da segunda fase francesa (“A Via Láctea”, “O Fantasma da Liberdade”, “O Discreto Charme da Burguesia”) um aspecto imanente que só é possível devido à sua força conceitual. Seus filmes pareciam, estranhamente, filmes de filmes. Dão-lhe a estranha sensação de que, aquilo que está na tela, não é exatamente aquilo, embora o olho insista em enxergar o que não deve ser. Este resultado, produto de uma ação tão profunda quanto interna do filme-obra, aparentemente, não é motivado por nada em específico que aja tão diretamente para que isso ocorra. Mas a sensação está ali. Na verdade, Buñuel conseguia extrair isso da câmera por conta de toda uma atmosfera linguística e linha filosófica que, principalmente nesta fase (sua última), já burilada em linguagem e estética, se evidencia misteriosamente mesmo para um olhar treinado em Cult movies europeus.

Garrafas e pote funcionando como
objetos de arte
foto: Leocádia Costa
Pois que, ao visitar o MAC-Niterói, deparei-me com a obra de um artista plástico moderno (não coincidentemente, contemporâneo de Buñuel) cuja sensação em alguns aspectos é exatamente a mesma. Falo do alemão Joseph Beuys (1921-1986). Considerado o artista plástico alemão mais importante depois da Segunda Guerra Mundial, Beuys parte das oposições razão-intuição e frio-calor, trabalhando de modo a restabelecer a unidade entre cultura, civilização e vida natural, o que revolucionou as ideias tradicionais sobre a escultura, pintura, fotografia, instalação, arte performática, videoarte, entre tantas outras frentes que explorou. Extremamente rica em simbologias, mensagens e discurso, sua obra, na linha evolutiva de Duchamp, é de uma coesão/diluição absurdas conceitualmente falando. Sua obra consegue, de forma íntegra, extrair o que há de arte em, por exemplo, uma vassoura, em uma garrafa, em uma vasilha de leite, em uma fita VHS. O impressionante é que a aura artística nos é facilmente percebida, embora “nada” diga-nos que esses objetos não passam simplesmente de uma vassoura, uma garrafa, uma vasilha ou uma fita magnética.

"Terno de feltro",
matéria-prima não nobre
na tradição da Arte
foto: Leocádia Costa
Ativista social e político, em seu entendimento, todo mundo é inatamente artista e ele servia apenas como uma ferramenta desse ímpeto natural. Assim, sua importante atuação acadêmica na Düsseldorf pós-Guerra, bem como a luta que travava quanto às questões ambientais (pouco valorizadas como hoje, era da tal “sustentabilidade”), fazem com que sua Arte ganhe ares absolutamente modernos – e pioneiros à época. Inovador em técnicas e formatos, valia-se em seu discurso do deboche e da crítica à sociedade de consumo, cuja dominação já se sentia a pessoas perceptivas como ele. Impressionam muito, neste sentido, a simplicidade/complexidade do uso do feltro nas obras (é, isso mesmo: o “feio” tecido que serve comumente como isolante térmico), como o terno talhado neste material nada nobre em termos de tradição da Arte.

Outra ligação direta que é percebida é com a obra de outro contemporâneo seu, mas este bastante próximo: o cineasta e também alemão  Reiner Werner Fassbinder. A transgressão, a crítica e a estética dos dois dialogam muito, principalmente nos elementos gráficos (letras em cores primárias, sem serifa e de corpo denso e agressivo) e nas fotos impressas em off-set de Beuys, cuja coloração, enquadramento e luz lembram muito a fotografia de filmes de Fassbinder como ”Roleta Chinesa”, “Whity” e “O Medo Devora a Alma”.
À esquerda, quadro de Beuys com tipografia característica de diretor Reiner Fassbinder,
e À direita, frame de abertura do filme "Whity", do mesmo cineasta alemão
foto da exposição: Leocádia Costa


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SERVIÇO:
exposição: "Joseph Beuys – Res-Pública: conclamação para uma alternativa global"
onde: Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC (Mirante da Boa Viagem, s/nº. Niterói, RJ)
até 1º de dezembro de 2013
horário:  terça a domingo, de 10 às 18h
Equipe Curatorial: Silke Thomas; Rafael Raddi e Luiz Guilherme Vergara



segunda-feira, 13 de março de 2017

ARQUIVO DE VIAGEM – Caminho Niemeyer - Niterói/RJ – 04/01/2017




“Não foi difícil projetar para Niterói, porque esta é uma cidade de orla tão bela que possibilita a criação a céu aberto, como um itinerário cultural e religioso.” 
Oscar Niemeyer

Já havia ido duas vezes a Niterói por conta, obviamente, do Museu de Arte Contemporânea, o MAC, aquele monumento que a cidade carioca abriga. Entretanto, sempre tivemos curiosidade de conhecer também o Caminho Niemeyer, altamente recomendado por concentrar o segundo maior conjunto arquitetônico assinado por esse genial brasileiro depois de Brasília, e também por estes serem alguns de seus últimos projetos construídos. Aliás, Oscar Niemeyer nos é um dos fatores turísticos mais instigantes sempre que viajamos, e isso em várias partes do mundo. Embora conheçamos pessoalmente apenas algumas delas e apenas brasileiras, todo local que conte com construções suas, seja São Paulo, Belo Horizonte, Tel Aviv, Paris, Milão ou Nova York, são, se não pelo óbvio, destinos turísticos interessantes também por conterem obras do arquiteto em suas paisagens.

Pois é a paisagem litorânea de Niterói, beirada à Baía de Guanabara e a qual se contempla a cidade do Rio de Janeiro ao fundo, que faz cenário para o Caminho Niemeyer, que finalmente visitamos Leocádia, Carolina e Iara em nossa estada no Rio em dezembro. Ao todo, ali na Praça Popular de Niterói, são 3 prédios – sem contar com o administrativo, simples mas bonito: a Fundação Oscar Niemeyer, o Memorial Roberto Silveira e o Teatro Popular de Niterói. Mas ao longo da orla da cidade há também outros edifícios espalhados: o Terminal de Barcas de Charitas, o Centro Petrobras de Cinema e a Praça JK. Da catedral da cidade, que deve ser erguida, vimos o lindo projeto: um alto prédio que remete a um galero religioso.

O exuberante teatro com formar que
lembram o corpo feminino
Embora não tenhamos conseguido entrar em nenhum deles, visto que fomos num horário da manhã que não havia nenhum funcionamento, admirar os prédios e integrar-se com eles já vale a visita à Praça. O Teatro Popular é um desbunde. Com traços artísticos que lembram o curvilíneo corpo feminino, dialoga com outras de suas últimas obras, como o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba. É o prédio que mais interage com a natureza da Baía entre todos dali, até pela proximidade com o mar. Isso se percebe tanto no foyer inferior, com pilotis espaçados que lhe conferem profundidade e amplitude, quanto no andar de cima, entre o mural com a marcha do MST e a entrada para o teatro. O desenho da bailarina, o mesmo do MON, está lá em impressão feita sobre os ladrilhos. Por falar no traço de Niemeyer, o espetacular mural, propositadamente incompleto, traz a ideia das transformações sociais ainda em curso em que o povo virá a protagonizar na ideia sonhadora do comunista Niemeyer. O Teatro traz ainda os vidros escuros que abrem “olhos” na arquitetura, mesmo material usado nos outros prédios, dando unidade ao complexo.

O Memorial Roberto Silveira lembra bastante a Oca do Ibirapuera, em São Paulo, e o Museu Nacional da República Honestino Guimarães, de Brasília, mas num formato menor, como uma pequena nave espacial branca ali assentada. Já o da Fundação Oscar Niemeyer – cujo conteúdo original fora transferido para a sede da mesma em Brasília, estando atualmente funcionando uma sessão administrativa da prefeitura de Niterói – foi possível subir a rampa curva e admirar o olho d'água logo abaixo, que dialoga com a Baía de Guanabara  (assim como, mais adiante mas dentro do mesmo complexo de obras, o MAC o faz novamente, porém espelhando do alto do morro a água do mar).

Não deu pra tirar mais fotos, que o sol começou a ficar castigante a certa altura, mas esses registros aqui dão noção do quão deslumbrante é.

Espaço amplo do foyer com vista para a cidade do Rio

Leocádia integrando-se à arquitetura do Teatro do Povo

Eu em frente ao belíssimo painel desenhado por Niemeyer em homenagem à luta no campo

Caminhando em direção à Oca

Na entrada do Memorial Roberto Silveira 

Mais um detalhe do fabuloso Teatro, as bailarinas, as mesmas vistas no MON, em Curitiba

Na rampa de acesso ao prédio da Fundação Niemeyer


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa, Carolina Costa e Daniel Rodrigues