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sábado, 11 de fevereiro de 2017

"Vontade de Mundo" – Exposição coletiva – Coleção João Sattamini - Museu de Arte Contemporânea (MAC) – Niterói/RJ




Como já falei aqui no blog – e acho que sempre vou falar quando lá estiver –, ir ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o MAC, é por si um passeio e um exercício artístico, independentemente do que estiver em exposição. Aquele desenho de Oscar Niemeyer, que respeita e se integra com o redor, com a natureza exuberante do Mirante da Boa Viagem com mar, morros, verde, declives e aclives, faz com que o visitante também se integre àquela arquitetura. Niemeyer, através da beleza reveladora de sua arte, faz-nos revelar tal integralidade enquanto seres pertencentes a esta natureza. 
Impressionante pela técnica e efeito a obra de Del Santo

Dito isso, volto as atenções à exposição em destaque, que está no local até 2 de abril: "Vontade de Mundo". A mostra algumas guarda parecenças com outra que vimos em nossa estada no Rio de Janeiro em dezembro, “A Cor do Brasil”, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), pois ambas têm como base o acervo do colecionador João Sattamini. Isso faz com que alguns artistas, como Mira Schendel, Iberê Camargo e Aluísio Carvão, por exemplo, apareçam nas duas. Porém, o conceito, este sim, é totalmente próprio em cada uma delas. Nesta do MAC, consideravelmente menor que a outra, mesmo que exposta no salão principal, são 30 obras selecionadas, cerca de 90% menos do que a do MAR, que traz mais de 300! 

Afora o fator quantidade, "Vontade...” traz como tema não a cor como mote, mas um (questionável) sentido de unidade por meio de incontáveis mundos possíveis em cada obra de arte. O objetivo deste recorte é provocar cada visitante a tecer relações entre as obras entendidas como um mundo em si aberto ao tempo. Essa leitura é de certa forma facilitada na segmentação dada: Mundos sem Nome, Invisível, Casa, Amor e Comunidade. Segmentação esta, todavia, um tanto resvalante.
O sempre minimalista e surpreendente Antonio Dias

Mira, a quem já me referi, como sempre impressiona com sua acrílica sobre tela de 1985, assim como um dos meus queridos da arte moderna brasileira, Antonio Dias com o invariavelmente interessante “Projeto para One & Three”, de 1974, uma acrílica e fita crepe sobre papel sobre madeira. “Linear cubo”, de Dionísio Del Santo, de 1976, também impressiona tanto pela técnica (óleo e fios de algodão sobre tela colada em aglomerado) quanto pelo efeito estético e de tridimensionalidade obtido. Ainda, merece destaque a escultura em bambu pintado a óleo de Ione Saldanha – cujas peças da mesma série se encontram na exposição do MAR, Quem também está no MAR e no MAC é o gaúcho Iberê Camargo com seu não-figurativo carregado. Nesta, não poderia ter caído em outra classificação que não a de Mundos sem Nome.


Quadro de Hermelindo Fiaminghi na série Mundos sem Nome


Se o conceito de “Vontade...” é um tanto aberto, numa forma quase preguiçosa de aproveitar esse o acervo de Sattamini, as obras que a compõem são de inegável qualidade. Se me perguntarem se vale a pena ir ao MAC para conferir a exposição, diria de pronto que “sim”. Afinal, mesmo que não se goste, tem o próprio MAC para se apreciar.
Enlameada, obra de Iberê, sempre expressivo


Mais uma vez, o mínimo dizendo muito


Arte indígeno-moderna de Ione Saldanha no bambu pintado a óleo
Simples e brilhante quadro a esmalte de Ione Saldanha

Instalação de Jorge Duarte toda em metal


Um dos quadros da série que tematiza o Amor

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“Vontade de Mundo” da Coleção MAC Niterói – João Sattamini 
local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC
período: até 2 de abril 
de terça a domingo, das 10h às 19h 
Ingresso: R$ 10 
Entrada gratuita às quartas-feiras 

Curadoria: Luiz Guilherme Vergara


Por Daniel Rodrigues

segunda-feira, 13 de março de 2017

ARQUIVO DE VIAGEM – Caminho Niemeyer - Niterói/RJ – 04/01/2017




“Não foi difícil projetar para Niterói, porque esta é uma cidade de orla tão bela que possibilita a criação a céu aberto, como um itinerário cultural e religioso.” 
Oscar Niemeyer

Já havia ido duas vezes a Niterói por conta, obviamente, do Museu de Arte Contemporânea, o MAC, aquele monumento que a cidade carioca abriga. Entretanto, sempre tivemos curiosidade de conhecer também o Caminho Niemeyer, altamente recomendado por concentrar o segundo maior conjunto arquitetônico assinado por esse genial brasileiro depois de Brasília, e também por estes serem alguns de seus últimos projetos construídos. Aliás, Oscar Niemeyer nos é um dos fatores turísticos mais instigantes sempre que viajamos, e isso em várias partes do mundo. Embora conheçamos pessoalmente apenas algumas delas e apenas brasileiras, todo local que conte com construções suas, seja São Paulo, Belo Horizonte, Tel Aviv, Paris, Milão ou Nova York, são, se não pelo óbvio, destinos turísticos interessantes também por conterem obras do arquiteto em suas paisagens.

Pois é a paisagem litorânea de Niterói, beirada à Baía de Guanabara e a qual se contempla a cidade do Rio de Janeiro ao fundo, que faz cenário para o Caminho Niemeyer, que finalmente visitamos Leocádia, Carolina e Iara em nossa estada no Rio em dezembro. Ao todo, ali na Praça Popular de Niterói, são 3 prédios – sem contar com o administrativo, simples mas bonito: a Fundação Oscar Niemeyer, o Memorial Roberto Silveira e o Teatro Popular de Niterói. Mas ao longo da orla da cidade há também outros edifícios espalhados: o Terminal de Barcas de Charitas, o Centro Petrobras de Cinema e a Praça JK. Da catedral da cidade, que deve ser erguida, vimos o lindo projeto: um alto prédio que remete a um galero religioso.

O exuberante teatro com formar que
lembram o corpo feminino
Embora não tenhamos conseguido entrar em nenhum deles, visto que fomos num horário da manhã que não havia nenhum funcionamento, admirar os prédios e integrar-se com eles já vale a visita à Praça. O Teatro Popular é um desbunde. Com traços artísticos que lembram o curvilíneo corpo feminino, dialoga com outras de suas últimas obras, como o Museu Oscar Niemeyer (MON), de Curitiba. É o prédio que mais interage com a natureza da Baía entre todos dali, até pela proximidade com o mar. Isso se percebe tanto no foyer inferior, com pilotis espaçados que lhe conferem profundidade e amplitude, quanto no andar de cima, entre o mural com a marcha do MST e a entrada para o teatro. O desenho da bailarina, o mesmo do MON, está lá em impressão feita sobre os ladrilhos. Por falar no traço de Niemeyer, o espetacular mural, propositadamente incompleto, traz a ideia das transformações sociais ainda em curso em que o povo virá a protagonizar na ideia sonhadora do comunista Niemeyer. O Teatro traz ainda os vidros escuros que abrem “olhos” na arquitetura, mesmo material usado nos outros prédios, dando unidade ao complexo.

O Memorial Roberto Silveira lembra bastante a Oca do Ibirapuera, em São Paulo, e o Museu Nacional da República Honestino Guimarães, de Brasília, mas num formato menor, como uma pequena nave espacial branca ali assentada. Já o da Fundação Oscar Niemeyer – cujo conteúdo original fora transferido para a sede da mesma em Brasília, estando atualmente funcionando uma sessão administrativa da prefeitura de Niterói – foi possível subir a rampa curva e admirar o olho d'água logo abaixo, que dialoga com a Baía de Guanabara  (assim como, mais adiante mas dentro do mesmo complexo de obras, o MAC o faz novamente, porém espelhando do alto do morro a água do mar).

Não deu pra tirar mais fotos, que o sol começou a ficar castigante a certa altura, mas esses registros aqui dão noção do quão deslumbrante é.

Espaço amplo do foyer com vista para a cidade do Rio

Leocádia integrando-se à arquitetura do Teatro do Povo

Eu em frente ao belíssimo painel desenhado por Niemeyer em homenagem à luta no campo

Caminhando em direção à Oca

Na entrada do Memorial Roberto Silveira 

Mais um detalhe do fabuloso Teatro, as bailarinas, as mesmas vistas no MON, em Curitiba

Na rampa de acesso ao prédio da Fundação Niemeyer


texto: Daniel Rodrigues
fotos: Leocádia Costa, Carolina Costa e Daniel Rodrigues

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

“Joseph Beuys: Res-pública: Conclamação para uma Alternativa Global” – Museu de Arte Contemporânea – Niterói/RJ









foto: Leocádia Costa
“Não tenho nada a ver com a política: conheço somente a arte”
Joseph Beuys



texto e fotos Leocádia Costa

Joseph Beuys apareceu na minha biografia por quatro vezes num período de 20 anos, e somente agora posso dizer que começo a compreender esse notável cidadão contemporâneo.

Em 1993, o artista plástico Cláudio Ely, nosso Professor de Cerâmica no Atelier Livre da Prefeitura, apareceu animado comentando sobre um ativista cultural alemão numa das nossas discussões sobre política e Arte. Perguntei curiosa qual forma de expressão ele utilizava em sua Arte que tanto lhe impressionava e a resposta foi: “vassouras”. Ele se referia às perfomances realizadas nas ruas por Beuys, aos cartazes fotográficos dessas ações e a própria vassoura que servia de objeto-arte em instalações.  

Em 2009, numa das aulas de História da Arte Contemporânea com a Profª Dra. Glaucis de Moraes, na Feevale, me deparo com o Joseph Beuys novamente, conhecendo aí o registro crítico e totalmente provocativo: “I Like America and a America Likes Me”, onde por três dias ele convive com um coiote selvagem, chegando e saindo de Nova York sem tocar o solo americano com os pés.

Já em 2010, reencontro com Beuys no Santander Cultural Porto Alegre, quando seus trabalhos estão junto a de outros artistas da Mostra Horizonte Expandido, com curadoria dos artistas e pesquisadores André Severo e Maria Helena Bernardes. Esta mostra reuniu 72 obras de 16 artistas que influenciaram radicalmente o nascimento da cena artística contemporânea, e trouxe Beuys para meu círculo de artistas prediletos.

"Capri-Betterie"
foto: Leocádia Costa
Agora em 2013, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói – MAC tive a oportunidade de visitar por algumas horas a exposição “Res-Pública: conclamação para uma alternativa global” com mais de 100 obras coletadas de todas as fases de sua vida. Durante essa mostra individual, que realmente atingiu seu objetivo de perpassar todos os suportes, pude acessar uma impressão mais pessoal sobre sua produção que é, sem dúvida, um legado para às Artes e futuras gerações.

Da mostra destaco os trabalhos: o objeto: “Capri-Batterie”, de 1985; os cartazes “Não conseguiremos sem a rosa”, de 1972, e “Superem finalmente a ditadura dos partidos”, de 1971; o objeto “Encosto para uma pessoa bem esguia do século 20”, de 1972, parte da exposição Arte multiplicada 1965-1980, coleção Ulbricht; o múltiplo “Levantamento das Nádegas”, da exposição “Múltiplos, livros e catálogos da Coleção Sr. Speck”, de 1974, além de uma infinidade de materiais expostos em vitrines que respeitaram a estética alemã original de Beuys. Dentro de cada obra e à medida em que me deslocava pelo ambiente expositivo, avistava frestas do cidadão consciente da sua responsabilidade com o outro.
"Encosto para uma pessoa
bem eguia do século XX"
foto: Leocádia Costa

Beuys é um pensador-artista que deixou mensagens extremamente atuais depois de 27 anos de sua morte sobre meio-ambiente, utilizando com excelência os meios disponíveis da comunicação (cartazes, jornais, rádios e televisões), da política (manifestos, partidos, protestos, grupos de discussão) e das Artes (esculturas, instalações, desenhos, objetos, aquarelas e fotografia) como forma direta de expressão. Sua percepção político-social-sustentável de uma sociedade mais comprometida com o indivíduo e seu lugar dentro desse organismo vivo é um legado a futuras gerações. Envolvido com a democracia direta Beuys consegue interligar política e Arte ressaltando, assim, a importância do Artista no contexto social de qualquer comunidade organizada, fazendo o indivíduo tomar para si o compromisso social através da Arte. 
"Levantamento de Nádegas"

foto:Leocádia Costa


A Escultura Social de Beuys explicada por ele muitas vezes em canais de comunicação inicia-se na ideia de que o ato artístico está baseado na capacidade humana de pensar, refletir e na condição criativa nata do indivíduo. Para ele, a sociedade pode e deve se transformar, através da Arte, porque, segundo ele, “todo o ser humano é artista”. Seguindo o seu pensamento (que encontra eco/resposta em outros movimentos artístico-filosóficos, tais como na Arte-educação), de que todo o indivíduo é artista, não deveriam existir privilégios e, sim, democracia, igualdade e responsabilidade pessoal. 


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fotos Leocádia Costa 


Sempre notei nos filmes de Luís Buñuel, principalmente os da segunda fase francesa (“A Via Láctea”, “O Fantasma da Liberdade”, “O Discreto Charme da Burguesia”) um aspecto imanente que só é possível devido à sua força conceitual. Seus filmes pareciam, estranhamente, filmes de filmes. Dão-lhe a estranha sensação de que, aquilo que está na tela, não é exatamente aquilo, embora o olho insista em enxergar o que não deve ser. Este resultado, produto de uma ação tão profunda quanto interna do filme-obra, aparentemente, não é motivado por nada em específico que aja tão diretamente para que isso ocorra. Mas a sensação está ali. Na verdade, Buñuel conseguia extrair isso da câmera por conta de toda uma atmosfera linguística e linha filosófica que, principalmente nesta fase (sua última), já burilada em linguagem e estética, se evidencia misteriosamente mesmo para um olhar treinado em Cult movies europeus.

Garrafas e pote funcionando como
objetos de arte
foto: Leocádia Costa
Pois que, ao visitar o MAC-Niterói, deparei-me com a obra de um artista plástico moderno (não coincidentemente, contemporâneo de Buñuel) cuja sensação em alguns aspectos é exatamente a mesma. Falo do alemão Joseph Beuys (1921-1986). Considerado o artista plástico alemão mais importante depois da Segunda Guerra Mundial, Beuys parte das oposições razão-intuição e frio-calor, trabalhando de modo a restabelecer a unidade entre cultura, civilização e vida natural, o que revolucionou as ideias tradicionais sobre a escultura, pintura, fotografia, instalação, arte performática, videoarte, entre tantas outras frentes que explorou. Extremamente rica em simbologias, mensagens e discurso, sua obra, na linha evolutiva de Duchamp, é de uma coesão/diluição absurdas conceitualmente falando. Sua obra consegue, de forma íntegra, extrair o que há de arte em, por exemplo, uma vassoura, em uma garrafa, em uma vasilha de leite, em uma fita VHS. O impressionante é que a aura artística nos é facilmente percebida, embora “nada” diga-nos que esses objetos não passam simplesmente de uma vassoura, uma garrafa, uma vasilha ou uma fita magnética.

"Terno de feltro",
matéria-prima não nobre
na tradição da Arte
foto: Leocádia Costa
Ativista social e político, em seu entendimento, todo mundo é inatamente artista e ele servia apenas como uma ferramenta desse ímpeto natural. Assim, sua importante atuação acadêmica na Düsseldorf pós-Guerra, bem como a luta que travava quanto às questões ambientais (pouco valorizadas como hoje, era da tal “sustentabilidade”), fazem com que sua Arte ganhe ares absolutamente modernos – e pioneiros à época. Inovador em técnicas e formatos, valia-se em seu discurso do deboche e da crítica à sociedade de consumo, cuja dominação já se sentia a pessoas perceptivas como ele. Impressionam muito, neste sentido, a simplicidade/complexidade do uso do feltro nas obras (é, isso mesmo: o “feio” tecido que serve comumente como isolante térmico), como o terno talhado neste material nada nobre em termos de tradição da Arte.

Outra ligação direta que é percebida é com a obra de outro contemporâneo seu, mas este bastante próximo: o cineasta e também alemão  Reiner Werner Fassbinder. A transgressão, a crítica e a estética dos dois dialogam muito, principalmente nos elementos gráficos (letras em cores primárias, sem serifa e de corpo denso e agressivo) e nas fotos impressas em off-set de Beuys, cuja coloração, enquadramento e luz lembram muito a fotografia de filmes de Fassbinder como ”Roleta Chinesa”, “Whity” e “O Medo Devora a Alma”.
À esquerda, quadro de Beuys com tipografia característica de diretor Reiner Fassbinder,
e À direita, frame de abertura do filme "Whity", do mesmo cineasta alemão
foto da exposição: Leocádia Costa


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SERVIÇO:
exposição: "Joseph Beuys – Res-Pública: conclamação para uma alternativa global"
onde: Museu de Arte Contemporânea de Niterói - MAC (Mirante da Boa Viagem, s/nº. Niterói, RJ)
até 1º de dezembro de 2013
horário:  terça a domingo, de 10 às 18h
Equipe Curatorial: Silke Thomas; Rafael Raddi e Luiz Guilherme Vergara



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Exposições "Oxalá Que Dê Bom Tempo", "Don't You (Forget About Me)" e "Versão Oficial" - MAC Niterói -RJ











O MAC, uma obra de arte por si só.
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói já é por si só uma grande obra de arte e uma visitação é sempre justificada independente do que estiver exposto em seu interior, mas tendo ido ao MAC dia desses com pretexto de um encontro de amigos, acabei por me deparar com três exposições, cada uma interessante sua maneira. A primeira delas, a principal e a mais destacada no espaço é a "Oxalá Que Dê Bom Tempo", da artista Regina Vater, que, bem diversificada no que diz respeito a técnicas e recursos, apresenta pinturas, instalações, fotografias, pinturas, vídeo, propõe uma reflexão sobre as relações de corpo, natureza, tempo e espaço. Bastante instigante e estimulante o trabalho da artista.
Em outra das exposições, "Don't You (Forget About Me)", de menor destaque, no corredor externo da área de exposições, o niteroiense Rafael Alonso com uma espécie de arte pop e ilusões ópticas propõe uma forma menos convencional de se ver a paisagem. Cores vibrantes, formas abstratas e sensações visuais estimulam os olhos e a maneira de reenxergar o que está à nossa volta.
A última delas, bastante diminuta e relegada a um cantinho também no anel externo de circulação, é a "Versão Oficial" que poderia ser a mais interessante delas com um pouco mais de espaço, aprofundamento e melhor apresentação. A pequena mostra organizada pelo pernambucano Bruno Faria destaca capas de LP's com ênfase para seus projetos gráficos e todo o significado que venham a conter (estético, artístico, político, social, etc.) fazendo com que de certa forma, as mesmas passem a limpo a história brasileira a partir dos anos 60. a ideia é boa mas parece-me mal executada. A exposição espremida num final de corredor, sem maiores atenções de estrutura ou informação, emoldurando um toca-discos que tocava clássicos da música brasileira, no fim das contas ficou parecendo mais uma banca de discos usados. Vi que havia atrás dos discos, nas paredes alguma informação sobre a obra mas não fica claro para o visitante se ele pode retirar o objeto do lugar e mesmo assim, quando se retira, ao recolocar ele fica instável em sua fixação e o interessado logo se intimida em não deixar cair outros como fatalmente terá acontecido com algum. Mas para mim, adorador de música, da discografia nacional e apreciador da arte das capas de álbuns, mesmo com todos os defeitos ainda assim foi bastante interessante e válida tendo lembrado muto uma seleção feita pelo ClyBlog há não muito tempo atrás sobre as melhores capas de discos do Brasil em todos os tempos..
Além das exposições, o museu ainda apresenta um pequeno espaço interativo para as crianças "brincarem" de arte com lápis de cor, cordas e com os elementos orgânicos como conchas, pedras e grãos numa extensão da exposição da artista Regina Vater.
Como eu disse no início, se nada disso lhe interessar, se não é seu tipo de arte, não vê graça nessas coisas, o próprio MAC e a maravilhosa paisagem que se pode apreciar dele já são motivos suficientes e válidos para uma visita.


A instalação que dá nome à exposição de Regina Vater,
"Oxalá que dê bom tempo"

Os elementos naturais e orgânicos na obra de Regina Vater:
"Mar de Tempo", pedras em um recipiente cerâmico

As naturezas vivas de Regina Vater

O tropicalismo presente na obra da artista com "Mulher Mutante"

Série fotográfica da artista

Instalação "Cascavida", foló com cascas de ovos 


A forma da mulher misturando-se à da paisagem.

Aqui o trabalho de Rafael Alonso e sua
"Don't You (Forget About Me)"

O olho e apercepção desafiadas na obra de Rafael.

Este blogueiro tendo como fundo as obras da exposição
(foto: José Júnior)


A exposição "Versão Oficial" e a convergência com a de Regina Vater,
o Tropicalismo

Capas de discos que contam não somente a história da música do Brasil,
como a da arte, comportamento e sociedade.

Alguns dos trabalhos mais importantes e expressivos
da arte de dar imagem a um álbum expostos em "Versão Oficial"

O espaço bastante exíguo e espremido
passa uma sensação de se estar num sebo de discos usados.

A agulha no vinil
(foto: José Júnior)


No espaço infantil das artes, papai blogueiro fazendo arte
com sua melhor criação artística
(foto: José Júnior)


Pedriscos, cascas, sementes e uma obra de arte
(foto: José Júnior)

Lá de cima, do vidro inclinado da "nave", pode-se ver a praia lá embaixo.
(foto: José Júnior)



texto: Cly Reis
fotos: Cly Reis e  José Júnior

terça-feira, 19 de agosto de 2014

ARQUIVO DE VIAGEM - Museu Oscar Niemeyer (MON) - Curitiba / PR



A impactante visão do "olho"
espelhado do MON


Mais do que qualquer exposição ou parque (e olha que lá têm muitos), certamente o que mais me impactou em Curitiba foi o Museu Oscar Niemeyer, o MON. É fantástica a emoção que se tem ao chegar pela estreita Rua Marechal Hermes, no bairro Centro Cívico, e, ao desvencilhar o olhar das árvores do entorno, dar de frente com aquele impressionante olho suspenso e espelhado. Tal como foi quando estivemos Leocádia e eu no MAC, de Niterói, no Rio, ao ver aquela nave-flor totalmente integrada com a natureza e a topografia.

Rampa de entrada para o
prédio principal com a torre
e o lago artificial
Nesta obra, a arquitetura de Niemeyer, embora num ambiente menos privilegiado naturalmente do que o de Niterói, traz novamente esta sensação impactante e de fusão com o que lhe cerca. O MON une duas épocas de sua carreira e da Arquitetura como um todo. Isso porque o projeto original foi composto pelo arquiteto em 1967 para as instalações do Instituto de Educação. Esta primeira obra comportava já o prédio em linhas retas que fica ao fundo, o qual dá de costas para o Parque Polonês, uma área verde de convívio ligada à outra de mata fechada. Pois em 2002, Niemeyer, já em sua fase mais madura, foi chamado para reelaborar o projeto, onde seria construído, enfim, o museu que leva seu nome.

Em primeiro plano,
a escultura em aço, La Luna,
de Niemeyer
Escultura em bronze do
modernista Bruno Giorgi
Foi quando se ergueu o chamado “olho”, que, na verdade, foi inspirado no formato de uma pinha de araucária, árvore característica da região e daqui do Sul. Sobre um lago artificial, o olho – cujo traço da borda em concreto armado branco é de uma beleza infindável – é sustentado por uma “sutil” base retangular, a “Torre”, em cor amarelo-canário, onde se estampam a traço preto desenhos do mestre que dialogam com outros feitos por ele em Niterói para o Caminho Niemeyer, obra também pertencente à sua última fase. Digo “sutil”, pois, como é natural em Niemeyer, as dimensões gigantescas se aliam à precisão das proporções dentro do todo, fazendo com que se percebam claramente os volumes, distinguindo o que é menor e o que é maior. O que não quer dizer que o “menor” seja necessariamente pequeno. Pelo contrário: ao todo, são 35 mil metros quadrados de área construída. Somente dentro da base amarela, vimos depois, há três andares de espaço expositivo mais o do próprio olho anexo. Isso, rodeado de rampas curvas que, além da função de acesso e mobilidade, emprestam movimento ao desenho.

Espaço Niemeyer traz maquetes, fotos e vídeos
dos principais projetos do arquiteto pelo mundo
Ao fundo, então, o prédio principal, distribuído em três pisos. Reto, amplo, moderníssimo. À Bauhaus. A estrutura do prédio é de concreto protendido, que permite vencer os grandes vãos da edificação com um enorme arrojo estrutural. Nele, estão nove salas de exposição, a maioria do museu. Além das mostras temporárias, há duas permanentes que cabem muito bem serem destacadas. A primeira fica na área externa do subsolo, que é o Pátio das Esculturas. Ali é possível perambular entre obras de Tomie Ohtake, Xico Stockinger, Erbo Stenzel, Amélia Toledo, Bruno Giorgi e até do Niemeyer.

Leocádia percorre o tunel a la "Solaris"
que liga o prédio principal
à "torre do olho"
A outra exposição permanente digna de realce refere-se ao próprio Oscar Niemeyer, num espaço reservado à sua obra, com projetos, fotos e maquetes do arquiteto de vários países do mundo, como os clássicos Cassino da Pampulha, o MAC, o Ibirapuera, as obras de Brasília, o Centro Cultural Le Havre (Paris), entre outros. Interessantíssimo, embora a proposta seja generalista, visto que não apresenta projetos dele menos famosos mas tão legais quanto, como a sede do Partido Comunista da França, em Paris, ou o Palazzo Mondadori, em Milão, Itália. Mas pra arrematar o desbunde, saindo dali, um lindo corredor em concreto que liga o prédio principal à torre, o qual passa por debaixo do lago artificial da entrada. Desenhada em curvas, dá a sensação de se estar percorrendo os corredores da nave espacial do "Solaris", do Tarkovski – só para se ter uma ideia do barato que dá.

Nós entre as esculturas
Enfim, para nós que, aonde vamos, procuramos sempre conhecer algo do Niemeyer que tenha no local, foi uma visita mais uma vez deslumbrante. Um museu organizadíssimo que, mesmo que não se veja nenhuma exposição, por si só, vale como passeio.

Para quem quer saber mais sobre o MON: www.museuoscarniemeyer.org.br










vídeo do Espaço Niemeyer - por Leocádia Costa




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As 'costas do olho', com o desenho
da Ártemis dançarina de Niemeyer
Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes 999, Centro Cívico – Curitiba/PR
Visitação: Terça a domingo (10h às 18h)
Entrada: R$6,00








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vídeo: