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quinta-feira, 14 de abril de 2011

The Jesus and Mary Chain - "Automatic" (1989)

Vim ouvindo hoje, pro trabalho, o "Automatic" do The Jesus and Mary Chain, que mesmo não sendo a obra-prima da banda é um disco bem legal. É o primeiro desde a dissolução da banda de apoio, que contava como futuro-Primal Scream, Bobby Gillespie, permanecendo apenas os irmãos Jim e William Reid à frente de suas barulhentas e distorcidas guitarras, apoiados apenas, na maior parte das músicas por ritmadores eletrônicos e programações de bateria.
O fato de ter que recorrer a estes recursos não fez com que o disco soasse eletrônico ou artificial. Pelo contrário: "Automatic" é rock'n roll puro. É cheio daquelas influências de rockabilly, como em "Coast to Coast"; de Beach Boys, como em "Beetween Planets", e de punk rock em praticamente todas; tudo isso sem abandonar as tradicionais tempestades sonoras que já eram marca registrada da banda desde sua aparição, como na barulhenta "Gimme Hell" e de alguma forma sempre presente em várias outras dos disco."Take It", por exemplo, lá pela metade, parece estar fora de controle como se os ruídos, distorções e microfonias tivessem vontade própria, num exemplo clássico de como o bom e velho rock'n roll se transforma nas mãos dos irmãos Reid.
Mas o grande destaque do disco, e provavelmente o maior sucesso comercial da banda, é "Head On", uma gostosa canção com generosas pinceladas surf-music, que viria a ser gravada depois pelos Pixies e aqui no Brasil, pela Legião Urbana no seu acústico. Clássico!
Como eu disse, não é nenhum disco fora do comum, ainda mais se comparado ao fantástico "Psycho Candy", mas não deixa de ser um disco muito gostoso de ouvir.
E vou então me deliciando com ele hoje no carro.
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FAIXAS:
1."Here Comes Alice" – 3:52
2."Coast to Coast" – 4:13
3."Blues from a Gun" – 4:44
4."Between Planets" – 3:27
5."UV Ray" – 4:04
6."Her Way of Praying" – 3:46
7."Head On" – 4:11
8."Take It" – 4:34
9."Halfway to Crazy" – 3:41
10."Gimme Hell" – 3:18

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Ouça:
The Jesus and Mary Chain Automatic


C.R.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

The Jesus and Mary Chain - Vivo Open Air - Marina da Glória / Rio de Janeiro (27/05/2014)



Entrada do Vivo open Air,
proposta de sessão de cinema
ao ar livre seguida de show musical
Irmãos, eu vi Jesus!
Sim, sim, uma das minhas bandas favoritas, o The Jesus and Mary Chain, cujo álbum de estreia, "Psycho Candy" é meu disco de cabeceira frequentemente citado como um dos melhores dos naos 80, estava ali na minha frente, como um milagre. Como um milagre, sim, porque assim como o filho do Homem, ressuscitou, depois de uma longa inatividade para uma turnê, que por felicidade passou por essas terras.
Sim, Jesus está entre nós!
Shwarzie encarnando o impiedoso robô
do futuro na telona na Marina da glória
Depois de uma sessão de cinema ao ar livre com a exibição do filme o Exterminador do Futuro, ao qual eu já tinha assistido zilhões de vezes, mas que queria ver como seria numa tela grande, ao ar livre e dentro da proposta do evento, o Vivo open Air, que na verdade não é nada mais do que um grande drive-in daqueles antigos, só que sem carro, era hora de encontrar os irmãos Reid, e sua corrente de Jesus e Maria, uma das bandas mais significativas e cultuadas das últimas décadas no rock mundial.
E, irmãos, eu encontrei Jesus!
"Snakedriver" pra abrir. Delírio!!! "Head On" na sequência. Pra enlouquecer!!! "Far Gone and Out", "Between Planets", "Blues for a Gun"... Uau!!! Foda, foda, foda! Mesmo com meus joelhos detonados (minha condropatia patelar) tive que ir lá pro burburinho. Pulando e me batendo com a galera. Ah, foda-se!
Jesus cura!
Os irmãos Reid no palco. Ao centro Jim e à direita,
William exibindo uns (muitos) quilinhos a mais
Mesmo bem menos barulhentos, com um 'barulho' mais limpo, o repertório dos caras é matador e cada música executada era uma espécia de êxtase para os fãs. E vieram "Cracking Up", "Happy When it Rains", "Teenage lust", "Sidewalking". Yeah, yeah, yeah!!!
Sim, eu ouvi Jesus!
Bem mais simpático do que de costume com o público, acenando vez que outra, agradecendo os aplausos e bicando uma cervejinha o tempo todo, Jim Reid fez uma apresentação, se não perfeita, correta, enrolando-se com o fio e fazendo aquele tradicional vai-e-vem como pedestal do microfone, fazendo com que vários tivessem que ser substituídos. O surpreendentemente obeso, William Reid, ao contrário das negativas expectativas com base nos erros do show de São Paulo, foi bastante competente  e seguro na guitarra no comando daqueles solos simples, sem frescura mas extremamente cativantes. Se em São Paulo eles não haviam ensaiado, parece que o show de lá serviu de ensaio para o do Rio, que tecnicamente, de um modo geral foi bom e assim, sem maiores percalços, a primeira parte do show terminou com a doce/ácida "Just Like Honey" com uma convidada que foi chamada para fazer o backing vocal feminino mas cuja voz praticamente não foi apareceu. Jim anunciou então que aquela fora a última música e a banda saiu apressada do palco deixando a dúvida "Jesus breve voltará?". Sabendo do temperamento da dupla não era de se estranhar que a ameaça de nos deixar se confirmasse. Mas felizmente não.
Jesus voltou!
Depois de uma breve pausa voltaram, aí sim, caprichando na ruideira, nas microfonias e nas distorções para uma dobradinha "Psycho Candy", com "The Hardest Walk" e "Taste of Cindy", fechando em seguida com o clássico "Reverence" numa performance empolgante. Mas agora sim era o fim. Um show relativamente curto, mas conhecendo como conhecemos os rapazes já foi grande coisa que tenham dado o show e que não o tivessem abandonado no meio como faziam em outros tempos.
Saí contemplado por ter visto aquilo. Por ter finalmente visto uma das bandas que mais gosto e admiro e por ter ouvido ao vivo algumas das músicas que ainda hoje me marcam muito.
Eu fui abençoado.
Amém!

trechinho de "Teenage Lust" gravado de celular
(perdoem a qualidade do áudio)


segunda-feira, 13 de julho de 2009

The Jesus and Mary Chain - "Psycho Candy" (1985)




O (meu) Maior Disco de Todos os Tempos
" A gente recebe muitas cartas nos xingando.
Eu simplesmente respondo,
"Vá se fuder!"
Jim Reid



Quando começou o disco eu não acreditava no que estava ouvindo...
Tinha apenas lido a respeito. Melhor disco do ano em diversos meios de mída, melhor da revista Bizz na época. Definiam como ácido, uma avalanche sonora. Nem tentei ouvir antes pra ver se ia gostar, tratei logo de comprar. Comprei ainda o vinil. Eu mal sabia que aquela capa meio tosca era quase um aviso. Tudo faria sentido quando eu pousasse a agulha sobre o vinil.Levei pra casa e quase ritualísticamente como costumava fazer quando tinha alguma expectativa para ouvir os discos que comprava, parei, sentei, me acomodei e botei a bolacha pra rodar.Quando começou o disco eu não acreditava no que estava ouvindo. Aquela batida surda, alta, estourando mas levemente cadenciada sobre uma suave melodia que iniciava por uma longa paletada de guitarra era verdadeiramente doce mas completamente ÁCIDA. Sim, esta era a palavra pra definir "Just Like Honey" que abre o disco. Ácida.
Encantado com a primeira, sou surpreendido por uma torrente de som, quase ensurdecedora, vibrante, vigorosa, ousada, arrebatadora que é "The Living End". Aí, sim, eu já não entendia mais nada. O que era aquilo que eu estava ouvindo? "The Living End" era algo entre o experimentalismo de "European Song" do Velvet Undergriound", o embalo das surf music dos anos 50, vocais arrastados tipicamente ingleses, e uma sonoridade que lembrava "Anarchy in the UK" dos Pistols, tudo isso com microfonias, ruídos e distorções que faziam daquilo algo único.
A partir daí o cartão de visitas foi posto na mesa: a tônica do álbum estava colocada. A proposta ficava conhecida. Os ruídos e as microfonias não eram meros recusrsos para reforçar o barulho. Eles fazem parte de uma concepção de música, de rock e dos tempos. Por mais que já se tivesse visto isso com Stooges, com MC5 com o Velvet, nunca isso tinha sido colocado como identidade sonora em um álbum e de uma maneira tão bem construída, compondo e decompondo as canções, integrando-as sem esconder a sonoridade pretendida dentro delas.
O início do lado B mantém o impacto deixado pela letal "Taste of Cindy" que fecha a primeira parte. "Never Understand" é outra das provas de que a sonoridade pretendida é fica evidente com sua aura meio rackabilly, meio surf, mas com aquela atmosfera cheia de barulhos.
O disco dá uma pausa pra respirar com "Sowing Seeds" que baixa a rotação novamente, mas é só o tempo pra se recuperar e partir pro ataque com "My Little Underground", outra das melhores.
Fecha com "It's so Hard", com todas as características do disco mas um pouco mais soturna, enquadrando-se no contexto no qual afinal de contas faziam parte naquele momento, cheio de darks, góticos e afins. Chegava ao final meio que sem fôlego. Entreo extasiado e anestesiado.
Nunca tinha ouvido um disco igual.
"Psychocandy" evidentemente foi muito influenciado - punk, rockabilly, blues, surf music, Velvet, 13th. Floor Elevators, Beach Boys...- mas por ter conseguido ser um álbum coeso, único e original a partir de toda essa bagagem agragada e por seu caráter "barulhento" singular, também acabou por ser, desde seu nascimento, um disco extremamente influente e as microfonias e distorções desmedidas acabaram por se tornar assinatura dos irmãos Reid.
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FAIXAS:

  1. "Just Like Honey" – 3:03
  2. "The Living End" – 2:16
  3. "Taste the Floor" – 2:56
  4. "The Hardest Walk" – 2:40
  5. "Cut Dead" – 2:47
  6. "In a Hole" – 3:02
  7. "Taste of Cindy" – 1:42
  8. "Never Understand" – 2:57
  9. "Inside Me" – 3:09
  10. "Sowing Seeds" – 2:50
  11. "My Little Underground" – 2:31
  12. "You Trip Me Up" – 2:26
  13. "Something's Wrong" – 4:01
  14. "It's So Hard" – 2:37

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Ouça:
The Jesus and Mary Chain Psycho Candy



Cly Reis

terça-feira, 29 de maio de 2012

Bo Diddley - "Bo Diddley" (1958)




“Bo Diddley é Jesus”
título de música da banda
The Jesus and Mary Chain 



Aquela guitarra era solo, base e percussão ao mesmo tempo!
Bo Diddley, ex-fabricante do instrumento, depois de ter produzido algumas tantas pela vida, reinventava o instrumento com uma batida única que revolucionaria o blues, o rock, a música de um modo geral. (Depois ainda reinventaria o instrumento, literalmente, produzindo a sua famosa guitarra quadrada, cujo formato não tinha muito a ver diretamente com a sonoridade e mais com o conforto de Bo na hora de tocar).
Destaco aqui seu primeiro álbum “Bo Diddley” de 1958, disco que traz algumas de suas mais marcantes canções como a 'pausada' “I’m a Man”; o gostosíssimo blues “Before you Acuse Me”; a ‘percussionada’ “Hush Your Mouth”; a excelente “Who Do You Love?”, regravada depois numa versão bem bacana pelo duo escocês The Jesus and Mary Chain, que o tem praticamente como um deus; além, é claro, das auto-homenagens megalomanas “Hey, Bo Diddley” e a outra que simplesmente leva o seu nome assim como o disco.
É outro dos poucos que eu listei aqui nos FUNDAMENTAIS que eu não tenho. Tenho, sim a coletânea da Chess Records que tem tudo de melhor da carreira do artista, inclusive todas deste álbum. Boa alternativa pra quem, como eu, não tem este primeiro disco deste bluesman pra lá de original. Mas, se encontarem, comprem. Eu, certamente farei o mesmo se topar com ele.

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FAIXAS:
1. "Bo Diddley" (2:30) 
2. "I'm a Man" (2:41)
3. "Bring It to Jerome" (Jerome Green) (2:37)
4. "Before You Accuse Me" (2:40)
5. "Hey! Bo Diddley" (2:17)
6. "Dearest Darling" (2:32)
7. "Hush Your Mouth" (2:36)
8. "Say, Boss Man" (2:18)
9. "Diddley Daddy" (McDaniel, Harvey Fuqua) (2:11)
10. "Diddy Wah Diddy" (Willie Dixon) (2:51)
11. "Who Do You Love?" (2:18)
12. "Pretty Thing" (Dixon) (2:48) 


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Ouça:
Bo Diddley 1958


Cly Reis











sexta-feira, 28 de junho de 2013

100 Melhores Discos de Estreia de Todos os Tempos

Ôpa, fazia tempo que não aparecíamos com listas por aqui! Em parte por desatualização deste blogueiro mesmo, mas por outro lado também por não aparecem muitas listagens dignas de destaque.
Esta, em questão, por sua vez, é bem curiosa e sempre me fez pensar no assunto: quais aquelas bandas/artistas que já 'chegaram-chegando', destruindo, metendo o pé na porta, ditando as tendências, mudando a história? Ah, tem muitos e alguns admiráveis, e a maior parte dos que eu consideraria estão contemplados nessa lista promovida pela revista Rolling Stone, embora o meu favorito no quesito "1º Álbum", o primeiro do The Smiths ('The Smiths", 1984), esteja muito mal colocado e alguns bem fraquinhos estejam lá nas cabeças. Mas....
Segue abaixo a lista da Rolling Stone, veja se os seus favoritos estão aí:

Os 5 primeiros da
lista da RS
01 Beastie Boys - Licensed to Ill (1986)
02 The Ramones - The Ramones (1976)
03 The Jimi Hendrix Experience - Are You Experienced (1967)
04 Guns N’ Roses - Appetite for Destruction (1987)
05 The Velvet Underground - The Velvet Underground and Nico (1967)
06 N.W.A. - Straight Outta Compton (1988)
07 Sex Pistols - Never Mind the Bollocks (1977)
08 The Strokes - Is This It (2001)
09 The Band - Music From Big Pink (1968)
10 Patti Smith - Horses (1975)

11 Nas - Illmatic (1994)
12 The Clash - The Clash (1979)
13 The Pretenders - Pretenders (1980)
14 Jay-Z - Roc-A-Fella (1996)
15 Arcade Fire - Funeral (2004)
16 The Cars - The Cars (1978)
17 The Beatles - Please Please Me (1963)
18 R.E.M. - Murmur (1983)
19 Kanye West - The College Dropout (2004)
20 Joy Division - Unknown Pleasures (1979)
21 Elvis Costello - My Aim is True (1977)
22 Violent Femmes - Violent Femmes (1983)
23 The Notorious B.I.G. - Ready to Die (1994)
24 Vampire Weekend - Vampire Weekend (2008)
25 Pavement - Slanted and Enchanted (1992)
26 Run-D.M.C. - Run-D.M.C. (1984)
27 Van Halen - Van Halen (1978)
28 The B-52’s - The B-52’s (1979)
29 Wu-Tang Clan - Enter the Wu-Tang (36 Chambers) (1993)
30 Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006)
31 Portishead - Dummy (1994)
32 De La Soul - Three Feet High and Rising (1989)
33 The Killers - Hot Fuss (2004)
34 The Doors - The Doors (1967)
35 Weezer - Weezer (1994)
36 The Postal Service - Give Up (2003)
37 Bruce Springsteen - Greetings From Asbury, Park N.J. (1973)
38 The Police - Outlandos d’Amour (1978)
39 Lynyrd Skynyrd - (Pronounced ‘Leh-‘nérd ‘Skin-‘nérd) (1973)
40 Television - Marquee Moon (1977)
41 Boston - Boston (1976)
42 Oasis - Definitely Maybe (1994)
43 Jeff Buckley - Grace (1994)
44 Black Sabbath - Black Sabbath (1970)
45 The Jesus & Mary Chain - Psychocandy (1985)
46 Pearl Jam - Ten (1991)
47 Pink Floyd - Piper At the Gates of Dawn (1967)
48 Modern Lovers - Modern Lovers (1976)
49 Franz Ferdinand - Franz Ferdinand (2004)
50 X - Los Angeles (1980)
51 The Smiths - The Smiths (1984)
52 U2 - Boy (1980)
53 New York Dolls - New York Dolls (1973)
54 Metallica - Kill ‘Em All (1983)
55 Missy Elliott - Supa Dupa Fly (1997)
56 Bon Iver - For Emma, Forever Ago (2008)
57 MGMT - Oracular Spectacular (2008)
58 Nine Inch Nails - Pretty Hate Machine (1989)
59 Yeah Yeah Yeahs - Fever to Tell (2003)
60 Fiona Apple - Tidal (1996)
61 The Libertines - Up the Bracket (2002)
62 Roxy Music - Roxy Music (1972)
63 Cyndi Lauper - She’s So Unusual (1983)
64 The English Beat - I Just Can’t Stop It (1980)
65 Liz Phair - Exile in Guyville (1993)
66 The Stooges - The Stooges (1969)
67 50 Cent - Get Rich or Die Tryin’ (2003)
68 Talking Heads - Talking Heads: 77’ (1977)
69 Wire - Pink Flag (1977)
70 PJ Harvey - Dry (1992)
71 Mary J. Blige - What’s the 411 (1992)
72 Led Zeppelin - Led Zeppelin (1969)
73 Norah Jones - Come Away with Me (2002)
74 The xx - xx (2009)
75 The Go-Go’s - Beauty and the Beat (1981)
76 Devo - Are We Not Men? We Are Devo! (1978)
77 Drake - Thank Me Later (2010)
78 The Stone Roses - The Stone Roses (1989)
79 Elvis Presley - Elvis Presley (1956)
80 The Byrds - Mr Tambourine Man (1965)
81 Gang of Four - Entertainment! (1979)
82 The Congos - Heart of the Congos (1977)
83 Erik B. and Rakim - Paid in Full (1987)
84 Whitney Houston - Whitney Houston (1985)
85 Rage Against the Machine - Rage Against the Machine (1992)
86 Kendrick Lamar - good kid, m.A.A.d city (2012)
87 The New Pornographers - Mass Romantic (2000)
88 Daft Punk - Homework (1997)
89 Yaz - Upstairs at Eric’s (1982)
90 Big Star - #1 Record (1972)
91 M.I.A. - Arular (2005)
92 Moby Grape - Moby Grape (1967)
93 The Hold Steady - Almost Killed Me (2004)
94 The Who - The Who Sings My Generation (1965)
95 Little Richard - Here’s Little Richard (1957)
96 Madonna - Madonna (1983)
97 DJ Shadow - Endtroducing ... (1996)
98 Joe Jackson - Look Sharp! (1979)
99 The Flying Burrito Brothers - The Gilded Palace of Sin (1969)
100 Lady Gaga - The Ame (2009)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Mesma melodia, letras diferentes


O fato de apresentar o programa Música da Cabeça, na Rádio Elétrica, é meio que mera desculpa minha para ir à cata de listas. Sempre gostei de criá-las a partir das coisas que curto, das criteriosas às mais estapafúrdias. Uma dessas que me veio à mente para usar no programa se refere a músicas que têm a mesma melodia, mas letras diferentes. A parte musical e o arranjo podem ser idênticos, mas o que é cantado, não. Às vezes, até melodias de voz e cantores diferentes. Dois lados da mesma moeda ou - por que não? - do mesmo disco.

Numa rápida pesquisa de memória, o interessante foi perceber que essa prática é comum nos mais diferentes gêneros, culturas e locais. Seja no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Inglaterra ou até na Jamaica, não há quem resista em usar aquela base que ficou superlegal de um outro jeito, numa outra roupagem. 

Pra compor esta lista de 15 + 1 exemplos, ainda contei com a ajuda de meu irmão e parceiro de blog Cly Reis, que contribuiu com algumas das duplas de músicas as quais não tinham me ocorrido.

Tom Zé e Tim: ambos com duas duplas
de músicas na lista
Importante ressaltar que não valem músicas até então instrumentais que ganharam letra depois de um tempo, casos de “Valsa Sentimental” (de Tom Jobim, que, quando letrada por Chico Buarque, virou ”Imagina”) e “A Rã” (originalmente, “O Sapo”, de João Donato, que passou a ter esse novo título na letra de Caetano Veloso). Neste caso, aceitou-se como exceção quando uma delas é instrumental e a outra cantada, mas desde que pertençam a um mesmo artista e que este as tenha composto para um mesmo projeto.

Igualmente, não se incluem canções “reprise” ou de letra mesmo que diferentes entre si, mas que se tratam de duas partes da mesma, nem mesmo versões para idioma diferente do original feita por outro artista. Músicas “irmãs”, tipo “Blue Monday” e “586”, da New Order, ou “Crush with Eyeliner” e “I Took Your Name”, da REM, não cabem, nem muito menos aquelas que samplearam a “alma” do tema que a inspirou, como o rap norte-americano costuma fazer. Essas todas ficam de fora – quem sabe, guardam-se para uma futura outra lista...

Do blues ao samba, do industrial a soul, do shoegaze ao psicodelismo. Têm dobradinhas bem interessantes e variadas.


1. "João Coragem"/ "Padre Cícero" - Tim Maia
Em 1970, Tim estava gravando seu disco de estreia quando Nelson Motta aparece no estúdio e fica maravilhado com "Padre Cícero". Tanto que pediu para Tim e Cassiano alterarem a letra para a música entrar na trilha da primeira novela da Rede Globo, "João Coragem".

2. "Sister Midnight"/ "Red Money" - David Bowie
A fase berlinense rendeu coisas maravilhosas e simbióticas para Bowie. "Sister Midnight", composta por ele e Iggy Pop para abrir "The Idiot", de Iggy, de 1977, serviu para o próprio Bowie finalizar sua própria trilogia na capital alemã dois anos depois com outro título e letra.

O mestre da "preguiça" baiana sabia muito bem fazer sambas geniais com pouquíssimos versos, quando não quase repetidos. Aqui, o que Caymmi repete é a parte instrumental idêntica a ambas, mas com melodias de voz e letras totalmente diferentes entre si.

"Strange Brew", que abre o cláscico disco "Disreali Gears", de 1967, é tão boa que dá vontade de reescutá-la. Não precisa, pois Clapton/Bruce/Baker a põem no fim do disco, só que com outro nome e letra. 


5. "Mã""Nave Maria" – Tom Zé
Uma mais percussiva, a outra mais world music, mas ambas de abertura de seus discos "Estudando o Samba", 1976, e "Nave Maria", 1984) e sobre o genial riff do baiano de Irará.

6. "Teenage Lust"/ "Heat" - Jesus & Mary Chain
"Teenage Lust" é um clássico da banda que coroa uma fase inspirada, marcada pelo disco "Honey's Dead", de 1992. "Heat", por sua vez, está na coletânea de B-sides "Stoned and Detoned", de um ano depois.

Vindo de Moz, artista que produz muito, não seria estranho haver esse tipo de repetição. No caso, "Alma Matters", hit do disco "Maladjusted", de 1997, tem como sombra "Nobody..,", da coletânea "My Early Burglary Years", de 1998.

8. "Waiting""Do You do It?" – Madonna
No talvez melhor disco de Madonna, "Erotica" (1992), a ousadia de pôr um mesmo tema duas vezes, sendo a segunda cantada não por ela, mas pelos rappers Mark Goodman e Dave Murphy.

9. "Pocket Calculator"/ "Dentaku" – Kraftwerk
Totalmente iguais, não fosse uma ser cantada em inglês e a outra em japonês. Aí os alemães conseguiram fazer, pro disco "Computer World", de 1981, duas obras totalmente diferentes sendo a mesma coisa.

Quase iguais, não fosse o título e algumas partes da letra. Mesmo estando no mesmo disco, o clássico "Pet Sounds", de 1966, é tão bonita que não há nenhum problema em "reouvi-la" com pouca diferença entre uma e outra.

11. "Os Escravos de Jó"/ "Caxangá" – Milton Nascimento
A censura, que comeu praticamente todas as letras de "Milagre dos Peixes", de 1973, inclusive "Os Escravos de Jó", parceria de Milton com Fernando Brant, já havia abrandado um pouco anos depois quando Elis Regina gravou "Caxangá" e depois o próprio Milton.

12. "Graveyard""Another" – P.I.L.
A instrumental "Graveyard", de "Metal Box" (1979), é, literalmente, a "Outra" em "Commercial Zone", disco de sobras de estúdio da mesma época. Coisas da cabeça conceitual de John Lydon e sua Public Image Ltd..

13.  "Jimi Renda-se"/ "Dor e Dor" – Tom Zé
A mente inquieta de Tom Zé faz com que, mais de uma vez, ele revisite a própria obra. Assim como "Mã"/"Nave Maria", a metaliguagem pega nestas duas também, de 1970 e 1972 respectivamente.

14. "Slave to the Rythmn""The Fashion Show" – Grace Jones
O disco de Grace "Slave to the Rhythm", de 1985, em si, é todo cunhado sobre a mesma base, mas estas duas não não são iguais pela letra.


15. "With no One elseAround"/ "Pra Você Voltar" – Tim Maia
Tim não tinha vergonha de reaproveitar melodias suas mais de uma vez, mas aqui ele fez melhor: uma em inglês, para o arrasador álbum de 1978, e outra na língua de Camões, um ano depois ("Reencontro"), em que até o sentido das letras são totalmente diferentes.


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+1. "À Flor da Pele""À Flor da Terra" – Chico Buarque
O título é igual, "O que Será?", eu sei, mas o fato de o subtítulo ser diferente faz, com perdão da redundância, toda a diferença. Escritas por Chico para a trilha sonora de "Dona Flor e seus Dois Maridos", de 1976, uma inicia o filme e outra o encerra - e as letras são totalmente distintas.


cena final do filme "Dona Flor e Seus Dois Maridos" - tema: "À Flor da Pele"


Daniel Rodrigues

sábado, 12 de setembro de 2015

Howlin' Wolf - "Howlin' Wolf" ou "The Rockin' Chair Blues" (1962)



"Seus olhos se iluminavam e você podia
ver as veias se incharem no seu pescoço
e, irmão, sua alma inteira
se concentrava naquela canção.
Ele cantava com a danada da alma."
Sam Phillips,
da gravadora Sun Records,
descrevendo Howlin' Wolf



Um uivo de lobo.
Uma voz potente.
Um homem transfigurado em animal no estúdio.
Assim era Chester Arthur Burnett, mais conhecido como Howlin' Wolf, um dos maiores nomes do blues de todos os tempos. Artista de admiráveis qualidades vocais, exímio manejo da guitarra e performances arrasadoras em shows, Wolf que começara na Sun, gravadora que revelou Elvis Presley, teve, no entanto, seu período de maior sucesso pelo famoso selo Chess, de Chicago, curiosamente levado pelas mãos do, sabidamente um arquirrival, Muddy Waters.
Rivalidades à parte, cada um com seus talentos, muitos diga-se de passagem, havia espaço para os dois na Chess. A maioria dos músicos do staff da gravadora gravavam as canções do baixista da casa e compositor Willie Dixon, mas poucos como Wolf tiraram tanto proveito desta parceria. Saíram das maos de Dixon alguns dos maiores sucessos de Howlin' Wolf e diga-se de passagem, em contrapartida, são dele algumas das melhores interpretações das músicas de Dixon.
Wolf já havia gravado um disco desde sua chegada à Chess mas que ainda trazia heranças da Sun Records, sua antiga gravadora, e contava apenas com as composições do próprio cantor, mas foi com o disco conhecido popularmente como "The Rockin' Chair Blues" que Wolf alçou voo definitivamente no universo do blues muito em função das composições de Dixon e de seu dedo na produção.
O disco abre com a excitante "Shake For Me", uma incitação à libido e já traz na sequência o clássico "The Red Rooster" cantado de maneira arrastada por Wolf com o acompanhamento de por uma slide guitar matadora do próprio cantor. A música ganharia inúmeras versões posteriores, nas quais ganharia o diminutivo pela qual é mais conhecida ("Little"), dentre elas a suingada de Sam Cooke, a suja do Jesus and Mary Chain e a maliciosa dos Rolling Stones.
"Who's Been Talkin'", um blues lento, quebrado com um toque latino é uma das duas, apenas, de autoria do próprio cantor no disco, e ""Wang Dang Doodle", que a segue é pegada, cheia de embalo, com uma guitarra vibrante e um refrão contagiante.
Outra que já foi regravada incontáveis vezes, por Etta James, Who, pelo Cream de Eric Clapton, mas que tem na versão deste blueseiro do Mississipi, a primeira, diga-se de passagem, uma de suas melhores interpretações, é a magnetizante "Spoonful",  mais uma das obras-primas de Dixon imortalizada pelo vocal singular do Lobo.
Na chorosa "Going Down Slow" onde o vocalista praticamente apenas declama a letra, o que destaca-se mesmo, desde a introdução martelada, é o piano; já em "Back Door Man", Howlin' Wolf retoma o protagonismo e encarna o personagem soltando ganidos arrepiantes numa canção que é uma espécie de assombração sensual e sedutora e que cuja versão, talvez, mais conhecida seja a da banda The Doors gravada logo em seu álbum de estreia.
Bem ritmada, embalada, impetuosa, "Howlin' for My Baby" (que também é conhecida com a variação de "... My Darling"), talvez a melhor tradução da fusão de estilos do blues do Delta para o de Chicago, encaminha com grandiosidade o final do disco para que "Tell Me", a outra composição de autoria de Wolf no disco, um gostosíssimo blues com uma levada apaixonante de harmônica  se encarregue de fechar de forma magistral.
Um daqueles caras para o qual a alcunha lenda do blues cabe perfeitamente, ainda mais reforçada pelo nome sugestivo que carregava, pelas performances insanas no palco, pelo feitiço que impunha às mulheres e pelos uivos quase animalescos que emitia em suas interpretações. Seria aquela figura na verdade uma criatura entre o home e o lobo? Teria ele, como o outro legendário Robert Johnson, feito algum pacto sinistro cujo preço seria que dividisse sua forma entre o humano e o bestial, metamorfoseando-se depois de determinada hora, em determinados dias, em dada fase lunar? Ficaria ele assim, mesmo em sua forma humana com traços do animal o que explicaria seus grunhidos, uivos e rosnados característicos e sua forma gigantesca e quase gutural? Bobagem, bobagem. Mas, ei... Alguém aí ouviu um uivo?
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FAIXAS:
  1. "Shake for Me" – 2:12
  2. "The Red Rooster" – 2:22
  3. "You'll Be Mine" – 2:25
  4. "Who's Been Talkin'" (Howlin' Wolf) – 2:18
  5. "Wang Dang Doodle" – 2:18
  6. "Little Baby" – 2:45
  7. "Spoonful" – 2:42
  8. "Going Down Slow" (St. Louis Jimmy Oden) – 3:18
  9. "Down in the Bottom" – 2:05
  10. "Back Door Man" – 2:45
  11. "Howlin' for My Baby" – 2:28
  12. "Tell Me" (Howlin' Wolf) – 2:52
* todas as faixas compostas por Wilie Dixon, exceto as indicadas
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Ouça: 

domingo, 31 de outubro de 2021

"Salomão Ventura, O Caçador de Lendas nº1 - A Maldição do Saci", de Giorgio Galli - Gico Mix (2011)


"A premissa da HQ é mostrar as lendas do nosso folclore
do jeito que a tradição oral as apresenta,
capturadas pelo mestre Luís da Câmara Cascudo em sua bibliografia.
Em resumo: são histórias de terror feitas para assustar."

"E minha escolha para essa primeira edição 
não poderia ser outra:
quem foi mais descaracterizado e infantilizado
do que o diabrete Saci Pererê?
Que em sua origem, conforme relatado pelo mestre Cascudo,
foi vítima de assassinato, tornou-se alma penada
e tem como objetivo causar morte e dor?
Não é para crianças..."

Giorgio Galli,
prefácio de "A Maldição do Saci"



Na data mais conhecida pela comemoração norte-americana do Halloween, mas que por aqui, simbolizando toda a riqueza de nosso folclore, é simbolizada no Saci, nosso destaque vai para um dos projetos mais legais da cena independente de quadrinhos nacional. É o projeto do artista Giorgio Galli, que, com sua série Salomão Ventura, explora as tradições folclóricas brasileiras, lançando sobre elas um olhar mais sombrio e aterrorizante, transformando lendas e personagens de tradição popular em temíveis criaturas sinistras. Assim, o Curupira e o Saci, por exemplo, têm recuperadas características estudadas por historiadores e folcloristas, e passam a ser, na visão artística de Galli, criaturas sobrenaturais e ameaçadoras que, por mais que tenham justificativas para existirem e demandas legítimas, devem voltar para seus lugares, no mundo do além, longe dos humanos. Para isso, o caçador de assombrações, Salomão Ventura, um misto de Constantine e Van Helsing, sai em busca das aberrações sobrenaturais e, com seus métodos, nada gentis (e nem podia ser diferente) mas muito "convincentes", as captura e manda de volta para o lugar de onde nunca deviam ter saído.
O primeiro número da série do Caçador de Lendas, criado por Galli, é exatamente "A Maldição do Saci", personagem de origem sinistra cujas características foram humanizadas e suavizadas para ficar mais palatável e poder fazer parte dos sítios-dos-pica-paus-amarelos da vida, mas que a bem da verdade, não é nada menos que uma alma-penada vingativa e odiosa, fruto de um brutal assassinato. O moleque tem seus motivos para voltar das trevas para alimentar sua sede de vingança, punir pais e fazer justiça em lares onde crianças são maltratadas como ele foi, só que Salomão Ventura, por mais que compreenda isso, não pode deixá-lo à solta por aí e vai atrás do pretinho endiabrado se valendo da única maneira possível de pegá-lo... (você sabe qual é, não sabe?).
Um projeto que, ao contrário do que muitos pensam, que demoniza personagens da cultura popular, na verdade a resgata e valoriza, levando ao encontro de muitos mergulhados na cultura norte- americana, um pouquinho mais das raízes brasileiras.
Trabalho de muito talento desenvolvido, como o autor mesmo revela no prefácio, ao som de The Cure, The Smiths, Jesus & Mary Chain, Titãs, Cartola, PixiesStone Roses, Kraftwerk e outras coisas mais. Com inspirações dessas, só poderia sai coisa boa, mesmo.

Página da HQ. O início da sina vingativa do Saci.


por Cly Reis



O projeto Salomão Ventura infelizmente, num primeiro momento, não foi muito adiante e ficou só em quatro números, Saci, Curupira, Lobisomem e De Volta Pra Casa, mas ao que parece, o artista resolveu pôr a mão na massa e parece estar produzindo novos episódios do caçador das trevas. Não é tão fácil de se encontrar exemplares mas volta e meia se acha em feiras de quadrinhos e eventos do tipo, além do próprio site do artista (salomaoventura.com.br).

quarta-feira, 25 de março de 2015

"Discoteca Básica : 100 Personalidades e seus 10 Discos Favoritos", de Zé Antônio Algodoal - Ed. Ideal (2014)



“Em um tempo em que
 as pessoas “baixam” músicas
e não tem noção
do que é um álbum,
nada mais bacana que
poder falar dos álbuns
 e de suas influências em nossas vidas.”
Marcelo Rossi
(fotógrafo, diretor de videoclipes e compositor)





Topei, dia desses, com o livro “Discoteca Básica: 100 personalidades e seus 10 discos favoritos” e, blogueiro como sou, com seção dedicada a álbuns importantes, além de apaixonado por música e colecionador de CD's e LP's, fiquei extremamente interessado. Trata-se de uma série de listas elaboradas por 100 personalidades, em sua maioria ligadas ao mundo da música, que destacam, cada um, 10 álbuns musicais importantes de alguma forma em suas vidas. Por mais que tivesse me dado coceira pra comprar, até hesitei um pouco em comprar imaginando que as indicações dos convidados pudessem meramente cair naqueles clichês tipo “progressivo é mais técnico e o resto é pobre”, ou “sou do metal e escolhi 5 AC/DC e 5 Iron Maiden" ou Beatles é melhor que tudo” e simplesmente saírem nomeando 5 entre os 10, 7 de 10 ou mesmo 100% da lista só de Beatles. Mas não. Um que outro até manifestou a intenção de relacionar Beatles nas 10 posições mas felizmente meus temores não se confirmaram. No caso do Fab Four, em especial, tiveram, por óbvio, um número de indicações proporcional à sua importância de maior banda de todos os tempos, mas felizmente as listas mostraram-se bem diversificadas, curiosas e contendo dicas bem interessantes. Os convidados em sua maioria são de alguma maneira ligadas ao mundo da música, como os músicos Arnaldo Baptista, Péricles Cavalcanti, Dinho e Andreas Kisser, por exemplo, mas também encontramos artistas visuais, produtores, executivos de gravadoras, e ex-VJ's da MTV como Didi, Gastão, Edgar e Thunderbird.
O que torna o livro mais interessante é que a proposta do organizador, Zé Antônio Algodoal, não foi a de necessariamente listar 10 discos qualitativamente ou em ordem de preferência. Seus entrevistados podiam utilizar o critério que quisessem e essa liberdade de escolha resultou em listas muito bacanas. Questões afetivas, cronológicas, de formação, profissionais, primeiras aquisições, parcerias, influências, os critérios adotados são os mais diversos, alguns convidados preferindo comentários mais genéricos, abrangentes, outros mais detalhados, pontuais, disco a disco. Alguns relatos como o da francesa Laetitia Sadier da banda Stereolab são muito amplos, bonitos e completos, por outro lado, pessoas de quem gostaríamos de ter alguma consideração a mais sobre suas escolhas, como no caso do apresentador Jô Soares, foram extremamente econômicos, deixando uma breve observação ou às vezes nenhuma.
A paixão demonstrada pelo músico Hélio Flanders em suas descrições; o envolvimento do diretor de cinema e teatro Felipe Hirsh; as metamorfoses da ex-diretora da MTV Brasil, Ana Buttler; o caso dos primeiros dez discos que o Gordo Miranda ganhou do pai; o texto criativo e bem escrito de Xico Sá; e a emoção de Airto Moreira ao ser apresentado ao álbum “Miles Ahead” pela cantora Flora Purim, no relato de Rodrigo Carneiro, são alguns dos pontos mais legais do livro e que não podem deixar de serem lidos. Como curiosidades, me chamou a atenção o fato do álbum “Boys Don't Cry” do The Cure, que eu, fã, nem considero dos melhores, aparecer bastante entre os votantes; a surpreendente 'disputa' acirrada entre o "Força Bruta", muito votado, e o "Tábua de Esmeralda", que no fim das contas prevaleceu; e o fato de que alguns dos meus xodózinhos como o "Psychocandy" do Jesus and Mary Chain, que eu considero a melhor coisa que eu já ouvi, e o "Loveless" do My Bloody Valentine, que eu costumo dizer que seria o disco que eu levaria para uma ilha deserta, aparecem com bastante frequência no livro em diversas listas, inclusive na do próprio organizador. No mais, muitos dos meus favoritos aparecem com grande destaque entre os mais escolhidos como, por exemplo, o "Nevermind" do Nirvana, o "Transa" do Caetano e o "Tábua de Esmeralda" de Jorge Ben.
Elogios também para a parte gráfica do livro muito caprichada, cuja arte, meio retrô e saudosista, faz referência, desde a capa, a vinis, toca-discos e equipamentos de som antigos.
Para quem gosta de listas, como eu, especialmente aqs de música, é um livro que desperta a vontade de montar as suas próprias, com critérios diferentes, de modo que se consiga contemplar todos aqueles discos que, de certa forma quase como filhos, e tem um lugar reservado no coração.




Cly Reis

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Primal Scream "Screamadelica" (1991)




"We're gonna have a good time,
we're gonna have a party"



Peguei para ouvir hoje no carro o Primal Scream “Screamadelica” que, particularmente, considero um dos cinco melhores e mais influentes discos dos anos 90, e para o qual vejo constantemente minha opinião compartilhada por renomadas publicações, sites, blogs, críticos ou listas.
Normalmente vejo muito associado o grande mérito do disco ao fato de integrar efetivamente a house music ao pop/rock inglês mas no meu ponto de vista analisar por aí, é ver apenas a ponta do iceberg. É sim mérito um inegável este, e Bobby Gillespie e sua turma de amigos, DJ’s e produtores que recheiam todo o contexto desta obra, o fazem brilhantemente como na dançante e empolgante “Don’t Fight It, Feel It” por exemplo, ou no hit “Come Together” que mistura o psicodelismo à house, cheia de inserções de metais e vocais gospel, que também aparecem até com mais ênfase, na ótima abertura do álbum “Movin’ on Up” que lembra muito Stones. Mas até por conta desta complexidade de elementos, vê-se que não se limita a um disco de indie com uma pitada de house. Trata-se de um álbum extremamente bem trabalhado e diversificado.
O já citado psicodelismo encontra seu auge na versão de “Slip Inside this House” dos não menos psicodélicos 13th. Floor Elevators, em uma releitura que com méritos diferentes, não fica devendo nada à original. “Higher than the Sun”, também muito doida, tem duas versões no mesmo disco (que na verdade são três): uma primeira mais “musical”, por assim dizer, mais constante e regular, e uma outra, como diz o subtítulo, uma “sinfonia dub dividida em duas partes” na qual a primeira praticamente vai-se compondo elemento a elemento, instrumento a instrumento, parte a parte, até que se completa, se interrompe, pára e recomeça a segunda parte onde prevalece uma levada de baixo hipnótica.
“Loaded”, uma das melhores do disco, é na verdade uma remixagem de uma música da própria banda, “I'm Losing More than I'll Ever Have", do álbum anterior e que não faz questão de esconder o seu caráter de regravação por mostrar bem uma cara de RE-mix.
A acústica “Damaged” é adorável assim como “Shine Like Stars”, uma baladinha leve que fecha o disco com delicadeza depois de toda a alucinada viagem musical.
É um dos meus preferidos. Considero um disco muito influente porque vejo que aquela linguagem de pop/rock inglês do início dos anos 90 estava sem personalidade e sem qualidade. Tinha muita gente tentando fazer algo desse gênero como Jesus Jones, Soup Dragons, EMF mas meio sem rumo e com a falta daquele “algo mais”, e foi isso que o Primal Scream proprocionou com “Screamadelica”. Fez o que todos estes estavam tentando fazer mas com um toque superior de qualidade somada a muito psicodelismo, ousadia, tentativae experimentação que acabou sendo crucial para o que viria no pop britânico dali para a frente nos anos 90.

OUTROS TOQUES:
* O álbum conta com diversos produtores para as propostas diferentes do que pretendia-se na mesma obra. Produziram o disco: The Orb, Hyphnotoe, Andrew Weatherall, Hugo Nichelson, Jimmy Miller; A remixagem de “I’m Losing More than I’ll Ever Have” que gerou “Loaded” foi feita por Andrew Weatherall;
* A abertura de “Loaded” conta com sampler da voz de Peter Fonda no filme ‘Wild Angels’;
* A grande linha de baixo da segunda parte da segunda versão de “Higher tahn the Sun” é executada por Jah Wabble, ex-PIL;
* Informação adicional, apenas pra quem não sabe ou para os menos avisados: Bobby Gillespie, líder e mentor do Primal Scream é o antigo bateirista do Jesus & Mary Chain. Grande banda, mas que, cá entre nós, estava desperdiçando todo o talento do cara lá no fundo do palco.

FAIXAS:
  1. "Movin' on Up" – 3:47
  2. "Slip Inside this House" – 5:14 (Ericson, Hall)*
  3. "Don't Fight It, Feel It" – 6:51
  4. "Higher Than the Sun" – 3:36
  5. "Inner Flight" – 5:00 (instrumental)
  6. "Come Together" – 10:21
  7. "Loaded" – 7:01
  8. "Damaged" – 5:37
  9. "I'm Comin' Down" – 5:59
  10. "Higher Than the Sun [A Dub Symphony In Two Parts]" – 7:37
  11. "Shine Like Stars" – 3:45  
*dos 13th. Floor Elevators do álbum “Easter Everywhere”

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Baixe e ouça: