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domingo, 9 de novembro de 2014

Robert Evans: o homem que bancou Coppola


Não sei o que mais chama a atenção nesta foto: a superbarba do Lee Marvin, o tapa-olho do John Wayne ou a elegância do Clint. Mas uma coisa eu sei: o que tem as mais escabrosas histórias a contar é o Robert Evans. O homem já era um milionário da Costa Leste, ligado à indústria da moda, quando foi descoberto por Norma Shearer nadando numa piscina de hotel em LA. Virou ator famoso, ainda que medíocre. Não se contentou: queria ser o novo Darryl Zanuck, o bambambam dos estúdios de “OIiú”. E conseguiu. Como produtor, tirou a Paramount da ingrata nona posição entre os maiores estúdios para o primeiro lugar – em apenas quatro anos, entre o fim dos 60 e o começo dos 70. Produziu “Love Story”, "O Poderoso Chefão", “Ensina-me a Viver”, “Chinatown” e “Maratona da Morte”.
Quando ninguém queria dirigir o filme inspirado no livro de Mario Puzo, foi ele quem teve a ideia de chamar Coppola, um jovem de 30 anos que tinha feito três fracassos até então, mas que reunia uma virtude: era o único diretor ítalo-americano da época. E um filme sobre a máfia só funcionaria se fosse comandado por alguém "de dentro" – até então, a maioria dos filmes de gângster eram dirigidos por judeus. E não emplacavam.
À época de ‘Love Story” (filme que causou uma explosão de nascimentos de crianças nove meses depois do lançamento), Evans casou com a Ali McGraw. Era rico, bonito, bem-sucedido, tinha a mulher mais linda da época e linha direta com Henry Kissinger. Enfim, a vida mais invejável do mundo, aparentemente. Mas ele se preocupava demais em trabalhar. Em novos sucessos. Depois de dois meses na Europa comercializando os direitos de “O Poderoso Chefão”, Evans lembrou de ligar para a esposa, que filmava “Os implacáveis”, com Steve McQueen. Pobre Evans. Logo para quem acabou perdendo a mulher. "Você poderia ser o homem mais poderoso do mundo, mas perder a esposa para McQueen fazia me sentir insignificante", reconheceu.
Dali em diante, Evans ainda emplacou algumas coisas nos anos 70, como o próprio “Chinatown”, baseado num roteiro que ninguém entendia. "Eu não compreendia aqueles diálogos, mas se o Robert Towne garantia que era bom, então eu insisti", relembra. Valeu e pena, tanto que ganhou tudo quanto é prêmio, como todos sabem. Fato é que a traição pesou. Nos 80, Evans apostou todas as suas fichas em “Cottom Club”, também de Coppola e com o Richard Gere, que acabou sendo um fracasso. Ali, na verdade, o próprio produtor já estava fracassando. Pirou na cocaína, foi parar num hospital psiquiátrico – de onde conseguiu fugir a muito custo. Perdeu sua mansão em LA. Como não conseguia se desvencilhar da velha vida, acabou alugando a ex-casa para morar. Pagava 25 mil dólares mensais – isso estando quebrado. A casa acabou recomprada por Jack Nicholson, que presenteou o amigo com o pequeno regalo.

Quando recomeçava, foi acusado de assassinato, em um processo inconclusivo que levou quase uma década. Nos 90, recomeçou como produtor, tentando emplacar porcarias como “O Santo”, “O Fantasma” e “Jade”. Ganhou dinheiro (e provavelmente mais alguma coisa da Sharon Stone) com “Invasão de Privacidade”. Na prática, a melhor coisa que fez desde então foi escrever o livro "The Kid Stays in the Picture", que deu origem ao documentário "O Show Não Pode Parar", de 2002 – onde conta tudo isso. Na carreira, no entanto, fico em dúvida entre as coisas pelas quais mais o admiro: 1) Ter batido pé para Coppola estender “O Poderoso Chefão”, quando o diretor entregou o filme com 2h7min; 2) Ter metido a mão na trilha de “Ensina-me a Viver”, colocando Cat Stevens no filme mais sui generis que já vi; ou, claro, 3) Ter casado com a Ali McGraw. Cara legal esse Evans.


por Ricardo Lacerda

sábado, 6 de junho de 2015

A Calcinha da Sharon Tate


Na manhã de 8 de agosto de 1969, a atriz e modelo Sharon Tate acordou chateada. Estava a poucos dias de ganhar seu primeiro filho e seu marido, o diretor Roman Polanski, ainda não tinha conseguido voltar de Londres, onde tinha "compromissos" tanto no cinema quanto sexuais com Michelle Phillips, do The Mamas and The Papas, com quem tinha um caso. Sharon, acostumada às passarelas do mundo inteiro e eleita umas das mulheres mais lindas do cinema dos anos 60, mesmo grávida mantinha intocável toda sua beleza e por dentro uma profunda tristeza por saber da traição do marido. No cinema, ela era ainda uma grande promessa, chegando a ser considerada a nova Marilyn Monroe. O seu casamento com Polanski tinha aberto algumas portas, mas a atriz já havia trabalhado com grandes diretores e chegou a receber uma indicação ao Globo de Ouro. Mas naquele momento era hora de relevar as mágoas e se dedicar ao filho.
Polanski tinha alugado uma casa em Cielo Drive, que pertencia a Candice Bergen, onde adorava juntar os amigos para um clima descontraído de drogas e conversa fora a lá anos 60. Mas na madrugada de sábado do dia 9 de agosto de 1969, algo iria mudar e o lugar seria o palco do assassinato mais selvagem da história de Hollywood. Perto do meio dia, Sharon recebeu uma ligação de sua irmã, lhe oferecendo companhia para jantar à noite. A atriz disse que já tinha marcado com amigos uma ida a um famoso restaurante de Los Angeles e, posteriormente, se reuniriam na casa. Dentre os convidados para o pós-jantar estavam: Steve McQueenRobert Evans e Robert Towne e o cabeleireiro das estrelas Jay Sebring e mais dois amigos do casal. Nesse mesmo instante, no Spahn Ranch, um grupo de jovens seguidores de Charles Manson se preparava com armas e facas para sair à caça com uma lista de artistas a serem mortos. Nomes como Elisabeth Taylor, Steve McQueen e Sharon Tate eram prioridade. Por volta das 22h30, todos tinham retornado à casa: Steve, Bob e Towne tinham cancelado sua ida. Além de Seibrig, os amigos Abigail Folger e Wojciech Frykowski ficaram. O assunto do momento era o filme “Sem Destino”, com Hopper e Fonda, e o “White Album”, do The Beatles, mas em poucas horas todos ali seriam o assunto para muitas capas de jornais durante muito tempo.
Logo após a meia noite, a trupe dos Manson invadiu a casa. Entre o grupo, um rapaz de 23 anos e três moças quase que da mesma idade. Todos armados e decididos a matar. Frykowski, que era faixa-preta em Karatê, tentou defender todos, mas foi morto a tiros, pauladas e facadas, assim como Folger e Jay . Tate tentou fugir aos gritos, mas foi capturada por duas moças que a torturaram e bateram na atriz. Ela gritava e chorava implorando por sua vida e a de seu filho. De nada adiantou. Foi morta com 16 facadas, muitas delas direto na barriga. Os Manson ainda matariam na saída o amigo do caseiro da família e, dois dias depois, o casal Leno e Rosemary LaBianca. Em ambas as cenas dos crimes, as palavras “Pigs” e "Helter Skelter" seriam escritas com sangue dos mortos, pois elas eram o "sinal" do "Álbum Branco" dos Beatles para a guerra dos Manson começar.
A comunidade do cinema na época ficou apavorada e tratou de se armar ou contratar guarda-costas, cercar as casas, mas Polanski ficou tão abalado que dispensou tudo isso. Apenas, como consolo, carregou na mala durante anos e para onde quer que fosse a calcinha de sua amada Sharon Tate, onde enxugava as lágrimas de eterna culpa.

sexta-feira, 31 de julho de 2015

“Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn (1967)



Quando assistir a um grande filme dos anos 60 e 70, agradeça a Warren Beatty
por Francisco Bino




Poster original de 
"Bonnie e Clyde"
Depois do período turbulento e da quebra de alguns dos grandes estúdios nos anos 50, o cinema yanquee enfrentava uma péssima fase. Ninguém queria saber mais de Rock Hudson, épicos e filmes bíblicos. As salas de cinema esvaziaram e as brilhantes produções europeias e japonesas eram cada vez mais tratadas como salvação do cinema mundial. Os baby boom, a geração dos anos 60, queriam coisas novas e voltaram rapidamente seus olhos para o outro lado do Atlântico. Esse foi o primeiro sinal vermelho. Os grandes chefões tinham perdido muito dinheiro com produções catastróficas e estavam dispostos a baixar um pouco a guarda para ter seus públicos de volta e recuperar suas cifras. Mas ainda não tinham entendido bem o recado de que agora as coisas não seriam do jeito deles.
Faye e Beatty antevendo a revolução sexual
e social da sociedade moderna
Uma geração renegada da TV, teatro e cinema independente estava se preparando para assumir o controle nas produções. Diretores, produtores e atores iam dar início a um movimento chamado "New Hollywood" a mais autoral e criativa da história do cinema daquele país. Mas, obviamente, ainda enfrentariam uma dura resistência. O filme “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas”, de Arthur Penn, de 1967, seria o marco inicial de toda essa geração. Tudo graças a Warren Beatty, que brigou com os estúdios para ter seu projeto financiado e sob seu controle, longe do pitaco dos chefões. “Bonnie & Clyde” acabou sendo um sucesso em público, prêmios e crítica. A toda poderosa Pauline Kael fez enormes elogios ao filme de Beatty, Robert Towne e Arthur Penn e, de quebra, chamou a Warner de conservadora demais, pois eles subestimaram a produção. Esse foi o segundo sinal vermelho. Mais tarde os executivos entenderiam o recado.
Mesmo assim, o filme gerou enormes polêmicas e não foi tão bem aceito por parte da comunidade de Hollywood, que ainda não estava preparada para este tipo de produção. Pois “Bonnie & Clyde” era freudiano, revolucionário e trazia consigo a mensagem da liberação sexual de uma era que estava chegando. E ao mesmo tempo debochava dos filmes de gângsteres dos antigos estúdios – suas tomadas de tiroteios em Keystone Kops ao estilo das comédias mudas eram uma provocação dizendo: "nos podemos fazer melhor seus ultrapassados". A violência do filme era uma outra metáfora: o Vietnã inflamava com o "cheiro de Napalm pela manhã" e corpos de US Marines crivados de bala na TV. E Beatty, pela primeira vez na história, mostrava os efeitos dos tiros em um corpo e o sangue jorrando nas telas de cinema. Vários diretores beberam dessa fonte estética violenta. Sam Peckinpah seria um deles e a usaria em seu grande filme, "Meu Ódio Será Sua Herança". O crítico Peter Biskind disse: "Se os filmes de James Bond legitimavam a violência dos governos, e os de Sergio Leone legitimavam a violência dos vingadores solitários, ‘Bonnie & Clyde’ legitimava a violência contra o sistema, a mesma que ardia nos corações e mentes de centenas de milhares de oponentes frustrados da Guerra do Vietnã."
Gene Hackman, Blanche Parson,
Beatty, Faye e Michael Pollard
Depois de “Bonnie & Clyde” a porta estava mais aberta, “Sem Destino” seria concebido por hippies doidões; renegados e nerds se juntariam a eles para exteriorizar em criação aquilo que tinham na alma e eram reprimidos pelo sistema conservador dos estúdios que, agora de guarda baixa, tinha sua porta arrombada. A New Hollywood estremeceria os anos 60 e 70 ao som de rock, drogas, sexo, brigas e na produção dos melhores filmes da história do cinema norte-americano. Muitos deles de forma "we made", cinema puro, visceral e sem efeitos especiais. O fenômeno teria um fim, é claro, no início dos anos 80, com “Touro Indomável”, que encerraria tudo. Ciclo que pouco antes já era decretado como morto por causa de “O Portal do Paraíso”, considerado o filme que matou o gênero Western e ainda quebrou a United Artists, a grande companhia independente e financiadora dos projetos da New Hollywood.
Nos anos 80, os estúdios assumiriam o controle outra vez, com normas e uma série de regras para as produções e orçamentos. Os diretores seriam meros instrumentos nas mãos de chefões e estúdios, que somente visavam quantias bilionárias e despejavam superproduções cheias de efeitos especiais e roteiros "step by step" vazios. Aquilo que ainda é visto no "cinema" nos dias de hoje. A geração New Hollywood morreu e os estúdios por hora venceram a batalha. Sepultada, não sei, mas nada foi em vão, já que eles deixaram uma marca criativa jamais superada por outras gerações que as sucederam. Por isso tudo, quando você assistir a um grande filme destas duas décadas, 60 e 70, agradeça a um sujeito chamado Warren Beatty e a um time de párias, errantes e loucos que construíram com inteligência e autoria o melhor momento do cinema mundial.