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sábado, 20 de junho de 2015

Engenheiros do Hawaii - "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" (1988)



"As coisas mudam de nome,
mas continuam sendo religiões"
frase da música "Além dos Outdoors"
do disco "A Revolta dos Dândis", 
contida no encarte do disco 
"Ouça O Que Eu Digo Não Ouça Ninguém"



"Uma vez eu ouvi, não lembro onde, Humberto Gessinger, líder e cabeça pensante dos Engenheiros do Hawaii, dizendo que os discos gêmeos “A Revolta dos Dândis” e “Ouça o Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém” eram sobre comunicação. Bom, acho que é verdade e não é. Efetivamente o são com seus outdoors,comerciaisvozes oficiais, seus livros e revistas mostrando imagens sem nitidez,infelizes infartados de informação e televisões e rádios sendo jogados pelas janelas, mas junto com isso trazem também dilemas pessoais, paixões mal-resolvidas, dúvidas existenciais, conflitos ideológicos e mais uma série de outros assuntos que se não constituem um centro temático, por certo em algum momento encontram o tema que, segundo o principal compositor da banda norteia a obra."

Assim abri, há algum tempo atrás, minha resenha nesta mesma seção de ÁLBUNS FUNDAMENTAIS falando sobre o disco "A Revolta dos Dândis" da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, mas o mesmo parágrafo cabe muito bem para introduzir seu sucessor, "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" (1988), que poderia, sem problema algum, ter sido o segundo disco de um álbum duplo, hipótese que nem sei se chegou a ser imaginada em algum momento, mas que acabou sendo o seguinte, quase que uma extensão do anterior e uma obra-prima do rock nacional. 
A começar pela capa, uma variação em vermelho, praticamente igual à do predecessor, "Ouça O Que Eu Digo: Não Ouça Ninguém", praticamente se confunde com "A Revolta dos Dândis" nas temáticas, nas autorreferências, em versos e riffs reutilizados de um para o outro ou em outras pequenas sutilezas. Exemplos? O retorno ao tema do crescimento e da maturidade de "Terra de Gigantes" em "Somos quem Podemos Ser", um dos grandes sucessos do disco ; o riff inicial de "Vozes" utilizado como introdução de "A Verdade a Ver Navios"; "Desde Aquele Dia" servindo de resposta à pergunta "Desde Quando"; a frese do encarte, destacada acima, de uma música do disco anterior; a irracionalidade da guerra abordada em "Filmes de Guerra, Canções de Amor", agora presente em "Cidade em Chamas"; e referência à "Infinita Highway" na genial "Variações de Um Mesmo Tema", música de batida pesada, marcada, ar dramático e letra mordaz, cujo epílogo, viajante, meio progressivo, cantado por Augustinho Licks, fecha o disco forma monumental. Licks que, a propósito, muito mais integrado e à vontade do que no disco anterior, no qual estreava na condição de guitarrista, garante neste mais qualidade e peso nas guitarras e por muitas vezes um toque um pouco mais hard-rock em grande parte das canções.
A excelente "Tribos e Tribunais",com sua introdução punk acelerada e a ótima letra de Gessinger; o rock de "Sob o Tapete"; "Quem Diria?" que lembra as composições mais remotas da banda, lá, do primeiro disco, "Longe Demais das Capitais"; e a belíssima "Nunca Se Sabe", merecem destaques especiais neste disco que é simplesmente um dos melhores da safra nacional dos anos 80 e um dos grandes da discografia nacional.
"Ouça o Que Eu Digo Não Ouça Ninguém", com "A Revolta dos Dândis" e "Várias Variáveis" compõe um das trilogias mais importantes, significativas e inteligentes da música brasileira mas cuja importância nunca foi totalmente reconhecida. Talvez pelo fato de, apesar de ter alcançado sucesso mesmo no centro do país, os Engenheiros do Hawaii serem uma banda gaúcha e sofrerem, sim, uma certa resistência. Em parte também, pelo fato de Humberto Gessinger, seu vocalista e principal letrista ser considerado ainda hoje, por muitos pedante e pretensioso, por suas ambições floydianas, citações literárias e inserções filosóficas. Até reconheço que existam, que às vezes exagere um pouco, mas não tenho dúvda que e melhor algo assim do que a pobreza musical e intelectual que anda por aí hoje em dia. Não é à toa que não temos mais um rock nacional.

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FAIXAS:
1. "Ouça o que Eu Digo: Não Ouça Ninguém" - Humberto Gessinger (3:04)
2. "Cidade em Chamas" -  Humberto Gessinger (3:17)
3. "Somos Quem Podemos Ser" - Humberto Gessinger (2:40)
4. "Sob o Tapete" -  Humberto Gessinger; Augusto Licks (3:21)
5. "Desde Quando?" - Humberto Gessinger (2:28)
6. "Nunca Se Sabe" - Humberto Gessinger (3:12)
7. "A Verdade a Ver Navios" - Humberto Gessinger (3:03)
8. "Tribos e Tribunais" - Humberto Gessinger; Augusto Licks (3:43)
9. "Pra Entender" - Humberto Gessinger (2:51)
10. "Quem Diria?" - Humberto Gessinger (3:10)
11. "Variações Sobre Um Mesmo Tema" - Humberto Gessinger; Augusto Licks (5:18)


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Ouça:



Cly Reis


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Engenheiros do Hawaii - "Várias Variáveis" (1991)




"Ando só, pois só eu sei, pra onde ir,
por onde andei...
Pergunte ao pó por onde andei...
Ando só, como um pássaro voando.
Ando só, como se voasse em bando...
Ando só, pois só eu sei andar,
sem saber até quando."
da letra de "Ando Só"


Este é o quinto LP, K-7 e posteriormente CD dos Engenheiros do Hawaii e particularmente considero o melhor disco dos Engenheiros.  Depois de um disco muito e provavelmente propositalmente artificial que foi “O Papa é Pop”, este é a volta da fase roqueira do Engenheiros. Musicalmente, é o auge desta primeira leva de registros deles. Guitarras muito bem gravadas, baixo marcante e o uso excessivo de pratos que foi marca registrada do primeiro disco agora é muito mais econômico e a bateria muito precisa.
Os Engenheiros sempre tiveram o cuidado de apresentar seus discos com começo, meio e fim, o que é muito difícil se vocês prestarem atenção. Poucos artistas fazem ou fizeram isso em seus discos.  Alguns pontos me chamam a atenção nesse disco. Penso que os 2 primeiros discos ("Longe Demais..." e "A Revolta...") serviram para marcar sua presença no território gaúcho e mostrar seu trabalho. Os 2 seguintes "Ouça o Que eu Digo..." e "O Papa é Pop") os colocaram no mercado nacional, em especial no Rio de Janeiro e a partir deste o merca do nacional foi plenamente atingido a partir de SP. Uma impressão que somente o Humberto Gessinger poderia confirmar.
Ah sim e temos as músicas. Depois de um início com uma quase vinheta o cartão de visitas se apresenta com “O Herdeiro da Pampa Pobre” que faz contraste com outra música contida neste disco, a “Sampa no Walkman” meio que dizendo –Viemos de lá (ou “Eu venho delooonge” como falava o Brizola”) e estamos aqui.
As minhas duas músicas preferidas são “Quarto de Hotel” soa como um prelúdio de “Sampa no Walkman” que descreve o estranhamento e as particularidades desta Capital já não tão longe demais dos Engenheiros.
É um disco que de modo geral é pouco conhecido e que merece ser escutado com o cuidado necessário e se tu não gostar, ok, pelo menos tu conheceste. Fui ver agora quando foi lançado e nesse ano em 2012 ele completa 21 anos. E eu tive em vinil.

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FAIXAS:
1."O Sonho É Popular" - 1:27
2."Herdeiro Da Pampa Pobre" (Gaúcho Da Fronteira; Vainê Darde) - 4:06
3."Sala Vip" - 4:51
4."Piano Bar" - 4:15
5."Ando Só" - 3:58
6."Quartos De Hotel" - 4:38
7."Várias Variáveis" (Humberto Gessinger; Augusto Licks; Carlos Maltz) - 0:47
8."Sampa No Walkman" - 4:24
9."Muros E Grades" (Humberto Gessinger; Augusto Licks) - 3:42
10."Museu De Cera" (Humberto Gessinger; Augusto Licks) - 4:01
11."Curtametragem" (Humberto Gessinger; Augusto Licks) - 2:02
12."Descendo A Serra" - 2:55
13."Não É Sempre" - 3:29
14."Nunca É Sempre" - 0:51

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Ouça:
Engenehiros do Hawaii Várias Variáveis


terça-feira, 22 de julho de 2014

Humberto Gessinger - "Insular" (2013)





Resolvi assumir o nome solo

pois não usei uma banda fixa na gravação do "Insular",
convidei vários músicos que admiro,
usei várias formações.
Mas não houve ruptura na maneira como escrevo e toco,
só amadurecimento"
Humberto Gessinger




Humberto Gessinger finalmente lança um disco com seu nome. O que na realidade não muda muita coisa pois ele sempre foi O Engenheiro do Hawaii. O que na realidade muda muita coisa, pois quem acompanhou a trajetória dele como compositor e letrista sabe que desde o primeiro disco e ao longo dos outros existia uma vertente gauchesca bem consistente. Não se deram conta ? Escutem então a milonga "Longe Demais das Capitais" do primeiro disco e que se repete com mais acento gauchesco no disco "Alívio Imediato". Outra canção com esta temática é a regravação de "O Herdeiro da Pampa Pobre" no "Várias Variáveis". No disco "GLM", temos a "Pampa no Walkman", no "Simples de Coração" tem uma música com a temática da erva-mate, a "Ilex Paraguariensis", no "Minuano" temos a "Deserto Freezer", um xote moderno agauderiado, enfim, ao logo da trajetória, virava e mexia aparecia esta referência fosse para marcar posição, dizer de onde vinha. E penso que o Humberto queria dar o recado semelhante ao do Brizola quando falava: “Eu venho de longe...”. "Insular" vêm a consolidar apresentar um Humberto maduro seja na composição, na letras e nas temáticas do disco, possui consistência, peso quando necessário e delicadeza de quem sabe que muitas vezes mais é menos. Possui parcerias com o Bebeto Alves (esse sim, veio de longe, lá de Uruguaiana) na música "A Ponte para o Dia", que termina com a velha milonga. Lá pelas tantas Humberto “joga o osso” e dá suerte. Parceria muito boa com Luiz Carlos Borges, gaiteiro de longa data de serviços prestados ao nativismo na música muito boa chamada "Recarga". Não por acaso, emenda na "Milonga do Xeque-Mate" com pontuação precisa e característica da guitarra do Frank Solari. E segue com a referência à cultura gaúcha citando a "Prenda Minha" na música delicadíssima "Essas Vidas da Gente" que têm um baixo muito envolvente emoldurando a canção. Podia ter terminado por aí o disco mas ainda tem uma música sobre o passar do tempo com a participação primorosa e certeira do Nico Nicolaievsky que diz “Que susto quando olhei no espelho, caralho, como estou ficando velho...”. Será este um disco sobre o passar do tempo, sobre o envelhecimento, sobre a experiência ? Será por isto que eu gostei e achei fundamental ? Pode ser hein !
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FAIXAS:
01. Terei Vivido
02. Sua Graça
03. Bora
04. A Ponte Para o Dia (participação de Bebeto Alves nos vocais)
05. Tchau Radar, A Canção (participação de Rodrigo Tavares nos vocais)
06. Tudo Está Parado
07. Recarga (participação de Luis Carlos Borges no acordeon e vocais)
08. Milonga do Xeque-Mate (participação de Frank Solari na guitarra)
09. Insular
10. Essas Vidas da Gente
11. Segura a Onda, DG (participação de Nico Nicolaiewsky)
12. Plano B


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Ouça:


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Engenheiros do Hawaii - "A Revolta dos Dândis" (1987)


"O disco e tudo mais é dedicado à Porto Alegre
(a real e as imaginárias)"
dedicatória da banda no encarte do álbum



Uma vez eu ouvi, não lembro onde, Humberto Gessinger, líder e cabeça pensante dos Engenheiros do Hawaii, dizendo que os discos gêmeos “A Revolta dos Dândis” e “Ouça o Que Eu Digo Não Ouça Ninguém” eram sobre comunicação. Bom, acho que é verdade e não é. Efetivamente o são com seus outdoors, comerciais, vozes oficiais, seus livros e revistas mostrando imagens sem nitidez, infelizes infartados de informação e televisões e rádios sendo jogados pelas janelas, mas junto com isso trazem também dilemas pessoais, paixões mal-resolvidas, dúvidas existenciais, conflitos ideológicos e mais uma série de outros assuntos que se não constituem um centro temático, por certo em algum momento encontram o tema que, segundo o principal compositor da banda norteia a obra. Podia aqui falar de qualquer um dos dois mas começo pelo primeiro da trilogia que só terminaria com o bom "Várias Variáveis" de 1991. Depois de um primeiro disco interessante porém com sonoridade um tanto crua e pouco definida, Os Engenheiros do Hawaii reapareciam com um disco conceitual apoiado no folk, no progressivo e na própria tradição musical gaúcha, muitíssimo bem encaixado, bem resolvido, bem concebido, e, como diz o meu amigo Christian Ordoque, colaborador daqui do ClyBlog, um disco com início-meio-fim. Com letras inteligentíssimas, bem sacadas, repleto de referências literárias, citações filosóficas, ditos populares, trocadilhos e combinações fonéticas interessantes, o álbum “Revolta dos Dândis” de 1987, era o retrato do amadurecimento da banda de Porto Alegre com um som mais robusto, ousado e agora cheio de personalidade, muito devido ao ingresso do guitarrista Augusto Licks que colaborava então de forma decisiva para este crescimento e para as melhores virtudes instrumentais do álbum.
O nome do disco, tirado de um capítulo de um romance de Albert Camus, dá nome às faixas de abertura de cada lado do que seria um LP (formato original de seu lançamento), ambas começando com o mesmo riff e apresentando formatos bastante parecidos no que diz respeito à composição com letras que expõe, de certa forma, os dois lados que tudo na vida pode ter e a procura por algum sentido nisso tudo. Aliás o disco todo se amarra e cria interligações entre uma faixa e outra: versos de “Vozes” são repetidos em “Quem Tem Pressa Não Se Interessa”; o fraseado de guitarra que abre “Terra de Gigantes” reaparece no início de “Vozes”; conceitos de “Filmes de Guerra, Canções de Amor” aparecem expressos em “Desde Aquele Dia” entre várias outras peças soltas neste pequeno quebra-cabeça.
A suave e profunda “Terra de Gigantes”, um dos grandes sucessos do disco, com seus sonhos, perguntas e anseios de juventude, tinha ares de hino de geração; “Infinita Highway” outro hit radiofônico, até improvável por sua longa duração para os padrões de rádio, trazia um pop-rock envolvente que nada mais fazia que expor a grande estrada que é a vida; a romântica “Refrão de Bolero”, flertando com o brega, era uma balada dolorida de dor-de-cotovelo ao melhor estilo do conterrâneo Lupicínio Rodrigues; e fechando o que seria o lado A, a espetacular “Filmes de Guerra, Canções de Amor”, além de uma letra genial, trazia uma brilhante percussão de tamborins durante os excelentes solos de Augusto Licks entre as partes da letra, crescendo até explodir numa verdadeira escola de samba na parte final. “Quem Tem Pressa Não Se Intereressa” tem uma certa ênfase na bateria e um vocal 'atropelado', e a boa “Desde Aquele Dia” mostrava um toque de música espanhola sobretudo no refrão. O disco acaba com a notável “Guardas da Fronteira” com participação vocal do lendário músico gaúcho Júlio Reny, e cuja sonoridade remete um pouco à música regionalista, numa canção sarcástica e pessimista que encerra praticamente toda a idéia do disco conferindo-lhe um final digno e grandioso.
“Ouça o que Eu digo Não Ouça Ninguém”, que o seguiria poderia tranquilamente ter sido o disco 2 de um álbum duplo, por exemplo, tal a semelhança e complementação de ambos os trabalhos mas como não foi, e é quase inevitável falar de um sem citar o outro, será objeto de análise em outro momento e merecerá seu capítulo à parte.

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FAIXAS:
1."A Revolta Dos Dândis I"   4:10
2. "Terra De Gigantes"   3:59
3. "Infinita Highway"   6:11
4. "Refrão De Bolero"   4:34
5. "Filmes De Guerra, Canções De Amor"   4:02
6. "A Revolta Dos Dândis II"   3:13
7. "Além Dos Outdoors"   3:33
8. "Vozes"   3:35
9. "Quem Tem Pressa Não Se Interessa" (Humberto Gessinger, Carlos Maltz) 2:27
10. "Desde Aquele Dia"   3:30
11. "Guardas Da Fronteira"   4:31


* todas as faixas, Humberto Gessinger, exceto as indicadas

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segunda-feira, 16 de abril de 2018

ÁLBUNS FUNDAMENTAIS ESPECIAL 10 ANOS DO CLYBLOG - Nei Lisboa - "Hein?!" (1988)




Causou espanto e surpresa quando, em meados dos anos 80, Nei Lisboa se declarou fã dos Engenheiros do Hawaii! “Carecas da Jamaica”, o disco, tinha até uma parceria dele com Humberto Gessinger (ainda que Nei ressalve hoje: “Peraí! Só metade do refrão de ‘Deixa o Bicho’ é dele!”). Além disso, dividia com o Gessinger os vocais da faixa-título. E havia ainda uma versão cool de “Toda Forma de Poder”, hit do primeiro LP dos Engenheiros.

Mas não seria só isso que teriam em comum. Logo Humberto e Carlos Maltz, com a saída do baixista Marcelo Pitz da banda, convidam Augustinho Licks pra vaga. Surpreendentemente, Augusto topa. E Nei se sente bastante traído – fato agravado por alguns incidentes desagradáveis em shows dos Engenheiros para os quais fora convidado a dar uma canja. 

Nei se via sem seu maior parceiro, num momento bem importante de sua carreira, de definições.

É quando, em julho de 1988, ainda contratado da EMI, Nei começa a gravar disco novo. O LP se chamaria “Hein?!” e, acreditavam todos, finalmente o projetaria nacionalmente. Ao menos era a aposta de quem acompanhava seu repertório daquele momento e o cruzava com o cenário de entressafra da MPB e do rock. No ano anterior, Vitor Ramil e Bebeto Alves haviam lançado seus discos mais populares até então,” Tango” e “Pegadas”, respectivamente. Mas faltava ainda um cara que transcendesse esse sucesso local pra pegar o Brasil pelo rabo.

As fichas locais estavam todas nele.

Só que, num intervalo das sessões, Nei volta ao Rio Grande do Sul e resolve passear na serra gaúcha com a namorada e uns amigos. E o imponderável age: um acidente de carro, perto da cidade de Nova Petrópolis. Leila, a namorada, morre.

Nada mais fez sentido. Termina o disco, é verdade. Que é, segundo muitos, seu melhor trabalho. Mas o astral era radicalmente oposto ao que tinha sido pensado. Era pra ser um LP debochado e irônico. Saiu amargo e doído.

Até a banda era das melhores e mais enxutas que ele já reuniu, com Pedro Tagliani – da banda instrumental Raiz de Pedra - no posto que fora de Augustinho, mais a cozinha de Renato Mujeiko e Fernando Paiva. Paiva logo depois se radicaria em Viena, onde se firmaria como grande instrumentista, e Pedro iria pra Munique com seu grupo. Os três juntos dão uma dinâmica e um senso de equilíbrio que resulta num disco com um raro colorido de vazios e espaços recortados por frases instrumentais inesperadas.

Alem dos três, gravados ao vivo no estúdio, pouco mais: Glauco Sagebin tocando piano e órgão numas poucas faixas, o violão de Nei em outras. Tudo mínimo, tudo cru e tudo muito sofisticado. Bem diferente dos trabalhos anteriores. Tanto que, ao contrário deles, é absolutamente atemporal. Você ouvia em 1988 e era atual. Você ouve hoje e segue contemporâneo.

Parte dos méritos disso são do produtor Mayrton Bahia, famoso pelos discos da Legião Urbana – outros que também resistem bem ao tempo (ao contrário de Reinaldo Barriga, o preferido pelo rock gaúcho de então, cujos trabalhos soam hoje retratos de época).

Além disso, estava ali a faixa-título, uma espécie de continuação de “Verão em Calcutá”, glosando o mesmo mote em versos ainda mais cínicos com relação ao circo do showbizz. E cutucando diretamente Titãs, Raul Seixas, e, também, os Engenheiros:

"Comprei uma guitarra usada, alguma namorada me passou batom.
Durou um tempo, até foi bom.
Mas quando eu disse que era o Rei, tirou o copo da minha mão e disse:
Hey! Hein?!?! Meu amigo, não se desfaça nessa fama, todo esse mundo do rock´n´roll é ruim de cama! Eles querem diversão e bolo, eles querem tudo e mais um pouco, eles querem krig-há-bandolo e champanhe. Eles querem frases nos jornais, eles querem parecer sinceros demais. (...) Eles querem te fazer de tolo, e eu também!"

 Mas o disco não é só isso. Era também um trabalho de amor. Só que, quando aconteceu o acidente, nem todas as letras estavam terminadas. Era preciso, por exemplo, escrever a última estrofe de “Baladas”. Que saiu assim: 


"Só, muito além do jardim, viajo atrás de sombras.
Não sei a quem chamar.
Mas sei que ela diria ao acordar:
Tudo bem. Você me arrasou, meu bem, e qualquer dia desses eu como as tuas bolas. Mas agora esqueça o drama na sacola... Não puxe o cobertor! Não tape o sol que resta nessa dor! Foi bom: não durou.
Oh, mama! Não vale a pena pagar um centavo, um retalho de prazer...
Oh, mama! Eu quero morrer... bem velhinho, assim, sozinho, ali, bebendo vinho  e olhando a bunda de alguém."  

Evidentemente não houve nem alma nem ânimo pra trabalhar a divulgação. Uma terrível entrevista no programa de Jô Soares é a pá de cal nas suas relações já estremecidas com a gravadora: “No momento em que aconteceu o acidente, perdeu completamente o sentido aquele jogo que ao natural já se pode considerar medíocre: dono de gravadora, rádios FMs, essa rede que compõe o mercado, a indústria cultural. E que tu és obrigado a participar, te interessar, te preocupar e agir dentro disso se tu queres ‘tar no páreo da Música Popular Brasileira. Tudo isso, ao natural, já pode parecer medíocre. E naquele instante pra mim não valia um ovo. Eu queria era chutar o balde. E foi o que eu fiz em muitos instantes. No Jô foi um.”, disse Nei posteriormente.

A lápide foi sua recusa em gravar a versão de “Hey Jude”, dos Beatles, a tábua de salvação oferecida pela gravadora. Nei disse que até topava*, desde que ele escrevesse a sua versão da letra, em português. Bateram pé na versão dos anos 60, de Rossini Pinto. Não houve acordo.

Comprovando a tese dos caras, a canção virou um big hit na voz da segunda opção de artista pra gravá-la, Kiko Zambianchi. Durante muito tempo, o pessoal romantizou o lance. Mas atualmente Nei fala disso com crua sinceridade: “Meu público básico era todo daqui. Dez, 20 mil pessoas. Universitários, classe média. Que não aceitariam de jeito nenhum me ouvir cantar uma bosta daquelas. Ia jogar minha carreira pelo ralo. Não foi um gesto de ‘Isso é ruim, eu não quero cantar’, mas sim um gesto de ‘Isso é ruim e vai fuder com a minha carreira’. Cantar, em si, não ia me doer tanto.” 

Nei também estava certo. Assim como virou um sucesso, “Hey Jude” parou ali a carreira de Kiko, que só voltou a ser comentado 15 anos depois, tocando com o Capital Inicial.

trecho do livro inédito de Arthur de Faria

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FAIXAS:

1. Zen - 00:30
2. No Fundo - 3:30
3. Nem Por Força - 4:12
4. A Fábula (Dos Três Poréns) - 3:50
5. Faxineira - 2:30
6. Baladas - 4:28
7. Rima Rica / Frase Feita - 4:07
9. Fim Do Dia - 3:40
9. Telhados De Paris - 5:20
10. Teletransporte Nº 4 - 3:03

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OUÇA O DISCO:
Nei Lisboa - Hein?!




Arthur de Faria é músico, compositor e arranjador. Produziu 27 discos, escreveu 35 trilhas para cinema e teatro, integra o Duo Deno, a Surdomundo Imposible Orchestra, o espetáculo Música de Cena e Música Menor – duo com o argentino Omar Giammarco. Por 20 anos liderou o Arthur de Faria & Seu Conjunto, com quem lançou cinco de seus oito discos e tocou em meia dúzia de países. Jornalista e mestre em Literatura Brasileira, ministra cursos sobre música popular brasileira no Brasil, Argentina e Uruguay, trabalha há 20 anos em rádio, publicou dezenas de ensaios, artigos, livros e fascículos sobre música popular e dedica-se há três décadas a pesquisa sobre a história da música de Porto Alegre.

sábado, 29 de novembro de 2014

Arcadia - "So Red The Rose" (1985)



“Eu sonho com
 elegância, arrogância,
Extravagância do Duran Duran...”
Humberto Gessinger,
música "Nada a Ver"
do álbum "Longe Demais das Capitais"
do Engenheiros do Hawaii




Mas Christian, tu cita o Humberto falando do Duran Duran e o disco não é deles, é do Arcadia! Explico. O Arcadia foi formado por 3 dos 5 integrantes do Duran Duran quando eles resolveram dar uma parada para tocar projetos paralelos. O fundador John Taylor (baixista) e o Andy Taylor (guitarrista) foram tocar com o Robert Palmer e o baterista do Chic no Power Station. Os outros 3 que são o vocalista Simon Le Bon, o tecladista Nick Rhodes e o baterista Roger Taylor fizeram o Arcadia. Uma coisa me passou pela cabeça agora, o Duran Duran poderia se chamar “The Taylors” porque 3 Taylor sem parentesco algum em uma mesma banda não é pouca coisa.
Para este projeto eles ainda contaram com a guitarra do David Gilmour nas faixas "The Promise" e "Missing", e participações como a da Grace Jones, Sting, Carlos Alomar, Herbie Hancock e outros músicos. Para mim é um pop elegante, funkeado e com muitas camadas de produção características dos anos 80, mas sem muito exagero. "Election Day" foi o single que puxou o disco, mas ao longo da audição tu vais percebendo outras músicas que também faziam parte das rádios na época como a "Goodbye Is Forever" e a "The Promise".
Quem puder, ouça a versão tripla que conta com o disco normal, outro disco com versões estendidas/remixes/instrumentais e ainda um DVD com clipes das músicas. Mais ou menos neste período foi que o Duran Duran colocou a música "A View to a Kill" no filme "007 Na Mira dos Assassinos". No clipe desta música pode-se notar o “climão” que estava entre os membros da banda, onde nenhum aparece contracenando com o outro. Este disco foi importante para a retomada do Duran Duran que aconteceu no disco seguinte, que foi o "Notorius", agora resumido a 3 integrantes, o John Taylor, o Simon Le Bon e o Nick Rhodes. Muito do que foi desenvolvido a partir desta reunião já estava contido neste belo disco que é o "So Red The Rose", do Arcadia. Escuta, vale a pena.
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FAIXAS:
  1. "Election Day" - 5:29
  2. "Keep Me in the Dark" - 4:31
  3. "Goodbye Is Forever" - 3:49
  4. "The Flame" - 4:23
  5. "Missing" - 3:40 (LeBon, Rhodes)
  6. "Rose Arcana" - 0:51 (LeBon, Rhodes)
  7. "The Promise" - 7:30
  8. "El Diablo" - 6:05
  9. "Lady Ice" - 7:32 (LeBon, Rhodes)

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Baixe para ouvir:
Arcadia So Red The Rose




segunda-feira, 15 de outubro de 2018

cotidianas #594 - Toda Forma de Poder




Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada
Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada
E eu começo a achar normal que algum boçal
Atire bombas na embaixada

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer

Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada
Toda forma de conduta se transforma numa luta armada
A história se repete
Mas a força deixa a história mal contada

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer

E o fascismo é fascinante
Deixa a gente ignorante e fascinada
É tão fácil ir adiante e se esquecer
Que a coisa toda tá errada
Eu presto atenção no que eles dizem
Mas eles não dizem nada

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer

Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer tudo que eu vi
Se tudo passa, talvez você passe por aqui
E me faça esquecer

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"Toda Forma de Poder"
Engenheiros do Hawaii
(letra: Humberto Gessinger)

Ouça:

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

“Rock Grande do Sul: 30 Anos”, de Lucio Brancato e Fabrício Almeida (2015)



Capa da coletânea de 1985
Não venho falando que o bairro Bom Fim e sua história andam recorrentes pra mim? Pois pouco tempo depois de ter assistido a "Filme Sobre um Bom Fim" e visitado a Lancheria do Parque nas vésperas da despedida do garçom Ildo, ambos assuntos que me motivaram a escrever aqui para o blog, outro acontecimento envolvendo o bairro me impele a falar a respeito do Bonfa de novo. É o documentário “Rock Grande do Sul: 30 Anos”, para o qual tivemos a honra de sermos convidados para a pré-estreia por um de seus diretores, meu amigo e jornalista Lucio Brancato, o que aconteceu no simpático Panama Estudio Pub, na Cidade Baixa, numa (mais uma!) noite chuvoso de setembro na capital.
Dentre os que assistiram, estavam o codiretor e também jornalista Fabrício Almeida, os colegas de Grupo RBS Alexandre Lucchese e Porã Bernardes, que ajudaram na pesquisa e entrevistas, e um dos protagonistas do filme, o DJ e produtor musical Claudinho Pereira, responsável pelos contatos que fizeram com que Rock Grande do Sul acontecesse 30 anos atrás. O disco impulsionou as bandas gaúchas dos anos 80, as quais já mobilizavam multidões por aqui, mas ainda não tinham projeção nacional. A trajetória começa em setembro de 1985 com um show no Gigantinho, o “Rock Unificado”, que reuniu pela primeira vez somente bandas locais e um público de mais de 10 mil pessoas. Disso, culmina com a escolha de cinco desses conjuntos para participarem de uma coletânea, engendrada por Claudinho junto a Tadeu Valério, executivo da RCA Victor, que veio a seu convite como olheiro assistir ao espetáculo. Convencido por Claudinho, se valesse a pena, Valério os lançaria um disco. Valeu. Assim, gravariam pela primeira vez em um LP nacional TNT, Garotos da Rua, Engenheiros do HawaiiOs Replicantes e DeFalla (este último, que não participou do tal show no Gigantinho, mas era visivelmente um destaque na cena pela sonoridade, visual e postura).
Antes da avant-première
Vendo o filme, impossível não compará-lo a “Filme sobre Um Bom Fim”, tendo em vista a quase simultaneidade em que foram lançados. A temática, que faz ambos passarem necessariamente pelo bairro e pela cena cultural da época, os une numa leva de realizações que se completa com outro documentário desde ano, “Sobre Amanhã”, de Diego de Godoy e Rodrigo Pesavento, a respeito da banda DeFalla, lançado também faz pouco, em agosto, no Festival de Gramado. Vários entrevistados são, obviamente, os mesmos, visto que nomes como Biba Meira, Carlos Gerbase, Carlos Eduardo Miranda, Claudinho e Edu K, por exemplo, são essenciais para a história dessa efervescência cultural vivida por Porto Alegre num passado recente.
Conversei sobre isso com Lucio, que me revelou ter sido, de fato, apenas um feliz acaso. As semelhanças existem, tanto que tiveram que evitar de usar imagens e vídeos repetidos em uma obra e outra. Mas a ideia de “Rock...” surgira entre seus idealizadores há pouco tempo, quando Porã se dera conta do aniversário do disco, sendo que o projeto de “Filme...”, consideravelmente maior, já vinha sendo tenteado há uma década. E é aí que as coisas começam a se diferenciar. Por tratar de um tema menos complexo, o lançamento do disco e suas consequências (“Filme...” remonta parte da história e vivências do Bom Fim e arredores em mais de duas décadas), “Rock...” exige um menor número de entrevistados (menos de 20 ao todo) e recortes temporal e narrativo idem.
Começando a projeção.
Talvez por esses fatores, “Rock...” tenha ficado tão agradável e lúdico. Não que “Filme...” também não o seja; mas a complexidade que seu tema central levanta, bem como os vários desvelamentos que não se pode deixar de fazer (política, cultura, boemia, história, antropologia, comunicação, literatura, cinema, arquitetura histórica, urbanismo, etc.), lhe dão necessariamente um caráter mais denso – desafio este que o diretor Boca Migotto cumpre muito bem, diga-se. No caso de “Rock...”, essa exigência é menor, pois os caminhos para dissecar o assunto tornam-se naturalmente menos intrincados, ajudando, inclusive a detectar com mais facilidade os pontos a serem destacados no decorrer da narrativa. Dá até para fazer “firulas”. É o que acontece, por exemplo, na hora em que King Jim, d’Os Garotos da Rua, levemente “desmemoriado”, recorda que até havia plateia no Gigantinho na fatídica noite de 11 de setembro de 1985, depoimento imediatamente reconsiderado por Charles Master, do TNT, a quem era óbvio que havia um grande público. Momento engraçado e bem construído pela montagem.
O tempo recorde em que foi produzido – desde a concepção do roteiro, entrevistas, decupagem e montagem levou-se apenas sete semanas (algo como menos de dois meses), conforme Lucio, impressionado com o próprio feito, me relatou – não prejudicou o resultado final. Muito pela experiência dos realizadores, talhados nas várias mídias do jornalismo (tevê, jornal, rádio, etc.), “Rock...” ganhou agilidade e fluência, contando desde o surgimento das bandas e o furor da cena gaúcha dos anos 80, passando pelo “Rock Unificado”, os bastidores da assinatura do contrato com a RCA e o sentimento dos protagonistas quanto àquela conquista. Além disso, remonta o que aconteceu dois anos depois da coletânea como resultado: a gravação do disco de cada uma das cinco bandas que integraram a “Rock Grande do Sul”, dentre estes os clássicos “Papaparty”, da DeFalla, "O Futuro É Vortex" (1987), d’Os Replicantes, e o LP homônimo da TNT.
Bem interessante esse momento do filme, em que contam sobre a aventura de ir para o Rio de Janeiro para gravarem os discos, o que rende histórias engraçadas e com sabor nostálgico. Charles fala da reação “jeca” dos rapazes da TNT ao se depararem com o rico aparato do estúdio e, logo em seguida, voltarem ao hotel onde estavam hospedados e esconderem os seus instrumentos de vergonha que ficaram. Ou das sacanagens que Os Garotos da Rua, suburbanos também no jeito de ser, faziam no quarto do hotel dos membros do Engenheiros do Hawaii, que, universitários intelectualizados, respondiam às brincadeiras testando-lhes o conhecimento, tal como relataram Jim e Humberto Gessinger. Eu, que sou especialmente fã de Replicantes, adorei saber das condições que a banda de Gerbase impôs à gravadora. Punks cientes – e orgulhosos – de sua inaptidão técnica como músicos, embora extremamente criativos e donos de uma música inteligente e pungente, tinham critérios desde a escolha do repertório até o método de gravação, em que a banda tocava junta (sem overdub) e escolhiam, ao final, o take “menos pior”, como relatara engenheiro de som que os apadrinhara, o Barriga.
Master, Gessinger e Gerbase,
três das figuras centrais do filme.
Detalhes cuidadosos estabelecem o ritmo da montagem, da fotografia e locações, mantendo tempos regulares e bem conduzidos das falas – um exemplo simples mas que denota essa delicadeza é o lettering que credita cada entrevistado, o qual aparece apenas depois da primeira ideia dita por estes. Ao final, fica um sabor de “quero mais”, e não pela sensação de ter sido pouco, pois, mesmo sendo um curta, o filme supera esse fator uma vez que conta muito bem a história. Fica, sim, o sentimento de “que pena, passou tão rápido!”
O filme desfecha com uma rodada de percepções de vários dos entrevistados sobre o que a coletânea “Rock Grande do Sul” representava para eles hoje. Com o a capa do vinil na mão, num exercício psicológico tátil, cada um dá seu depoimento que vai do orgulho ao carinho. Olhando-os nessa sequência, hoje todos mais velhos de quando realizaram a obra, fica a sensação de que parece ter passado pouco tempo de lá para cá, o que é imediatamente contrariado pelo fator cronológico, o qual relembra serem caprichosas três décadas. Não é pouco, de fato. A sensibilidade dos diretores e o carinho com que trataram do tema é provada no desfecho: percebendo essa atmosfera nostálgica que permeia a psique coletiva, o que se escuta no final não é "Segurança", "Entra Nessa" ou “Surfista Calhorda”, faixas do disco que automaticamente são ligadas a este – e com as quais seria óbvio demais encerrar. Ouve-se, sim, apenas o chiado da agulha no sulco do vinil, metáfora de uma obra que não inicia, pois seus ecos, na verdade, ainda não terminaram.
Afora isso, foi saboroso assistir a esse tributo a um dos discos que foi um dos principais responsáveis por fazer a mim e a meu irmão a gostarmos de rock e pelo qual guardo um sentimento especial até hoje. Pelo visto, não só eu.

trailer "Rock Grande do Sul: 30 anos"