Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta sebastião salgado. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta sebastião salgado. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

terça-feira, 7 de abril de 2015

“O Sal da Terra”, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado (2014)


Terra sem sal


Fui com grande expectativa ver o último filme do genial cineasta alemão Wim Wenders, “O Sal da Terra” (França/Itália/Brasil, 2014), documentário sobre Sebastião Salgado codirigido por seu filho, Juliano Ribeiro Salgado. Além da indicação ao Oscar de Melhor Documentário (que não levou, mas não me fez perder o interesse) e de ter como tema o trabalho do grande fotógrafo brasileiro, a própria assinatura de Wenders já me significa um bom indicativo.
Expectativa frustrada. Num filme cujo conteúdo principal, a obra e a trajetória de Salgado, poderia ser muito melhor explorado, os diretores derrapam num longa monótono e comumente didático que não diz a que veio: nem pode ser considerado uma biografia (até porque o protagonista ainda tem chão pra correr), nem se configura como um documento poético-visual tal qual Wenders já fizera em outros trabalhos nesse formato como “Pina” (2011) e “Buena Vista Social Club” (1999). Além disso, o roteiro desaproveita os próprios “ganchos” levantados durante a narrativa de “improbabilidades controláveis” típica de documentários, os quais poderiam direcioná-la a algo mais autoral e criativo.
Suspeito que dois fatores tenham influenciado para que “O Sal da Terra” tenha saído assim tão “sem sal”. Primeiro, que Sebastião Salgado está vivo, e falar sobre a vida-obra de pessoas que ainda estão pela tal Terra – ainda mais quando altamente comprometidas com fatores sociais e políticos e quando a pessoa é diretamente envolvida na produção como neste caso – pode acarretar em interferências tanto positivas quanto negativas. Aqui, na queda de braço, as negativas se sobrepuseram. De bom, tem-se a riqueza de percepções do próprio Sebastião Salgado analisando, relatando e comentando projetos e fotos de sua autoria. No entanto, é impossível não cogitar a autopreservação de quem provavelmente tema entrar de cabeça num projeto com potencial de descortinar o que se quer e o que não se quer mostrar. Com Wenders à frente, este desmascaramento tem grandes chances de acontecer sem que o documentado o perceba conscientemente. Quando ele vê, já foi pra ilha de edição. Um homem público como Salgado, que guarda o status de maior em sua profissão no mundo e cujos projetos dependem de instituições financeiras, empresas e verba pública (inclusive, este filme), mesmo que ele não queira, mesmo que seja inconsciente, não permite se expor de um jeito que o discurso artístico o conduza.
Juliano filmando enquanto Sebastião fotografa.
Não digo com isso que haja má índole nem “rabo-preso” da parte de Sebastião Salgado, personalidade ciente de sua trajetória e de postura filosófico-políticas bastante esclarecida. Tanto é fato que, em “Revelando Sebastião Salgado”, outro documentário sobre ele (de Betsie de Paula, de 2013), vários aspectos de sua vida não deixam de ser conhecidos pelo espectador, como a rotina de trabalho, o papel fundamental da esposa Lélia em sua vida e modus operandi e a relação com o outro filho, Rodrigo, que tem Síndrome de Down. Em “O Sal da Terra”, por exemplo, o relacionamento com o filho é abordado de forma bastante superficial e nem se menciona que é Lélia quem organiza seu arquivo de fotos e negativos, dois elementos que denotam bastante da forma de ser de Sebastião. Um pouco por falta de um direcionamento mais assertivo, um pouco pelo ritmo/conceito da montagem, tudo é contado de forma (sono)lenta mas aproveitar essa lentidão para um aprofundamento real. A questão parece-me, sim (e aí entra o outro fator influenciador para a concepção vaga do filme), que o dedo de Juliano trouxe uma amortização de aspectos negativos tanto no sentido de preservação da imagem do pai quanto de uma inaptidão técnica sua por trás das câmeras. Ao invés de ter ajudado, a proximidade pai-filho parece trazer um complicador ao projeto de Juliano, influenciando no roteiro. Ainda mais considerando as vaidades familiares, incontroláveis em exposições tão grandes. Não captei de cara, mas lembrei da entrevista prestada por Juliano na entrega do Oscar, em que, numa mostra sabe-se lá de modéstia ou autismo ele se refere ao “Sebastião Salgado” e não simplesmente ao “pai”, já denotava esta má-resolução psicanalítica.
E onde entra Wim Wenders nisso? Justamente neste bolo de comprometimentos e presunções. Chamado para assumir a codireção – provavelmente pela constatação desta inaptidão de Juliano a que me referi –, o alemão tentou, tentou, mas não soube onde se colocar. São visivelmente dele os tais “ganchos” que poderiam salvar o filme. Primeiro, na sua didática germânica e poética, inicia o longa com um off no qual disseca o termo “fotografia”. Um começo até óbvio que, para não se tornar um jogral de ensino básico, dependeria de se desenvolver esta didática de maneira a penetrar no âmago do objeto foto: luz, escuro, ambiente, calor, frio, posição, emoção, solidão. Expectativa frustrada novamente, pois a narrativa segue para uma exposição cronológica dos projetos e viagens do fotógrafo ao longo dos anos “curiosamente” selecionada a gosto da família Salgado. Quem viu o outro documentário sobre Sebastião ou conhece um pouco de sua carreira sabe que ele prefere, por exemplo, não associar seu sucesso à famosa foto do atentado a Ronald Reagen, em 1981, quando seu trabalho ganhou definitivamente projeção internacional.
A foto de Reagan nem é mencionada em “O Sal da Terra”.
A outra “deixa” sugerida por Wenders e desconsiderada é ainda mais perceptível e até simbólica nessa relação cinema de arte X imagem institucional. Quando o cineasta relata sobre o convite que recebeu para assumir o projeto e começar a rodar, ele destaca na narração que, curiosamente, ao mesmo tempo em que ele apontava a câmera para Sebastião Salgado, o movimento inverso, por força do hábito de fotógrafo, também acontecia. Aquilo supõe que o filme, a partir dali, versaria sobre a profundidade simbólica da linguagem cinematográfica, em que o olhar do cineasta, do protagonista e do espectador pudessem se confundir, confluir e se complementar. “O que é foto?” “O que é filme?” “Quem está documentando quem?” “O quanto importa o movimento contínuo dos frames-fotos para uma significação real do objeto do filme?” Questionamentos estimulantes para qualquer obra cinematográfica.
Fotos-denúncia do fotógrafo feitas na Etiópia
Fantástico!... Não, pois simplesmente a ideia é abandonada mais uma vez para retornar à cômoda, isenta e simplória narração de Wenders e de Juliano (mais de Wenders, diga-se) com incursões de depoimentos de Sebastião. Se o filme seguisse pela lógica da discussão da linguagem de cinema, justificaria, inclusive, a presença do/s diretor/es como personagem/ns. Em outros documentários seus, Wenders optou ou por uma espécie de “presença intrínseca”, como em “Quarto 666” (1983), no qual entrevista cineastas como ele e debate o futuro de sua profissão; “Buena Vista...”, em que a figura de Ry Cooder o “substitui”; ou “Pina”, quando é totalmente diretor/entrevistador, deixando a história se construir através dos bailarinos e da presença imaterial de Pina. Todos obras-primas. Por que será?...
No fim, coube a Wenders tentar dar um ar autoral a “O Sal da Terra”, amarrando-o com offs, depoimentos e muitas, mas muitas projeções de fotos. Até demais. Muito sépia, muito esfumaçamento. Na condução, arriscou aplicar uma cadência contemplativa para dar a sensação de apreensão do tempo. Inútil, pois em todo o decorrer não se aprofundaram questões como a necessidade da espera e/ou a preparação de um fotógrafo em campo para extrair, às vezes, nenhum click. Supõe-se isso na sequência do urso polar, mas se “descarta” a ideia também. O resultado disso é um filme com bons momentos (principalmente, a sequência sobre as tristes fotos da Etiópia) mas que cansa pela lentidão e do qual ninguém sai empolgado da sala de cinema. Se Wenders, que é Wenders, não teve condições de “levantar” o filme, quem dirá Juliano. Como na vida, quando se atribuir uma função para duas pessoas sem distinguir a que cada um será responsável, nenhuma delas acaba por fazer algo por completo. Em “O Sal da Terra” é assim: dois diretores, nenhum autor.
A codireção não é o problema. Wenders já produzira assim e com sucesso, haja vista os belos “O Céu de Lisboa” (1994), em parceria com o português Manoel de Oliveira, ou “Além das Nuvens” (1995), feito a quatro mãos com mestre do cinema italiano moderno Michelangelo Antonioni. Quanto a Juliano, até temia que o filme pudesse ter mais a “cara” dele e menos a do parceiro, que poderia ter se associado de forma a dar uns pitacos providenciais mas, respeitando o ambiente familiar, não interferiria no resultado final – suposição minha que não se confirmou. A questão é que não se criou um espaço real de atuação nem para um, nem para outro.
Seja por influência ou não da família, de Juliano ou do próprio Sebastião, “O Sal da Terra”, com um substrato espetacular para que se compusesse um grande filme que contivesse como temperos elementos instigantes e questionadores, saiu um produto audiovisual “chapa branca”. Branco como sal em pitadas esparsas e imperceptíveis ao paladar.

Trailer "O Sal da Terra"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Museu do Amanhã - Rio de Janeiro/RJ



A imponente obra arquitetônica à beira da Baía da Guanabara
Só agora, pouco mais de um mês após sua inauguração, pude visitar o badalado e disputado Museu do Amanhã, localizado na revitalizada zona portuária do Rio, mais precisamente na Praça Mauá. Com enfoque no planeta Terra, o museu, de proposta autossustentável, expõe situações de modificação do planeta de toda ordem e de toda origem, sobretudo as causadas pelo homem e alerta para suas consequências imediatas e futuras. Sua exposição permanente, de circuito programado, começa com um impressionante vídeo de tirar o fôlego, exibido 360º, em alta definição, no interior de um globo onde os visitantes permanecem por aproximadamente 8 minutos. Depois disso, o visitante percorre os demais espaços livremente com uma série de mesas e telas interativas onde recebe informações diversas conforme o tema do espaço. Muito legal a visita, o espaço, entendo a proposta tecnológica e interativa do local, mas senti falta de algum espaço de arte, mesmo se tratando de um museu evidentemente científico. Algo dentro da proposta, como uma exposição de Sebastião Salgado, por exemplo, cuja obra tem foco antropológico e ambiental extremamente fortes; ou as esculturas naturais de Frans Krajcberg que se prestariam muito bem a uma análise artístico-ecológica. Mas o visitante não sairá frustrado pela ausência de uma obra de arte pois o museu, o edifício em si é a maior atração. Uma obra prima da arquitetura projetada pelo espanhol Santiago Calatrava, encantadora em cada detalhe, cada vão, cada espaço. Colocado à beira da Baía da Guanabara, o Museu do Amanhã tem a justa ambição de ser mais uma maravilha do homem a concorrer em beleza com as maravilhas da natureza que Deus gentilmente concedeu à cidade do Rio de Janeiro.


Abaixo algumas imagens da visita e do espaço:

O átrio de entrada

Um planeta Terra girando e em constante mudança
de projeções sobre os visitantes

O globo negro onde acontece a projeção de 360º

As costas da sala de projeção, já nas mesas interativas

Um dos grandes cubos que marcam cada fase da visitação.
Este destacando os rios.


Os impressionantes tótens de led em alta definição

Um dos painéis interativos.
Informação na ponta dos dedos

O interior de outro dos cubos com imagens dinâmicas e fascinantes
da fauna e da flora por todas suas paredes

Interior do cubo Pensamento

Exterior do cubo Pensamento

Os paineis com informações constantes

Visitantes interagindo nos painéis

Ponto final da exposição:
O Amanhã.


Os belíssimos espaços internos da edificação

Os fundos da edificação dando para a Baía

Este blogueiro que vos fala encerrando a visita.



Cly Reis




quarta-feira, 20 de maio de 2020

Música da Cabeça - Programa #163


Essa quarentena tá desorientando todo mundo, né? Então, o Música da Cabeça veio te salvar! Afinal, quarta-feira é dia do programa mais musical (e cerebral) da web. Não tem como errar. Assim como a gente não erra na playlist, que terá João Gilberto & Stan Getz, Fellini, The Crusaders & Randy Crowford, Herbie Hancock, Arthur Verocai e mais. No “Cabeção”, o genial Moondog e no “Música de Fato” o projeto de Sebastião Salgado em defesa dos índios brasileiros. Não te perde: se terça foi ontem e amanhã é quinta, então é sinal de que hoje, quarta, é dia de MDC, às 21h, na infalível Rádio Elétrica. Produção, apresentação e orientação temporal: Daniel Rodrigues.



Rádio Elétrica:
http://www.radioeletrica.com/