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terça-feira, 21 de junho de 2016

cotidianas #442 - RW / Rewind



Quando adolescente, eu era o xaropão das locadoras. Bastava ir a um bairro diferente e avistar uma locadora que lá ia eu entrando para ver o que tinha de especial. Se eu fosse em outra cidade, sempre atentavas às locadoras. Já quando eu estava nas "minhas" locadoras – ou seja, naquelas em que eu era "sócio" (em especial: Marcus Vídeo, Pacs Home Vídeo e Canal Zero) –, aí pronto: me sentia em casa. Às vezes, passava as tardes olhando capas, lendo sinopses, vendo o elenco, analisando a clientela, proseando à toa. Me indignava quando o atendente não era do métier. Lembro, nostálgico, de ver o filme que eu queria assistir com um selinho escrito "ALUGADO". Tinha também os selinhos "24h" e os "48h". Nunca me apeguei aos lançamentos. Gostava, mesmo, era dos filmes "ACERVO".
Antes de ser o mala das locadoras, devo lembrar minha iniciação. Foi no fim dos anos 80, tempo em que videocassetes "duas cabeças" eram artigo de luxo – comprados via consórcio. Lembro-me de ir com o Tito (valeu, papito!) toda sexta-feira alugar alguma coisa. Ele escolhia os dele; eu, os meus. O detalhe é que meu pai nunca me deixava alugar desenho. Parece maldade, mas reparem no argumento. "Desenho tu vê na TV. Pega um filme". Justo. Todos os canais passavam desenhos animados nas manhãs. Por que, então, alugar desenho? A alternativa era alugar filmes de terror e de ação, sobretudo de artes marciais e de ninja. Ah, eu adorava filmes de ninja. Michael Dudikoff que o diga. Rememoro, até, um filme de ninja com o Milton Gonçalves (procura aí que tu acha) – obviamente, ele não era ninja, mas um detetive coadjuvante. O fato é que o golpe do Tito com a censura aos desenhos tinha efeito duplo: ele via comigo os filmes (porque desenho ele não veria) e, aprendendo a gostar de filme filme, eu assistia junto os que ele escolhia. Inclusive dramas, policiais, suspenses etc. Quando era drama ou romance, a Paulete curtia ver junto. Mas aí tinha um probleminha: aquelas cenas. Bastava surgir uma ponta de lascívia e entrava em cena o pudor de minha mãe com o "passa rápido, Tito, passa rápido". E lá ia meu pai apertando no "FF/fast forward".
Falando em FF, lembrei-me dos "RW/rewind". Tinha que rebobinar a fita ao entregar na locadora, sob pena de pagar multa. Lembrei também que era possível gravar filmes. Bastava ter dois videocassetes e uma fita virgem. As fitas gravavam em EP, SP e LP (acho que era isso): 2h, 4h e 6h. Quanto mais longa a gravação (três filmes!), pior era a qualidade. Sempre tinha alguém pedindo o videocassete emprestado para gravar um filme. Muito fiz isso, também, até termos dois. Tive estoque de fitas gravadas. Comprei muito filme. Novo e usado. Meu sonho era ser dono de uma locadora. Fui contratado por duas (Pacs e Hi Fi), e meus pais me vetaram de começar a vida laboral aos 14 ou 15 anos de idade.

Olha, eu escreveria um livro sobre as locadoras. Lamento profundamente a morte das locadoras. E tenho culpa, muita culpa no cartório. Eu, você, todos nós. O Netflix tá aí para provar. Mas, né? Vida que segue. Agora vou lá ver um filme de ninja.



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