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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

"Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", de Alejandro Ganzáles Iñárritu (2014)




Todos os filmes de Alejandro Gonzáles Iñárritu sempre foram perturbadores. De “Amores Brutos” (2000) até “Babel” (2006), ele fazia uma espécie de fé absoluta no hiper-realismo, no qual qualquer acontecimento fortuito no mundo pode trazer consequências imprevisíveis na vida do ser humano. Como o acidente de “Amores Brutos” ou o tiro de “Babel”, para Iñarritu, o simples voo de uma borboleta poderia causar um tsumani. A partir de “Biutiful” (2010), o sobrenatural começou a fazer parte do cinema do diretor mexicano. Nele, o personagem de Javier Bardem, Uxbal, consegue falar com os mortos. Após descobrir que está com câncer terminal, este contato passa a ser cada vez mais surreal. Mas “Biutiful” foi uma espécie de introdução a este mundo de fantasia. Seu filme mais recente, “Birdman” é o exemplo mais radical que Iñárritu conseguiu para este mergulho num mundo interior e de como ele se manifesta na vida real. Riggan Thomson (Michael Keaton, sensacional)é um ator atormentado (com o perdão do trocadilho) por um personagem das histórias-em-quadrinhos que interpretou em três filmes de sua carreira, o famoso Birdman.
Edward Norton e Naomi Watts, ambos em 
atuações destacadas
O filme começa com Riggan levitando em seu camarim antes de se envolver com toda a produção de uma peça de teatro na Broadway baseada nos contos do grande escritor minimalista americano Raymond Carver, “What We Talk About When We Talk About Love”.A partir daí, passamos 199 minutos oscilando entre o sonho, a realidade e a consciência de Riggan, manifestada na voz do seu personagem Birdman. Iñárritu nos leva nesta jornada por estes três estados da vida humana sem nos dar nenhuma folga ou pista de onde estamos. Com a câmera flutuante de Emmanuel Lubezki, o diretor brinca de “Pacto Sinistro”, de Alfred Hitchcock, nos dando a impressão de que estamos vendo um plano-sequência do começo ao fim. Nisso, a montagem de Stephem Mirrione e Douglas Crise é exemplar. Esta viagem pelo mundo de um astro decadente do cinema que tenta conseguir validação no mundo teatral é apenas um dos vários plots que Iñárritu cria em seu roteiro, dividido com outros três companheiros. A velha questão das diferenças de “cultura alta” e “cultura baixa” que Umberto Eco e Edgar Morin já analisaram lá nos anos 60 também está lá. Ele atualiza a discussão, usando o fascínio que Hollywood tem apresentado pelos super-heróis, o poder da crítica sobre o fato cultural, as relações de poder entre pai e filha e ator principal e coadjuvantes. Para tanto, ele conta com as atuações acima da média de Emma Stone, Edward Norton, Zack Gallifianakis, Naomi Watts e Andrea Riseborough. O grande destaque, porém, é mesmo Keaton, o ator perfeito para interpretar Riggan, especialmente depois de ter “desaparecido” dos blockbusters, após as experiências com os dois primeiros Batmans de Tim Burton. Muita gente tem reclamado do astral onírico de “Birdman”, pois não há diferenciação do que é real ou fantasia. O público médio parece ter a necessidade de que tudo seja muito bem explicadinho. Por isso, talvez, “Birdman” não tenha entrado numa espécie de inconsciente coletivo da mesma maneira que “Boyhood”, por exemplo, onde a realidade é mais do que explícita. É básica para a compreensão daquela história. Se você se permitir entrar na viagem visual de Iñárritu, tenho certeza de que não vai se arrepender. Quem não conseguir, sempre tem um filminho bonitinho e inofensivo como “A Família Bélier”em cartaz.


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por Cly Reis



Dia desses, na casa de serra do meu cunhado, meu sobrinho emprestado assitia a um filme que tinha gravado enquanto eu, na mesma sala, apenas brincava com a minha filha. Só que de repente, numa olhada que outra para a tela, aquele filme me começou a chamar a atenção. Porque não cortava. Não tinha cortes. Um plano sequência longo, longo, longo, com várias cenas e situações se desenvolvendo, câmera viajando, mudando de ambientes, personagens entrando e saindo de cena. O que era aquilo? Era "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)" (2014), um dos concorrentes a melhor filme para o Oscar deste ano e por sinal, um dos filmes com maior número de indicações.
Me prendeu. Não parei mais de ver. Parei de brincar com a minha filha, passei a tarefa pra minha esposa pelas 2 horas seguintes e mergulhei na telinha. Como havia perdido o início, assim que acabou, voltei para ver desde o começo e quase acabo assistindo todo ele novamente.
Riggan perseguido pelo seu próprio personagem.
Estou (ainda) meio por fora dos concorrentes do Oscar deste ano, estava de férias quando saíram as indicações e não fixei bem os principais destaques, mas desde já, tendo visto apenas outros 2 concorrentes a melhor filme ("Boyhood" e "O Grande Hotel Budapeste"), entrego de cara os prêmios de direção, roteiro original para "Birdman", até deixo em aberto o prêmio de ator coadjuvante, mas considero a atuação de Edward Norton simplesmente extraordinária, isso sem falar na edição primorosa prêmio para o qual curiosamente o longa sequer foi indicado.
No que diz respeito a direção, só o fato de conduzir o filme praticamente todo em planos sequência (sutilmente interrompidos, é verdade), entrelaçando as situações de maneira tão hábil, fazendo de forma muito competente com que elementos da vida dos personagens confundam-se com o roteiro da peça encenada por eles dentro do filme, já são motivos muito fortes para que o bom, cada vez melhor, Alejandro Gonzáles Iñárritu, de "21 Gramas", "Babel" e "Biutiful", saia da cerimônia do próximo dia 22 de fevereiro com a sua estatueta na mão.
Por razões parecidas, por essa integração que ao mesmo tempo é um conflito do andamento da história com o da peça, com o desenvolvimento dos personagens, em especial com a vida do personagem Riggan Thomson, vivido por Michael Keaton, é que acho que, também, é impossível ignorar a qualidade de um roteiro assim, simplesmente brilhante e deixar de premiá-lo com o Oscar da categoria. E aí que me intriga que a edição não tenha sido indicada, uma vez que para fazer funcionar uma direção sem cortes e um roteiro tão bem concatenado, a montagem, preciosa e crucial para o filme, se destaca como ponto alto e inevitavelmente ligada às duas outras indicações que qualificam o filme.
Conflito de bastidores entre diretor e ator.
O bem desenvolvido roteiro, no caso, trata de um ator, famoso por um personagem de super-heroi no cinema, o Birdman, que tendo se negando a fazer mais uma sequência da franquia fica meio "escanteado" pelos grandes estúdios e pretendendo reerguer a carreira, ser levado a sério como ator e ter seu talento reconhecido não apenas como um personagem popularesco, resolve adaptar e dirigir uma peça para a Broadway. Entre temperamentos difíceis de atores, pressão de produtores, problemas pessoais, dificuldades de montagem, de roteiro, etc., os ensaios vão se desenvolvendo enquanto Riggan continua de certa forma convivendo com a sombra do personagem que o tornara grande.
O filme de Iñárritu é a mesmo tempo uma crítica e uma homenagem ao mainstream, à fama, à voracidade da indústria do entretenimento que é capaz de elevar alguém a uma condição de idolatria desmedida, quanto tem o poder de devorar esta mesma pessoa.
Inteligente, dinâmico, mordaz, engraçado, lúdico, poético, reflexivo, na minha opinião, "Birdman" só não leva o prêmio principal por aquelas coisas da Academia que a gente sabe como são. O tal "Doze Anos de Escravidão", um bom filme, porém bem comunzinho, levou o grande prêmio no ano passado, né? Pois é. Diretor estrangeiro, andamento atípico, humor negro... Fatores que podem contar a favor ou contra. Nunca se sabe quais os critérios que o pessoal de Holywood vai adotar.
Mas independente de premiações, fiquei muito satisfeito por, assim, quase sem querer, ter topado com um filme como esse. Daqueles que deixam quem gosta de cinema, em  todos os seus detalhes, plenamente satisfeito. Daqueles que enchem a alma de satisfação.




quinta-feira, 13 de agosto de 2020

"Manhunter - Caçador de Assassinos" ou "Dragão Vermelho", de Michael Mann (1986) vs. "Dragão Vermelho", de Brett Ratner (2002)



Tom Noonam até é um bom vilão, é convincente, é assustador, mas Ralph Fiennes, no mesmo papel, como o desequilibrado Francis Dolarhyde, com sua insegurança imprevisível, joga mais; William Petersen faz um bom policial Will Graham, correto, sem defeitos, mas Edward Norton, é mais jogador ; Joan Allen como a cega Reba está normal, dá conta do recado, mas Emily Watson, desempenhando a mesma função, é show de bola; Brian Cox, mesmo com uma aparição muito breve, faz um Hannibal Lecter discreto em campo, suficiente para sua posição, mas Anthony Hopkins, que já imortalizara o personagem no cinema em "O Silêncio dos Inocentes", é sacanagem!!! É craque! Michael Mann até é mais técnico que Brett Ratner, mas isso não basta para que o time de "Manhunter" de 1986, seja superior ao do "Dragão Vermelho" de 2002.
A refilmagem é mais completa, desde a introdução ao personagem de Hannibal Lecter, nos dando detalhes de como ocorrera sua captura, passando pelo próprio afastamento do policial Graham decorrente dessa prisão, chegando a uma construção melhor do serial killer, fazendo-o mais presente ao longo do filme e aperfeiçoando sua relação com o espectador.
O filme original passa longe de ser ruim. Na verdade é um cult policial dos anos 80, mas a refilmagem soube utilizar o que o antigo tinha de bom, aprimorar a estratégia de jogo tão bem e ainda preencher espaços vazios do campo.
Nos dois filmes, um agente do FBI, Will Graham, aposentado por questões físicas e emocionais depois dos incidentes que levaram à prisão do canibal Hannibal Lecter, é chamado a voltar às atividades para investigar um novo serial-killer que vem matando famílias, dentro de suas próprias casas e colocando cacos de espelho no lugar dos olhos das vítimas. O curioso é que o assassino, apelidado entre os policias e pela imprensa de Fada-do-Dente, parece ter conhecimento das casas, do dia a dia das famílias e isso intriga o FBI. Graham concorda em voltar à ativa e entende que, por mais desagradável que seja a melhor maneira de entrar na mente de um psicopata é consultando outro. Sim! Ele decide então pedir ajuda ao homem que capturara, Lecter que, além de um bom gourmet de carne humana, era também um conhecido e respeitado psiquiatra e poderia dar alguma colaboração no entendimento das razões e perfil psicológico do novo assassino. O problema é que o Dr. Lecter não é lá flor que se cheire e faz um jogo duplo com o agente, ao mesmo tempo lhe dando dicas sobre o serial killer mas fornecendo, mesmo de dentro da cadeia, informações sobre o agente ao procurado, deixando-o extremamente exposto ao criminoso.
Fora os elementos já citados como a apresentação do episódio que viria a levar à prisão de Lecter, o aproveitamento melhor do personagem canibal ao longo do filme, a presença mais constante do Fada-do-Dente no decorrer do longa, a maior importância dada à colega cega do assassino no enredo, há uma diferença fundamental entre os filmes que é o final. Sem dar spoiler, enquanto o antigo se encerrava no embate entre o Graham e Dollarhyde, numa das mais cultuadas cenas do cinema policial, a segunda versão vai além desse momento, se estendendo para um final mais dramático e operístico na casa do agente.

"Manhunter" - cena final


"Dragão Vermelho" - cadeira de rodas em chamas

A sequência incial do concerto, do jantar e de Graham capturando Lecter, é gol para o novo filme logo nos primeiros minutos de jogo; e o matador Fada-do-Dente põe fogo no jogo fazendo o segundo para o remake com toda a sequência da cena do repórter em chamas colado na cadeira de rodas, muito mais impactante que a do original. Por outro lado, ainda que a extensão do epílogo da nova versão seja bem interessante, o primeiro final, cultuado pelos fãs, com a entrada do policial estilhaçando a vidraça, a luta entre os dois dentro da casa de Dolarhyde, a troca de tiros e a fotográfica posição do corpo formando o Dragão Vermelho, tudo ao som alucinante de "In-A-Gadda-Da-Vida", do Iron Butterfly, garante um golaço para o time de 1986. Por mais que Edward Norton e Ralph Fiennes estejam muito bem em seus papeis, os do original, William Petersen e Tom Noonan, não desapontam em nada e esse quesito não constitui vantagem pra nenhum dos lados, mas aí o craque desequilibra e Anthony Hopkins, com seu Hannibal Lecter, garante mais um para o remake de 2002. Só que como muitos jogadores espetaculares, Hannibal é temperamental e logo depois de fazer o gol, dá uma mordida no adversário, ao melhor estilo Luís Suárez, e deixa seu time com uma menos em campo, o que acaba não fazendo diferença pelo bom esquema de jogo montado pelo seu técnico. A propósito, no que diz respeito à direção, mesmo com um jogo correto, bem estruturado de Brett Ratner, Michael Mann joga mais e guarda o seu lá no fundo da meta adversária. Mas o placar fica assim: 3x2 para o remake num jogo emocionante.

De cima para baixo,
os dois agente Graham, os dois Fada-do-Dente e os dois Hannibal Lecter.
À esquerda os da versão original de 1986 e à direita os da refilmagem de 2002.

Bom jogo de dois times mordedores e com matadores de ambos os lados.




Cly Reis

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

"Hulk", de Ang Lee (2003) vs. "O Incrível Hulk", de Louis Leterrier (2008)




Não é exatamente de um remake, é mais um arrependimento. Depois de ver o resultado final de "Hulk", de 2003, sua baixa aceitação e fraca bilheteria, a Marvel, até para incluir no arco de seu Universo Cinematográfico que começara a se desenvolver a partir de "Homem de Ferro", resolveu fazer tudo de novo.. só que diferente. 
Mesmo contando com um belo orçamento, com um elenco interessante de nomes como Eric Bana, Jennifer Connely, Nick Nolte, e com um diretor de primeira, o oscarizado Ang Lee, o primeiro filme do monstrão verde não agradou a quase ninguém. A história até que era boa, explorando desde a origem, desde as experiências do pai de Bruce, resultando na mutação que o tornava resistente aos raios gama, só que desenvolvida de maneira um tanto atropelada, cheia de pontas soltas e bastante insatisfatória, como o próprio diretor, inclusive, admite. A linguagem visual também era bem interessante, remetendo diretamente às HQ's, com tela dividida, um colorido bem característico vivo e vibrante, fontes de texto típicas de HQ e onomatopeias na tela. O grande problema mesmo foram os efeitos especiais e, principalmente, o visual da criatura. 
Meu Deus!...
O Hulk, exatamente o elemento que deveria receber o maior cuidado, o melhor tratamento, parecia de borracha, totalmente artificial. Parecia um daqueles bonecos que se vende nos camelôs em época de Dia das Crianças ou Natal. Deprimente! Aí não teve jeito: o filme perdeu todo o crédito e toda a boa vontade por parte de crítica e público.
Já que ia começar, mesmo, um novo projeto, um universo contínuo, interligado e coerente entre os personagens, a Marvel, diante do insucesso do filme de origem do homem verde, resolveu refilmar o negócio todo, reformulando o elenco e trocando o diretor. É que nem aquele clube que investiu no time numa temporada, fez boas contratações, chamou um técnico de renome mas não ganhou nada e ainda foi malhado pela crônica esportiva. O que que o presidente do clube fez, então? Pra começar, contratou um gerente de futebol, que seria, no caso, o Kevin Feige, pra capitanear o projeto MCU. Com o novo manager à frente, contrataram um novo camisa 9, Edward Norton, pra ser o homem decisivo; alguém competente ali pro meio-campo, a simpática Liv Tyler, que não é nenhuma craque mas dá conta do recado; um cara ágil pra acelerar o jogo, o bom Tim Roth; e um medalhão, o veterano William Hurt, já com um prêmio de melhor do mundo FIFA nas costas (ou seja, um Oscar), pra ser aquele cara pra garantir a experiência do grupo. Pra conduzir o time, ao invés de apostar em nome de impacto, faixa no peito, taã no armário e coisa e tal, o novo diretor de futebol acabou optando por um técnico mais afeito com o tipo de jogo pretendido: correria, bola na área, marcação alta... Tiro, porrada e bomba, pra resumir. Louis Leterrier, não era nada de mais, nada brilhante, mas era acostumado com filmes de ação e, até por isso, o resultado final ficou bem mais aceitável. "O Incrível Hulk", de 2008, também não é nenhuma obra-prima mas atendia melhor as expectativas do estúdio e do público, que, até pela relação estabelecida com "Homem de Ferro" e a promessa implícita de um longa dos Vingadores, recebia bem melhor o novo projeto.
O reboot abria mão de toda a parte de origem do personagem, o que no original era crucial e ocupava boa parte do filme, para limitar-se a resumir todo o surgimento do Hulk ao longo os créditos iniciais, e daí já desembocar no momento em que, meses depois do incidente, nosso herói, alvo dos militares que desejavam o poder obtido na experiência, se escondia numa comunidade do Rio de Janeiro, tentando viver sua vidinha o mais normalmente possível, enquanto tenta descobrir uma forma de dominar permanentemente aquela coisa que quando surge de dentro dele, é incontrolável.
A sequência da perseguição na favela da Rocinha é eletrizante, a cena no campus da universidade é muito legal e a briga final entre o Hulk e o Abominável, o monstro em que o militar Blonsky, vivido por Tim Roth, se transforma, é, esta sim, digna de um filme de super-herói. Sem falar nos easter-eggs recheados de nostalgia: os olhão verdão arregalado de Banner, na primeira transformação, na fábrica, imitando a expressão de Bill Bixby, o Banner do seriado dos anos 70; a própria "aparição" de Bixby, já falecido, na tela de uma TV, na casa de Bruce; a participação de Lou Ferrigno, o fortão que fazia, sem efeitos especiais, o homem-verde na série, como segurança na faculdade; e uma breve mas significativa execução de "The Lonely Man Theme", aquela música triste que tocava no final da série quando, depois de transformado, reestabelecido como humano, o Dr. Banner seguia, sem destino por alguma estrada em busca de si mesmo e convivendo com aquele monstro que não sabia como controlar.

"Hulk" (2003) - trailer




"O Incrível Hulk" (2008) - trailer


Ampla vantagem para o filme novo: Edward Norton é muito mais jogador que Eric Bana, William Hurt, como General Ross, é muito melhor que Sam Elliot, no mesmo papel; o Abominável é um vilão muito mais fodão que o Homem-Absorvente (agora, veja só o nome...); o Hulk em si, sua figura, sua textura, sua interação com o ambiente, toda a CGI dão um banho de bola no antigo; e as referências ao seriado antigo...ah! aí desequilibra o jogo.
A namoradinha, Beth Ross é um caso à parte porque, se, por um lado, Jennifer Connely do filme de 2003 é mais atriz, por outro, a personagem da segunda versão é mais fiel, mais parceira, menos filhinha-do-papai.
A favor do primeiro filme temos o fato de esmiuçar as origens, a experiência, que levou à metamorfose; e, especialmente, a estética de histórias em quadrinhos que ficou muito show. Mas não é o suficiente. O "Incrível Hulk" de Louis Leterrier esmaga o "Hulk" de Ang Lee e vence facilmente.


Aqui, os principais destaques
das duas versões, lado a lado.


O Hulk de 2008 dá uma surra no Hulk de 2003 igual àquela que 
ele mesmo viria a dar no Loki em "Os Vingadores". 
Tratando como se fosse um boneco (e parecia ser mesmo, não?)
Vitória fácil do Verdão.
(Ah, os dois jogam de verde...)
Então, vitória do Incrível Verdão!





por Cly Reis

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"O Contador", de Gavin O'Connor (2016)


O diretor norte-americano Gavin O'Connor tem uma predileção especial por dramas familiares onde a relação entre irmãos seja o foco. Assim aconteceu com o filme policial "Força Policial", onde o tira feito por Edward Norton tem de investigar um assassinato em que seu irmão e cunhado, também policiais, estão envolvidos. Depois foi a vez de "Guerreiro", onde irmãos se enfrentam no ringue.
Agora, chega às telas o novo filme do diretor, "O Contador", uma história interessante sobre um contador autista Christian Wolff (interpretado pelo pétreo Ben Affleck, um dos pontos fracos do filme) que sempre teve problemas familiares em função de sua doença. Tanto que a mãe abandona o lar, não conseguindo lidar com os problemas de dois dos três filhos (a irmã também tem problemas neurológicos). Sozinho, o pai militar prepara os dois filhos homens para enfrentar os perigos da vida, levando-os ao treinamento de artes marciais. Ao crescer, o rapaz se torna um exímio contador com extrema facilidade para a matemática. Logo, esta habilidade estará a serviço de organizações criminosas, o que atrai a atenção do Departamento do Tesouro Americano, que passa a investigar o caso. 
Como acontece em filmes que lidam com questões financeiras, "O Contador" carrega o espectador para zonas nebulosas das transações de grandes empresas, quase tornando a história impenetrável. É aí que reside o interessante no roteiro de Bill Dubuque. A cada passo em que a história se mostra muito técnica, entra um flashback que esclarece. Durante todo o roteiro, o espectador é levado por situações aparentemente sem explicação, que são esclarecidas no momento seguinte. E apesar de se imaginar que tal artifício vá truncar o ritmo do filme, acontece exatamente o contrário. Tanto as questões familiares do passado quanto a dualidade de Wolff, um contador que tem um alto treinamento físico e de manipulação de armas, ficam bem claras.
Affleck no bom filme de Gavin O"Connor.
Claro que, num determinado momento, surge uma mocinha, Dana Cummings (Anna Kendrick, correta mas nada além disso) e dois vilões, o industrial Lamar Blackburn (o sempre bem-vindo John Lithgow) e Brax (Jon Bernthal), um assassino de aluguel. A partir daí, "O Contador" deixa de lado as questões filosóficas e parte para a ação pura. O que poderia ser uma distração ou concessão ao gosto médio do espectador, se torna um duelo entre Wolff e os homens contratados por Brax para defender o industrial. Neste confronto, os irmãos se encontram e os conflitos familiares afloram, dando ao filme um sabor especial no meio do tiroteio.
Além da direção firme de O'Connor, é de se destacar a música sempre presente do trompetista Mark Isham e a fotografia de Seamus McGarvey (de "As Horas" e "Os Vingadores") favorecendo a luz natural. Mesmo com os dois protagonistas, Affleck e Kendrick, deixando um pouco a desejar, o elenco de coadjuvantes com Bernthal, Litgow e o oscarizado J.K. Simmons segura as pontas. Pode-se dizer que "O Contador" é uma boa diversão, inferior a "Força Policial", mas ainda assim vale o ingresso.


trailer "O Contador"


por Paulo Moreira