Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta agatha christie. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta agatha christie. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

"O Último dos Dez" ou "E Não Sobrou Nenhum", de Peter Collinson (1974) vs. "O Caso dos Dez Negrinhos", de Satanislav Govorukhin (1987)

 


Muita gente defende que o jogo de futebol fica melhor e deveria ser jogado com dez jogadores de cada lado. Pois, aqui, no nosso jogo, os dois times já começam com dez. No romance "O Caso dos Dez Negrinhos", da mestra do mistério, Agatha Christie, nos apresenta uma trama em que oito desconhecidos são convidados, por um misterioso anfitrião, para um jantar num local isolado e de difícil acesso, no qual, por meio de uma gravação, são revelados crimes que cada um dos convidados e seus dois mordomos teriam cometido. A partir daí, um a um, eles vão sendo assassinados de maneira muito semelhante à subtração de um conhecido versinho infantil sobre dez negrinhos e para cada um que morre, uma estatueta de um conjunto de dez que enfeita a mesa de jantar, é removida. Haverá um décimo primeiro "jogador" ou um dos próprios convidados é o matador?

Nossos dois adversários contam a mesma história, mas com propostas de jogo um pouco diferentes: "O Último dos Dez", também conhecido como "e Não Sobrou Nenhum", de 1974, de Peter Collinson, ousa e faz algumas alterações na história original: ao invés de situar a trama em uma ilha, como no romance original, transfere a ação para o deserto do Irã, em um luxuoso hotel no meio do nada, ao qual os convidados chegam, deixados de helicóptero. Em nome desse atrevimento, ele é obrigado a fazer outras modificações e a maior parte das mortes acaba sendo diferente das idealizadas pela escritora, sendo adaptadas para situações determinadas pela localização, ambiente, hábitos culturais, comprometendo bastante a ligação dos assassinatos com o poema infantil que os ordena e determina.

As ousadias até funcionam, como adaptação cinematográfica, se formos analisar isoladamente, enquanto proposta, filme de mistério e tal, tá ok: deserto, serpentes, hábitos locais de execução, ruínas, etc. Mas, o problema é que, além de mexer numa obra impecável da maior escritora do gênero, no comparativo com o adversário desse jogão do Clássico é Clássico, a opção pelas alterações acaba pesando.

"O Caso dos Dez Negrinhos", de Stanislav Govorukhin, de 1987, é muitíssimo mais fiel ao original de Agatha Christie. A ação se passa numa casa, em uma ilha, no topo de um rochedo, cujo acesso se dá apenas por barco e apenas quando a maré permite; a produção, embora russa, tem todo o aspecto dos filmes noir norte-americanos, com chapéus, sobretudos, véus, persianas, sem perder, contudo, sua identidade; os crimes seguem à risca os versos do poema dos negrinhos que, por sinal, está exposto, emoldurado, em cada um dos quartos dos convidados, recebendo sua devida importância dentro da trama como acontece no livro; e a atmosfera, a casa, a ilha, o mar, os rochedos, tudo é muito mais angustiante e claustrofóbico do que no filme inglês.


"O Último dos Dez" (1974) - trailer original



"O Caso dos Dez Negrinhos" (1987) - trailer original



*não conseguimos os trailers dublados ou legendados de nenhum dos dois, no entanto a amostragem
destes originais serve para dar uma boa noção de escolhas e elementos visuais que mencionamos na análise das obras.

Enquanto a versão inglesa tem um aspecto árido, quase luminoso, uma decoração rica em ouro e pesada em tapetes persas, a produção russa é cinzenta, sombria, rústica, amadeirada, trabalha em planos fechados, sombras, reflexos, janelas, enquanto o filme de 1974 opta por planos mais abertos, travelings longos, e tomadas, na maioria das vezes, pegando todos os personagens no mesmo plano. 

O filme de Govorukhin traz uma atmosfera mais misteriosa, furtiva, obscura, os convidados se esgueiram, são evasivos e parecem mais suspeitos por mais tempo, até que fique claro, por fim, que são tão vítimas e vulneráveis quanto qualquer outro ali.

O filme de 1974 até tem um elenco mais estelar, com Gert Fröbe, o Goldfinger de 007, Herbert Lohm, o comissário Dreyfuss da Pantera Cor-de-Rosa, Oliver Reed, de "Golpe de Mestre", "O Gladiador", o versátil Richard Attenborough, diretor do clássico "Gandhi, uma ponta do cantor francês Charles Aznavour, o primeiro a morrer, e a voz de Orson Welles, revelando os crimes de cada um dos convidados, mas no fim das contas, com exceção de Attenborough, que faz um bom juiz Cannon e Reed, como Detetive Lombard, tantos medalhões acabam não fazendo tanta diferença assim. O filme russo, ainda que não tenha nomes tão conhecidos no ocidente, traz o aclamado Vladimir Zeldin, a bela Tatyana Drubich, e Alexander Kaydanovski, o "Stalker" do filme de Tarkowski, no papel do investigador Lombard. Os demais, embora nada badalados, têm um um ótimo trabalho coletivo e garantem o bom desenvolvimento e a coesão do filme.

Dentro de campo, onze contra onze..., ou melhor, dez contra dez, o filme de 1987 leva vantagem. A fidelidade à novela original faz diferença e garante um gol para o time de Govorukhin, o clima noir, o visual soturno, o jogo de sombras, reflexos, espelhos, vidros, aumenta a vantagem.

No entanto, a audácia da proposta, da mudança da ambientação, ainda que não totalmente bem-sucedida, merece reconhecimento e a recompensa com um gol. Mas a alegria do time de 1974 não dura muito e a constante referência e a vinculação dos crimes aos versos nas paredes dos quartos, dá mais um gol para o time russo.

No tocante à escalação, Peter Collinson dá a camisa 10 para Oliver Reed, que até dá boa contribuição mas não consegue desequilibrar, até porque, do outro lado, o 10 é o 'Stalker' Alexander Kaydanovski que articula muito bem o jogo o tempo inteiro; Tatyana Drubich, no time de 1987, se sai muito melhor do que Elke Sommer como a secretária contratada pelo incógnito anfitrião, encarnando melhor o espírito da personagem, Vera Clyde, na versão inglesa e Vera Claythorne, na russa; e, de um modo geral, mesmo com mais jogadores destacados, rodados, com passagens por times grandes, o time inglês não consegue impor seu jogo, com exceção de Richard Attenborough, como juiz Cannon, que tem um desempenho excelente, sobretudo na sequência final, que é muito boa também no outro filme, com um flashback crucial e aquela recapitulação característica de Agatha Christie, mas que não supera a performance de Attenborough e a surpresa do filme inglês. No entanto, a cena em questão é resultante de uma mudança decisiva no final do romance original e isso é imperdoável!

(Para quem não leu o livro ou não viu nenhuma das adaptações, aqui vão spoilers - desculpem, mas absolutamente necessários).

Em nome de um final feliz, de ficar bem com o público, de não matar o 'mocinho' e a 'mocinha' do filme, Peter Collinson faz com que Lombard (Reed) depois de uma farsa com Vera Clyde, reapareça vivo, ao final, no salão, em frente ao juiz Cannon que, supondo êxito em seu plano, já dera um gole numa taça de veneno a fim de concluir seu plano, incriminando a garota pelos nove crimes, deixando-a sem opção, induzindo-a a fazer uso da forca já pendurada previamente pelo juiz na sala. Já sob efeito da substância, o velho morre (maravilhosamente bem) e o casal é resgatado do local pelo mesmo helicóptero que os deixara lá.

No outro, não! Depois de atirar, DE VERDADE, em Lombard, desconfiada e com medo dele, Vera volta para casa e encontra em seu quarto apenas a forca dependurada à sua espera. Com a culpa pelo crime que lhe é imputado na gravação e percebendo-se sem saída diante de nove cadáveres que, naturalmente, seriam atribuídos a ela, a garota sobe numa cadeira e coloca seu lindo pescocinho na corda e dá fim à sua vida, para regozijo do juiz que se fingira de morto a fim de fazer a justiça que os tribunais não fizeram. Realizado, ele, mais criminoso que todos ali, mete uma bala na própria cabeça, concretizando seu último ato de justiça, em uma cena, igualmente, de se aplaudir de pé. Pela fidelidade ao original no ápice do filme, na resolução do caso, vai mais um gol para o time russo.

O time britânico ainda marca um nos acréscimos pois, depois da morte do juiz e da retirada dos dois sobreviventes, de helicóptero, a gravação, com a narração de Orson Welles volta a ser rodada enquanto passam os créditos finais. Mas não há tempo para mais nada e o jogo termina assim. 



Podia ter proposto, aqui o enfrentamento de um dos dois, "O último dos Dez" ou "O Caso dos Dez Negrinhos" contra a primeira adaptação para cinema, de 1939, de René Clair, "E Não Sobrou Nenhum", mas preferi tirar um pouco o foco das produções norte-americanas e, embora a Rússia não esteja na Copa do Catar, e venha criando problemas para o mundo inteiro com essa treta com a Ucrânia, achei que seria um confronto internacional mais interessante e original esse embate de russos contra britânicos.
Mas, olha, hein... o time de René Clair também teria sérias dificuldades contra esse ótimo time de Govorukhin.
No alto, à esquerda, o hotel que receberá os convidados, no meio do deserto iraniano, 
e, à direita, a mansão de aspecto sinistro no alto de um rochedo cercado pela água;
na segunda linha, as estatuetas dos dois filmes, que vão sendo subtraídas
conforme uma pessoa morre;
na sequência, os jantares das duas versões, ainda com todos os acusados vivos
na quarta linha, o plano aberto, alto, do filme inglês,
e uma visão mais próxima, mais cúmplice, do filme russo.
Na penúltima linha, o visual típico dos anos 70, com golas rolês, golas cubanas, branco, tweed, do primeiro filme, e o aspecto muito Hollywood anos 40, da outra versão;
e, por fim, na última, as duas Veras (Clyde, no filme de 1974 (esq.), e Claythorne (dir.), no de 1987)
no momento decisivo da trama.





Cly Reis




sábado, 10 de maio de 2014

" 'Morte na Mesopotâmia' seguido de 'O Caso dos Dez Negrinhos' " - adaptação para HQ de François Rivère, Chandre e Frank Leclerq - L&PM (2010)


Tinha comprado há algum tempo mas só agora li a adaptação para HQ de dois clássicos da rainha do mistério, Agatha Christie, "Morte na Mesopotâmia" e "O Caso dos Dez Negrinhos", ambos roteirizados por François Rivère e desenhadas, respectivamente, pelos artistas Chandre e Frank Leclerq. Quadrinhos são sempre legais, a proposta é interessante e essas adaptações literárias sempre muito válidas, mas pela natureza da obra, um mistério, portanto muito dependente dos detalhes, ou a publicação teria que ser extremamente longa, talvez até mais que o livro original, para apanhar todas as minúcias necessárias para que o leitor tenha todas as possibilidades acerca do crime, ou teria que ser extremamente bem desenhado, com cada expressão de rosto, detalhes de objetos, sugestão de movimentos, etc. Em "O Caso dos Dez Negrinhos", um dos meus preferidos da autora, onde 10 pessoas são convidadas por um anfitrião anônimo a passarem uma temporada numa ilha de lazer e uma a uma vão sendo assassinadas, pela própria dinâmica da história  e pelo fato dos desenhos de Frank Leclerq serem claros e nítidos o bastante, não se sente tanta falta desse grau de detalhamento e a linguagem HQ funciona. Mas em "Morte na Mesopotâmia", com uma trama mais intrincada, mais suspeitos e mais elementos a serem considerados, o modelo fica bem prejudicado. Nesta trama o lendário personagem de Agatha Chirstie, o detetive belga Hercule Poirot, num campo de escavações no Iraque, tenta desvendar o assassinato da esposa de um arqueólogo que recebia cartas anônimas ameaçadoras e dizia se sentir perseguida, dentro de seu próprio quarto, sem a possibilidade de que alguém tivesse entrado. O problema é que o desenho do ilustrador Chandre, de traço um tanto pesado para o fim que se propõe, não consegue passar as expressões dos personagens, a não ser aquelas clássicas, de espanto com olhos arregalados, de satisfação com um sorriso, mas não capta o detalhe de um olhar cínico, uma raiva contida, etc. Posso estar exigindo muito do desenhista mas acho que quando se propõe a fazer uma HQ de mistério, coisas como essas devem ser levadas em consideração e sobretudo, inevitavelmente exploradas. Isso sem falar em algumas omissões, como um copo sujo de cêra encontrado pela vítima que é crucial para parte da solução do mistério, mas que não é visto na história sendo apenas mencionado pelo detetive quando da releitura dos fatos.
Quando comprei a publicação, eu, fã de Agatha Christie e leitor de diversas obras da autora,devo admitir que temia isso, mas insisti. Apenas confirmei. Mas, como disse, acho válido. Continuo achando essas adaptações para quadrinhos extremamente interessantes para os fãs do gênero e admiradores das obras literárias, e importante para, através de uma linguagem mais simples e visual, estimular o interesse pela leitura em quem não tem o hábito, principalmente os jovens em formação escolar.



Cly Reis

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

"O Caso dos Dez Negrinhos" ou "E Não Sobrou Nenhum", de Agatha Christie - ed. Edibolso (1976) - original de 1939



"Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove;
Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos sem dormir; não é biscoito!
Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete;
Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis
Que um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos de uma colmeia fazem brinco;
A um pica uma abelha, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos no fotro, a tomar ares;
Um ali foi julgado, e então ficaram dois pares.
Quatro negrinhos no mar; a um tragou de vez
O arenque defumado, e então ficaram três.
Três negrinhos passeando no Zoo. E depois?
O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos brincando ao sol, sem medo algum;
Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um.
Ele então se enforcou,
e não ficou nenhum."
versos do poema 
"Os Dez Negrinhos"



"O Caso dos Dez Negrinhos" título atualizado para "E não sobrou nenhum", por questões antirracistas, é, por certo, um dos romances mais incomuns dentro da bibliografia da mestra da literatura de mistério, Agatha Christie. Embora sempre instigantes e muito bem escritos, a estrutura de suas novelas costumava ser, na maioria das vezes, a de uma breve apresentação de personagens e local, o posterior cometimento de um crime, a introdução de um personagem capaz de desvendar a trama, entrevistas e conversas com suspeitos, algum contratempo ou ameaça durante as investigações e, com alguns despistes, algumas evidências falsas e um certo engodo para o leitor, finalmente a apresentação da solução do crime. Aqui as coisas são diferentes: sete pessoas, aparentemente sem ligação entre si, são convidadas para uma pequena temporada na casa de um anfitrião misterioso, em uma ilha particular, a Ilha do Negro, e lá, depois de serem acusados por meio de uma gravação em um disco fonográfico, de crimes pelos quais saíram impunes, um a
um, os convidados, a secretária do homem misterioso e os dois empregados da casa, vão sendo assassinados de forma muito semelhante à subtração que ocorre nos versos de um conhecido poeminha infantil, enquanto um jogo de dez estatuetas africanas que decora a sala de jantar, vai sendo reduzido, com uma peça retirada misteriosamente, cada vez que uma morte ocorre.
Nas paredes de cada um dos quartos dos visitantes, uma moldura com a inocente quadra infantil aterroriza e os lembra que qualquer um deles pode ser o próximo a morrer.
Aqui, uma vez iniciada a série de mortes e confirmada a ligação com os versos, sabemos que haverá mais vítimas, conhecemos os motivos pelos quais cada um "merece" morrer, temos ciência que o justiceiro é o anfitrião, imaginamos até, pelo poema, como será a próxima morte, mas não sabemos qual deles será o próximo, se o matador é um deles, por quê aquela pessoa se deu ao trabalho de montar toda aquela situação, e, o principal, quem é esse assassino misterioso.
"O Caso dos Dez Negrinhos" talvez seja o mais envolvente livro da Rainha do Mistério, uma vez que não tem tempo para aqueles tradicionais meandros de investigações tradicionais com o detetive Poirot ou Miss. Marple. Tudo é  perigoso, a cada momento alguém pode morrer, qualquer drinque, sono, escada, maçaneta, pode significar um novo crime. O leitor fica grudado o tempo todo e a contagem regressiva de cadáveres e estatuetas é ao mesmo tempo angustiante e eletrizante.
O meu exemplar é velhinho, ruinzinho, rasgado em algumas páginas, tão precário que tive, na época de minha primeira leitura, dificuldade em ler as últimas páginas e saber do inusitado desfecho.
É lógico que não revelarei aqui o final mas o que posso assegurar, a que não leu, é que é bastante surpreendente. Para dar uma ideia do intrincado da questão, me inspirarei na própria quadrinha dos negrinhos que guiou a escritora: dez leitores tentaram desvendar o mistério, mas dos que adivinharam o assassino, não se soube de nenhum.


Cly Reis

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"Post Mortem" - organização Frodo Oliveira e Marla Figueiredo (Vários autores) – Ed. Multifoco (2016)




"Para os leitores que gostam de
 sangue, suspense e mistério se deliciarem
com histórias que vão do moderno suspense psicológico
 ao clássico “quem é o assassino?
Porque a vida pode acabar em qualquer esquina mal iluminada,
mas o suspense está apenas começando.”
texto de apresentação do livro
na contracapa



Foi lançada na última Bienal do Livro em São Paulo, em sua 24ª edição, a antologia "Post Mortem", mais uma excelente iniciativa da editora Multifoco, incentivando e dando espaço para novos autores uma vez que seu projeto abriu seleção para autores do Brasil inteiro para apresentarem contos de ênfase policial.

O ClyBlog tem a honra de ter um conto representado nesta coletânea, de minha autoria, originalmente foi apresentado na nossa seção Cotidianas, que invariavelmente rende bom material para este tipo de concurso, já tendo contos e crônicas selecionados para várias outras publicações. A versão final para o livro tem pequenos ajustes e diferenças da do blog sendo assim, altamente recomendável que, embora o texto esteja ainda disponível aqui no nosso espaço, seja lido na ver~soa impressa, até pela contextualização no conjunto da publicação.

O conto "O Assassinato de Lady Collinswoth", pelo qual tenho muito carinho, homenageia, de certa forma, o gênero mistério dentro da literatura policial. O típico mistério consagrado por Agatha Christie, Arthur Conan Doyle, George Simenon, Edgar Allan Poe. O mistério de detetive, o mistério que só uma mente aguçada e sagaz poderia resolver. Será? Bom, não vou me estender mais no comentário pois dada a natureza do conto qualquer detalhe pode estragar a surpresa.
A antologia foi organizada por Marla Figueiredo e Frodo Oliveira, que inclusive assina a autoria de um dos contos  e conta com outros 21 novos autores que tiveram essa bela oportunidade de mostrar seuss trabalhos. São eles Amanda Leonardi, Bruno Nascimento, Caiuã Araújo Alves, Cesar Bravo, Clarck Duque, Davi M Gonzales, Dionísio Ferreira, Fabio Baptista, Felipe Lucchesi, Gabriel Pereira, Gutenberg Löwe, Ítalo Poscai, J.R.R. Santos, L.P.S. Mesquita, Marta Arêas Campos, Maurício R B Campos, Rafael Pelegrino Furlani, Ricardo Guilherme dos Santos, Rô Mierling, Washington Luis Lanfredi e Zulmênia do Vale.

Assim que tivermos a publicação em mãos e a apreciado com a devida atenção, com certeza publicaremos aqui uma análise mais pormenorizada da obra. Por enquanto fiquem com um pequeno gole d"O Assassinato de Lady Collinsworth", mas cuidado, pode ter veneno.


"Mr. Line, no entanto continuava, vaidosamente, em sua exposição valorizando detalhes e salientando pormenores, como sempre fazia nos casos que desvendava, quando foi educadamente interrompido pelo mordomo Adam..."
trecho de "O Assassinato de Lady Collinsworth"




por Cly Reis

segunda-feira, 2 de maio de 2016

"Borges e os Orangotangos Eternos", de Luís Fernando Veríssimo - Ed. Companhia das Letras (2000)




Um romance de Luís Fernando Veríssimo às voltas com Jorge Luis Borges e entremeado pela obra de Edgar Allan Poe. Ah, algo assim não teria como ser nada menos do que incrível! "Borges e os Orangotandgos Eternos" que ganhei no Natal e que só agora, pela fila, teve sua vez, é um saboroso e envolvente mistério repleto de homenagens e referências literárias sem, por isso, tornar-se chato nem pedante. Bem ao estilo do autor, bem humorado e inteligente, o romance tem o charme de ter um de seus ídolos literários Jorge Luis Borges como "personagem" numa espécie de ode e reconhecimento à sua genialidade, inventividade e capacidade de criar tramas labirínticas, fazendo do escritor argentino o parceiro de investigação do portoalegrense Vogelstein, um professor, tradutor, escritor amador e amante de livros, envolvido na cena de um misterioso assassinato em Buenos Aires, em meio a um congresso de especialistas da obra de Edgar Allan Poe. Ao melhor estilo do escritor norte-americano criador do estilo de literatura de mistério e cuja obra é praticamente centro do livro, um dos integrantes do congresso, um antipaticíssimo estudioso, Joachim Rotkopf, é assassinado dentro de seu quarto de hotel fechado por dentro sem sinais de arrombamento, a exemplo do célebre conto "Os Assassinatos da Rua Morgue", tendo tendo tentado deixar, possivelmente, algum tipo de mensagem secreta, uma pista, antes de morrer, pela posição de seu corpo junto a um espelho, elemento, por sua vez muito comum na obra de Borges. Suspeitos não faltam uma vez que Rotkopf não era nada querido e mais de uma vez havia sido jurado de morte por integrantes daquele congresso. Aí então que Vogelstein, por ter sido o primeiro a encontrar o corpo, o detetive Cuervo, outro apreciador da obra de Poe (e mais uma das referências à sua obra) e Jorge Luis Borges, amigo e conselheiro de investigações do policial por conta de sua elevadíssima capacidade dedutiva fruto da construção de mistérios improváveis, debruçam-se sobre os elementos do crime com todas seus recursos, desde pistas concretas, as investigações das autoridades, as informações de Vogelstein, o último a ver Rotkopf com vida, especulações baseadas em obras da literatura de mistério, elocubrações misticas e a tradicional e charmosa "falsa" erudição de Borges com a qual sempre alicerçou sua obra de maneira tão verossímil a ponto de nos perguntarmos se os livros, lugares ou civilizações que criava nunca existiram de verdade.
Um adorável mistério cheio de reviravoltas, surpresas e até mesmo clichês mas sendo estes colocados proposital e charmosamente por Veríssimo como uma reverência ao gênero literário que criou mitos como Conan Doyle e Agatha Christie e do qual seu "convidado", Jorge Luis Borges, fez uso de forma tão original e especial em sua obra. "Borges e os Orangotangos Eternos", além de uma homenagem ao herói Borges, da saudação à obra de Poe, de um exercício estilístico, é acima de tudo uma declaração de amor à literatura, ao gosto de escrever e ao gosto de ler e, nisso em especial, se justifica plenamente. Quem sai ganhando com toda essa séria brincadeira literária de Veríssimo é o leitor.


Cly Reis

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

"O Poço e o Pêndulo" e "Assassinatos na Rua Morgue", de Edgar Allan Poe adaptados para HQ - Ed. Farol Literário (2014)



Férias, viagem, avião, aeroporto, praia, sossego! Nada melhor do que um livro para essas situações, não? Sim, isso quando não se tem uma criança, o que acaba exigindo atenção praticamente o tempo inteiro. Nesse caso, em se querendo manter o hábito e o prazer de uma leitura, pode estar certo que um "Guerra e Paz" não é  a melhor opção, pois além de não conseguir dedicar a devida atenção ao livro você provavelmente não conseguirá terminá-lo no seu período de férias. Pensando nisso, em minhas breves férias deste ano optei por levar algumas publicações de quadrinhos que havia comprado fazia alguns meses mas que, tendo dado prioridade a outros livros, não havia lido ainda.
Levei para leitura dois contos de Edgar Allan Poe adaptados para HQ's, "O Poço e o Pêndulo", que na época que li em "Histórias Extraordinárias" manteve-me tenso durante toda a ação; e o clássico "Assassinatos na Rua Morgue", um dos precursores do romance policial de detetives na história da literatura. Curiosamente, o primeiro, adaptado por Sean Tulien, não me impressionou tanto na versão quadrinhos, carecendo talvez de alguma ousadia maior do ilustrador, o filipino J.C. Fabul, utilizando, quem sabe, mais sombras, trevas e ocultando mais elementos do leitor. Desapontou-me um pouco, devo admitir. Por outro lado, o mistério da Rua Morgue, adaptado por Carl Bowden e ilustrado por Emerson Dymaia, foi uma surpresa positiva, sustentando o mistério de forma muito competente, ao contrário de outra HQ do gênero que li há algum tempo atrás, "Morte na Mesopotâmia", adaptação de Agatha Christie, onde o formato claramente mostrou-se inadequado à trama. Neste, com um Auguste Dupin lembrando um pouco o Sandman de Neil Gaiman, a cena das morte é muito bem conduzida, o arrastar das investigações é ágil e objetivo como o formato exige mas não deixa escapar as pontas e a conclusão é muito bem apresentada com capacidade para surpreender o leitor da HQ que não conheça o conto original.
A coleção, do núcleo de HQ da editora Farol Literário, ainda conta com as adaptações de "A Queda da Casa de Usher" e "Coração de Delator" de Poe, que não li ainda, mas que independentemente do resultado menos satisfatório ou interessante que alguma possa apresentar como adaptação, só pela iniciativa de trazer ao grande público a obra deste autor tão importante e cuja obra, impressionante, incrível, fantástica, se presta tão bem para a linguagem quadrinhos, e de outras obras relevantes da literatura mundial, já merece todos os elogios.



Cly Reis

domingo, 3 de fevereiro de 2013

cotidianas #201 - Amor. E um Videogame


- Eu quero terminar tudo.

-Calma, guarda um pouco de bolacha para amanhã. – Ele disse, afastando o pote dela.

-Não, você não entendeu. Entre nós. Quero acabar.

-O quê? – A mão bateu no pote, as bolachas amanteigadas rolaram pelo tapete. Os dois começaram a juntar.

-Não te amo mais.

-Quebrou.

-Exato! – Disse ela sem olhar diretamente para ele. Jogava as bolachas no pote de vidro.

-Não, quebrou o pote. Rachou no meio. – Ele respondeu constrangido. A rachadura dividia o pote em dois.

-Bom, não importa. Eu não te amo mais. Decidi começar 2013 sem medo, sem receios. Chega dessa relação, ela está esgotada.

Ele terminou de juntar as bolachas do chão. Ficou em silêncio, olhando os farelos. Pensando em coisas passadas.

-E sabe o que mais? – Ela pegou o pote rachado. Jogou no lixo, junto com as bolachas sujas. Só terminou a frase quando voltou. – Acho que você também não me ama.

-Hum.

-Hum, o quê? Você tá ligando o videogame?!

-Tô quase virando.

-Você não me respeita, mesmo. Não me dá valor.

Ele disse sem olhá-la:

-Você terminou comigo mesmo eu desligando, toda santa vez, esse videogame para te ouvir. Por que você acha que, justamente agora, após o fim, eu vá fazer esse esforço?

-Eu não acredito.

-Além do mais, o videogame tem fim. Seus falatórios, não.

-Cretino. É por isso que não te amo mais. Porque você só pensa em você.

-Vai catar coquinho.

-Hum?!

-O macaco. No videogame. Nessa fase ele cata coquinhos. Na anterior são bananas.

-Você ouviu o que eu disse? Que eu terminei porque você só pensa em você!?

-Não. Você terminou comigo porque é egoísta e tem um trauma de infância que faz você gostar de quem te trata mal.

-Como é?! – Ela gritou de susto. Para dentro e para fora de si.

-O dia que te pedi em namoro, você não aceitou.

-Não gosto de flores, serenatas, não gosto de bajulações.

-Mas disse que queria namorar comigo quando me viu ficando com uma guria daquela festa.

-Nem sabia disso.

-Sabia sim. – Ele balançou os braços. O macaquinho havia caído da árvore. – Você atualizou o status do nosso Facebook, ainda no mesmo dia, e foi comentar no perfil da menina.

-Bom…

-Você odiou aquele poema que eu te escrevi.

-Achei meloso.

-Mas me escreveu uma carta de amor, como comentário, naquela postagem que eu fiz no Facebook. A postagem em que eu dizia ter saído com aquela amiga muito especial.

-Cachorro.

-Quem dera eu fosse.

-Não, no videogame. Cuidado com o cachorro. – Ela sentou-se do lado dele.

-Você odeia quando não te dou atenção. Mas se o foco da conversa não é você, você diz que eu não te escuto.

A garota ficou em silêncio. Ele continuou:

-Então, tudo bem. Se com todo o meu esforço, você ainda quer terminar, termine de uma vez. Pelo menos agora posso focar minha atenção em coisas que não sejam você e seus monólogos.

-Você não fica nem triste?

-Claro, poxa  Eu te amo, mais do que qualquer guria que já peguei. Mas você precisa aprender que namorar não significa ser dono de nada. A gente não se pertence. A gente se doa um para o outro. Não é obrigação. É porque se quer.

-Hum.

-Agora é a vez do ursinho no jogo. – Ele já estava na última fase.

-Que fofinho.

-O coelhinho é mais fofinho.

-Não, seu bobo. Você é fofinho.

Ele olhou para ela. Ela retribui, sorrindo. Algo brilhou… na TV.

-Você vai perder o jogo. – Ela comentou vendo o urso cair num buraco.

-Mas vou ganhar outra coisa.

Os dois se beijaram.

-Eu te amo.

-Eu que te amo.

-Você não ganhou o jogo. – Ela disse.

-Ganhei você.

-Que lindinho!

-Eu sei.

-Não. Tô falando do coelhinho do jogo. Apareceu ali.
  
de Luan Pires




Luan Pires é formado em Jornalismo. Escritor "de chuveiro" e viciado em literatura. Cresceu lendo os livros de Agatha Christie, ama Machado de Assis e acha a Capitu a personagem mais fascinante de todos os tempos.
Ver filmes é uma de suas paixões. Viciado em café e fascinado por tempestades repentinas. Libriano, organizado - e chato também.
Mas é boa gente, pelo menos se esforça para isso..

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ClyBlog 5+ Livros



E chegamos ao último especial da série 5+ do clyblog. Não que não tivéssemos mais assunto, daria pra pesquisar sobre mais um monte de coisas com os  amigos, saber o que mais um monte de pessoas interessantes pensam, levantar listas mas acredito que estes temas abordados, além de bastante significativos, resumem, de certa forma, a ênfase de assuntos e as áreas de interesse do nosso canal.
E pra encerrar, então, até aproveitando o embalo da Feira do Livro de Porto Alegre, cidade que é uma espécie de segundo QG do clyblog, o assunto dessa vez é literatura. Sim, os livros! Esses fantásticos objetos que amamos e que guardam as mais diversas surpresas, emoções, descobertas e conhecimentos.
Cinco convidados especialíssimos destacam 5 livros que já os fizeram sonhar, viajar, rir, chorar, os livros que formaram suas mentes, os que os ajudaram a descobrir verdades, livros que podem mudar o mundo. Se bem que, como diz aquela frase do romando Caio Graco, "Os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros mudam as pessoas.".
Com vocês, clyblog 5+ livros:




1. Afobório
escritor e
editor
(Carazinho/RS)
" 'O Almoço Nu' é muito bom.
Gosto muito desse livro."

1- "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez
2 -"Búfalo da Noite", Guillermo Arriaga
3- "Numa Fria", charles Bukowski
4 - "Sorte Um Caso de Estupro", Alice Sebold
5 - "O Almoço Nu", William Burroughs
 
Programa Agenda falando sobre o livro "O Almoço Nu", de William Burroughs

*******************************************

2. Tatiana Vianna
funcionária pública e
produtora cultural
(Viamão/RS)


Kerouac, um dos 'marginais'
da geração beatnik
"Cada um destes são livros que chegaram as minhas mãos em momentos diferentes de vida
e foram importantes para muitos esclarecimentos.
Algumas destas leituras volta e meia as retomo novamente para entender melhor,
porque sempre algo fica pra trás ou algo você precisa ler depois de um tempo,
de acordo com o seu olhar do momento."

1- "On the Road, Jack Kerouak
2 - "1984", George Orwell
3 - "Os Ratos", Dionélio Machado
4 - "A Ilha", Fernando Morais
5 - "O livro Tibetano do Viver e Morrer", Sogyal Rinpoche






*******************************************

3. Jana Lauxen
escritora e
editora
(Carazinho/RS)


"Minha vida se resume a antes e depois de "O Acrobata pede desculpas e cai".
"O Jardim do Diabo", do Veríssimo, é um romance policial incrível
do tipo que você não larga enquanto não acabar. E quando acaba dá aquela tristeza.
"Capitães da Areia" li há muito tempo e não consigo me esquecer desse livro.
O engraçado é que a primeira vez que o li, tinha uns 12 anos e  não gostei.
A segunda vez eu tinha mais de 20 e fiquei fascinada pela obra.
O "Livro do Desassossego" é para ter sempre por perto, para abrir aleatoriamente e dar aquela lidinha amiga.
Conheci Pedro Juan em uma entrevista que ele concedeu para a revista Playboy,
e a "Trilogia Suja de Havana" foi o primeiro livro do autor que eu li.
Seus livros são proibidos em seu próprio país, visto a crítica social que o autor acaba fazendo sem querer.
Digo sem querer por que sua temática não é política – ele fala de sexo, de drogas, de pobreza, de putas,
e detesta ser classificado como um autor político.
Mas acaba sendo, pois é impossível descrever qualquer história que se passe em Cuba sem acabar fazendo alguma crítica social.
Mesmo que enviesada."

"Capitães da
Areia"

1- "O Acrobata Pede Desculpas e Cai", Fausto Wolff
2 - "O Jardim do Diabo", Luís Fernando Veríssimo
3 - "Capitães da Areia", Jorge Amado
4 - "Livro do Desassossego", Fernando Pessoa
5 - "Trilogia Suja de Havana", Pedro Juan Gutiérrez





*******************************************

4. Walessa Puerta
professora
(Viamão/RS)


"Estes são os meus favoritos."

1- "O Tempo e o Vento", Érico Veríssimo
2 - "O Mundo de Sofia", Jostein Gaarder
3 - "Era dos Extremos", Eric Hobsbawn
4 - "Dom Casmurro", Machado de  Assis
5 - "O Iluminado", Stephen King



 A brilhante adaptação de Stanley Kubrick, para o cinema, da obra de Stephen King

*******************************************

5. Luan Pires
jornalista
(Porto Alegre/RS)


"Dom Casmurro" tem uma das personagens mais emblemáticas da literatura nacional:
Capitu. A personagem dos "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" é um verdadeiro ensaio para quem curte a construção de um personagem.
Toda criança deveria ler a coleção do "Sítio do Pica-Pau amarelo". E todo adulto deveria reler.
Uma homenagem a imaginação, a cultura e ao sonho das crianças e dos adultos que nunca deveriam deixar de ter certas inquietações juvenis.
Desafio qualquer um no mundo a descobrir o final de "O Assassinato de Roger Ackroyd"! [ponto final!].
Cara, pra mim, "Modernidade Líquida" é o livro mais necessários dos últimos tempos.
Pra entender a sociedade e o caminho para onde estamos seguindo.
"@mor" é um ensaio perfeito das relações humanas atuais.
O que me chamou atenção é que não demoniza a internet, mas aceita o papel dela nos relacionamentos atuais.
O formato, só em troca de e-mails, é um charme. E o final é de perder o fôlego."


1- "Dom Casmurro", Machado de Assis
2 - "Sítio do Pica-Pau Amarelo" (qualquer um da coleção), Monteiro Lobato
A turma do Sítio, do seriado de TV
da década de 70, posando com seu criador
(à direita)
















3 - "O Assassinato de Roger Ackroyd", Agatha Christie
4 - "Modernidade Líquida", Zigmunt Bauman
5 - "@mor", Daniel Glattauer




*******************************************