Curta no Facebook

Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Stevie Wonder. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta Stevie Wonder. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

terça-feira, 31 de julho de 2012

Stevie Wonder - "Innervisions" (1973)



Ou isso é uma visão em minha mente?
verso da canção “Visions”



Quando vi  Paul McCartney ao vivo chorei praticamente do início ao fim do show. Eu já previa que isso ia ocorrer, tendo em vista meu sentimento por sua obra, tão formativa quanto vital para a história da arte moderna – e até porque o podia fazer sem constrangimento, já que todo o estádio fazia igual a mim. Porém quando assisti pela TV Stevie Wonder no Rock in Rio 2011 eu não esperava que o mesmo acontecesse. E aconteceu... via satélite. Chorei música atrás de música, tanto nas lentas quanto nas agitadas – o que virou motivo de chacota entre os amigos. Mesmo já tendo boa parte da discografia dele há muito tempo, essa reação me surpreendeu, pois eu mesmo não tinha noção do quanto a obra mágica deste gênio (e isso eu já sabia) tinha tanto a ver comigo e que estava tão impregnada em minha alma. Mas se todas as músicas me tocavam, parei para pensar naquela hora, entre soluços e uma felicidade imbecil, com qual disco eu mais me identificava, uma vez que gosto de todos. A resposta veio como numa visão: “Innervisions”.
A escolha só podia ser de cunho emocional, pois TODA a discografia de Stevie Wonder dos anos 70 até o início dos 80 é fundamental. Assim como o lindo  "Talking Book"  (1972), já resenhado aqui, o exuberante “Songs in the Key of Life” (1976) ou a magnífica trilha sonora “Journey Through the  Secret Life of Plants” (1979), “Innervisions” é item obrigatório na prateleira de qualquer diletante. Um marco da black music considerado pelos críticos um dos melhores da música pop de todos os tempos. Mas o que para mim o diferencia e lhe dá um significado ainda maior é a relação estreita com universo onírico e figurativo de um artista que, cego desde a infância, é capaz de produzir uma arte absolutamente fulgurante, cristalina, repleta de verdade e sentimentos genuínos. Sua música vai no fundo do fundo do fundo.
“Innervisions” é o auge criativo de Stevie Wonder. A estas alturas, 1973, ele já não era mais o Little Stevie de quando surgira, aos 16 anos, como um prodígio; mas, sim, o consagrado Stevie Wonder, sucessor de uma linhagem que vem de Sam Cooke, Solomon Burke, Ray Charles, James Brown e que vai parar nos criativíssimos artistas negros da gravadora Motown como ele. Compositor nato, multi-instrumentista e dono de uma voz potente e deliciosa, capaz de ir de uma escala à outra sem esforço, Stevie já era nesta época um artista planetário que vendia milhões de discos. Mas, mais do que isso, “Innervisions”, Grammy de Melhor Álbum do Ano em 1974, é o resultado de um autoacolhimento pessoal, de um sentimento muito íntimo e definitivo de reconhecimento dele mesmo enquanto portador de uma deficiência. Não é à toa que a obra se refere justamente ao sentido que ele não possui: a visão (e será que não possui mesmo?...). Ali Stevie está pleno de si, fazendo com que o problema da falta de visão não seja um problema, mas, pelo contrário, um canal sensitivo que o fez se tornar alguém tão sensível que suas percepções se afinam a tal ponto de não precisar mais enxergar. Prova maior disso é que ele compõe, toca, canta, arranja e produz todo o disco. Até (pasmem!) a capa é concebida por ele: um desenho bastante simbólico em que a energia produzida por seus olhos ganha a atmosfera e a amplidão.
E as músicas, o que dizer? Somente nove faixas, perfeitas em tudo: melodia, harmonia, execução, arranjo, canto, edição de áudio. Clássicos do cancioneiro norte-americano e mundial, marcos do que de mais sofisticado e criativo se fez em música pop no século XX. O álbum abre mandando ver com “Too High”, um funk-jazz fusion cheio de um suingue tão contagiante que isso chega a exalar por sua voz e por todos os sons que emanam. Moderníssima em sonoridade e texturas, é tudo o que músicos cool de hoje gostariam de fazer mas não conseguem atingir. “Too fine”!
Se o clima começa animado e dançante, “Visions”, uma melancólica balada tocada em guitarra base, baixo acústico e guitarra-ponto entra delicada mas dizendo a que veio. De arrepiar. Cantada com extremo lirismo, sua letra fala de igualdade entre os homens e de um princípio natural capaz de promover paz para todos. A lei nunca foi aprovada/ Mas de alguma forma todos os homens sentem que estão verdadeiramente livres finalmente/ Será que realmente fomos tão longe no espaço e no tempo/ Ou isso é uma visão em minha mente?”.
Não seria exagero se Stevie quisesse acabar o disco já na segunda faixa, que é daquelas canções definitivas. Mas o bom é que não acaba!, e na sequência vêm o arrebatador tema-denúncia “Living for the City”, show de vocais e sintetizadores que aborda a opressão aos negros, e “Golden Lady”, um soul romântico e suingado tão belo que chega a reluzir. Sempre colando uma faixa à outra – como é característico de seus discos –, o astral leve de “Golden Lady” dá lugar ao funkão pesado de “Higher Ground”, tão rock em concepção que não precisou muito para que o Red Hot Chilli Peppers  a regravasse anos depois com mais distorção mas sem grande alteração no arranjo. Os versos: People keep on learnin'/ Soldiers keep on warrin'” (“As pessoas continuam aprendendo/ Os soldados continuam lutando”), viraram clássicos. Incrível, incrível.
Outra de deixar de o queixo caído é “Jesus Children of America”, soul cantado em escala decrescente, mas que, do meio para o fim, aumenta um tom, o que faz Stevie soltar, em várias vozes sobrepostas, seu afinado e cintilante falsete. O clima cai novamente, agora para uma suíte romântica ao piano de fazer qualquer casal brigado reatar: “All in Love is Fair”, típica balada Motown, com sua levada carregada de sentimento e um refrão que explode em emoção. Nessa Stevie dá uma verdadeira aula de canto. De chorar, ainda mais no fim em que bateria, voz e piano dão os suspiros finais.
Mas  se Stevie é hábil nas lentas, também possui o mesmo talento para fazer mexer o esqueleto. “Don’t  You Worry ‘bout a Thing”, que vem logo em seguida, é uma rumba marcada no piano e nos chocalhos que faz enxugar as lágrimas e levantar o astral de novo. Usada mais de uma vez no cinema, como na comédia “Hitch” (a cena do passeio de Jet-ski pelo rio Hudson de Nova Iorque), é daquelas músicas tão alegres que remetem diretamente ao colorido alegórico da cultura africana, influência sempre tão presente e hibridizada na obra de Stevie. O disco encerra na atmosfera melódica e gostosa de “He’s Misstra Know-it-all”, com seus bongôs acompanhando a bateria e o piano num andamento suave e suingado que, ao final, vai sumindo devagarzinho enquanto Stevie improvisa nos vocais.
Essas cores e esse brilho estavam no palco quando vi Stevie pela TV no Rock in Rio. Aos 70 anos, toda aquela verdade e prazer de produzir uma arte pura e elevada podia ainda ser percebida. Não tinha como não ficar tocado. Reouvi “Innervisions” dias depois do show, ainda sob efeito da apresentação. Mas não chorei mais, pois me dei conta de definitivamente se tratar de um dos artistas mais importantes para a minha vida. Ele, que eu já sabia ser um dos maiores de todos os tempos, como Mozart, Ravel , Coltrane , Chico  e o próprio MacCartney. Pode colocá-lo tranquilamente nesta fila, que aqui pra mim o altar dele já está reservado.

*******************************************

FAIXAS:

1. "Too High"  Stevie Wonder 4:36
2. "Visions"  Wonder 5:23
3. "Living For The City"  Wonder 7:23
4. "Golden Lady"  Wonder 4:58
5. "Higher Ground"  Wonder 3:43
6. "Jesus Children Of America"  Wonder 4:10
7. "All In Love Is Fair"  Wonder 3:42
8. "Don't You Worry 'bout a Thing"  Wonder 4:45
9. "He's Misstra Know-It-All"  Wonder 5:35


****************************************

Ouça:
Stevie Wonder Innervisions



terça-feira, 6 de agosto de 2013

Stevie Wonder - “Songs In The Key Of Life” (1976)





“Songs In The Key Of Life’é apenas
um aglomerado de pensamentos
no meu subconsciente que meu Criador
decidiu me dar como força,
amor + amor – ódio = energia do amor capaz de fazer 
o possível para
trazer 
à minha consciência 
uma ideia.
Uma ideia para mim
é um pensamento formado
 no subconsciente,
o desconhecido e, 
por vezes,
aquilo que se procura no impossível.” 
Stevie Wonder
texto do encarte original



Chegou a hora de falar de um monumento da música do Século XX e que vai ficar pra sempre na vida de todo mundo: “Songs In The Key Of Life”, de Stevie Wonder. Conheci este disco nas ondas da Continental Superquente 1120, em 1976. A rádio começou a tocar o primeiro de muitos hits do disco, "Isn't She Lovely". E aí me apaixonei. Comprei o disco em 1979 e começou uma longa história de amor e devoção com este disco com D maiúsculo.

Ele começa com um gospel wonderiano de arrepiar chamado "Love's in Need of Love Today". Nela, todos os instrumentos são tocados por ele - especialmente os sintetizadores -, a não ser uma percussão incidental. Os vocais também são todos de Stevie, que se esmera em criar um efeito de coral de igreja batista norte-americana. Um começo de impacto. O Stevie religioso se manifesta com "Have a Talk With God", na qual novamente está no comando de todos os instrumentos. Nela, SW diz: "Quando você achar que a vida está muito difícil/ apenas tenha uma conversa com Deus". Religiosidade sem pregação. "Village Ghetto Land" mostra o lado de preocupação social. Os sintetizadores - uma obsessão wonderiana na época - tão o tom sombrio de um gueto cheio de violência, lixo e descaso das autoridades.

Na sequência, uma das surpresas do disco: uma faixa instrumental chamada "Contusion". Uma espécie de homenagem de Stevie ao guitarrista Jeff Beck, que participou de vários discos dele durante a década de70 e recém havia lançado o também monumental "Blow by Blow". "Contusion" não ficaria mal como bonus track do disco de Beck. Comandada pela guitarra de Michael Sembello (que faria sucesso no começo dos anos 80 com "Maniac", lembram?) a música ganha os vocais de SW e outros vocalistas e se transforma em um fusion soul. Só ele mesmo poderia fazer algo do gênero. Pra fechar o Lado 1, um tributo ao mestre Duke Ellington e ao jazz: "Sir Duke" tem um naipe de sopros que faz lembrar a big bands de Duke e Count Basie, entre outros. O arranjo esperto de SW faz a gente bater o pé numa batida irresistível. Uma delícia!

No formato vinil, o lado 2 começa com Stevie recordando seus tempos de criança em Detroit, já cego em "I Wish". Nela, SW manda ver na bateria, base de todo o arranjo. Tirando o baixo de Ben Watts e os sopros, Stevie comanda o show dizendo "Eu gostaria que aqueles dias pudessem voltar uma dia / Eu gostaria que aqueles dias nunca tivessem desaparecido". Uma evocação da infância difícil, mas de muita luta. Foi lá que ele começou a tocar os primeiros instrumentos. Depois deste momento balançado de memória, vem a minha música preferida por motivos sentimentais: "Knocks Me Off My Feet". Uma balada tendo o piano como base, mas a letra é que dá o tema: "Não quero te incomodar/mas tem alguma sobre o teu amor/ que me faz fraco e me deixa fora de mim", numa tradução nada literal. Linda canção e que me emociona sempre que a ouço. E vendo ouvindo há mais de 30 anos. Isso é o que se pode chamar de uma música que fica contigo. Lembranças sentimentais à parte, vem "Pastime Paradise", cujo riff de sintetizadores imitando cordas virou a base de "Gangsta Paradise" de Coolio na década de 90. Novamente, as preocupações sociais de Stevie Wonder afloram: segregação, exploração, mutilação são os problemas que ele aponta. A solução deve ser integração, consolação, salvação para a paz no mundo. Tudo temperado com coro de Hara Krishnas e de uma igreja de Los Angeles.

É neste disco que Stevie dá vazão à suas indagações sobre o mundo. Contextualizando: os Estados Unidos tinham passado por uma tempestade social com o caso Watergate, a crise do petróleo e o crescimento da violência urbana, especialmente nos guetos. Estes fatos iriam desembocar nos anos 80 com o surgimento do rap e do hip hop, levando adiante a mensagem de Wonder. "Summer Soft" inicia como mais uma balada de SW, mas se transforma na segunda parte, quando o destaque fica com o órgão pilotado pelo grande Ronnie Foster (cuja importância para a música brasileira acontece em 1982, quando produz "Luz", o grande disco de Djavan). "Ordinary Pain" também tem uma ligação com a MPB. Em 84, no seu disco "Fullgás", Marina Lima fez uma versão da primeira parte desta música ("Pé na Tábua") . Mas SW foi engenhoso. Faz uma música de amores perdidos e a divide em duas, apresentando a versão masculina, suave, e a feminina, uma funkeira cantada por Shirley Brewer.

O Lado 3 começa com Aisha, a filha recém nascida de Wonder chorando. Esse choro se transforma na batida irresistível de "Isn't She Lovely", uma das canções mais conhecidas dele. O solo de harmônica desta canção é das melhores performances instrumentais que eu já ouvi. Um mega hit merecido e cantado até hoje nos shows, onde Stevie apresenta Aisha já adulta - e maravilhosa! "Joy Inside My Tears" traz SW outra vez no comando de todos os instrumentos, excetuando os teclados de Greg Phillinganes. Esta é daquelas canções que vão te pegando aos poucos. São necessárias várias audições pra entrar no clima. Mas depois te garanto, tu vais sair na rua cantando o refrão "You, you, you / have made life history / You brought some joy inside my tears".

"Black Man" é a epítome da preocupação de Wonder em integrar todas as raças. Ele traz para o final da música um professor que pergunta aos alunos questões sobre aventureiros, descobridores, políticos que tiveram grande feitos e as crianças respondem a raça de cada um deles. Brancos, negros, índios, todos mencionados e mostrando que somos iguais. Uma bela mensagem de integração numa base funk. Fechando o disco, o lado 4 abre com uma preciosidade: "Ngiculela", onde Wonder canta uma história de amor em uma língua africana, em espanhol e em inglês, sobre uma base instrumental feita somente por ele. Mágico, assim como a próxima faixa. "If It's Magic" é outra surpresa. O arranjo traz Dorothy Ashby na harpa e Wonder no vocal e na harmônica somente no final. Suavidade e beleza num momento de reflexão.

Na sequência, Stevie traz ninguém menos que Herbie Hancock pra pilotar o piano elétrico Fender Rhodes em "As", outra música de amor onde ele declara sua paixão dizendo que "Eu sempre te amarei/ Até que os arco-íris queimem o céu/ Até que os oceanos cubram todas as montanhas/ Até que a Mãe Natureza diga que seu trabalho está pronto". Nada vai impedir Stevie de sentir este amor por uma mulher, pelas crianças e pela humanidade. E se você conseguir ficar parado nesta canção, é porque está morto!!! Fechando o disco original, vem um petardo dançante chamado "Another Star" com as participações de George Benson na guitarra e Bobbi Humphrey na flauta. Stevie compreende o ideário pop e faz a gente cantar o tempo inteiro com um coro de backing vocais entoando apenas "lálálá". Impressionante o comando que ele tem das formas musicais que formam o que se convencionou chamar de "música pop". E o tempo todo em "Songs in The Key of Life” somos surpreendidos pelas sacadas geniais que ele arma, transformando e transmutando as formas do soul, do jazz, do funk, do gospel. Uma hora com um grupo convencional de guitarra, teclados, baixo,bateria e percussão. E em outra fazendo dos sintetizadores uma orquestra de cordas ou um órgão de igreja para passar sua inquietação sobre os destinos do mundo. Tudo isso em 1976!

No disco original ainda vinha um compacto duplo (vocês sabem o que é isso? Um disquinho de vinil com duas músicas de cada lado). A primeira é "Saturn", na qual tirando duas guitarras e um teclado, ele toca todos os instrumentos e faz todas as vozes. "Ebony Eyes" tem sabor de bubblegum pop com a novidade daquele momento, o talk box, que Peter Frampton tinha popularizado em seu disco "Frampton Comes Alive". Destaque também pro solo de sax de Jim Horn. "All Day Sucker" é um funkão que traz três guitarras (!!) fazendo a base para Stevie e os backing vocais de Carolyn Denis. E o compacto termina com ma faixa que se poderia chamar de balada jazzy chamada "Easy Goin' Evening (My Mama 's Call)”. O Fender Rhodes e a harmônica tocam a melodia, enquanto Nathan Watts faz a base para este final sereno de um totem da música de todos os tempos. Se você não conhece, aqui vai um presentinho do tio Paulo Moreira: logo abaixo um link para o disco completo. Desculpem o tamanho do texto, mas um disco desses merece!

**********************************************

FAIXAS:
1. "Love's in Need of Love Today” - 7:06
2. "Have a Talk with God" (Wonder, Calvin Hardaway) - 2:42
3. "Village Ghetto Land" (Wonder, Gary Byrd) - 3:25
4. "Contusion" - 3:46
5. "Sir Duke" - 3:54
6. "I Wish" - 4:12
7. "Knocks Me Off My Feet" - 3:36
8. "Pastime Paradise" - 3:28
9. "Summer Soft" - 4:14
10. "Ordinary Pain" - 6:23
11. "Saturn" (Michael Sembello, Wonder) – 4:54
12. "Ebony Eyes” – 4:11
13. "Isn't She Lovely?" - 6:34
14. "Joy Inside My Tears" - 6:30
15. "Black Man" (Wonder, Byrd ) - 8:30
16. "Ngiculela” “(Es Una Historia)” “(I Am Singing)" - 3:49
17. "If It's Magic" - 3:12
18. "As" - 7:08
19. "Another Star" - 8:28
20. "All Day Sucker" – 5:06
21. "Easy Goin' Evening (My Mama's Call)" – 3:55

todas de Stevie Wonder, exceto indicadas

(ordem da versão em CD)

********************************
OUÇA:




segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Stevie Wonder - "Talking Book" (1972)



"Aqui está a minha música.
É tudo o que eu tenho a dizer sobre como me sinto."
Stevie Wonder




Esse é um best seller se formos comparar a discos de rithym and blues, como também de outros ritmos. Stevie Wonder, autor desta obra chamada Talking Book, escreveu linhas musicais excelentes. Como narrador-personagem, apresenta neste álbum páginas contendo versos e poesias das mais ricas. São enredos que abordam amores, desilusões, protestos e superstição. O gênero é o romance, composto por um disco completo, com tempo, espaço e personagens bem definidos de caráter verossímil.
Sobre a performance de Wonder, se fosse um dicionário a palavra “talento” poderia ser um sinônimo associado a ele. Stevie toca “simplesmente” sete instrumentos, com três faixas do álbum as quais tem somente a presença dele. Fora a produção, que também tem a sua autoria. Basta lembrar que o nosso protagonista tinha 22 anos nesta época.
Em meio desta semântica de estudos de sons, interessante destacar T.O.N.T.O. synthesizer (um gigante sitentizador com a dimensão de uma sala) e o Moog bass (com tamanho mais modesto, porém de sons graves poderosos).  Detalhe: todo este registro não tem baixo.
A primeira página de Talking Book abre com You Are the Sunshine of My LifeÉ uma levada com muita influência da bossa nova. Na abertura do disco, tem dois vocalistas: um masculino (Jim Gilstrap) e outro feminino (Lani Groves). Eles iniciam esta obra para que Wonder solte o seu vozeirão e barbarize no restante do álbum. Esses “figurantes” vão aparecer no decorrer deste disco. Já em Maybe Your Baby consta a presença do personagem Ray Parker Jr., tocando guitarra. Só para frisar, esse músico ficou conhecido por fazer a trilha sonora do filme The Ghostbusters (Os Caças-Fantasmas). O guitarrista fez uma contribuição tímida, mas competente nesta faixa, com solos puxando para o blues.
Virando a folha vem You and I (We Can Conquer the World), uma música simples, porém uma formidável balada com uma impressionante sustentação de voz de Wonder. Um piano “limpo” fazendo a base da canção, acompanhado de sons de um sintetizador. Já, curiosamente, Tuesday Heartbreak possui um começo rítmico bem parecido de Maybe Your Baby. É no estilo funk americano dos mais tradicionais, com direito a muitos efeitos nos teclados. Comparando novamente com a segunda faixa do disco, que tem uma guitarra verdadeira, nesta quarta música possui uma distorção do sintetizador sumula um wah wah, compensando a presença real desse instrumento de cinco cordas.
Com ar mais misterioso, You've Got It Bad Girl tem um ritmo latino (com uma percussão para contribuir para isso), com toques de jazz. Wonder toca a bateria com batidas bem mais “quebradas”, isso comparando com as outras músicas do álbumNa sequência, é o momento ápice: Superstition - grande hit da sua carreira, que dispensa muitas apresentações. O que espanta são os coadjuvantes nessa canção, responsáveis pelos instrumentos de sopro. Com apenas Trevor Laurence, no saxofone, e Steve Madaio, no trompete, a sensação é que temos uma orquestra tocando. E lógico, pontos para o produtor Stevie Wonder para que isso ocorresse.
Esse manuscrito sonoro segue com Big Brother, a letra mais política e uma das melhores do disco. Um dos trechos vale a pena replicar: Your name is I'll see ya. I'll change if you vote me in as the pres. The President of your soul. I live in the ghetto. You just come to visit me 'round election time (Seu nome é “Nos vemos”. Eu irei mudar se você votar em mim para presidente. O presidente da sua alma. Eu moro no gueto. Você só vem me visitar nos tempos de eleição). Na canção, Wonder toca uma harmônica - com breves solos - em meio à música, enriquecendo-a. Além disso, chama a atenção a percussão com ritmo africano.
Liricamente, Blame It on the Sun é repleta de perguntas dentro da canção. Stevie acha muitas culpas, porém acredita numa resposta dizendo: "but, my heart blames it on me". Essa faixa ganhou uma cover de Phil Collins em seu disco Going Back, de 2010. Em Looking for Another Pure Love, Wonder chama outro guitarrista para contribuir de forma mais talentosa neste enredo. Jeff Beck (ex-Yardbirds) faz a sua especialidade: solos precisos de blues. Devido a isso, sua participação na música chega ao status de co-protagonista.
No capítulo final, I Believe (When I Fall in Love It Will Be Forever) entra no clima de grand finale com letra e cadência refletivas e depressivas, relatando sobre o amor. No entanto, como toda a boa história tem que acabar bem, finaliza num embalo de festa, com Wonder falando que, desta vez, o amor é verdadeiro.
Encerrando essa narrativa, deixe esse álbum bem posicionado na sua biblioteca musical. Um disco de cabeceira. Ao som de You Are The Sunshine Of My Life fica a pedida dessa “leitura musical” e faça-a em alto e bom tom!
Fim.
*********************************

FAIXAS:
  1. You Are The Sunshine Of My Life
  2. Maybe Your Baby
  3. You And I (We Can Conquer The World)
  4. Tuesday Heartbreak
  5. You've Got It Bad Girl
  6. Superstition
  7. Big Brother
  8. Blame It On The Sun
  9. Lookin For Another Pure Love
  10. I Believe (When I Fall In Love It Will Be Forever)
********************************
Ouça:



quinta-feira, 10 de junho de 2021

Protagonistas coadjuvantes

Michael dando um confere bem de perto no que seu
mestre Stevie Wonder faz em estúdio, nos anos 70
Não é incomum artistas da música que, mesmo sendo astros, têm por hábito participarem de projetos de outros, seja tocando em gravações, shows ou como convidados. George Harrison, por exemplo, muito tocou sua slide guitar em discos dos amigos John Lennon e Ringo Starr. Eric Clapton, igualmente, além da carreira solo e de bandas próprias como Cream e Yardbirds, também emprestou sua guitarra para Beatles, Yoko Ono, Tina Turner, Phil Collins e vários outros. Como eles, diversos: Brian Eno, Robert Wyatt, Flea, Eddie Van Halen ou brasileiros como Herbert Vianna, Gilberto Gil, Frejat e João Donato. Todos comumente contribuem com seus instrumentos e/ou voz na música que não somente a deles próprios.

Há também aqueles que dificilmente se supõe que fariam algo fora de seus trabalhos pelos quais são mais conhecidos. Mas vasculhando com atenção as fichas técnicas dos discos, acha-se. Vez ou outra se encontra um artista que geralmente é visto apenas como protagonista atuando, deliberadamente, como um coadjuvante. E não estamos nos referindo àqueles principiantes que, posteriormente, tornar-se-iam ilustres, caso de Buddy Guy em “Folk Singer”, de Muddy Waters, de 1959, na primeira gravação do jovem Guy, então com 18 anos, com o veterano bluesman, ou Jimi Hendrix nas gravações de 1964 com a Isley Brothers anos antes de transformar-se num ícone do rock.

Aqui, referimo-nos àqueles que, já consagrados, abriram mão de seu status em nome de algo que acreditavam seja para um disco, um projeto, uma música ou um show. São momentos em que se vê verdadeiros mitos descerem de seus altares para, humildemente, colaborarem com a música alheia, seja por admiração, amizade, sentimento de dívida ou o que quer que explique. O fato é que esses “protagonistas coadjuvantes”, mesmo que estejam escondidos ou somente encontráveis nas miúdas letras da ficha técnica, abrilhantam com seus talentos peculiares a obra de outros.


Robert Smith para Siouxsie & The Banshees

Os anos 80 foram de inquietude para Robert Smith, líder da The Cure. Sua banda já era uma das mais celebradas do pós-punk britânico em 1983 quando ele, que havia lançado um ano anos o disco único “Blue Sunshine”, da The Glove, projeto em parceria com Steven Severin, decide dar um tempo com o grupo. Mas para quem estava a pleno naquela época, Bob “descansou carregando pedra”, como diz o ditado. Ele decide fazer parte da Siouxsie & The Banshees, banda coirmã da The Cure, mas estritamente como integrante. Com os vocais e o palco já devidamente preenchidos por Siouxsie, Robert assume as guitarras e une-se a Severin (baixo) e Budgie (bateria) para compor a melhor formação que a Siouxsie & The Banshees já teve. Não deu outra: dois discos, duas pérolas, para muitos os melhores da banda: “Hyenna” e o ao vivo “Nocturne”




Miles Davis
para Cannonball Adderley
Mais do que na música pop, é comum no jazz grandes astros e band leaders tocarem na banda de colegas. Isso não funciona, entretanto, para Miles Davis. O talvez mais exclusivo músico do jazz havia tocado no início da carreira para Sarah Vaughan, mas depois jamais fez nada que não fosse tão-somente seu. Até que, com jeitinho, em 1958, o amigo Cannonball Adderley convida-o para participar das gravações de um disco que ele estava por lançar e no qual teria ainda Art Blakey, na bateria, Hank Jones, no piano, e Sam Jones, no baixo. Uma sessão de gravação apenas, só cinco números, algumas horinhas de estúdio com Rudy Van Gelder na mesa, engenheiro com quem Miles tanto estava acostumado a trabalhar. "Não vai custar nada. Diz, que sim, diz que sim!" Tanto foi, que Miles topou, e saiu "Somethin' Else", aquele que é o disco que antecipa a obra-prima “Kind of Blue”, em que, reassumido o posto de front man, aí é Miles que conta com o parceiro saxofonista na banda. Tudo de volta ao normal.


Paul McCartney para Foo Fighters
É conhecida a versatilidade de Paul McCartney. Multi-instrumentista, ele é capaz de tocar, em apenas um show, vários instrumentos ou gravar um disco inteirinho sozinho sem precisar de mais ninguém no estúdio. Quem também fez isso foi Dave Grohl, líder da Foo Fighters, que, no álbum de estreia da banda, em 1995, toca não apenas a bateria, que era seu instrumento na Nirvana, como todos os outros. A amizade e talvez essa semelhança tenham feito com que chamasse o eterno beatle para uma empreitada 12 anos depois. Fã de Macca, ele convidou o veterano músico para gravar para ele não a guitarra, o piano ou a voz. Isso, muita gente já havia feito. Ele pediu para Paul tocar justamente bateria. A “brincadeira” deu super certo, como se vê na canção "Sunday Rain" presente no disco "Concrete And Gold".


Michael Jackson para Stevie Wonder
É uma música apenas, mas considerando o tamanho deste “coadjuvante”, vale por um disco inteiro. A linda e melodiosa “All I Do”, que Stevie Wonder gravaria em seu “Hotter than July”, de 1980, conta com ninguém menos que Michael Jackson nos vocais. E não se trata da voz principal, e sim do backing vocals! Surpreende ainda mais que o Rei do Pop já havia lançado à época o megassucesso “Off the Wall”, de um ano antes, com o qual revolucionaria a música pop e que quebrara os paradigmas de vendas da música negra no mundo. Mas a devoção de Michael para com Stevie era tamanha, que ele nem se importou em fazer um papel secundário. Para quem era conhecido pela habilidade de canto e arranjos de voz, no entanto, o que seria uma mera participação contribui sobremaneira para a beleza melódica da canção.



David Bowie
 para Iggy Pop
Em meados dos anos 70, Iggy Pop e David Bowie estavam bastante próximos. Bowie havia chamado o amigo para uma temporada em Berlim, na Alemanha, onde desfrutariam do moderno estúdio Hansa para erigir alguns projetos, dentre estes, “The Idiot”, no qual dividem todas as autorias e gravações. O período foi tão fértil, que rendeu também uma turnê, registrada no álbum ao vivo “TV Eye Live 1977". Acontece que, no palco, não dá para apenas os dois se resolverem com os instrumentos. Foi então que chamaram os Sales Brothers para o baixo e bateria, Ricky Gardiner, para a guitarra, e... quem assumiria os teclados? Ah, chama aquele cara ali que tá de bobeira. O próprio David Bowie. Quando se escuta as versões ao vivo de “Lust for Life”, “I Wanna Be Your Dog” e “Funtime”, acreditem: os teclados que se ouvem são do Camaleão do Rock. 



Phlip Glass
 para Polyrock
O cara já tinha composto de um tudo: ópera, concerto, sinfonia, madrigal, trilha sonora, sonata, estudos. Faltava uma coisa: música pop. Próximo do músico e produtor Kurt Monkacsi, o gênio da vanguarda californiana Philip Glass “apadrinhou” junto com este a new wave art rock Polyrock. Dizem nos bastidores, que o cérebro da banda é Glass e não só os irmãos Billy e Tommy Robertson tamanha é a identificação com a música minimalista do autor de "Einsten on the Beach". Seja por grandeza, timidez ou algum problema legal, o fato é que isso não consta nos créditos. O que consta, sim, é a participação do maestro tocando piano e teclados nos dois discos do grupo, “Polyrock”, de 1980, e “Changing Hearts”, de um ano depois, no qual, inclusive, assina oficialmente o arranjo de cordas da faixa-título. Daqueles raros momentos em que a música de vanguarda se encontra com o rock.





João Gilberto para Rita Lee
Se hoje a participação de João Gilberto tocando violão para Elizeth Cardoso em duas faixas de “Canção do Amor Demais”, de 1958, é considerado o pontapé inicial para o movimento da bossa nova, àquela época o gênio baiano era apenas um músico iniciante ao qual não se havia ouvido ainda toda sua arquitetura sonora de instrumento, voz e harmonia. 24 anos depois, já um mito, João dificilmente repetia uma ação como aquela do passado. Quisessem tocar com ele, ele que convidava. Exceção feita nos anos 80 para sua então esposa, Miúcha (e somente o violão), mas especialmente para Rita Lee. Admirador confesso da Rainha do Rock Brasileiro, João topou o convite de gravar ele, seu violão e sua atmosfera única a faixa “Brasil com S”, do disco “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, autoria dos dois. Pode-se dizer que, como todo o cancioneiro de João, é mais uma obra-prima, porém a única em que põe sua voz à serviço de um outro artista fora da sua discografia. Privilégio.


Daniel Rodrigues

sábado, 5 de abril de 2014

Jeff Beck - "Blow by Blow" (1974)




“A música deste disco
preenche a lacuna entre
o rock branco e Mahavishnu Orchestra,
ou jazz-rock” 
Jeff Beck



Há muito tempo, tinha vontade de escrever sobre minhas preferências musicais. Agora, depois dos 50 (um pouco depois, na verdade), resolvi tomar coragem e colocar no "papel virtual" minhas impressões sobre aqueles discos que significam muito pra mim. Um de suma importância é um clássico do fusion, que foi a minha porta de entrada no jazz propriamente dito: "Blow by Blow", do guitarrista inglês Jeff Beck.

Pra começar, um pouquinho de história. Jeff Beck foi um daqueles talentos da guitarra que surgiram na década de 60 em Londres, ao lado de Eric Clapton, Peter Green e Jimmy Page, entre outros. Ele integrou os Yardbirds, fez um disco de blues considerado clássico chamado “Truth” com a Jeff Beck Group e montou outras diversas bandas (entre elas, um power trio Beck, Bogert & Appice). Em 1974, porém, Beck estava numa encruzilhada: tinha desmontado o JB Group e o BBA e tinha ficado fascinado com a sonoridade conseguida no jazz-rock ou fusion de um colega guitarrista, o também inglês John McLauglhin, mentor e criador da Mahavishnu Orchestra. Ele monta então um quarteto para gravar seu novo disco no Air Studios, de propriedade de George Martin. Ao lado de Max Middleton nos teclados; Phil Chen no baixo e Richard Bailey na bateria, Beck viria a fazer história. O resultado foi “Blow by Blow”. O disco começa com um funk-jazz de primeira chamado "You Know What I Mean", que é uma espécie de carta de intenções do guitarrista. O swing é irresistível, mas ele não descuida do trabalho em grupo. Todos brilham. Na sequência, começa a aparecer a influência de Martin na produção: "She's a Woman", do repertório dos Beatles, composta por John Lennon e McCartney. Numa levada reggae, Beck acrescenta o som muito em moda na época do talk box, popularizado um ano depois por Peter Frampton em "Show me the Way".

Depois, vem uma música em que o título diz tudo: "Constipated Duck" ou pato resfriado. Munido de um pedal wah-wah e muitos efeitos, Beck brinca com a sonoridade de sua guitarra. Pra fechar o lado 1 (é, eu sou do tempo do LP e da fita cassete), uma dupla explosiva: "Air Blower", composta pela banda, e "Scatterbrain", de Beck e Middleton. Nestas duas faixas, sem intervalos entre uma e outra, o guitarrista exercita todo seu talento e exige uma performance além da conta de sua banda. Destaque absoluto pro baterista Richard Bailey, que faz coisas incríveis em seu instrumento, acompanhando as maluquices engendradas por Beck. No final de segunda, inclusive, Martin consegue romper o cerco e coloca sua orquestra pra dar um molho todo especial na pauleira fusion do quarteto. Depois de todo este virtuosismo, Beck nos brinda com uma das gravações mais bonitas que eu já ouvi em meus quase 53 anos de vida: "Cause We've Ended as Lovers", uma balada maravilhosa composta por ninguém menos do que Stevie Wonder. A relação entre os dois começou quando Beck gravou um solo no disco "Talking Book" de Stevie (já resenhado por Eduardo Wolff aqui nos ÁLBUNS FUNDAMENTAIS). Depois, com o Beck, Bogert & Appice, fez uma versão da clássica "Superstition", que foi o grande sucesso do disco. Nesta balada, Beck geme, esperneia, se entorta todo com sua guitarra mostrando toda a tristeza que Stevie quis passar na canção. De tirar o fôlego.

Após isso, só mesmo um funkão em homenagem ao mestre Thelonious Monk pra gente poder respirar. Em "Thelonious", Stevie faz sua participação especial no clavinete. Em seguida, vem uma faixa estradeira, talvez a faixa mais roqueira do disco, chamada "Freeway Jam". O baixo de Phil Chen segura todas, enquanto o resto se esbalda na jam session. E, pra encerrar, um momento sublime do disco: "Diamond Dust". Outra balada, desta vez com as cordas arranjadas e regidas por Martin fazendo o contraponto à guitarra límpida de Beck. “Blow By Blow” é um disco seminal que eu não me canso de ouvir há exatos 38 anos.

..........................................

Curiosidades: Jeff Beck sempre montou bandas extraordinárias. Uma delas, a do disco “Truth” com Rod Stewart no vocal e Ron Wood no baixo. E Rod nunca se cansou de roubar os músicos de Beck. Primeiro foi o baterista Carmine Appice e, depois, o baixista Phil Chen. Os dois tocam no disco "Blondes Have More Fun", de 78, que tem o "sucesso" roubado de Jorge Ben, "Do Ya Think I'm Sexy".

Ganhei “Blow By Blow” em cassete do meu querido e saudoso primo José Carlos De Andrade Ribeiro, o popular Chico Caroço, que foi um pouco responsável pela minha educação musical. Mas esta é outra história...

************************************** 

FAIXAS:
1. "You Know What I Mean" (Jeff Beck/Max Middleton) - 4:05
2. "She's a Woman" (John Lennon/Paul McCartney) - 4:31
3. "Constipated Duck" (Beck) - 2:48
4. "Air Blower" (Beck/Middleton/Phil Chen/Richard Bailey) - 5:09
5. "Scatterbrain" (Beck/Middleton) - 5:39
6. "Cause We've Ended as Lovers" (Stevie Wonder) - 5:52
7. "Thelonius" (Wonder) - 3:16
8. "Freeway Jam" (Middleton) - 4:58
9. "Diamond Dust" (Bernie Holland) - 8:26

**************************************** 
OUÇA O DISCO





sábado, 31 de julho de 2021

Cantando de olhinhos puxados


 



Os alemães da Kraftwerk vestiram kimono e puxaram os olhinhos
para cantar no idioma japonês
Olimpíadas rolando em Tóquio e tá todo mundo se arriscando num "sayonara" ou num "arigatô", não é verdade? Mas falar japonês pra valer, convenhamos, é pra poucos. Dada a dificuldade de se entender a milenar língua nipônica, pode-se dizer que cantar em japonês é domínio estritamente de quem é natural de lá.

Mas será mesmo? Se depender de alguns ousados artistas, não é bem assim. Indo além do palavreado simplório, músicos de nacionalidades diferentes da japonesa também se aventuraram nessa difícil e rara empreitada. E fizeram mais do que simplesmente cantar temas originais do Japão ou versar standarts para o japonês: eles compuseram canções novas neste idioma. Seja norte-americano, brasileiro, inglês ou alemão, esses músicos, menor ou maiormente afeitos aos ideogramas hanzi, puseram a cara pra bater e fizeram obras diferentes daquilo que eles mesmos desenvolvem normalmente.

Aproveitando, então, esse clima olímpico de Jogos de Tóquio, selecionamos sete músicas de artistas não-japoneses que não só fugiram dos estereótipos como construíram bonitas obras em homenagem à cultura do país do Sol Nascente.

*******

“Ito Okashi” - The Passangers (1995)
Composta para a trilha da performance de mesmo nome da artista japonesa Rita Takashina, a canção, cantada por sua conterrânea Akiko Kobayashi, a Holi, é de autoria que ninguém menos que Bono Vox, The Edge, Adam Clayton, Larry Mullen Jr. e Brian Eno, ou seja: a U2 em parceria com seu melhor e mais celebrado produtor. A The Passangers, projeto criado para abarcar as diversas trilhas que a turma compôs junto fora do repertório da renomada banda, lançou um único disco com esta formação e nomenclatura, “Original Soundtracks 1” repleto dessas coisas inusitadas assim como o próprio grupo. “Ito Okashi” é certamente das mais representativas do repertório.

Clipe de "Ito Okashi",da The Passangers



“Ai no Sono” - Stevie Wonder (1979)
Da capacidade de Stevie Wonder não se pode duvidar de nada, nem que ele fique com olhos puxados como um oriental pode debaixo daqueles óculos escuros. A bela “Ai no Sono”, assim como a música da The Passangers, também nasceu de um projeto diferente e ligado a cinema. No caso, a trilha sonora para o filme de animação “Journey Through the Secret Life of Plants”, que o Estevão Maravilhoso não apenas compôs, como tocou, arranjou e produziu de cabo a rabo. Quem pode duvidar, então, que o homem invente uma canção em japonês? Embora irregular e extenso, o disco duplo, guarda essa joia que só poderia ter saído de uma cabeça genial como a de Stevie.
OUÇA



“Made in Japan”
- Pato Fu (1999)

O lado extrovertido da Pato Fu faz com que a banda mineira liderada por John Ulhoa e Fernanda Takai (de origem oriental), diferente de outros grupos “sérios” do rock nacional dos anos 90, não levasse tão a sério a si mesmos. Entre os benefícios disso, está o de levar a sério as próprias brincadeiras, como a de criar uma música toda em japonês. Para quem como eles, que cresceu jogando Hatari e vendo na TV Spectreman e Ultraman (e admite isso), não foi uma tarefa tão difícil. Música do disco “Isopor”, de pouco antes de Fernanda começar a se achar uma grande cantora, ou seja, a se levar a sério.
OUÇA



“Relax”
- The Glove (1983)

Tá certo que é só um refrão “sampleado” de uma voz masculina repetindo as mesmas frases durante a faixa inteira – provavelmente, chupada de algum filme japonês B muito esquisito. Junto a essa voz, outros recortes se entrecruzam com variações de velocidade e compressão, além de sons que fazem referência ao Oriente, como de um koto, de sinos e gongos. Mas, além do inusitado do idioma diferente do inglês em comparação com todos os outros temas cantados de “Blue Sunshine”, o maravilhoso e único disco do projeto de Robert Smith (The Cure) e Steven Severin (Siouxsie & The Banshees), a The Glove, fecha com esta tensa e lisérgica canção, digamos, nada “relax”
OUÇA



“I Love You, Tokyo”
- Os Incríveis (1968)

Em 1968, a banda de rock da jovem guarda Os Incríveis excursionaram pelo Japão e aproveitaram para gravar no álbum “Os Incríveis Internacionais” e, depois em “Os Incríveis no Japão”, a faixa “I Love you Tokyo”. Embora o título em inglês, a letra é, sim, toda em japonês. A sacadinha da turma de Mingo, Risonho, Nenê, Neno e Netinho foi utilizar uma música original da era Meiji, composta por volta do ano de 1700, para inventar a letra. “Vale essa, Arnaldo?” Vale, sim.
OUÇA



“Miki”
- Toninho Horta (2012)
Um dos vários músicos brasileiros admirados no Japão – às vezes, reconhecido mais ou antes lá do que aqui – é o mineiro Toninho Horta, violonista e compositor de mão cheia e um dos artífices do Clube da Esquina. No início dos anos 2010, em constante deslocamento entre o seu país natal e o outro lado do mundo, resolveu, então, solucionar esse problema lançando o disco “Minas Tokio”. Em parceria com a musicista japonesa Nubie, Horta, além de regravar clássicos como “Beijo Partido” e “Giant Steps” e de seus tradicionais e belos temas instrumentais, como a claramente oriental “Shinkansen”, ainda escreveu com ela músicas que fazem essa ponte entre Brasil e Japão não só pela música, mas pela letra também.
OUÇA



“Dentaku” - Kraftwerk (1981)
Os geniais pais da música eletrônica, além de cantarem em inglês e alemão em várias ocasiões, têm como característica a universalidade da sua música. É o que se vê nas músicas “Numbers”, que mistura diversas línguas, as faixas de “Tour de France”, todas cantadas em francês, “Sex Object”, com trechos em espanhol, ou “Electric Café”, quando até o português eles arranham. Por que, não, então, cantar em japonês. É o que fizeram nessa faixa, que é uma corruptela da clássica “Pocket Calculator”, do álbum “Computer World”, que, no final das contas, diz mais ou menos a mesma coisa que seu tema original: um convite para fazer/ouvir música usando as teclas de uma calculadora de bolso. 

"Pocket Calculator/ Dentaku" ao vivo, da Kraftwerk



“Império dos Sentidos” - Fausto Fawcett & Os Robôs Efêmeros (1989)
Não se enganem pelo título em português. Afinal, quem não liga este nome a de um dos mais famosos filmes rodados no Japão, o drama erótico de Nagisa Oshima que escandalizou o mundo nos anos 70? Pois foi com essa clara referência (e reverência), que os criativos Fausto Fawcett, Carlos Laufer e Herbert Vianna escreveram a música que intitula o segundo disco da banda carioca. Para isso, fazem o mesmo expediente que a The Glove: recortam um trecho de voz, neste caso, feminina, que repete a mesma frase em japonês, algo provavelmente extraído do próprio filme. Um clima misterioso e, claro, com elementos orientais além da própria letra, que é dita levemente por uma voz feminina, quase uma “narcotic android nissei com a bateria no fim”, como diria o próprio Fawcett.
OUÇA

cenas do filme "O Império dos Sentidos"


Daniel Rodrigues

terça-feira, 24 de novembro de 2009

200 Melhores Músicas de Todos os Tempos

Saiu uma dessas listas da Rolling Stone com as 200 melhores músicas de todos os tempos.
Concordo com muitas, é lógico, discordo de alguma ordem que outra mas fundamentalmente me parece uma lista excessivamente conservadora. Só foi no certo. Não arrisca quase nada acima dos anos 80. Pode ser que o crítico, os críticos, os votantes, sei lá quem, realmente achem que não existe nada que valha a pena nos últimos tempos, mas assim parece uma lista de melhores até 1975, com raras exceções.
Exceção louvável é ver o Nirvana com justiça já figurar nas 10 primeiras posições.
Vale pela curiosidade:

1. Bob Dylan "Like a Rolling Stone" 1965
2. Rolling Stones "(I Can't Get No) Satisfaction" 1965
3. John Lennon "Imagine" 1971
4. Marvin Gaye "What's Going On" 1971
5. Aretha Franklin "Respect" 1967
6. Beach Boys "Good Vibrations" 1966
7. Chuck Berry "Johnny B. Goode" 1958
8. Beatles "Hey Jude" 1968
9. Nirvana "Smells Like Teen Spirit" 1991
10. Ray Charles "What'd I Say" 1959
11. The Who "My Generation" 1966
12. Sam Cooke "A Change Is Gonna Come" 1965
13. Beatles "Yesterday" 1965
14. Bob Dylan "Blowin' in the Wind" 1963
15. The Clash "London Calling" 1980
16. Beatles "I Want to Hold Your Hand" 1964
17. Jimi Hendrix "Purple Haze" 1967
18. Chuck Berry "Maybellene" 1955
19. Elvis Presley "Hound Dog" 1956
20. Beatles "Let it Be" 1970
21. Bruce Springsteen "Born To Run" 1975
22. The Ronettes "Be My Baby" 1963
23. Beatles "In My Life" 1966
24. Impressions "People Get Ready" 1965
25. Beach Boys "God Only Knows" 1966
26. Beatles "A Day in the Life" 1967
27. Derek and the Dominos "Layla" 1971
28. Otis Redding "Sitting on the Dock of the Bay" 1968
29. Beatles "Help!" 1965
30. Johnny Cash "I Walk the Line" 1956
31. Led Zeppelin "Stairway To Heaven" 1971
32. Rolling Stones "Sympathy For The Devil" 1968
33. Ike and Tina Turner "River Deep, Mountain High" 1966
34. Righteous Brothers "You've Lost That Lovin' Feelin'" 1964
35. The Doors "Light My Fire" 1967
36. U2 "One" 1991
37. Bob Marley and the Wailers "No Woman No Cry" 1974
38. Rolling Stones "Gimme Shelter" 1969
39. Buddy Holly and the Crickets "That'll Be the Day" 1957
40. Martha and The Vandellas "Dancing In The Street" 1964
41. The Band "The Weight" 1968
42. The Kinks "Waterloo Sunset" 1967
43. Little Richard "Tutti Frutti" 1956
44. Ray Charles "Georgia On My Mind" 1960
45. Elvis Presley "Heartbreak Hotel" 1956
46. David Bowie "Heroes" 1977
47. Simon and Garfunkel "Bridge Over Troubled Water" 1969
48. Jimi Hendrix "All Along The Watchtower" 1968
49. The Eagles "Hotel California" 1977
50. Smokey Robinson and the Miracles "The Tracks Of My Tears" 1965
51. Grandmaster Flash and The Furious Five "The Message" 1982
52. Prince "When Doves Cry" 1984
53. Sex Pistols "Anarchy In The UK" 1977
54. Percy Sledge "When A Man Loves A Woman" 1966
55. The Kingsmen "Louie Louie" 1963
56. Little Richard "Long Tall Sally" 1956
57. Procol Harum "Whiter Shade Of Pale" 1967
58. Michael Jackson "Billie Jean" 1983
59. Bob Dylan "The Times They Are A-Changin'" 1963
60. Al Green "Let's Stay Together" 1971
61. Jerry Lee Lewis "Whole Lotta Shakin' Goin' On" 1957
62. Bo Diddley "Bo Diddley" 1957
63. Buffalo Springfield "For What It's Worth" 1968
64. Beatles "The She Loves You" 1964
65. Cream "Sunshine of Your Love" 1968
66. Bob Marley and the Wailers "Redemption Song" 1968
67. Elvis Presley "Jailhouse Rock" 1957
68. Bob Dylan "Tangled Up In Blue" 1975
69. Roy Orbison "Cryin'" 1961
70. Dionne Warwick "Walk On By" 1964
71. Beach Boys "California Girls" 1965
72. James Brown "Papa's Got A Brand New Bag" 1965
73. Eddie Cochran "Summertime Blues" 1958
74. Stevie Wonder "Superstition" 1972
75. Led Zeppelin "Whole Lotta Love" 1969
76. Beatles "Strawberry Fields Forever" 1967
77. Elvis Presley "Mystery Train" 1956
78. James Brown "I Got You (I Feel Good)" 1965
79. The Byrds "Mr. Tambourine Man" 1968
80. Marvin Gaye "I Heard It Through The Grapevine" 1965
81. Fats Domino "Blueberry Hill" 1956
82. The Kinks "You Really Got Me" 1964
83 Beatles "Norwegian Wood" 1965
84. Police "Every Breath You Take" 1983
85. Patsy Cline "Crazy" 1961
86. Bruce Springsteen "Thunder Road" 1975
87. Johnny Cash "Ring of Fire" 1963
88. The Temptations "My Girl" 1965
89. Mamas And The Papas "California Dreamin'" 1966
90. Five Satins "In The Still Of The Nite" 1956
91. Elvis Presley "Suspicious Minds" 1969
92. Ramones "Blitzkrieg Bop" 1976
93. U2 "I Still Haven't Found What I'm Looking For" 1987
94. Little Richard "Good Golly, Miss Molly" 1958
95. Carl Perkins "Blue Suede Shoes" 1956
96 Jerry Lee Lewis "Great Balls of Fire" 1957
97. Chuck Berry "Roll Over Beethoven" 1956
98. Al Green "Love and Happiness" 1972
99. Creedence Clearwater Revival "Fortunate Son" 1969
100. Rolling Stones "You Can't Always Get What You Want" 1969
101. Jimi Hendrix "Voodoo Child (Slight Return)" 1968
102. Gene Vincent "Be-Bop-A-Lula" 1956
103. Donna Summer "Hot Stuff" 1979
104. Stevie Wonder "Living for the City" 1973
105. Simon and Garfunkel "The Boxer" 1969
106. Bob Dylan "Mr. Tambourine Man" 1965
107. Buddy Holly and the Crickets "Not Fade Away" 1957
108. Prince "Little Red Corvette" 1983
109. Van Morrison "Brown Eyed Girl" 1967
110. Otis Redding "I've Been Loving You Too Long" 1965
111. Hank Williams "I'm So Lonesome I Could Cry" 1949
112. Elvis Presley "That's Alright (Mama)" 1954
113. The Drifters "Up On The Roof" 1962
114. Crystals "Da Doo Ron Ron (When He Walked Me Home)" 1963
115. Sam Cooke "You Send Me" 1957
116. Rolling Stones "Honky Tonk Women" 1969
117. Al Green "Take Me to the River" 1974
118. Isley Brothers "Shout - Pts 1 and 2" 1959
119. Fleetwood Mac "Go Your Own Way" 1977
120. Jackson 5, "I Want You Back" 1969
121. Ben E. King "Stand By Me" 1961
122. Animals "House of the Rising Sun" 1964
123. James Brown "It's A Man's, Man's, Man's, Man's World" 1966
124. Rolling Stones "Jumpin' Jack Flash" 1968
125. Shirelles "Will You Love Me Tomorrow" 1960
126. Big Joe Turner "Shake, Rattle And Roll" 1954
127. David Bowie "Changes" 1972
128. Chuck Berry "Rock & Roll Music" 1957
129. Steppenwolf "Born to Be Wild" 1968
130. Rod Stewart "Maggie May" 1971
131. U2 "With or Without You" 1987
132. Bo Diddley "Who Do You Love" 1957
133. The Who "Won't Get Fooled Again" 1971
134. Wilson Pickett "In The Midnight Hour" 1965
135. Beatles "While My Guitar Gently Weeps" 1968
136. Elton John "Your Song" 1970
137. Beatles "Eleanor Rigby" 1966
138. Sly and the Family Stone "Family Affair" 1971
139. Beatles "I Saw Her Standing There" 1964
140. Led Zeppelin "Kashmir" 1975
141. Everly Brothers "All I Have to Do is Dream" 1958
142. James Brown "Please Please Please" 1956
143. Prince "Purple Rain" 1984
144. Ramones "I Wanna Be Sedated" 1978
145. Sly and the Family Stone "Every Day People" 1968
146. B-52's "Rock Lobster" 1979
147. Iggy Pop "Lust for Life" 1977
148. Janis Joplin "Me and Bobby McGee" 1971
149. Everly Brothers "Cathy's Clown" 1960
150. Byrds "Eight Miles High" 1966
151. Penguins "Earth Angel (Will You Be Mine)" 1954
152. Jimi Hendrix "Foxy Lady" 1967
153. Beatles "A Hard Day's Night" 1965
154. Buddy Holly and the Crickets "Rave On" 1958
155. Creedence Clearwater Revival "Proud Mary" 1964
156. Simon and Garfunkel "The Sounds Of Silence" 1968
157. Flamingos "I Only Have Eyes For You" 1959
158. Bill Haley and His Comets "(We're Gonna) Rock Around The Clock" 1954
159. Velvet Underground "I'm Waiting For My Man" 1967
160. Public Enemy "Bring the Noise" 1988
161. Ray Charles "I Can't Stop Loving You" 1962
162. Sinead O'Connor "Nothing Compares 2 U" 1990
163. Queen "Bohemian Rhapsody" 1975
164. Johnny Cash "Folsom Prison Blues" 1956
165. Tracy Chapman "Fast Car" 1988
166. Eminem "Lose Yourself" 2002
167. Marvin Gaye "Let's Get it On" 1973
168. Temptations "Papa Was A Rollin' Stone" 1972
169. R.E.M. "Losing My Religion" 1991
170. Joni Mitchell "Both Sides Now" 1969
171. Abba "Dancing Queen" 1977
172. Aerosmith "Dream On" 1975
173. Sex Pistols "God Save the Queen" 1977
174. Rolling Stones "Paint it Black" 1966
175. Bobby Fuller Four "I Fought The Law" 1966
176. Beach Boys "Don't Worry Baby" 1964
177. Tom Petty "Free Fallin'" 1989
178. Big Star "September Gurls" 1974
179. Joy Division "Love Will Tear Us Apart" 1980
180. Outkast "Hey Ya!" 2003
181. Booker T and the MG's "Green Onions" 1969
182. The Drifters "Save the Last Dance for Me" 1960
183. BB King "The Thrill Is Gone" 1969
184. Beatles "Please Please Me" 1964
185. Bob Dylan "Desolation Row" 1965
186. Aretha Franklin "I Never Loved A Man (the Way I Love You)" 1965
187. AC/DC "Back In Black" 1980
188. Creedence Clearwater Revival "Who'll Stop the Rain" 1970
189. Bee Gees "Stayin' Alive" 1977
190. Bob Dylan "Knocking on Heaven's Door" 1973
191. Lynyrd Skynyrd "Free Bird" 1974
192. Glen Campbell "Wichita Lineman" 1968
193. The Drifters "There Goes My Baby" 1959
194. Buddy Holly and the Crickets "Peggy Sue" 1957
195. Chantels "Maybe" 1958
196. Guns N Roses "Sweet Child O Mine" 1987
197. Elvis Presley "Don't Be Cruel" 1956
198. Jimi Hendrix "Hey Joe" 1967
199. Parliament "Flash Light" 1978
200. Beck "Loser" 1994