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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Stanley Jordan & Dudu Lima Trio - 2º Festival BB Seguridade de Blues e Jazz – Parque da Redenção – Porto Alegre/RS (08/10/2016)



Jordan acompanhado da Dudu Lima Trio.
A estabilidade que a primavera traz ao tempo reservou um dia ensolarado no parque da Redenção para receber o 2º Festival BB Seguridade de Blues e Jazz. Após passar por São Paulo, Recife e Brasília, este interessante festival reuniu nomes nacionais e internacionais em torno de ambos os gêneros, como Hamilton de Holanda, João Maldonado Trio, O Bando, Maria Gadú e a Orleans Street Jazz Band. Estima-se que 32 mil pessoas estiveram no parque curtindo o dia com a família e os amigos. Entre estes, Leocádia e eu.
Como não dava pra passar o dia, fomos no horário que pegaríamos os dois shows que mais nos interessavam: o da banda carioca Blues Etílicos e, em seguida, do guitarrista norte-americano Stanley Jordan. Se bem que, quando apontamos no parque, ainda dava pra ouvir, mesmo que de longe, Hamilton de Holanda detonando seu bandolim. Quando nos acomodamos, já no intervalo entre uma apresentação e outra, aparecem os paulistas da Orleans Street Jazz Band tocando no meio da galera. Alto astral aquele som de jazz do sul norte-americano, com direito a tuba, trompete, trombone, sax, banjo e percussão. As melhores das boas-vindas.

Orleans Street Jazz Band no 2º Festival BB Seguridade de Blues e Jazz

Logo em seguida veio a Blues Etílicos. Embora as letras deixem a desejar, a sonoridade é do mais poderoso e original blues eletrificado. Destaque para o guitarrista Otávio Rocha e seus slides impiedosos. É ele quem segura o som de um berimbau extraído da própria guitarra na música “Dente de Ouro”, misto de baião e blues, a melhor da apresentação. Também teve participação do blueseiro gaúcho Solon Fishbone em “Puro Malte”, noutro momento muito legal em que três guitarras se somaram.
Foi então a vez de Stanley Jordan subir ao palco. Ele, que havíamos perdido de ver quando do Canoas Jazz Festival, em 2014, deu um show curto mas delicioso. Isso que o tal Dudu Lima quase pôs água no chope! O músico mineiro, baixista e líder do trio que apoiou Jordan, começou o show tocando a “Suíte BItuca”, versão jazz fusion para “Fé Cega, Faca Amolada”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, com incursões de outras melodias, como a de “Raça”, também de Milton, e “Asa Branca”, clássico de Luiz Gonzaga. Até aí, tudo bem. Acontece que quando Jordan entra definitivamente para tocarem a primeira juntos, “Clube da Esquina nº 2”, outra de Milton, esta parceria com Lô Borges. A beleza da interpretação passa a ganhar tons de exagero por parte de Dudu Lima, que se perde, sai do compasso e inventa improvisos mais ruidosos do que melódicos.
Pensamos: “Tudo bem, vai ver que estão esquentando ainda”. Veio, então, o tema seguinte, “Regina” de autoria d Dudu. Estavam os dois ali, tocando juntos quando, no meio da execução, o autor, decerto por achar a autoria motivo para tal, desce do palco para tocar no meio do público (!). Não que não possa fazer isso, mas no SEGUNDO número? E justo ele, o coadjuvante do show? Totalmente despropositado. Jordan, na sua simplicidade, ficou no palco fazendo base para o exibido lá embaixo. O bom foi que, a partir dali, tudo se rearrumou. O mestre Jordan permanece no palco para, sozinho agora, mandar ver duas suítes solo impressionantes. Uma delas é a originalmente linda “Eleanor Rigby”, clássico dos Beatles presente no terceiro álbum de Jordan, o memorável “Magic Touch”, de 1985. Um desbunde. Ele aproveita as linhas vocais, do cello e dos violinos da original de 1966 para fazer o mesmo, só que apenas na guitarra. Usando sempre das duas mãos, as quais tocam geralmente ao mesmo tempo, o característico tapping – técnica que evoluiu com ele –, a exuberante forma de Jordan tocar comove e impressiona.
A banda volta ao palco, agora trocando seu bom baterista Leandro Scio por um verdadeiro craque: o mestre Ivan Conti “Mamão”, integrante da lendária banda de jazz-soul brasileira Azymuth. Não tinha como dar errado, e até Dudu Lima, agora mais contido, passou a contribuir com seu competente baixo elétrico. Uma linda execução de “Partido Alto”, faixa do disco da Azymuth "Light As A Feather", de 1979. Mamão, com sua experiência e suingue, dá outra atmosfera para a sonoridade, um ganho que faz com que toda a banda cresça e Jordan, por sua vez, conseguisse desenvolver ainda mais sua habilidade como solista.
A formação com Mamão arrepiou em outro jazz fusion estonteante, com variações de ritmo, agilidade e performance de todos, claro, principalmente de Jordan. É o guitarrista que puxa, enfim, novamente acompanhado do trio do começo, o número final, que o público reconhece já nos primeiros acordes. É “Stairway to Heaven”, o clássico hard-rock da Led Zeppelin. Como fizera com a canção de Lennon e McCartney, nesta Jordan utiliza todas as possibilidades harmônicas criadas pelo riff de Jimmy Page, ora valendo-se da suavidade do dedilhado, ora transformando a guitarra em piano, ora roncando em palhetadas. Até sons de bandolim e viola é possível ouvir da guitarra de Jordan. Um final digno de um show que valeu a pena aguardar esses dois anos para assistir.

vídeo de “Stairway to Heaven” por Stanley Jordan e Dudu Lima Trio



Céu azul e muita gente na Redenção.

A  Orleans Street Jazz Band toca no meio do público.

A inusitada percussão da OSJB.

A Blues Etílicos mandando ver no blues eletrificado.

No telão, Jordan e Dudu solando.

Galera aproveitando o gramado e a sombra das árvores.

Olha quem veio assitir ao festival.




por Daniel Rodrigues

sábado, 9 de maio de 2015

Lucas Arruda – “Sambadi” (2013)





Musicalmente falando, eu acho que o que estou fazendo é, basicamente, a continuação de uma estética de linguagem musical que existe no Brasil desde os anos 60 e 70, mas que de repente ficou meio esquecida por aqui.”
Lucas Arruda

Esse cara é um gênio. Para mim, ele salva esse cenário supermedíocre de hoje”.
Ed Motta

Ano passado publiquei aqui no Clyblog uma lista dos meus melhores discos instrumentais brasileiros de todos os tempos. Salvo a minha ignorância de não listado a obra-prima de Robson Jorge e Lincoln Olivetti, de 1982 (menção esta aqui com a qual me sinto agora livre do justo espancamento), um que não incluí, pois ainda não o conhecia nem o entendia suficientemente devido à sua recência, é “Sambadi”, de Lucas Arruda, de 2013. Considero, no entanto, que desfaço agora duplamente a injustiça ao sagrá-lo como um ÁLBUNS FUNDAMENTAIS, tanto por destacá-lo assim, exclusivamente, como pelo fato de ser o álbum mais recente sobre o qual já escrevi entre os meus mais de 40 para esta seção.

O certo é que esse destaque não se sustenta por um sentimento de culpa. “Sambadi” é que é muito bom. Primeiro disco deste talentoso jovem capixaba multi-instrumentista radicado no Rio de Janeiro, é ao mesmo tempo um trabalho autoral e raro na música brasileira dos últimos 20 anos como também uma homenagem aos ídolos da soul music e do samba-jazz brasileiro, forte nos anos 60 e 70 mas gradativamente desvalorizado a partir dos 80. O resultado é um disco semi-instrumental altamente sofisticado pela habilidade de Lucas, responsável por praticamente todos os instrumentos (a bateria, único que ele não toca, é de seu irmão, Thiago Arruda). As referências vão dos mestres norte-americanos Stevie Wonder, Curtis Mayfield e George Duke aos brasileiros Tamba Trio, Azimuth, Marcos Valle, Black RioSambrasa Trio, Ed Motta, os próprios Robson Jorge, Olivetti, entre outros dentre os que dominam o legado da MPB e o manancial estético oferecido pelo jazz e o R&B.

“Physis” dá a cara da abertura com uma linha de sintetizador marcando acordes que vão e voltam, acompanhados por vocalises de Lucas. Ao fundo, um clima muito brasileiro se forma com sons da natureza de nossa flora e fauna. Prenúncio da brasilidade que se sentirá fortemente a partir dali. Sem dar tempo de respirar, a primeira faixa emenda com “Tamba”, um samba-funk gostoso e sofisticado no qual Lucas manda ver em lindos improvisos de seus teclados (piano, Fender Rhodes e sintetizador). Nos tons médios, a guitarra, numa levada de mexer o esqueleto, sustenta a base junto com o Rhodes e a batida sincopada da caixa, enquanto o baixo e o bumbo mantém a seção grave. Afora a visível homenagem ao famoso trio de bossa-jazz dos anos 60 comandado pelo pianista Luiz Eça, a sonoridade remete mesmo durante todo o disco fortemente à Azimuth, outra grande banda da mistura de jazz e MPB, porém esta, já setentista, com o espírito fusion de então.

Aliás, a arquitetura timbrística de “Sambadi” respira o tempo todo a Rio de Janeiro e a essa atmosfera da Azimuth, e isso por dois motivos. Primeiro, pelo arranjo e produção serem do próprio Lucas Arruda, que encerra todas as músicas do disco dentro do mesmo conceito sonoro: bateria e/ou percussão e/ou programação de ritmo (uma ou duas juntas no máximo), guitarra, baixo, piano elétrico e sintetizador ou Fender Rhodes. Fora um ou outro instrumento ocasional (cavaquinho, violão) ou voz, as texturas do disco são permanentemente essas, o que lhe dá bastante coesão. E essa sonoridade é muito Azimith, principalmente no mitológico "Light as a Feather", de 1979, porém adicionando a isso a limpidez dos estúdios digitais de hoje. Segundo: quem executa tudo é apenas um músico: o próprio autor – fora a bateria, que também vêm de alguém do sangue Arruda. E com tamanho talento, tudo funciona redondinho. “Batuque” (outra referência a seus mestres, nesse caso, o clássico “Batucada Surgiu”, dos irmãos Valle, de 1967) acelera o ritmo mas mantém a mesma malemolência e elegância. Na percussão, além da bateria, um agogô joga o ouvinte pra dentro de um terreiro de samba. Nesta, Lucas investe em solos não só de seus teclados, mas também da guitarra, tudo sob uma linha de baixo 4/4 maravilhosa a la Ron Carter que lembra as realizadas pelo baixista norte-americano nas memoráveis gravações com os brasileiros Airto Moreira, Tom Jobim e Hermeto Paschoal.

A black music ganha um preito especial em “Who’s that Lady”, de autoria de O'Kelly Isley, do grupo soul norte-americano Isley Brothers, das poucas cantadas do disco. Clima sensual e charmoso nesse AOR que podia rodar em qualquer rádio retrô tipo Continental que os desavisados achariam que foi gravada nos anos 70. Sem percussão, apenas no piano elétrico e sintetizador, “Rio Afternoon”, na sequência, é quase uma vinheta atmosférica como a inicial “Physis”, demarcando agora o começo de uma nova seção do disco, como se o CD tivesse o lado B do vinil. Essa segunda parte começa com a também curta “Na Feira”, um baião hi-tech, provando o quanto Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira são sofisticados.

Tudo isso faz cama para a excepcional faixa-título em seus cerca de cinco minutos de puro desenvolvimento de solos e perícia nas linhas de base. O espírito nordestino se mantém na marcação metálica de um triângulo, que vem com os keyboards espaciais do Rhodes e uma rica linha de guitarra ao estilo Nile Rodgers. Uma programação eletrônica, associada à bateria e a percussões, aponta o ritmo. O baixo, entretanto, é um destaque à parte, denotando o quanto Lucas é ouvinte atento de suas fontes. Com uma letra quase incidental, ele canta versos que mais fazem dar sentido melódico à ideia de “samba de” (“Sambadi balada/sambadi quebrada/ sambadi embolada/ sambadi linha do mar...") do que para inventar poesia. A melodia, swingada e requintada, algo entre o samba e o funk, dá espaço tanto para os solos quanto para floreios dos instrumentos, principalmente da guitarra e do Rhodes.

Outra aberta lembrança à Azimuth, “Carnival” (alusão à “Jazz Carnival”, sucesso da banda de José Roberto Bertrami) põe ainda mais groove no samba. Já “Alma Nova” faz cair novamente o ritmo para aclimatar uma bela bossa-nova romântica, a última com letra de verdade. Lucas canta com leveza e afinação sobre uma batida de violão sincopada, característica do estilo, somada a um acompanhamento na bateria do irmão Thiago digno de um Milton Banana ou um João Palma. O piano e o Rhodes estão ali funcionando no arranjo como integradores da faixa ao restante do repertório mesmo com a estética distinta que a bossa-nova impõe. Para arrematar, uma nova sequência de “Tamba”, finalizando o álbum novamente com um instrumental de alto virtuosismo.

Festejado por gente do calibre de Ed Motta, por quem a admiração é recíproca, o surgimento de Lucas Arruda vem como um raiar de esperança na música brasileira contemporânea tão infestada pelo medíocre, conformada com o mediano e, quando melhor que isso, ainda ditada por artistas de gerações (bem) anteriores. Ironicamente, o que acontece com Lucas Arruda é a repetição do que muitas vezes já se viu em terras tupiniquins: seu trabalho foi apreciado antes no exterior (no caso dele, Europa e Japão) para depois receber atenção aqui. Pouca, diga-se de passagem. E se a galera da MPB pós-bossa-bova está toda na faixa dos 70 anos, o aparecimento de um guri de apenas 32 de idade (30 quando gravou “Sambadi”) é no mínimo alentador. Com uma estreia luminosa como essa isso se torna ainda mais promissor. Neste sentido, não parece coincidência que seu novo CD, lançado em março desse ano (novamente primeiro no exterior) traga um título consideravelmente simbólico: “Solar”.

Lucas Arruda - Sambadi (Radio Edit)
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FAIXAS:
1. Physis - 1:15
2. Tamba, Pt. 1 - 7:10
3. Batuque - 5:38
4. Who's That Lady (O'Kelly Isley) - 3:40
5. Rio Afternoon - 1:37
6. Na Feira - 1:29
7. Sambadi - 5:18
8. Carnival - 3:30
9. Alma Nova (Arruda/Fabricio Di Monaco) - 5:33
10. Tamba, Pt. 2 - 4:41

todas as composições de autoria de Lucas Arruda, exceto indicadas.
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OUÇA O DISCO








terça-feira, 22 de abril de 2014

Os 15 Melhores Discos Brasileiros de Música Instrumental

Hermeto Paschoal, presente em 3 discos da lista,
"Em Som Maior", "tide" e o seu, "Hermeto".
Nessas brincadeiras diletantes de criar listas sobre os mais diferentes temas musicais nas redes sociais (10 melhores show assistido no Teatro da Ospa, 10 melhores discos de jazz da ECM, 10 melhores músicas contra a ditadura militar, 10 músicas chatas do Chico Buarque, 10 melhores discos de soul music, e por aí vai) fui instigado a montar uma que, num primeiro momento, titubeei. “Será que eu saberia compor uma com esse tema?”, pensei. Tratava-se do “Melhor Disco Instrumental de Música Brasileira”. Mesmo com meu conhecimento musical, que não é pouco, teria eu embasamento suficiente para criar uma lista interessante e, além disso, suficientemente informada a esse respeito? Pois, para minha própria surpresa, a lista saiu, e bem simpática, diga-se de passagem. Além de não se prender a um estilo musical específico (o que se chamaria burramente de “música instrumental brasileira” pura), típico de minha forma de enxergar a música e a arte, acredito que minha listagem não ficou pra trás em comparação a de outros que se empolgaram e publicaram as suas também.
Claro que tem muita coisa que não consta na minha lista que vi na de outros, pois certamente ainda tem muito o que se conhecer dentro do mar de maravilhas sonoras que existe. Raul de Souza, Barrosinho, Os Cobras, Victor Assis Brasil, Djalma Correa e Edison Machado, por exemplo, nem cito, pois não tive o prazer ainda de conhecer seus trabalhos a fundo ou ponto de saber selecionar-lhes um disco representativo. Mas acho que, afora o gostoso dessa prática quase infantil de elencar preferências, tais lacunas são justamente o papel dessas listas: abrir novos paradigmas para que novas revelações se deem e se passe a conhecer aquele artista ou banda que, quando se ouve pela primeira vez, se pensa com surpresa e excitação: “Cara, como que eu nunca tinha ouvido isso?!” Se algum dos títulos que enumero causar essa sensação nos leitores, já cumpri meu papel.

Aí vão, então os meus 15 discos preferidos da música brasileira instrumental, mais ou menos em ordem:


1 – “Maria Fumaça”, da Banda Black Rio (1977)


2 – “Coisas“, do Moacir Santos (1965)
3 – “A Bed Donato”, do João Donato (1970)
4 – “Wave”, do Tom Jobim (1967)
5 – “Em Som Maior”, da Sambrasa Trio (1965)


6 – “Revivendo”, do Pixinguinha e os Oito Batutas (1919-1923 – coletânea de 1895)
7 – “O Som”, da Meirelles e os Copa 5 (1964)
8 – “Donato/Deodato”, do João Donato e Eumir Deodato (1973)
9 – “Sanfona”, do Egberto Gismonti (1981)
10 – “Light as a Feather”, da Azymuth (1979)
11 – “Jogos de Dança”, do Edu Lobo (1982)
12 – “Opus 3 No. 1”, do Moacir Santos (1968)
14 – “Tide”, do Tom Jobim (1970)


15 – “Hermeto”, de Hermeto Paschoal (1971)