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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Depeche Mode - "Violator" (1990)



"Deixe-me te mostrar o mundo em meus olhos"
da música "World in my Eyes"


Banda frequentemente subestimada por ser, equivocadamante, incluída num rol de grupos oitentistas de synth e technopop que simplesmente ligavam as 'máquinas' e deixavam as coisas acontecer, o Depeche Mode, indubitavelemente se distanciava desta turma por virtudes notórias e superiores sobretudo no que dissesse respeito às composições. Com um tecladista e compositor altamente qualificado, diferenciado e criativo, Martin L. Gore; um vocalista de interpretações sensíveis e precisas, com um vocal grave e bem empostado, Dave Grahan; com letras intimistas, profundas e inteligentes; e composições muitíssimo elaboradas, bem estruturadas e sofisticadas; fazia um pop eletrônico que trazia em seu rastro ainda ares do pós-punk e influências muito vivas do chamado gótico do início dos anos 80.
"Violator" de 1990, o oitavo trabalho da banda, é um daqueles discos, literalmente, de marcar época, servindo como referência na sua linguagem, na sua proposição e no contexto musical e artístico daquela transição de décadas.
O disco foi muito bem recebido pelo público e emplacou uma série de hits, entre eles "World in My Eyes" um pop sombrio impecável que abre o disco; a ótima "Enjoy the Silence" mais embalada e gostosa de dançar; "Policy of Truth", composição interessantíssima e igualmente excelente; e "Personal Jesus", com sua base-riff marcante, buscada sutilmente do country, simplesmente uma das grandes músicas da história, sendo multi-reverenciada por diversos artistas, tendo inclusive regravações bem bacanas de Marilyn Manson e Johhny Cash.
Das menos conhecidas, a lenta e viajante "Sweetest Perfection" é uma picada na veia; "Clean", mesmo pesada, densa, tenta ser uma luz na escuridão; e a belíssima "Blue Dress", que lembra um pouco as composições western de Enio Morricone é uma das minhas favoritas.
Depeche Mode, provavelmente junto com o New Order e algumas outras poucas 'boas almas' do techno synth ou similares naqueles idos anos 80, representaram a prova de que podia haver vida inteligente no pop e que era possível fazer música eletrônica de qualidade, e "Violator" é inegavelmente um dos grandes símbolos disso.
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FAIXAS:
1."World in My Eyes"
2."Sweetest Perfection"
3."Personal Jesus"
4."Halo"
5."Waiting for the Night"
6."Enjoy the Silence"
7."Policy of Truth"
8."Blue Dress"
9."Clean"

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Ouça:
Depeche Mode Violator


Cly Reis

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Johnny Cash - "American IV - The Man Comes Around" (2003)



"Nenhuma canção está segura comigo"
Johnny Cash


Depois da fama, dos dramas, do auto-exílio, do ostracismo e de sua redescoberta, aos 70 anos de idade, Johnny Cash conseguia se reinventar e recriar uma série de canções populares, conferindo-lhes de tal modo, nova vida e personalidade a ponto de soarem melhores que as originais ou fazer parecerem suas. Muito disso deveu-se ao olho perspicaz, ao ouvido afiado e às mãos habilidosas na mesa de som de Rick Rubin, produtor consagrado que entrou em estúdio com o Homem de Preto, sugeriu músicas para o repertório e deixou que o velho cantor country-rock colocasse sua alma naquelas canções, naquele que era o quarto disco da série que Cash gravara pela American Records, trazendo-o de novo à evidência depois de algum tempo renegado pelas gravadores.
Em “American IV – The Man Comes Around”, Cash, acompanhado de seu violão, com sua voz quase macabra, gravava Sting, Hank Williams, Beatles e coisas mais improváveis como Depeche Mode e Nine Inch Nails. O resultado é um disco incrível, impecável, emocionante. Uma das melhores coisas feitas nos últimos 30 anos.
“The Man Comes Around”, a música que abre o disco, abre também o "Madrugada dos Mortos" e não poderia ser mais apropriada para um filme como aquele, uma vez que, aliada à voz sinistra do cantor, a letra é absolutamente apocalíptica prevendo um trágico fim dos tempos.
Johnny Cash consegue melhorar consideravelmente a insossa “Bridge Over Trouble Water” de Simon e Garfunkel, conferindo-lhe mais sentimento, num belíssimo dueto com PJ Harvey; dá a “versão definitiva” para a balada assassina “I Hung My Head” de Sting, como reconhece o próprio autor; e ‘apropria-se’ de “In My Life” dos Beatles como se nunca tivesse existido uma versão original. Além disso, com a ajuda de Rubin, faz a leitura correta de “Personal Jesus” do Depeche Mode descortinando exatamente todo a raiz country já existente originalmente nela, proporcionando outra versão matadora.
Revitaliza velhas canções suas como “Give My love To Rose”, “Tear Stained Letter” e dá arranjos pessoais e especiais a canções tradicionais americanas como “Sam Hall” e Danny Boy”, dotando-as de novas personalidades com sua interpretação singular.
Mas o grande momento do disco e a chave de ouro para o fim de uma carreira e de uma vida é a versão de “Hurt” do Nine Inch Nails. Nela Cash põe toda a emoção de uma vida. Parece colocar ali todas as amarguras, as perdas as tristezas, tamanha força da interpretação. Ex-dependente, Cash canta a letra de Trent Reznor sobre o vício em drogas com uma sinceridade comovente numa versão que é tão definitiva a ponto de o próprio autor reconhecer que a música deixou de ser dele.
 “Americans IV” foi o último disco de Johnny Cash, que felizmente, apesar de toda uma vida turbulenta de altos e baixos pessoais e profissionais, teve em seu último momento ainda mais um grande disco e o devido reconhecimento a seu talento e importância no universo artístico.
O trabalho com o produtor Rick Rubin, que de certa forma, trouxe Johnny Cash de volta ao mundo, aparece e é muito bem retratado na história em quadrinhos "Johnny Cash, uma Biografia", de Reinhard Kleist, excelente registro da carreira do cantor, ilustrando toda a vida do artista com um roteiro muito bem amarrado e um trabalho gráfico de primeira qualidade. Assim como o disco, vale a pena ter.

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FAIXAS:
01.The Man Comes Around [J.Cash] 4:26
02.Hurt [T.Reznor] 3:38
03.Give My Love To Rose [J.Cash] 3:28
04.Bridge Over Troubled Water [P.Simon] 3:55
05.I Hung My Head [Sting] 3:53
06.First Time Ever I Saw Your Face [MacColl] 3:52
07.Personal Jesus [M.Gore] 3:20
08.In My Life [Lennon/McCartney] 2:57
09.Sam Hall [trad.arr.J.Cash] 2:40
10.Danny Boy [trad.arr.J.Cash]3:19
11.Desperado [Frey/Henley] 3:13
12.I'm So Lonesome I Could Cry [Williams] 3:03
13.Tear Stained Letter [J.Cash] 3:41
14.Streets Of Laredo [trad.arr.J.Cash] 3:33
15.We'll Meet Again [Charles/Parker] 2:58

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vídeo de "Hurt", Johnny Cash

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Ouça:

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OS 100 MELHORES DISCOS DE TODOS OS TEMPOS

Coloquei no blog o primeiro da minha lista do melhores álbuns de todos os tempos e então agora resolvi listar o resto.
Sei que é das tarefas mais difíceis e sempre um tanto polêmica, mas resolvi arriscar.
Até o 10, não digo que seja fácil, mas a concepção já está mais ou menos pronta na cabeça. Depois disso é que a gente fica meio assim de colocar este à frente daquele, tem aquele não pode ficar de fora, o que eu gosto mais mas o outro é mais importante e tudo mais.
Mas na minha cabeça, já ta tudo mais ou menos montado.
Com vocês a minha lista dos 100 melhores discos de toda a história:



1.The Jesus and Mary Chain “Psychocandy”
2.Rolling Stones “Let it Bleed”
3.Prince "Sign’O the Times”
4.The Velvet Underground and Nico
5.The Glove “Blue Sunshine”
6.Pink Floyd “The Darkside of the Moon”
7.PIL “Metalbox”
8.Talking Heads “Fear of Music”
9.Nirvana “Nevermind”
10.Sex Pistols “Nevermind the Bollocks"

11.Rolling Stones “Exile on Main Street”
12.The Who “Live at Leeds”
13.Primal Scream “Screamadelica”
14.Led Zeppellin “Led Zeppellin IV
15.Television “Marquee Moon”
16.Deep Purple “Machine Head”
17.Black Sabbath “Paranoid”
18.Bob Dylan “Bringing it All Back Home”
19.Bob Dylan “Highway 61 Revisited”
20.The Beatles “Revolver”
21.Kraftwerk “Radioactivity”
22.Dead Kennedy’s “Freshfruit for Rotting Vegettables”
23.The Smiths “The Smiths”
24.The Stooges “The Stooges”
25.Joy Division “Unknown Pleasures”
26.Led Zeppellin “Physical Graffitti
27.Jimmy Hendrix “Are You Experienced”
28.Lou Reed “Berlin”
29.Gang of Four “Entertainment!”
30.U2 “The Joshua Tree”
31.David Bowie “The Rise and the Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”
32.David Bowie “Low”
33.My Bloody Valentine “Loveless”
34.The Stone Roses “The Stone Roses”
35.Iggy Pop “The Idiot”
36.The Young Gods “L’Eau Rouge”
37.The 13th. Floor Elevators “The Psychedelic Sounds of The 13th. Floor Elevators”
38.The Sonics “Psychosonic”
39.Ramones “Rocket to Russia”
40.The Beatles “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”
41.PIL “Album”
42.REM “Reckoning”
43.Love “Forever Changes”
44.Madonna “Erotica”
45.Grace Jones “Nightclubbing”
46.Pixies “Surfer Rosa”
47.Pixies “Doolitle”
48.Rolling Stones “Some Girls”
49.Michael Jackson “Off the Wall”
50.Michael Jackson “Thriller”
51.Beck “Odelay”
52.Nine Inch Nails “Broken”
53.The Fall “Bend Sinister”
54.REM “Green”
55.Neil Young and the Crazy Horse “Everybody Knows This is Nowhere”
56.Kraftwerk “Trans-Europe Expreess”
57.The Smiths “The Queen is Dead”
58.New Order “Brotherhood”
59.Echo and The Bunnymen” Crocodiles”
60.Prince “1999”
61.Morrissey “Viva Hate”
62Iggy Pop “Lust for Life”
63.Pixies “Bossanova”
64.Chemical Brothers “Dig Your Own Hole”
65.Prodigy “Music For Jilted Generation”
66.Van Morrisson “Astral Weeks”
67.Pink Floyd “Wish You Were Here”
68.Muddy Waters “Electric Mud”
69.Sonic Youth “Dirty”
70.Sonic Youth “Daydream Nation”
71.Nirvana “In Utero”
72.Björk “Debut”
73.Nirvana “Unplugged in New York”
74.Björk “Post”
75.Jorge Ben “A Tábua de Esmeraldas”
76.Metallica ‘Metallica”
77.The Cure "Disintegration"
78.The Police ‘Reggatta de Blanc”
79.Siouxsie and the Banshees “Nocturne”
80.Depeche Mode “Music for the Masses”
81.New Order “Technique”
82.Ministry “Psalm 69”
83.The Cream “Disraeli Gears”
84.Depeche Mode Violator”
85.Talking Heads “More Songs About Building and Food”
86.The Stranglers “Black and White”
87.U2 “Zooropa”
88.Body Count “Body Count”
89.Massive Attack “Blue Lines”
90.Lou Reed “Transformer”
91.Sepultura “Roots”
92.John Lee Hooker “Hooker’n Heat”
93.The Cult “Love”
94.Dr. Feelgood “Malpractice”
95.Red Hot Chilli Peperrs “BloodSugarSexMagik”
96.Guns’n Roses “Appettite for Destruction”
97.The Zombies “Odessey Oracle”
98.Johnny Cash “At Folson Prison”
99.Joy Division “Closer”
100.Cocteau Twins “Treasure”

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Música da Cabeça - Programa #67


Poucos fizeram cinema com tamanha beleza como quem compõe uma ária de Mozart. Ingmar Bergman é um deles. No centenário de nascimento do mestre sueco, o Música da Cabeça pontua a importância de sua obra, mas não deixando, entretanto, de trazer várias outras coisas. Tem bastante rock, dos brasileiros Fausto Fawcett, Legião Urbana e RPM até estrangeiros como The Pogues, Pink Floyd, Depeche Mode e R.E.M. Ainda, um “Palavra, Lê” e um “Sete-List” muito especiais, acreditem. Vai ser como assistir um filme do Bergman: senta no sofá não arreda mais pé! Começa às 21h, na tela da Rádio Elétrica, antes da Hora do Lobo. Produção, apresentação e projeção: Daniel Rodrigues.


Rádio Elétrica:

quinta-feira, 25 de julho de 2013

As 20 Melhores Músicas de Rock dos Anos 90

Terá sido "Smells Like Teen Spirit"
a melhor música dos anos 90?
Reouvindo uma das músicas que mais gosto do Nirvana, ocorreu-me: que outras canções de rock da década de 90 competiriam com ela? Já havia me batido essa curiosidade ao escutar outras obras da mesma época, mas desta vez a proposição veio com maior clareza de resolução. A música referida é “Serve the Servants”, que Cobain e cia. gravaram no último disco de estúdio da banda antes da morte do compositor e vocalista, o memorável “In Utero”, de 1993. Aí, interessou-me ainda mais quando percebi que o mesmo grupo, referência do período, encabeçaria a seleção. Pus-me, então, à gostosa prática de inventar uma lista: quais os 20 maiores sons de rock ‘n’ roll dos anos 90? Como critério, estabeleci que valem só composições escritas na década mesmo e sem produções contemporâneas de roqueiros veteranos, como Iggy Pop (“To Belong” podia tranquilamente vigorar aqui), The Cure (“Fascination Street”, que desbancaria várias) ou Jesus and Mary Chain (“Reverance”, como diz a própria letra, matadora). Quanto menos competir com versões definitivas para músicas mais antigas, como a de Johnny Cash para “Personal Jesus”, do Depeche Mode, ou a brilhante “The Man Who Sold the World” de David Bowie pelo Nirvana, em seu "MTV Unplugged in New York" .
Esta lista vem se juntar com outras que o clyblog  já propôs aqui (inclusive, a uma não de músicas, mas de álbuns dos anos 90) e que, como qualquer listagem que lida com gostos e preferências, é apenas uma janela (aberta!) para que outras elencagens sejam propostas. Querem saber, então, o meu ‘top twenty’ do rock noventista? Aí vai – e com muita guitarrada e em volume alto, como sempre será um bom e velho rock ‘n’ roll:

1 – “Smells Like Teen Spirit” – Nirvana (1991)


2 – “Lithium” – Nirvana (1991)
3 – “Unsung” – Helmet (1992)
4 – “Only Shallow” – My Bloody Valentine (1991)
5 – “Paranoid Android” – Radiohead (1992)
6 – “Gratitude” – Beastie Boys (1992)



7 – “All Over the World” – Pixies (1990)
8 – “Enter Sandman” – Metallica (1991)
9 – “Eu Quero Ver o Oco” – Raimundos (1996)
10 – “Wish” – Nine Inch Nails (1991)
11 – “Kinky Afro” – Happy Mondays (1990)
12 – "There Goes the Neighborhood" – Body Count (1992)
13 – “N.W.O.” – Ministry (1992)
14 - "Suck My Kiss" – Red Hot Chilli Peppers (1991)
15 - “Serve the Servants” – Nirvana (1996)
16 – "Jeremy" – Perl Jam (1991)
17 - “Army of Me” – Björk (1995)
18 - “Govinda” – Kula Shaker (1995)
19 - “Da Lama ao Caos” – Chico Scince e Nação Zumbi (1994)
20 - "Dirge" – Death in Vegas (1999)




quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Iron Maiden - "Piece of Mind" (1983)





“Voe, pelo seu caminho, como uma águia
Voe tão alto como o sol
No seu caminho, como uma águia
Voe, e toque o sol”
"Flight of Icarus"



"A Hard Day's Night" dos Beatles, "The Head on the Door" do The Cure, "Machine Head" do Deep Purple, Electric Café do Kraftwerk, "Violator" do Depeche Mode e outros discos possuem a mesma característica, quero ver se vocês adivinham... Mais um tempinho... Bom, vou dizer hein... Todos estes discos são discos de discografia normal de suas bandas mas de tantas músicas boas e icônicas para suas respectivas bandas parecem um "The Best Of...".

E este é o caso deste disco, "Piece of Mind"(1983), do Iron Maiden, banda que na época eu chamava assim e no final do texto explico como chamo agora. Estava eu na gloriosa Galeria Chaves, aqui em Porto Alegre, quando vi uma camiseta dos Replicantes na Discoteca e pedi dinheiro para minha mãe e ela me deu um pouco mais para comprar a camiseta e dava para mais um disco. Comprei este disco pela capa mesmo e pensei “o que esta múmia (mais tarde viria a saber que é o mascote da banda) com camisa-de-força está fazendo nesta capa ?”. Foi meu primeiro disco comprado com o livre arbítrio (Michael Jackson "Thriller", Ultraje a Rigor e As Aventuras da Blitz ganhei de presente).

Cheguei em casa, abri minha vitrola laranja portátil da Philips e coloquei o disco para tocar. E daí a coisa toda muda de figura. Conhecia através do metal e tinha agora meu primeiro disco de Rock. Li, reli, revirei o encarte e fiquei impressionado com a banda olhando o cérebro na mesa em uma foto. Comecei a comprar todos os discos do Iron Maiden desde então e tive todos os LP´s até o "Seventh Son". Depois veio a era do CD e os discos foram se perdendo.

Clássicos do metal como 'Where Eagles Dare", "Flight of Icarus", "Die With Your Boots On" (com uma risadinha bem sem vergonha do Dickinson pelo meio da música), e a inesquecível e gloriosa "The Trooper" que eles tocam em todo show (seria ela a "Satisfaction" do Iron Maiden ? Pode ser hein...). Foi neste disco que pela primeira vez ouvi uma frase gravada ao contrário em um disco. A bem da verdade o Lado B do disco prenuncia o que viria a ser seu próximo trabalho, o "Powerslave", com músicas não tão mais empurradas no triunvirato formado por 2 guitarras e pelo baixo do dono da banda Steve Harris. Exceção é a maravilhosa "Sun And Steel" que é uma daquelas pérolas que somente os fãs mesmo conhecem e dão o valor.

A propósito disso, cara que conhece as músicas do Iron Maiden aos poucos vai ficando íntimo da banda e vai deixando o “Maiden” de lado, chamado carinhosamente de Iron. E tu, vais te arriscar a escutar este disco? Olha que daqui a pouco tu podes estar chamando os guris de Iron.

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FAIXAS:
  1. Where the Eagles Dare
  2. Revelations
  3. Flight of Icarus
  4. Die With Your Boots On
  5. Ther Tropper
  6. Still Life
  7. Quest of Fire
  8. Sun and Steel
  9. To Tame a Land

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Ouça:






sábado, 30 de setembro de 2023

Santigold - "Santogold" (2008)

 





"Apesar de ser o seu primeiro álbum, 
parecia que ela já tinha caído na terra 
como uma superestrela totalmente formada. 
Quero dizer, de onde é que ela veio? 
Como é que alguém pode abranger 
todos os elementos mais excitantes 
do eletrônico, do punk, da new-wave e do reggae 
de forma tão fácil? 
Estas melodias fantásticas, 
e ainda fazer com que pareça que 
mal pestanejou enquanto as compunha.
Ela parecia ser a personificação 
do termo música do futuro 
e a síntese do cool."
Mark Ronson,
produtor musical


A música pop do século XXI, cá entre nós, não é nada, assim, de entusiasmar, não é mesmo? Tirando quem pintou da metade para o final dos anos 90 e entrou no novo século ainda com qualidade, como Björk, Beck, Daft Punk, por exemplo; o pessoal dos anos 80 que tinha uma fórmula eficiente edificada a partir do punk e da ascensão dos sintetizadores, como Depeche Mode, Pet Shop Boys e New Order, que sobreviveram, persistiram e continuaram sendo relevantes; os consagrados, os símbolos, ícones do pop, Prince, Michael Jackson e Madonna, que, influentes e insubstituíveis, continuaram dando as cartas mesmo tempo depois de seus respectivos auges; e gênios, como David Bowie, que conseguiam se reinventar e ainda dar grande contribuição para uma cena pouco inspirada; os anos 2000, de um modo geral, não nos apresentavam nada de especial. De vez em quando até aparecia uma coisa boa, uma Amy Winehouse, por exemplo, mas foi só. E para piorar, mal nos deu o gostinho do seu talento e nos deixou cedo. De resto, muita bunda, muita repetição de fórmula, batidas eletrônicas sempre muito parecidas, muito autotune, rappers mal-encarados, mas nada de novo ou de original.

Mas de vez em quando, mesmo em meio a toda essa pobreza, o universo pop nos presenteia com alguma coisa que vale a pena. Às vezes alguém com talento, criatividade e boas influências nos surpreende e traz alguma coisa que, se não é nova, original, é, no mínimo, interessante. Santigold, multiartista norte-americana, nos apresentava ali, quase no final da primeira década do século XXI, algo um pouco mais que interessante. Seu álbum de estreia "Santogold" (2008) é uma preciosidade repleta de muito do melhor que a música negra pode oferecer. "Santogold" é rhythm'n blues, é soul, é rap, é funk, é raggae, é dub, é blues, é afro. É animado, é melancólico, é seco, é irreverente, é contagiante. Tem glamour, tem força, tem ousadia. Hip-hop, pós-punk, eletrônico, disco, rock, new-wave... Aquele tipo de disco que possui todos os atributos de uma grande obra pop!

"L.E.S. Artistes", a abertura e um dos singles do álbum, já é o cartão de visita mostrando que Santigold está disposta a frequentar todos os terrenos possíveis: inicialmente um pop minimalista bem compassado, marcado na batida, a primeira faixa, ganha força em guitarras no refrão para culminar num pop-rock poderoso. "You'll Find Away", a segunda, é uma típica new-wave elétrica e empolgante; o reggae eletrônico, repleto de elementos e nuances, "Shove It" baixa a rotação das duas anteriores com muito estilo, mas a eletrizante "Say Aha", com sua base agressiva de baixo. logo põe tudo pra cima de novo.

"Creator", o primeiro single do álbum é uma "loucura" maravilhosa! Uma percussão tribal, literalmente selvagem, grunhidos, efeitos eletrônicos alucinados, ecos, um vocal enlouquecido e, dentro de tudo isso, um refrão incrivelmente eficaz. 

"My Superman", outra das joias do disco, é construída sobre, nada mais nada menos, que um sampler de "Red Light", de Siuoxsie and The Banshees, adicionado à sensualidade da nova canção, toda a atmosfera sombria do gótico oitentista.

A propósito de darkismo, "Starstruck", embora mais encaixada na linguagem sonora atual, do hip-hop e afins, também remete ao som do pós-punk dos anos 80. Mas aí, mudando radicalmente, temos "Lights Out", um pop radiofônico saborosíssimo, e a irresistível "Unstoppable, um ragga eletrônico dançante, ao ritmo do qual é impossível ficar parado. Imparável!

A elegante "I'm a Lady" encaminha o final do disco que, por fim, encerra-se com "Anne", um synth-popp sofisticado que só confirma a riqueza da experiência vivida nos últimos 40 minutos. Um baita disco!

Detalhe para a capa. Mais um destaque: uma colagem "tosca" quase ao estilo punk, com a artista expelindo purpurina dourada pela boca.

Vomitando "glamour". 

Precisa dizer mais?

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FAIXAS:

  1. L.E.S. Artistes 3:25
  2. You'll Find A Way 3:01
  3. Shove It 3:46
  4. Say Aha 3:35
  5. Creator 3:33
  6. My Superman 3:01
  7. Lights Out 3:13
  8. Starstruck 3:55
  9. Unstoppable 3:33
  10. I'm A Lady 3:44
  11. Anne 3:29
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Ouça:




por Cly Reis

segunda-feira, 11 de maio de 2020

As 5 melhores do Kraftwerk na escolha dos fãs - Homenagem a Florian Schneider

Florian Schneider, que morreu no último dia 6, foi, tanto quanto Ralf Hütter é, genial. Embora muito se hibridize a atuação de cada um na banda, não só pela coautoria de tudo, pela imagem/estética que se tem deles ou por conta da postura low profile e até arredia diante da mídia (principalmente de Florian), diz que é Florian a verdadeira cabeça da Kraftwerk.

Eberhard Kranemann, um dos integrantes da correligionária de krautrock Neu!, é categórico: “Para mim, Florian foi o fundador do Kraftwerk. Ele era a pessoa mais importante do Kraftwerk. Depois, as coisas mudaram, e eu tenho a impressão de que Ralf Hütter passou a ser o líder da banda, mas no começo a ideia toda foi do Florian”. Se Ralf passou a ter maior protagonismo no desenrolar da história de quase 50 anos da banda, Florian foi quem, por exemplo, construiu o primeiro drum machine (a partir de uma unidade de ritmo de um órgão!), a que se escuta em “Tanzmuzik”, de 1973, quando, a partir de então, a bateria tal como se conhecia passou a virar antiguidade. Mais do que isso: ele, Ralf e seus séquitos nos fizeram identificar/assimilar que som emite um computador. O imaginário da humanidade entende essa gênese sonora por causa deles. Isso não merecia um Grammy de Música, mas um Nobel de Ciência!

Como “Tanzmuzik”, poderia lançar aqui como exemplo inúmeras outras de autoria dele, esse esteta da era moderna. Várias da Kraftwerk, do "Radio-Activity", do "Trans-Europe Express", do "Authoban", do "The ManMachine". A precisa homenagem do Bowie a eles e a ele, "V-2 Schneider", também caberia. Mas não deixo só a mim esta tarefa. Convido fãs de Kraftwerk para escolherem a suas 5 preferidas, o que talvez nos faça conseguir exprimir um pouco da magnitude da genial obra de Florian Schneider-Esleben .

Daniel Rodrigues





"A Kraftwerk foi uma banda que eu conheci bem no momento que eu estava curtindo essas bandas antigas e mais experimentais, como New Order e Depeche Mode. A primeira música que eu ouvi foi 'The Robots' e vi o clipe naquele momento. Achei genial. Daí baixei o álbum deles chamado 'The Mix', que me marcou bastante. Hoje em dia as músicas todas têm elementos eletrônicos e, basicamente, eles foram os precursores nisso. Daí fico imaginando o pessoal do final dos anos 70 ouvindo Kraftwerk e pensando: 'Ouvir isso é dar um pulo para o futuro!' kkk."
- “Radio-Activity” (“Radio-Activity”, 1975)
- “Trans-Europe Express” (“Trans Europe Express“, 1977)
- “The Robots” (“The Man-Machine”, 1978)
- “Computer Love” (“Computer World”, 1981)
- “Pocket Calculator” (“Computer World”, 1981)




"Assisti à apresentação que o grupo Kraftwerk fez no Cais do Porto, aqui no Rio, em 2004. Foi o grande show da minha vida! Assisti Florian e Ralf fabricarem ali, aos meus olhos, o que definiu todo um mover musical posterior dentro do pop. Ali, bem na minha frente! Aquela apresentação me marcou para toda a vida."
- “Computer World” (“Computer World”, 1981)
- “Home Computer” (“Computer World”, 1981)
- “Numbers” (“Computer World”, 1981)
- “Tour de France” (single “Tour de France”, 1983, e “Tour de France Soundtracks”, 2003)
- “The Telephone Call” (Electric Café”, 1986)



"Muito triste o que aconteceu, mas faz parte não é? Difícil ver nossos heróis indo embora. Cinco músicas de uma das minhas bandas preferidas!"

- “Kometenmelodie II“ (“Autobhan”, 1974)
- “Antenna“ (“Radio-Activity”, 1975)
- “The Man-Machine“ (“The Man-Machine”, 1978)
- “Trans Europe Express“ 
- “Musique Non Stop” (Electric Café”, 1986)




"Eu conheci o Kraftwerk graças ao funk carioca! Viu como o funk salva?! Na verdade, conheci Africa Bambaata e Kraftwerk nos programas de funk da rádios Imprensa e Rádio 98. Entonces, eles fazem parte da minha vida desde criança, rárá!!  Isso também aconteceu com os desenhos animados e meu caso de amor com o jazz. Essas são as minhas preferidas."
- “The Man Machine” 
- “Computer World”
- “Sex Object” (Electric Café”, 1986)
- “Boing Boom Tschak” (Electric Café”, 1986)
- “Vitamin” (“Tour de France Soundtracks”, 2003)




"Difícil selecionar cinco músicas sendo que, pelo menos, dois álbuns da Kraftwerk são inteiramente indispensáveis: 'Trans-Europe Express' e 'Die Mensch-Maschine', que se tratam de instituições movidas por setores prazerosos que merecem muita atenção e preservação. Nossas sinapses agradecem."
- "Tanzmusik" (“Ralf und Florian” 1973)
- "Radio-Activity" 
- "Europe Endless" (“Trans-Europe Express”, 1977)
- "The Hall of Mirrors" (Trans-Europe Express”, 1977)
- “The Model" e "Neon Lights" (“The Man-Machine”, 1978)



"Minha escuta sempre se encantou com a atmosfera que o Kraftwerk possui. Tudo é  música, inclusive os silêncios e as performances. Tudo está  criado com um propósito . A contribuição é inegável e muito contagiou a todos."
- “Computer World”
- "The Hall of Mirrors"
- "Neon Lights"
- “Tour de France”
- “Kometenmelodie II“



"Curto muito Kraftwerk!"

- “The Model”
- “Autobahn” (“Autobahn”, 1974)
- “Radio-Activity”
- “The Robots”
- “The Hall of Mirrors”



"Impressiona-me que, assim como um Kubrick ou um Tarkovski no cinema, a obra da Kraftwerk é pequena em relação ao tempo de atividade, no caso da banda, quase 50 anos. São apenas 7 discos de músicas inéditas (tirando o de mixes e os ao vivo) e, grosso modo, todos essenciais. Um pouco como fiz lá na adolescência, quando apresentei meu primeiro programa de rádio na antiga Ipanema, em 1995, no saudoso Clube do Ouvinte, seleciono um pouco de cada época da banda para dar esse panorama de 5 faixas. Afinal, considero-lhes tudo essencial."
- “Airwaves” (“Radio-Activity”, 1975)
- “Trans-Europe Express”/ “Metal on Metal” (“Trans-Europe Express”, 1977)
- "Neon Lights"
- “Home Computer”
- "Elektro Kardiogramm" (“Tour de France Soundtracks”, 2003)




"Que tarefa difícil escolher só cinco!!! A gente fica pensando: 'Mas e aquela...', 'E aquela outra...' e 'Como é que aquela outra vai ficar de fora?'. É  um dilema. Esforçando-me, brigando comigo mesmo pra deixar alguma de fora, aí vão minhas cinco."
- “Ruckzuck” (“Kraftwerk”, 1971)
- “Kometenmelodie II“
- “Airwaves”
- “The Model”
- “It's More Fun to Computer” (“Computer World”, 1981)




“O Kraftwerk é mesmo uma raça rara: em uma carreira que se estende por 40 anos*, este é um grupo que nunca gravou um disco ruim sequer. De 1973 em diante, o Kraftwerk desenvolveu um estilo eletrônico único e completamente sedutor, alcançando seu auge em três álbuns essenciais: ‘Trans-Europe Express’, ‘The Man-Machine’ e ‘Computer World’, este último sem dúvida sua melhor definição. Não havendo uma compilação final de maiores sucessos de mercado, eis a seguir meu guia para as músicas* essenciais do Kraftwerk”.
- “Kristallo” (“Ralf und Florian”, 1973)
- “Autobahn” (single “Autobahn”, 1975)
- “Spacelab” (“The Man-Machine”, 1978)
- “Radioactivity” (“The Mix”, 1991)
- “La Forme” (“Tour de France Soundtracks”, 2003)

* Trecho do livro “Kraftwerk Publikation: A Biografia”, de 2012, quando a banda havia completado pouco mais de quatro décadas
** Buckley listou os “20 Bits” clássicos da Kraftwerk. Extraímos dessa lista 5 músicas não mencionadas nas outras listas








terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Dido - "No Angel" (1999)


”E agora a nossa cama está tão fria, sinto minhas mãos vazias. Não tem ninguém para abraçar. E eu posso dormir com quem eu quiser, mas não é a mesma coisa”.
"All You Want", Dido Armstrong



Penso que um álbum pode sair hoje e já ser fundamental, desde que tenha qualidade
 para tal. E penso que este é o caso deste disco de estréia da Dido, "No Angel" . Não que tenha sido lançado ontem, afinal o disco é de 1999 e já tem bons 13 anos e é uma pérola pop pouco conhecida.
Dido neste disco, com a ajuda de sue irmão Rollo (que era do Faithles), conseguiu fazer uma popularização de uma levada inglesa que tem como representente máximo o Portishead, uma batida forte com poucos instrumentos pontuando as músicas.
“Ah, mas a música conhecida era uma da novela O Clone”. Tá e daí, aliás as trilhas sonoras de novela tem um papel muito importante na música no Brasil, visto que não temos a cultura do single, mas isso é outro papo, voltemos ao disco.
O disco começa com a “Here With Me” com uns efeitos que lembram vagamente a trilha do Blade Runner e começa bem, com ela cantando límpido, suave e depois com uma levada bem marcada no violãozinho e um teclado imponente e oitentista que carrega a música nas costas. Aliás, a letra já dá a tônica da dor de cotovelo que é esse disco “I won´t sleep, i can´t breathe until you´re resting here with me”.
É um disco eletrônico / acústico como aponta esta segunda faixa chamada “Hunter”. Aliás tem alguns grandes discos que são gravados com poucos instrumentos, como o da Madonna “American Life” e o do Michael Jackson “Black or White”. Segue o disco com “Don't Think of Me” que é uma música de transição, daquelas que são boas mas nada demais. E agora vem a “música da novela” que é a “My Lover´s Gone” que na época foi muito tocada nas rádios e segue na temática dor de cotovelo “my lover´s gone, his boots no longer by my door”.
Em seguida vem uma a melhor do disco que é “All You Want”, começa devagarzinho com ela cantando, violãozinho, percussão, bateria, baixo e durante a música a moça “abre o pulmão” e mostra seu potencial de cantora. Acho maravilhosa esta parte da letra “All you want is right here in this room, all you want. And all you need is sitting here with you, all you want”. Riquinha, bem lindinha e desesperada...
“Thank you” foi sampleada pelo Eminem para o refrão de sua música “Stan” que despertou a curiosidade de muitas pessoas a saber quem era aquela cantora. As 3 próximas canções. “Honestly On”, “Slide” e “Isobel” (nada a ver com aquela da Björk) são para baixar a rotação do disco, e aumentar a circulação venosa “Se é que você me entende” já disse o glorioso Thunderbird.
Volta para a temática dor de cotovelo com “I'm No Angel” que é baseada em violão e percussão. E o disco finalmente termina com “My Life” em uma levada que poderia estar naquele disco do Depeche Mode, o “Songs of Faith and Devotion”, voz, percussão e teclado terminam bem este disco que não tem grandes momentos, mas tem uma boa ordem de músicas, tem começo, meio e fim.dentro de uma temática coerente que é a de amores complicados.

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FAIXAS:
1."Here With Me" – 04:14
2."Hunter" – 03:57
3."Don't Think of Me" – 04:32
4."My Lover's Gone" – 04:27
5."All You Want" – 03:53
6."Thank You" – 03:37
7."Honestly OK" – 04:37
8."Slide" – 04:53
9."Isobel" – 03:54
10."I'm No Angel" – 03:55
11."My Life" – 03:09

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vídeo de "All You Want", Dido


Ouça:

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Ryuichi Sakamoto - "Beauty" (1989)

 

"O mundo dá adeus comovido a um dos seus maiores músicos."
Caetano Veloso

“O que eu quero fazer agora é música livre das restrições do tempo.”
Ryuichi Sakamoto

Como pode a gente se apegar a alguém que nunca se viu pessoalmente – nem sequer através da distância plateia/palco como se dá a artistas a que se assiste – e que está a quilômetros de ti, noutro país? Neste caso, não somente noutro país, mas ainda mais longe, noutro continente, no outro lado do mundo. No Japão. Ryuichi Sakamoto era, é, como um parente sanguíneo na minha casa. Ele é seguidamente convidado a entrar, sentar-se ao sofá, estender-se na cama, a cozinhar ouvindo música. Sempre aceitou os convites com a gratidão e a sapiência calma dos orientais. Embora toda esta intimidade, obviamente, o parentesco não existe. Nem sequer, como abri dizendo, conheci-o pessoalmente quando em vida - quanto menos conhecemo-nos, de ele e eu reconhecerem-se mutuamente como fazem os próximos. Eu, brasileiro fruto da África e da Europa. Ele, japonês, filho de dinastias orientais longevas.

Então, como se explica tamanha familiaridade, tamanha cumplicidade? Bastam poucas audições de sua grandiosa e universal música para se entender. Afora a proximidade dele com a música daqui do Brasil, a qual não apenas admirava como atuava a se ver pelas parcerias com Caetano Veloso, Arto Lindsay, Marisa Monte, Jacques Morelembaum e outros, a obra de Sakamoto, mesmo as mais identificavelmente orientais, pertencem ao Planeta. Até mesmo quando diversas vezes usou os elementos folclóricos típicos do Japão em sua música, Sakamoto o fez à sua maneira: abarcante, cosmopolita, conectada, democrática, inclusiva. Soava japonês, mas africano, americano, indígena, nórdico. Soava a todos os povos. 

Sakamoto, de fato, são muitos. O Sakamoto do final dos anos 70, que ajudou a cunhar o synth pop e a new wave com a precursora Yellow Magic Orchestra e que tanto inspirou grupos do Ocidente como Cabaret Voltaire, Human Leaugue, New Order, Depeche Mode. O Sakamoto maestro, que regeu a Filarmônica de Tóquio. O Sakamoto dono de uma das discografias mais ecléticas e diversas da música pop, com trabalhos que vão desde o experimental à bossa nova, passando pela eletrônica, o erudito e a trilhas sonoras. O Sakamoto instrumentista, colaborador de obras marcantes do pop-rock, como da Public Image Ltd., David Sylvian, Thomas Dolby e Towa Tei. O Sakamoto que engendrava trabalhos multiplataformas, que cruzavam música, artes visuais e performance. 

"Beauty", seu oitavo disco solo, de 1989, é, afora a própria nomenclatura, um resumo de uma concepção de mundo múltipla, pois humanista e libertária. Gente de todas as nacionalidades tocam em suas 11 faixas. Suíça, Senegal, Brasil, Inglaterra, Japão, Espanha, Jamaica, Índia, Estados Unidos, Burkina Faso, Canadá, Coréia... Sakamoto realizou, com a naturalidade de um mestre sensei, a conjunção difícil da world music, aventada por alguns, mas nem sempre acessível e palatável. "Beauty" aprofunda a experiência lançada em “Neo Geo”, seu álbum anterior, convidando para este passeio sonoro músicos da mais alta qualidade e diferentes vertentes, como o icônico beach boy Brian Wilson, o veterano “The Band” Robbie Robbertson, a poesia ancestral de Youssou N'Dour, os percussionistas africanos Paco Yé, Seidou "Baba" Outtara e Sibiri Outtara, os jazzistas Mark Johnson e Eddie Martinez e mais uma turba de conterrâneos arraigados na música tradicional oriental. 

Do Brasil, especialmente, Arto toca guitarra, canta e coassina com ele cinco faixas, entre elas as tocantes “A Pile Of Time”, com o som característico do gayageum coreano; “Rose”, com percussões de ninguém menos que Naná Vasconcelos, e a linda “Amore”, que além da sonoridade arábica do shekere e da batida especial do talking drum, tem contracantos de N'Dour sobre os simples versos cantados pelo próprio Sakamoto: “Good morning/ Good evening/ Where are you?” De arrepiar.

Os encantos não param por aí. O craque Robert Wyatt empresta sua dolorida voz para Sakamoto versar Rolling Stones em "We Love You", que tem ainda as contribuições do congolês Dally Kimoko na guitarra, do britânico Pino Palladino no baixo, do porto-riquenho Milton Cardona no shekere e de coro multiétnico encabeçado por Wilson, Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko e o próprio Sakamoto. Tem ainda “Calling From Tokyo”, a faixa de abertura, um art-pop com a bateria jamaicana de Sly Dunbas e a tabla indiana de Pandit Dinesh; a espetacular “Diabaram”, com a voz penetrante de N'Dour, que faz remeter a uma humanidade pacífica da Ática-Mãe quiçá perdida; a contemplativa “Chinsagu No Hana”, adaptação de canção tradicional do folclore de Okinawa, assim como “Chin Nuku Juushii”, de “Neo Geo”; “Asadoya Yunta”, cujo inconfundível som do samisém tocado pela japonesa Yoriko Ganeko lhe confere séculos de conhecimento, e “Romance”, totalmente oriental, mas totalmente planetária.

Por essa riqueza toda que a obra de Sakamoto carrega que fico chateado (mas não surpreso) com as manchetes de anúncio de sua morte, ocorrida no último dia 28, aos 71 anos. As notícias de veículos referenciais da imprensa dão conta, em sua maioria, de que: "Morre Ryuichi Sakamoto, célebre compositor que levou o Oscar por 'O Último Imperador'". Ora, Oscar é importante, sim, mas ESSE é o destaque para se falar em Sakamoto?! Pegando-se apenas o cinema, não precisa ser um fã ou profundo conhecedor de Sakamoto para apenas atentar-se a outras trilhas sonoras assinadas por ele e perceber o quanto sua obra se entrelaça com as nossas vidas há décadas, a exemplo de “De Salto Alto”, "Femme Fatale", "O Regresso" e "Black Mirror".

Sakamoto, como Akira Kurosawa, me mostrou há muitos anos que essa dicotomia Orient-Occident, tal o yin-yang taoísta, serve para a geografia ou a estadistas divisionistas. Se Kurosawa quebrou as barreiras ao levar para o cinema do Oriente Shakespeare, Dostoiévski e Gorki, intercambiando, igualmente, a cultura japonesa com o Ocidente, Sakamoto fez, a seu curso, semelhante trajeto. Ao atravessar o Greenwich com sua música, provou que não existem divisões na humanidade. Difícil ensinamento para um mundo tão desigual e superficial... E mais: mostrou que lhe existe, sim, o belo. Sakamoto, esse meu ente que se foi. Mas só de corpo físico. As outras matérias ele generosamente deixou para nós mundanos através dos sons. Por isso, estará sempre presente aqui em casa, pois sabe que a porta está permanentemente aberta para ele entrar com sua beleza e ficar quanto tempo quiser. 


RYUICHI SAKAMOTO 
(1952-2023)



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FAIXAS:
1. "Calling from Tokyo" (Arto Lindsay, Roger Trilling, Ryuichi Sakamoto) - 4:26
2. "Rose" (Lindsay, Sakamoto) - 5:12
3. "Asadoya Yunta" (Katsu Hoshi, Choho Miyara) - 4:35
4. "Futique" (Lindsay, Sakamoto) - 4:09
5. "Amore" (Lindsay, Sakamoto) - 4:55
6. "We Love You" (Mick Jagger, Keith Richards) - 5:16
7. "Diabaram” (Sakamoto, Youssou N'Dour) - 4:13
8. "A Pile of Time" (Lindsay, Sakamoto) - 5:34
9. "Romance" (Kazumi Tamaki, Misako Koja, Yoriko Ganeko, Stephen Foster) - 5:29
10. " Chinsagu no Hana" (Folclore japonês) - 7:26
Faixa Extra da versão CD americana*
11. "Adagio" (Samuel Barber) - 7:47 


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OUÇA O DISCO:


Daniel Rodrigues