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quinta-feira, 14 de março de 2024

"Olha pra Elas", de Tatiana Sager (2023)

 

Um pai com a filha ao colo grita palavras de consolo por detrás da cerca distante alguns metros do prédio onde a esposa, através de uma escura janela, tenta responder. Ela atende imediatamente ao chamado do marido, mas é como se seu grito – diferentemente do dele – não tivesse força suficiente para chegar-lhe de volta. Como se sua insuficiente e combalida voz, cansada de urrar para fora e para dentro de si mesma, já estivesse emudecida de antemão por força da sociedade e da história.

Essa breve descrição da cena inicial do novo documentário da cineasta e jornalista gaúcha Tatiana Sager, "Olha pra Elas", sobre a realidade de mulheres encarceradas, além de tocante como todo o restante da obra, faz-se bastante simbólica no que se refere à condição da mulher – e do homem – no sistema penitenciário brasileiro. Além disso, a cena simboliza também a real antítese daquilo que o filme propõe, de que se volte o olhar àquelas mulheres. Sua invisibilidade significa, na mesma medida, uma não escuta em diversos níveis, do familiar ao social, da Justiça ao Estado. Metaforicamente, até o marido, um ex-detento do Presídio Central, têm voz. Ela, mulher, não.

A estratégia narrativa de Tatiana é pungente e traça o caminho que a cineasta escolhe para, a partir daí, colocar o cinema a serviço da missão de dar voz a quem foi destituída dela. Autora de outros dois documentários fundamentais para a recente cinematografia nacional a respeito do sistema carcerário, "O Poder Entre as Grades", de 2015 (codirigido por Zeca Brito), e "Central – O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil", de 2017 (no qual divide a direção com Renato Dorneles), Tatiana dá continuidade à mesma questão em sua nova produção, porém a aprofunda com um olhar mais acurado e pautado pelo humanismo.

Em "Olha pra Elas", as lentes funcionam como olhos atentos aos sentimentos daquelas que, por ações pessoais ou alheias, cederam ao mundo do crime quase como uma decorrência. As histórias de Adelaide, Tatiana, Tatiane, Naiane e Roselaine, retratadas no filme, têm em comum, além de ser mães e viver longe dos filhos, o de estar aprisionadas por crimes menores, como roubo, furto e tráfico, realidade da maioria das milhares de detentas no país. Entregues a prisões precárias e inadequadas, elas sofrem, principalmente, pelo abandono e pela desestruturação do lar.

A triste realidade de mulheres encarceradas 

Embora a população carcerária feminina brasileira seja a terceira maior do mundo, com cerca de 49 mil mulheres nessa condição, na comparação com os homens o volume é 818 mil vezes menor, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional. Raça, gênero e falta de acesso a condições dignas de cidadania juntam-se para, sobre a égide do machismo, condenar essas mulheres não só às grades, mas à brutal restrição a alternativas sadias quando libertas. Fora do presídio, elas já estão presas antes de serem presas. Assim, condenam-nas duas vezes, pois o afastamento dessa mulher do lar promove outras desestruturações tão graves (fome, abuso, prostituição, violência doméstica, drogadição), que impossíveis de serem estimadas.

O funcionamento machista de um país atrasado socialmente é tamanho que a simples associação da mulher a um homem criminoso é suficiente para puni-la, a se ver pela personagem Clair trazida no filme. Confundida com outra pessoa de mesmo nome, ela foi presa por engano por alarmantes 11 meses. O fato é que não há engano e, sim, um projeto de feminicídio não declarado, mas sorrateiro e perverso, que se deflagra na histórica invisibilidade dos corpos periféricos e marginalizados. Quanto mais femininos.

Inquietante, "Olha pra Elas" guarda semelhança com outro documentário, "O Cárcere e a Rua" (2004), de Liliana Sulzbach. Primeiramente, uma parecença geográfica, uma vez que também se trata de uma produção gaúcha sobre a vida de prisioneiras da penitenciária Madre Pelletier, em Porto Alegre – cenário onde "Olha pra Elas" basicamente se passa. Mas, sobretudo, por um aspecto que não está na tela, porém a tece: a visão feminina sobre uma questão feminina. Assim como fez Liliana em seu filme, Tatiana sensibiliza sua câmera através do exercício da empatia e da identificação. Realidade distante à da própria diretora, mas nem por isso incapaz de torná-la cúmplice e atenta. Numa abordagem mais do que jornalística, e, sim, humanista, "Olha pra Elas" prova que, pelo cinema, é possível enxergar essas sofridas mulheres não com só os olhos, mas com o coração.

texto originalmente publicado no caderno Doc do jornal Zero Hora em maio de 2023

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trailer de "Olha pra Elas", de Tatiana Sager



Daniel Rodrigues

sábado, 9 de março de 2024

“Dias Perfeitos” , de Wim Wenders (2023)



INDICADO A
MELHOR FILME INTERNACIONAL


Teria muito para falar de Wim Wenders, de qualquer filme de sua extensa filmografia, de sua carreira, do namoro de seus filmes com a filosofia, das diversas fases e projetos diferentes, das obras-primas. Mas o que talvez dê mais prazer e uma alegria até ingênua é falar sobre a realização de um filme japonês de Wim Wenders. “Dias Perfeitos” é, acima de tudo, uma dessas delícias que cinéfilos admiram: um filme de um cineasta de um país realizado noutro e com total propriedade. Porque, sim, “Dias Perfeitos” é um filme japonês, produzido com verba japonesa, falado em japonês, com atores japoneses e cheio de referências ao cinema japonês. E um baita de um filme.

“Dias Perfeitos” acompanha com extrema delicadeza a história de Hirayama (Koji Yakusho, lindo e atorzaço), um homem de meia idade reflexivo que vive de forma modesta como zelador e limpando banheiros em Tóquio. Sua rotina é revelada ao espectador através da música que ouve, dos livros que lê e da apreciação das árvores, suas três paixões. À medida que os dias Hirayama avançam, encontros inesperados começam a surgir e passam a revelar um passado escondido, que jogam luz sobre os porquês da solidão, da fuga e da busca de sentido na vida moderna.

Wenders assumidamente faz uma homenagem e referencia seus mestres do Oriente: Akira Kurosawa, Kenji Mizoguchi e, principalmente, Yasujiro Ozu, sua grande paixão talvez apenas equiparável a Michelangelo Antonioni. É do Ozu de “A Rotina Tem seu Encanto” e “Era uma Vez em Tóquio”, cineasta já perscrutado por Wenders no documentário poético “Tokyo-Ga”, de 1985, que ele extrai o senso contemplativo de “Dias...”. Seja na extensão sem pressa do transcorrer das cenas, seja na posição baixa da câmera em determinadas tomadas, quase ao chão, seja na apreciação natural da ação, aproveitando o som direto e sem “interferência” de trilha sonora.

Tomada quase no chão ao estilo Ozu

Por falar em música, aliás, são elas que ajudam a conduzir o filme. Ou melhor: pontuá-lo. A bela seleção de K7s do personagem, a qual ele ouve no carro pelas ruas e avenidas de Tóquio (Otis Redding, Lou Reed, Nina Simone, Patti Smith, só coisa boa) geralmente indo ou voltando do trabalho, demarcam não apenas a busca dele por “dias perfeitos” como, igualmente, o conduzem a praticamente encontrá-los ao final. Como uma trilha que acompanha momentos da vida e traduz emoções. 

Como em “Paris, Texas”, “O Estado das Coisas” e “Além das Nuvens“, Wenders dá ao “decurso do tempo” (para usar outro título de filme seu) a forma e a estética, que se fundem. Mais uma vez captando com muita pertinência o espírito da terra em que se apropriou, o cineasta atribui aos silêncios (o “ma” da cultura oriental) uma função primordial para transmitir sentimentos de culpa, sofrimento, medo, frustração, angústia e, porque não, também de alegria. Em compensação, os diálogos são extremamente bem aproveitados, precisos como um golpe samurai. Vários são realmente tocantes, como o breve reencontro com a irmã abastada e de vida triste, que vai à sua humilde casa resgatar a filha, fugida de casa e de sua realidade para ter alguns dias de harmonia com o tio que tanto gosta.

Hirayama com a sobrinha: momentos
de contemplação e harmonia
A dialética entre o arcaico e o moderno é, contudo, o centro da trama. Isso faz remeter, mais profundamente analisando, a uma forma de se colocar no mundo. O anacronismo do tipo de música e a mídia que Hirayama tanto apreciava é um símbolo de algo em extinção, mas capaz de gerar uma genuína conexão do ser humano com a arte, embora isso não faça mais tanto sentido num mundo cada vez mais digitalizado e fragmentado. A busca por si próprio no isolamento e na circunspecção faz lembrar filmes em que este foi o refúgio existencial de personagens na procura pelo sentido da vida, casos de “Nascido e Criado”, de Pablo Trapero, “O Turista Acidental”, de Lawrence Kasdan, e o próprio “Paris, Texas”. Porém, assim como nestes exemplo, “Dias...”, em suas propositais repetições de cenas e na progressão emocional do protagonista ao longo da história, vota numa solução humana para as dificuldades. Perfeição não existe.

Embora torça para isso, dificilmente Wenders levará o Oscar de Filme Internacional. Sem o gigante “Anatomia de uma Queda” na disputa, uma vez que a produção francesa ganhadora da Palma de Ouro em Cannes concorre somente ao de Melhor Filme ao lado de favoritos como “Oppenheimer” e “Vidas Passadas”, o caminho para o elogiado longa alemão (mas um tanto superestimado) “A Zona de Interesse” vencer está facilitado. Porém, só o fato de ver no páreo um “Junger Deutscher” como Wenders, um verdadeiro esteta e revolucionário do cinema moderno, é quase que um prêmio adiantado a ele e a toda uma geração. Herzog, Schlöndorff, Fassbinder, Von Trotta, Kluge: estão todos representados com esta indicação. E não só eles, mas também, no caso, Ozu, Kurosawa, Mizogushi, Imamura, Oshima. Porém, talvez nem Wenders dê tanta importância a uma conquista como esta. Afinal, mesmo com o reconhecimento a uma obra de meio século como a dele, a Academia está longe de ser perfeita. Assim como os dias.

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trailer de "Dias Perfeitos", de Wim Wenders



Daniel Rodrigues


sexta-feira, 8 de março de 2024

"Vivos", de Frank Marshall (1993) vs. "A Sociedade da Neve", de J.A. Bayona (2023)

 



Enfrentamento dificílimo!

Dois grandes times!

Duas equipes de muita garra, muita coragem e determinação.

Por mais que "Sociedade da Neve" seja o time do momento, o mais conhecido, mais badalado, indicado ao Oscar, "Vivos", o esquadrão mais antigo que muita gente nem sabia existir, também tem muitas qualidades e chega para causar tantas dificuldades ao adversário quanto as montanhas dos Andes causaram aos passageiros daquele voo.

Ambos os filmes contam a história da queda de um avião, com uma equipe estudantil de rugby uruguaia, na Cordilheira dos Andes, da qual, após mais de setenta dias de sofrimento, frio, privações, fome, 14 tripulantes conseguiram sobreviver depois de terem que consumir carne humana de companheiros mortos, de modo a manterem-se suficientemente nutridos e enfrentarem as dificuldades daquele ambiente inóspito.

Com pequenas diferenças, uma omissão aqui, uma adaptação ali, uma liberdade criativa acolá, o enredo é basicamente o mesmo, o que não significa que os roteiros sejam iguais. A nova versão se fixa um pouco mais no passar dos dias, aumentando a expectativa e a dramaticamente do ocorrido, e ainda coloca para o espectador, a cada nova morte, o nome e a idade do falecido, amplificando a comoção e a ansiedade pelo fim daquela agonia. 1x0 para o time de 2023.

A construção dos personagens também é mais completa e bem elaborada no filme atual. A história é narrada por um dos tripulantes, o dedicado Numa o que aproxima o espectador daquela realidade. O espectador quase se sente próximo daqueles garotos, tão jovens, tão cheios de sonhos, de planos, tão cheios de vida pela frente. A gente sente a juventude. Só que sente também aquelas vidas, tão breves, indo embora. 2x0 para a Sociedade.

Por outro lado, senti falta de um comportamento um pouco mais "humano" dos sobreviventes, no filme atual. E quando digo "humano" não  me refiro a humanismo, boa vontade, compaixão, não! Isso tem de sobra. Sei que se tratava de um time, cujo grande mérito para conseguirem a sobrevivência do maior número possível de pessoas fora o trabalho em equipe, mas acho impossível que em mais de dois meses afundados entre as montanhas, atolados na neve, desesperados, não tenham tido altercações, desentendimentos, indisposição, brigas, egoísmos, coisas típicas do comportamento humano, especialmente em situações de desespero. Pois é, isso praticamente não aparecem no filme de 2023. Pelo contrário: a cada discordância, até mesmo na questão mais importante, que de certa forma salvou suas vidas, que era comer ou não a carne dos colegas, a solução era... rezar. Sei que a ênfase do filme era no companheirismo, na união, no trabalho de grupo, na amizade, mas, nesse sentido, o original é um pouco mais realista com uma serie de desentendimentos, rusgas e discussões de pessoas que, no fim das contas, eram apenas seres humanos. Vivos aproveita a falha do adversário e marca o primeiro: 1x2 no placar.

"Vivos" (1993) - trailer



"A Sociedade da Neve" (2023) - trailer


No entanto, tal 'suavização', creio que deve ter sido uma opção do diretor J.A. Bayona, muito competente, por sinal, de modo a enfatizar o lado positivo do grupo, uma vez que, em matéria de credibilidade, "Sociedade da Neve" é bastante mais fiel que "Vivos". Baseado no livro de um jornalista uruguaio, Pablo Vierci, que quando adolescente, acompanhou a tragédia, tinha amigos no voo e chegara até mesmo a cogitar, na época em fazer parte da delegação, "SDN" certamente se aproxima mais dos fatos ocorridos do que seu antecessor que, baseado nas pesquisas de um romancista inglês, Piers Paul Read, se dá a liberdade de mudar alguns nomes, criar alguns elementos ficcionais, e até, como Hollywood gosta, adicionar alguns momentos de ação. Mais um para SDN: 3x1.

Embora o bom Frank Marshall tenha caprichado em seu filme, lá em 1989, com uma parte técnica bastante competente e nada comprometedora, o novo é bem superior nesse sentido. Efeitos visuais, maquiagem, som, montagem, proporcionam sequências absolutamente impressionantes como a do momento do impacto da aeronave com o solo e as consequências com os passageiros (um voando pelo buraco na cauda do avião, pernas fraturadas entre os assentos, etc.), e a da primeira avalanche, que é   simplesmente apavorante. Filme que tira vantagem da tecnologia e dos recursos de sua época pra marcar mais um. 4x1. Sociedade da Neve parece uma avalanche sobre Vivos.

Mas Vivos ainda diminui. Se ambos não são totalmente fiéis quanto à parte do resgate e das repercussões, ou no mínimo incompletos, talvez para não se estenderem mais ainda, o filme dos anos 90 tem um elemento mágico que lhe garante mais um gol. O sapatinho vermelho! "Vivos" utiliza o elemento do sapatinho de bebê que o jovem Nando levaria para seu sobrinho no Chile e que, impedido de cumprir sua meta, divide o par com o amigo Carlitos como uma promessa de que voltaria, unindo novamente os dois pés do calçado quando retornasse da expedição final. Ao que ambos exibem exultantes quando resgatados, cada um com o seu, como símbolo de uma vitória. A vitória no confronto não veio, mas Vivos guarda seu segundo. Gol com um pezinho pequeno, de chuteira vermelha, mas que valeu a comemoração.

"Sociedade da Neve" vence o confronto de Libertadores, no frio, na altitude, ambiente hostil mas, na verdade, nesse confronto todos os sobreviventes são vencedores. 

No alto, à esquerda o grupo de "Vivos" e à direita o de "Sociedade da Neve",
amontoados dentro do que sobrou do avião.
Abaixo, à esquerda, um momento de ânimos alterados em "Vivos" e, em "Sociedade da Neve",
uma noção da aproximação que o diretor estabelece do espectador com os personagens,
aqui só pela expressão do ator.



"Vivos até tinha melhor elenco, com o medalhão Ethan Hawke, 
mas "Sociedade da Neve" veio com uma garotada e um time bem montado
e levou a Batalha dos Andes.

(Jogo daqueles disputado com bola colorida pra poder enxergar na neve)





por Cly Reis

sábado, 24 de fevereiro de 2024

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

"Propriedade", de Daniel Bandeira (2022)

 

Não é coincidência que, numa das sessões da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Reforma Agrária e Urbana, a chamada CPMI “da Terra”, em 2023, tenha-se recorrido a Karl Marx para evidenciar a incongruência daquela comissão. Constituída “com o objetivo de realizar amplo diagnóstico sobre a estrutura fundiária brasileira, os processos de reforma agrária e urbana, os movimentos sociais de trabalhadores, assim como os movimentos de proprietários de terras”, a tal CPMI não apenas sucumbiu por falta de autossustentação como, no final do dia, não olhou para a prioridade: ser uma ferramenta para resolução da questão do campo no Brasil. Em depoimento, o presidente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, valeu-se dos conceitos do filósofo alemão para uma explicação bem didática sobre a estrutura sociopolítica contemporânea pautada pelos valores capitalistas. E isso por um simples, mas profundo fator: o de que o ideário marxista inclui, ineditamente na história da Sociologia, a classe trabalhadora no contexto desta reflexão. Depois de Marx, foi impossível dissociar o trabalhador das relações de poder e, consequentemente, relativizar o conceito de “propriedade”.

A própria investigação da CMPI em si, em pleno 2023, denota o quanto a questão fundiária no Brasil permanece mal resolvida. Está relacionada diretamente a chagas da sociedade provocadas pela histórica mentalidade escravista e potencializada pelas relações de poder capitalistas. Pois que a exploração de mão de obra, o monopólio da elite, as péssimas condições de trabalho e a alienação ao acesso à saúde e à educação, tudo isso está hibridizado num fundamental filme cujo título traz o cerne dessa questão: "Propriedade". A obra, do jovem cineasta pernambucano Daniel Bandeira, é, ao mesmo tempo, de uma enorme riqueza narrativa quanto, principalmente, de um realismo crível e tragicamente plausível. Em forma thriller à brasileira, o filme expõe situações prementes da sociedade brasileira atual, desde a escravidão moderna, a especulação imobiliária e o velho coronelismo, incrustado como uma doença secular na sociedade nordestina.

Na trama, a reclusa estilista Tereza (Malu Galli), esposa de um rico empresário e proprietário de terras (Tavinho Teixeira, como Roberto), deixa a cidade para refugiar-se com o marido em uma fazenda da família na tentativa de se recuperar. Mas, quando os explorados trabalhadores do local sabem da intenção do patrão de vender as terras e dispensá-los sem nenhum direito e indenização, um levante acontece. Para se proteger da violenta revolta dos trabalhadores, Tereza se enclausura em seu carro blindado. Mesmo separados por uma camada impenetrável de vidro, o conflito é inevitável e escalável, pois balizado por um elemento muito menos material e, sim, simbólico: a luta de classes.

Malu Galli como Tereza em cena tensa de "Propriedade": terror à brasileira

Segundo longa de Bandeira, "Propriedade" – provavelmente o melhor filme nacional de 2023 – tem o poder de consolidar uma época. Assim como outras escolas ou movimentos cinematográficos ao longo da história, o filme junta-se a obras irmãs, formando um panorama ideológico e produtivo robusto representativo do seu tempo/espaço. A exemplo do neorrealismo italiano, do novo cinema iraniano ou do Dogma 95 dinamarquês, cujos filmes dialogam entre si dentro de seus próprios círculos, "Propriedade" responde a temas muito caros a outros filmes da cinematografia contemporânea de Pernambuco, que se consolida como um dos mais frutíferos polos de produção de cinema no Brasil neste século. É fácil notar semelhanças com elementos da crítica social recorrentemente trazida pelos autores desta cena. "Piedade", de Cláudio Assis (especulação imobiliária), "Carro Rei", de Renata Pinheiro (repressão do Estado) e "Fim de Festa", de Hilton Lacerda (violência urbana), são alguns deles.

Porém, "Propriedade" traz ainda mais para próximo de si os filmes de Kleber Mendonça Filho, com quem Bandeira trabalhara desde 2002 no curta "A Menina do Algodão", o qual roteirizou e atuou. A referência temática e fotográfica a "Bacurau" (2019), de Mendonça Filho e Juliano Dornelles, é notória, assim como soluções narrativas de desfecho, que interligam ainda mais ambos. Igualmente, "Aquarius" (2016), outro de Mendonça Filho, que também avança sobre a questão do oportunismo do setor imobiliário e da luta pela preservação cultural diante da modernização desenfreada do liberalismo. Contudo, "Propriedade" principalmente retraz a discussão basal de "O Som ao Redor" (2012), primeiro longa de Mendonça Filho, uma contundente crítica ao antagonismo entre público e privado, entre pobreza e riqueza, entre velho e novo, entre impotência e poder, entre humanidade e barbárie.

"Propriedade" e "Bacurau": semelhança temática, cenográfica e fotográfica
entre os filmes de Bandeira e Mendonça Filho

O que "Propriedade" expõe é o choque entre elite e proletariado, uma vez que o sistema vigorante favorece as desigualdades. Não apenas isso: baseia-se nelas. O capital supõe mediar um equilíbrio, mas só faz provocar revolta nos que o geram, mas não o detém, e medo nos que o detém, mas não o geram. A tensão é permanente e dos dois lados. Veja-se a frase que liga o automóvel de Roberto por meio de IA: o verso inicial da música "Dê um Rolê". Cantado por Gal Costa no clássico disco "Fa-Tal", de 1971, marco da resistência aos anos de chumbo no Brasil, o verso diz: “Não se assuste, pessoa”. Mostra da obviedade sem criatividade da elite, que se apropria do discurso dissonante da esquerda para vestir seus modos ideológicos distorcidos, a música é usada por ele como se esta condissesse com seu comportamento imperialista, distorcendo a essência da obra e, por consequência, transformando-a num mero produto de consumo.

Mas os vieses, claro, não são absorvidos por quem raciocina apenas a favor do (seu) capital. O fato de este pequeno enunciado servir como chave para acionar o veículo também funciona, noutro patamar, como uma chave muito mais simbólica, pois capaz de ativar de forma verbal o medo e a neura de uma fatia da sociedade hedonista, que se vitimiza, mas não questiona o quanto seu comportamento sustenta desigualdades que remontam à escravatura. Como Caetano Veloso escreveu certa vez para a voz da mesma Gal Costa: “Neguinho quer justiça e harmonia para se possível todo mundo, mas a neurose de neguinho vem e estraga tudo”.

Trabalhadores rurais e os
limites das relações de poder
Quando trata da base da pirâmide, o filme traz à discussão um tema essencial e controverso, que é o direito à terra. O principal motivo que faz os campesinos se manterem na fazenda a qual já se sabiam dispensados é a presunção de que, por terem dedicado suas forças de trabalho de maneira tão intensa e indigna há tantos anos e gerações, mereciam tornarem-se eles os donos dela. Uma reparação a si e a todo um povo massacrado há séculos pelos poderosos. Reivindicação justa ou não, legal ou não, mas que encontra na ação presente do MST um fundo de verdade, uma vez que o movimento, muitas vezes acusado de fora-da-lei, é, por exemplo, o grupo que mais produz arroz orgânico no Brasil, correspondendo a 70% do grão produzido nacionalmente, segundo dados do Instituto Riograndense do Arroz (Irga).

Renovando a discussão sobre a reforma agrária, tão presente no cinema brasileiro dos anos 1960 e 1970 em filmes como "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Vidas Secas", "Maioria Absoluta" e "O País de São Saruê", Propriedade traz para o contexto do Brasil atual em que o liberalismo exerce forte influência no mercado e na sociedade. Não é de se estranhar que um filme tão agudo e necessário seja do mesmo ano em que se revelou, no Rio Grande do Sul, na rica e conceituada região da Serra, casos análogos à escravidão com trabalhadores rurais, mesmo quase 135 anos após a Abolição. E não para com conterrâneos gaúchos, mas justamente com imigrantes nordestinos sujeitos a condições desumanas longe de sua terra.

Em "Propriedade", o que se sugere é um momento de fratura. Rompidas as grades da “senzala” e da “casa grande”, ora representadas pela porteira da fazenda do interior e pelas torres residenciais da cidade, o que resta é a colisão entre estes dois opostos sociais, até que um enterre o outro. Nem vidros blindados ou camuflados são capazes de conter. A CPMI “da Terra”, por óbvio, inconclusiva, haja vista que originalmente mal sustentada, denota o quanto os ensinamentos de Marx prevalecem e que não cabe (como nunca coube ou deveria ter cabido) mais espaço para a iniquidade em tempos atuais. A feroz e coerente reação dos personagens revoltosos de "Propriedade", bem como a consequente escalada de violência da trama, serve como um aviso de que a questão da terra deve ser encarada de frente e sem filtros. Um “basta” para um problema basal da sociedade brasileira de difícil resolução, mas de necessária atenção. E a quem quiser prosseguir mantendo a desigualdade e o desrespeito aos direitos humanos, um alerta: assustem-se, pessoas. Não acreditem em Gal quando ela diz que a vida, assim, é boa.

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trailer de "Propriedade", de Daniel Bandeiras


Daniel Rodrigues

Artigo originalmente publicado no Blog Roger Lerina/ Matina Jornalismo

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

"Dia dos Namorados Macabro", de George Mihalka (1981) vs. "Dia dos Namorados Macabro", de Patrick Lussier (2009)


Essa coisa de dia dos namorados em junho é só aqui no Brasil, mesmo. Em grande parte dos outros países do mundo, a data dos apaixonados é comemorada em 14 de fevereiro, dia de São Valentin, padroeiro do amor. Como foi tendência no final dos anos 70 e início dos 80, os norte-americanos resolveram fazer filmes de terror para diversas datas comemorativas, "Halloween" (1978), "Réveillon Macabro" (1980), 'Aniversário Macabro" (1981), "Natal Sangrento" (1984), entre outros. O dia dos apaixonados não poderia ficar de fora e para 'celebrar' a data, em 1981, o slasher "Dia dos Namorados Macabro" foi lançado. Extremamente sangrento e com mortes cruéis e chocantes, o longa canadense sofreu com os departamentos de controle chegando ao público mais retalhado que as vítimas do próprio filme. Muito mais 'leve' e palatável na versão que foi aos cinemas, acabou, então, por não agradar os verdadeiros fãs do gênero e, desta forma, não gozando do mesmo respeito que alguns de seus similares, como um "Sexta-feira 13", por exemplo. Mas mesmo assim, "Dia dos Namorados Macabro" ou "My  Bloody Valentine" mantém um certo status de cult do gênero.

Levando em consideração todas as restrições sofridas pela produção em sua época, e diante de um cenário atual mais livre, com muito mais recursos tecnológicos e tantas produções que não aliviam na violência gráfica, era mais que justo que "My Bloody Valentine" ganhasse um remake com tudo o que tinha direito e que lhe fora negado lá atrás. O remake aconteceu e não decepcionou! Nos deu sangue, crueldade, grafismo, criatividade nas execuções. 

Parece que teremos então no confronto original versus remake uma vitória fácil da nova versão...

 Engano! 

Como aquele time que está  desfalcado, que parece que não terá seus melhores jogadores, mas, momentos antes do jogo, anuncia que terá todo mundo à disposição, o time de 1982, com sua versão uncut, com todas as mortes, sem filtro, sem tarjas, sem desfoque, liberada há pouco tempo atrás, foi pro jogo em igualdade de condições. E aí, ó... tem jogo.

No filme original, depois de uma acidente, quando trabalhadores foram esquecidos numa mina por irresponsabilidade de seus supervisores, mais interessados em ir ao baile do Dia dos Namorados do que em conferir se todos já haviam deixado o local, o único sobrevivente resgatado dos escombros, Harry Warden, fugido de um hospital, um a o depois na mesma data, comete uma série de assassinatos como vingança por o terem deixado para morrer na mina, e por, mesmo em fã e ao acontecido com ele e seus colegas, no ano anterior, ousarem voltar a realizar o baile. Harry é apanhado, preso, mas, aí, sim, com as as novas mortes, todo o trauma da primeira tragédia, a 'sombra' de Harry e tudo mais, o baile passa a não ser mais celebrado na cidadezinha. As coisas ficam assim por 20 anos quando, sentindo que as coisas foram superadas, o prefeito e os habitantes da pequena Hanniger decidem voltar a fazer a festa do dia dos namorados.

Só que às voltas com o surgimento de novos cadáveres e corações humanos em caixas de bombom, acompanhados de macabros bilhetinhos ameaçadores exigindo a não realização dos festejos, o que sugeriria que Harry poderia estar de volta, o prefeito cancela o baile. Sem, no entanto revelar os verdadeiros motivos da decisão, de modo a não causar pânico generalizado, a garotada não totalmente convencida das razões do cancelamento e com tudo pronto para a festa, decide seguir com o plano do baile assim mesmo, por conta própria. E onde seria bom, uma vez que o prefeito fechou o salão da cidade? Na mina, é claro! Ah! Era tudo que o assassino queria! Lá o matador faz a sua festa, enquanto, na área urbana da cidade, o xerife recebe novas pistas e esclarecimentos sobre o paradeiro de Harry em relação ao hospital  psiquiátrico onde se encontrava.

Embora basicamente na mesma tônica, a nova versão tem algumas diferenças: depois de sermos brevemente informados, ainda nos créditos iniciais, com manchetes de jornais, sobre os acontecimentos e desdobramentos sobre uma tragédia ocorrida numa mina na cidade de Harmony, na qual vários operários morreram numa explosão provocada por negligência, o único sobrevivente, Harry Warden, desperta do coma com uma fúria incontrolável e, ainda no hospital, nos oferece um banho de sangue brutal, tomando rumo em seguida à mina para se vingar dos que causaram a tragédia., pois a rapaziada da cidade está toda por lá curtindo e tomando umas cervejas.

Na mina, Harry encontra a rapaziada da cidade que está por lá curtindo e tomando umas cervejas e então continua sua jornada de selvageria vingativa. Trucida vários jovens com sua picareta, mas é contido por um dos rapazes e é baleado pela polícia que chegara ao local, fugindo seriamente ferido.

10 anos depois, a cidade tenta voltar ao normal. O xerife da época do massacre se aposentou, Axel, um dos jovens sobreviventes de Harry, virou xerife, o antigo dono da mineradora faleceu, seu herdeiro, Tom, voltou à cidade para se desfazer do negócio, e Sarah, sua ex-namorada, outra que escapou do maníaco, casou exatamente com o novo xerife. Mas o retorno de Tom coincide exatamente com novos assassinatos e deste modo, o herdeiro ausente da cidade por tanto tempo, passa a ser um dos principais suspeitos dos crimes. No entanto, os novos crimes têm a assinatura de Harry: caixas de bombom com um coração humano em seu interior, o que volta a levantar a dúvida se o psicopata teria realmente morrido no tiroteio na mina, dez anos antes.

Se por um lado, o remake tem a vantagem de nos apresentar mais suspeitos em potencial, principalmente, Tom, o filho pródigo da cidade, Axel, o xerife enciumado da esposa, a hipótese da possível sobrevivência de Harry, ou ainda, mais remotamente, de seu retorno sobrenatural, desperdiça toda uma boa trama com um desfecho um tanto... desapontador, cheio de clichês dispensáveis. Mas, mesmo assim, com alguns defeitos, conseguiu o mais importante que era encarar o original de igual para igual. Mas será que foi suficiente para desbancar um clássico?

Saberemos...

"Dia dos Namorados Macabro" (1981) - trailer


"Dia dos Namorados Macabro" (2009) - trailer


Os dois times começam o jogo a mil por hora: se no original temos a cena inicial pré-créditos, dentro da mina, com uma garota sendo pendurada numa picareta cravada na parede, na refilmagem, com alguns minutos a mais, temos o cenário de açougue do hospital na fuga de Harry, com tripas, mutilações e um banho de sangue. 1x1 rapidinho, em menos de cinco minutos.

O original tem o componente do baile que, na minha opinião colabora para o roteiro como um elemento simbólico marcante da recuperação emocional da cidade, item que o segundo filme praticamente ignora. Gol do filme de 1981! Em compensação a trama da nova versão é levemente mais complexa, tem mais subdesdobramentos, apresenta mais alternativas, sugere mais suspeitos e isso lhe dá uma certa vantagem sobre seu antecessor. Gol do time de 2009! 2x2, no placar.

Embora ambos tenham cenas importantes na mina, o primeiro explora melhor o ambiente: o subterrâneo, a escuridão, corredores estreitos, a sensação labiríntica, claustrofóbica, carrinhos de carga em trilhos como um trem fantasma... E tem as ferramentas (picareta, martelo, pá), assassino com máscara (de minerador), muitos jovens, nudez... Tudo muito slasher oitentista. Ah, isso é gol do time dos '80's. 3x2!

A garota pendurada no chuveiro, no vestiário da mina.
Uma das boas mortes do filme de 1981

O remake até é mais gráfico, tem uma parte técnica melhor, tem mais sangue jorrando, mas ambos os filmes têm mortes excelentes e o original, cujas cenas mais fortes só foram vistas na íntegra agora na versão integral, não fica devendo em nada ao novo no que diz respeito à maquiagem e efeitos visuais. O primeiro tem a morte da senhorinha organizadora do baile torrada na lavanderia, a do dono do bar com a picareta atravessada na cabeça arrancando um dos olhos, a do garoto com a cabeça mergulhada na panela fervente com salsichas, a do mineiro alvejado com a pistola de pregos na cabeça, e especialmente a da garota pendurada pela cabeça no chuveiro com água jorrando pela boca. Muita qualidade de execução, tranquilidade na cara do gol, frieza. 4x2 para MBV original. 

Uma pá pra alargar o sorriso da menina.
Provavelmente, a melhor morte do remake e uma das grandes
dos filmes slasher

A favor do time de 2009, além de refazer com competência, respeito e reverência (e mais sangue) algumas das mortes, como a da máquina de lavar e a da picareta no olho, nos brinda com a espetacular cena da pá na boca da garota, partindo a cabeça em duas e fazendo a parte superior deslizar pela superfície da ferramenta. Gol de quem conhece do ofício. Gol de matador! E o time de 2009 diminui: 4x3.

Um charme do filme de 1981, que até está presente na nova versão mas que não tem a mesma ênfase são os bilhetinhos do nosso assassino dentro das caixas de coração (com coração), característica típica da festa de São Valentin, explorado aqui como advertências do matador para que não se leve adiante a ideia do baile, em versinhos nada carinhosos. Gol do filme original e o nosso matador sai fazendo coraçãozinho com as mãos para torcida. 5x3

O time do século XXI tenta um recurso típico de sua época para empatar o jogo mas não surte o efeito esperado. Concebido para 3D nos cinemas, o novo MBV tem muita coisa "jogada" na tela como a picareta voando em direção ao espectador, a bala saindo do revólver, o olho saltando da cabeça, o que a meu ver ao invés de se caracterizar em algo positivo, conferiu uma certa artificialidade e uma forçação em algumas cenas que só são filmadas de determinada maneira, de determinada posição, para favorecer o efeito e, no fim das contas, não jogam muito a favor. 

E o placar fica assim. O time de 2009 faz bonito, enfrenta o original de cabeça erguida mas com o time de1981 completo, é difícil competir. Lamento,... aqui é mata-mata e só um pode sobreviver na competição.

No alto, os dois assassinos da mina, praticamente iguais,
à esquerda o original e à direita o da refilmagem.
Abaixo, seu tradicional 'presentinho' de Dia dos Namorados.
Vai um docinho aí?

"Dia dos Namorados Macabro 3D" bem que tentou, botou o coração na ponta da chuteira, mas não contava com a escalação do "Dia dos Namorados Macabro" '81, que jogando completo, conhece o mapa da mina.

E a torcida grita, "Uh, eô, o Harry é matador!"
(Mas será que é ele mesmo?)
 




por Cly Reis

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A arte do MDC em 2023

E lá se foi mais um ano, ouvintes radioelétricos! Posso dizer, no entanto, o contrário: já se veio mais um ano. Afinal, são quase sete no ar de Música da Cabeça, o programa que comando com muita satisfação na Rádio Elétrica. E como todas as quartas-feiras tem programa novo, tornou-se habitual desde o início que a cada edição houvesse também uma arte. E é aí que a gente entra. Tal no ano passado, quando começamos a fazer essa retrospectiva específica do MDC a exemplo do "A arte do Clyblog", recorrente há mais tempo por aqui, selecionamos algumas das artes criadas para anunciar o programa em 2023, ano dos 15 do blog.

O aviso foi dado anteriormente, mas não custa repetir: não se esperem obras-primas do design gráfico, pois as ferramentas e as habilidades são, se não parcas, básicas. Sei que peco pelo acabamento (um designer profissional deve querer se enforcar a cada vez que vê). Mas não é por mal. Assim como o programa em si, a arte é fruto da vontade de fazer. Até porque, isso dá pra afirmar, busca-se sempre a criatividade, algo que instigue que vê/lê, e até que a coisa sai legal por vezes. Amparadas pelo texto, no qual também invariavelmente tento puxar por algo interessante, as artes se baseiam em acontecimentos da vida cotidiana do Brasil e do mundo que só podem resultar em algo, no mínimo, legal graficamente falando.

Houve a favor, no decorrer de 2023, um caldeirão de eventos para que isso acontecesse. Guerra na Croácia e na Faixa de Gaza, perdas de gente como Rita Lee, Ryuichi Sakamoto, João Donato e Zé Celso Martinez Corrêa, Camões de Chico Buarque, urso em Marte, submarino perdido, 8 de janeiro... É, entre fatos bons e não tão bons, a gente vai contando, quase como uma crônica semanal e musical, aquilo que nos cerca e nos interessa. As artes do MDC são um espelho disso. Então, fique aí com essa seleção do que mais de legal teve em 2023.

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Iniciamos o ano com nada mais, nada menos, que a edição especial de nº 200, que teve a participação à altura: o músico e jornalista pernambucano Fred Zero Quatro, líder da Mundo Livre S/A




Mas nesse Brasil, a festa demora pouco. Uma semana depois da posse do Presidente Lula, 
a barbárie do 8/1, que nos motivou a esta arte para o MDC 301


Enxergaram urso em Marte? A gente enxergou no MDC 304


Em março, ferviam as investigações sobre o "caso das joias"
apreendidas com a comitiva de Bolsonaro, mote pro MDC 311


Ainda em março, a edição 310 teve entrevista especial com meu primo-brother Lucio Agacê,
figura lendária do rock alternativo (e preto) gaúcho





Ramadã, em abril, e o programa também se inspirou pro 314. Ficou bonito


Chico finalmente pôs a mão no certificado do Camões, que, na verdade, era o MDC 316



Em maio, para o especial de nº 320, entrevistamos a psicóloga, musicista e ativista preta gaúcha Caroline Rodrigues


Em junho, a abertura do texto da chamada do programa 321 foi assim: "A gente fotografa a floresta assim,
neste ângulo, só pra que seu olhar se direcione para aquilo que deve". Cara de pau


Lembram daqueles ricaços excêntricos (e sem noção) que se meteram num
submarino sem socorro e não voltaram mais?


Foi uma reprise, mas nem por isso deixamos de comemorar com uma arte especial a primeira edição de julho com o anúncio (quase "ilegígel") da ilegibilidade do Bozo. Só de lembrar, dá vontade de gritar de novo: I-NELEGÍVEEEEL!!



Se houve o que celebrar, também tiveram perdas. E grandes. Ryuichi Sakamoto (abril),
Rita Lee (maio) e Zé Celso Martinez Corrêa (julho) foram três delas




As guerras também, infelizmente, mancharam o calendário, mas viraram arte de denúncia nas edições 324 (julho), 339 (outubro) e 346 (novembro). MDC NO WAR!





Mais perdas, algumas tristes, outras revoltantes: João Donato, em julho e, em agosto, Sinéad O'Connor, e Mãe Bernadete  


Mais uma arte legal, esta pro cabalístico programa 333, último de agosto


É "O Pequeno Príncipe de Maquiavel"? Não, só o MDC tirando sarro da cara de
gente ignorante, mas metida a sabe-tudo (setembro)


Mais uma vez, o 20 de novembro (que agora virou feriado) nos inspirando


Mais edição de data fechada, a de 340, que teve como convidado
a lenda do rock gaúcho Frank Jorge


Adentrando o último mês de 2023, uma arte baseada em grafismos


Talvez a perda mais sentida: Paulo Moreira, nosso "Cabeção", que virou "capa Blue Note"
a la Reid Miles para a nossa edição 349


Quem começa o ano com edição especial, acaba o ano com edição especial: MDC 350, que teve entrevista internacional com o produtor musical cabo-verdiano Djô da Silva (era pra ter  sido um vídeo na época, mas deu problema no programa...)



Daniel Rodrigues



segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

A arte do Clyblog em 2023

 

No ano que passou, o clyblog completou 15 Anos e por isso mesmo, como de  costume nosso logo ganhou um desenho especial de aniversário e as seções do blog incorporaram a nova marca. Mas também foi ano de Copa do Mundo feminina e,à parte do logo oficial, criamos uma marca para nossas publicações e homenageamos as nossas craques da bola com ilustrações de gols marcantes, no ClyArt.

Por falar em ClyArt, ao longo do ano tivemos, como sempre, dividindo espaço com dicas, mostras e exposições, nossa produção artística individual, fosse em tinta, grafite, digital, fotografia ou vídeo. Também tivemos as artes produzidas para publicações da seção Cotidianas, ilustrando contos, crônicas ou poemas e as tradicionais chamadas para as mídias sociais, sempre criativas e muito visuais, divulgando o blog e suas atrações.

Querem relembrar como foi? Dêem uma olhada aí abaixo e confiram o que rolou aqui, visualmente, no ano que passou:

 

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Daniel Rodrigues com o brilhante vídeopoema,"poeminverso"

O ClyArt continua abrigando todo tipo de possibilidades artísticas:
aqui, a ilustração a grafite "City Fog", de Cly Reis


Teve Copa do Mundo feminina em 2023!
Nosssas meninas não foram tão bem mas relembramos dois grandes momentos
delas no ClyARt em ilustrações digitais.

A música brasileira homenageada com ilustrações digitais
que imaginam como seria se nossos artistas de MPB fossem herois, personagens de cinema,
se as músicas fossem HQ's, filmes...

Astros pop também lembrados no nosso ClyArt.

A primeira imagem feita a partir de I.A. no ClyBlog,
produzida para o conto "Dulce", nas nossas Cotidianas


Ilustração digital para a música "Bebeto Loteria",
no cotidianas do ClyBlog



Mais uma feita para o Cotidianas:
arte produzida para o conto "Aberração"

Arte inspirada na canção Gothan City, de Jards Macalé,
que, na imagem, controla, impávido, a cidade, lá do alto.

No Dia da Consciência Negra, homenageamos
esses sambistas maravilhosos que 
levam a música negra para todos so brasileiros


As chamadas para a seção Ábuns Fundamentais, produzidas no ano passado.

E duas novas chamadas para a seção Lido

Campanha de aniversário do ClyBlog.
Aqui, alguns dos banners



Em 2022, depois de muito tempo criamos nosso logo para seção de tirinhas.
Tirinhas qualquer um tem, mas clytOOn, só o ClyBlog.

No ano que passou, chegamos à octagésima centésima publicação da seção Cotidianas e
para a ocasião especial, "roupa" especial.

Logo do ClyBlog para a Copa do Mundo feminina, disputada na Autrália e  Nova Zelândia,
usado nas postagens relacionadas a futebol e ao torneio.

Dentro do Clyblog, se tem um logo que está sempre mudando é o do ClyArt.
Ele se molda conforme a arte, o artista, a exposição,
e aí vão algumas mostras dessa constante mutação.


O próprio logo do blog é inquieto, dinâmico, variável e, volta e meia,
apresenta um visual diferente.

Ano anos dos nossos 15, não poderíamos deixar de ter um logo especial de aniversário que, 
é claro, também adquiriu variações e se incorporou às marcas das seções do blog.


Por fim, o vídeo comemorativo dos 15 anos do ClyBlog,
repassando todos os logos de aniversário já feitos até então.
Vamos firmes para os dezesseis!



C.R. e D.R.