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quinta-feira, 10 de junho de 2021

Protagonistas coadjuvantes

Michael dando um confere bem de perto no que seu
mestre Stevie Wonder faz em estúdio, nos anos 70
Não é incomum artistas da música que, mesmo sendo astros, têm por hábito participarem de projetos de outros, seja tocando em gravações, shows ou como convidados. George Harrison, por exemplo, muito tocou sua slide guitar em discos dos amigos John Lennon e Ringo Starr. Eric Clapton, igualmente, além da carreira solo e de bandas próprias como Cream e Yardbirds, também emprestou sua guitarra para Beatles, Yoko Ono, Tina Turner, Phil Collins e vários outros. Como eles, diversos: Brian Eno, Robert Wyatt, Flea, Eddie Van Halen ou brasileiros como Herbert Vianna, Gilberto Gil, Frejat e João Donato. Todos comumente contribuem com seus instrumentos e/ou voz na música que não somente a deles próprios.

Há também aqueles que dificilmente se supõe que fariam algo fora de seus trabalhos pelos quais são mais conhecidos. Mas vasculhando com atenção as fichas técnicas dos discos, acha-se. Vez ou outra se encontra um artista que geralmente é visto apenas como protagonista atuando, deliberadamente, como um coadjuvante. E não estamos nos referindo àqueles principiantes que, posteriormente, tornar-se-iam ilustres, caso de Buddy Guy em “Folk Singer”, de Muddy Waters, de 1959, na primeira gravação do jovem Guy, então com 18 anos, com o veterano bluesman, ou Jimi Hendrix nas gravações de 1964 com a Isley Brothers anos antes de transformar-se num ícone do rock.

Aqui, referimo-nos àqueles que, já consagrados, abriram mão de seu status em nome de algo que acreditavam seja para um disco, um projeto, uma música ou um show. São momentos em que se vê verdadeiros mitos descerem de seus altares para, humildemente, colaborarem com a música alheia, seja por admiração, amizade, sentimento de dívida ou o que quer que explique. O fato é que esses “protagonistas coadjuvantes”, mesmo que estejam escondidos ou somente encontráveis nas miúdas letras da ficha técnica, abrilhantam com seus talentos peculiares a obra de outros.


Robert Smith para Siouxsie & The Banshees

Os anos 80 foram de inquietude para Robert Smith, líder da The Cure. Sua banda já era uma das mais celebradas do pós-punk britânico em 1983 quando ele, que havia lançado um ano anos o disco único “Blue Sunshine”, da The Glove, projeto em parceria com Steven Severin, decide dar um tempo com o grupo. Mas para quem estava a pleno naquela época, Bob “descansou carregando pedra”, como diz o ditado. Ele decide fazer parte da Siouxsie & The Banshees, banda coirmã da The Cure, mas estritamente como integrante. Com os vocais e o palco já devidamente preenchidos por Siouxsie, Robert assume as guitarras e une-se a Severin (baixo) e Budgie (bateria) para compor a melhor formação que a Siouxsie & The Banshees já teve. Não deu outra: dois discos, duas pérolas, para muitos os melhores da banda: “Hyenna” e o ao vivo “Nocturne”




Miles Davis
para Cannonball Adderley
Mais do que na música pop, é comum no jazz grandes astros e band leaders tocarem na banda de colegas. Isso não funciona, entretanto, para Miles Davis. O talvez mais exclusivo músico do jazz havia tocado no início da carreira para Sarah Vaughan, mas depois jamais fez nada que não fosse tão-somente seu. Até que, com jeitinho, em 1958, o amigo Cannonball Adderley convida-o para participar das gravações de um disco que ele estava por lançar e no qual teria ainda Art Blakey, na bateria, Hank Jones, no piano, e Sam Jones, no baixo. Uma sessão de gravação apenas, só cinco números, algumas horinhas de estúdio com Rudy Van Gelder na mesa, engenheiro com quem Miles tanto estava acostumado a trabalhar. "Não vai custar nada. Diz, que sim, diz que sim!" Tanto foi, que Miles topou, e saiu "Somethin' Else", aquele que é o disco que antecipa a obra-prima “Kind of Blue”, em que, reassumido o posto de front man, aí é Miles que conta com o parceiro saxofonista na banda. Tudo de volta ao normal.


Paul McCartney para Foo Fighters
É conhecida a versatilidade de Paul McCartney. Multi-instrumentista, ele é capaz de tocar, em apenas um show, vários instrumentos ou gravar um disco inteirinho sozinho sem precisar de mais ninguém no estúdio. Quem também fez isso foi Dave Grohl, líder da Foo Fighters, que, no álbum de estreia da banda, em 1995, toca não apenas a bateria, que era seu instrumento na Nirvana, como todos os outros. A amizade e talvez essa semelhança tenham feito com que chamasse o eterno beatle para uma empreitada 12 anos depois. Fã de Macca, ele convidou o veterano músico para gravar para ele não a guitarra, o piano ou a voz. Isso, muita gente já havia feito. Ele pediu para Paul tocar justamente bateria. A “brincadeira” deu super certo, como se vê na canção "Sunday Rain" presente no disco "Concrete And Gold".


Michael Jackson para Stevie Wonder
É uma música apenas, mas considerando o tamanho deste “coadjuvante”, vale por um disco inteiro. A linda e melodiosa “All I Do”, que Stevie Wonder gravaria em seu “Hotter than July”, de 1980, conta com ninguém menos que Michael Jackson nos vocais. E não se trata da voz principal, e sim do backing vocals! Surpreende ainda mais que o Rei do Pop já havia lançado à época o megassucesso “Off the Wall”, de um ano antes, com o qual revolucionaria a música pop e que quebrara os paradigmas de vendas da música negra no mundo. Mas a devoção de Michael para com Stevie era tamanha, que ele nem se importou em fazer um papel secundário. Para quem era conhecido pela habilidade de canto e arranjos de voz, no entanto, o que seria uma mera participação contribui sobremaneira para a beleza melódica da canção.



David Bowie
 para Iggy Pop
Em meados dos anos 70, Iggy Pop e David Bowie estavam bastante próximos. Bowie havia chamado o amigo para uma temporada em Berlim, na Alemanha, onde desfrutariam do moderno estúdio Hansa para erigir alguns projetos, dentre estes, “The Idiot”, no qual dividem todas as autorias e gravações. O período foi tão fértil, que rendeu também uma turnê, registrada no álbum ao vivo “TV Eye Live 1977". Acontece que, no palco, não dá para apenas os dois se resolverem com os instrumentos. Foi então que chamaram os Sales Brothers para o baixo e bateria, Ricky Gardiner, para a guitarra, e... quem assumiria os teclados? Ah, chama aquele cara ali que tá de bobeira. O próprio David Bowie. Quando se escuta as versões ao vivo de “Lust for Life”, “I Wanna Be Your Dog” e “Funtime”, acreditem: os teclados que se ouvem são do Camaleão do Rock. 



Phlip Glass
 para Polyrock
O cara já tinha composto de um tudo: ópera, concerto, sinfonia, madrigal, trilha sonora, sonata, estudos. Faltava uma coisa: música pop. Próximo do músico e produtor Kurt Monkacsi, o gênio da vanguarda californiana Philip Glass “apadrinhou” junto com este a new wave art rock Polyrock. Dizem nos bastidores, que o cérebro da banda é Glass e não só os irmãos Billy e Tommy Robertson tamanha é a identificação com a música minimalista do autor de "Einsten on the Beach". Seja por grandeza, timidez ou algum problema legal, o fato é que isso não consta nos créditos. O que consta, sim, é a participação do maestro tocando piano e teclados nos dois discos do grupo, “Polyrock”, de 1980, e “Changing Hearts”, de um ano depois, no qual, inclusive, assina oficialmente o arranjo de cordas da faixa-título. Daqueles raros momentos em que a música de vanguarda se encontra com o rock.





João Gilberto para Rita Lee
Se hoje a participação de João Gilberto tocando violão para Elizeth Cardoso em duas faixas de “Canção do Amor Demais”, de 1958, é considerado o pontapé inicial para o movimento da bossa nova, àquela época o gênio baiano era apenas um músico iniciante ao qual não se havia ouvido ainda toda sua arquitetura sonora de instrumento, voz e harmonia. 24 anos depois, já um mito, João dificilmente repetia uma ação como aquela do passado. Quisessem tocar com ele, ele que convidava. Exceção feita nos anos 80 para sua então esposa, Miúcha (e somente o violão), mas especialmente para Rita Lee. Admirador confesso da Rainha do Rock Brasileiro, João topou o convite de gravar ele, seu violão e sua atmosfera única a faixa “Brasil com S”, do disco “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, autoria dos dois. Pode-se dizer que, como todo o cancioneiro de João, é mais uma obra-prima, porém a única em que põe sua voz à serviço de um outro artista fora da sua discografia. Privilégio.


Daniel Rodrigues

quinta-feira, 11 de abril de 2013

The Cure - Arena Anhembi - São Paulo / SP(06/04/2013)



Just Like Old Days!
por Christian Ordoque


foto:Iris Borges
Toda década tem o U2 que merece. “Mas tu não foi num show do The Cure seu doente ? E vem me falar em U2 ?!?!?”. Explico. Nos anos 60, teve Beatles/Stones, nos 70 teve Pink Floyd/Led, nos 80 teve Cure/U2, Iron e AC/DC/Bon Jovi, Kraftwerk e Depeche/Pet Shop Boys e Erasure, nos 90 teve Metallica/Guns, e a partir dos 2000 teve R.E.M./Radiohead e Nirvana/Foo Fighters. O que eu quero dizer com isso. Tem bandas que são as que aparecem para a mídia (e que permanecem no tempo), que se consolidam como “A cara” do momento, da época.

Entretanto existe outro tipo de banda que faz um som um pouco mais elaborado e não tão pop / radiofônico que são tão boas ou até mesmo melhores que as da vitrine. Grosso modo coloquei as de som elaborado como as primeiras e as mais pop como o segundo exemplo na comparação acima. E é bom que assim seja, pois uma faz o papel de fundamentação do estilo musical da década e outra o de divulgação. Mais ou menos como trabalhos de academia e revistas de divulgação científica. American Journal of Medicine e Superinteressante. Ok ?

“Eu vou, retomar o raciocínio”. Show The Cure. Começou antes com o show bem indie e bem bonzinho da Lautmusik com uma vocalista muito afinadinha e uma banda tocando competentemente músicas pops curtas e rápidas. Sobre a segunda banda me lembrou um Pink Floyd com distorção. “Vamos falar de coisa boa ? Vamos falar de Tekpix ?”.

Começaram com 'Tape', música de abertura da época do Show e mantendo o clima veio a 'Open' que é música de passagem de som disfarçada, distorções, correções, “Aumenta o baixo, dá um gás na guitarra, não ta pegando o tom tom” e essas coisas. 'High' e 'The End of The World' bem meia boca. "Lovesong" ainda arrumando o som com uma musica mais suave. (pensa que me engana seu Bob Smith, em matéria de Cureologia conheço suas manhas seu Bob Smith. “20 anos de curso !”).

E daí o bicho pegou pela primeira vez na noite com a (ainda não inventaram adjetivo para descrever, quem quiser colaborar, por favor, a casa é sua) "Push". O cara ouve esta música desde sempre e ficava imaginando com era ao vivo e quem tocava o que etc e tal. E daí a banda tá ali na tua frente e os guitarristas esmerilhando de forma parelha neste clássico. A bem da verdade, o Gabrels algumas vezes fazia a cama para o Smith deitar e rolar, o que se repetiu várias vezes durante o show. Uma hora ia um, outra hora ia outro a solar ou fazer base. Lá pelas tantas pensei: “Vai faltar voz na ‘The only way to beeeeeee’”. Não faltou. "In Between Days" empurradaça na base do violão assim como a 'Just Like Heaven' termina o primeiro bloco radiofônico da noite que tinha começado com a supracitada "Push".

A banda durante a execução de "Lovesong"
(foto: Iris Borges)
E daí vem a 'From the Edge of the Deep Green Sea'. Musicaço guitarreiro no último grau, quebrando de modo magistral o bloco anterior e serviu para mostrar que o “novo” guitarrista do Cure toca horrores quando quer. E é isso que faz de um instrumentista um músico, saber quando é necessário encher de notas e firulas uma canção e não sempre. Não precisa ficar em toda santa música se debulhando, só quando precisa, e ele sabe disso.

"Pictures of You", "Lullaby", "Fascination Street" e 'Sleep When I´m Dead'. "Pictures of You" e "Fascination Street" são duas aulas de baixo. Aliás como o Cure é uma banda que é fundamentada no baixo. E o Simon é um monstro, um absurdo.

'Play for Today', como estávamos ali entre as 15 primeiras filas, a galera cantava junto e coisetal e esta foi muito legal com o coro de “O oo oo oo” que ouvi pela primeira vez no ao vivo 'Paris' e 'A Forest' com toda a cerimônia que a música evoca e necessita. Música extremamente envolvente que eu de novo eu pensei: “Vai faltar voz no ‘Againandagainandagainagainandagainagainandagain’”. Não faltou.

Bananafishbones do "The Top" foi um presente para os fãs hardcores, Começou com o Robert tocando uma gaitinha de boca das mais bizarras e um show de guitarra do Reeves, de como utilizar o pedal de wha-wha. E emendou direto e reto na Shake Dog Shake, como teclado um pouquinho acima do tradicional nas partes de suspense e no “Wake up, wake up!” o povo cantou todo em volta. Me senti em casa cercado de fãs hardcores.

'Charlotte Sometimes'. Que beleza ! Comecei a prestar atenção nesta música através de um cover que tem num CD que comprei no primeiro show que vi deles (agora posso dizer isso, já vi 2 :P). Não gostava por causa do clipe, mas ao vivo... Bah ! Depois veio a dançante e que na boa, deveria ser tocada só em baixo e bateria 'The Walk' e que mostrou que finalmente o Jason ta tocando muito direitinho e nessa música, enfiando o braço. 'Mint Car' e 'Friday...' para o povo do rádio, ok. 'Doing the Unstuck' foi outro regalo do Disco 'Wish', música alegre e faceira.

'Trust'. Poisé né... Outra do 'Wish'. Teclados com climão e dedilhados e bom... né. Quem conhece sabe do que eu tô falando. 'Want', a única música que presta do 'Wild Mood...' e que abriu o show de 96. 'Hungry Ghost', whatever... A bem da verdade trocaria taco a taco a 'Hungry Ghost', a 'Sleep when I´m Dead' e a 'The End of The World' por 'M', "Strange Day", e 'There Is no If', mas enfim, nada é perfeito, nem o show do Cure, nem o do Macca e nem eu, veja você...

'Wrong Number' foi outra que cresceu em peso, velocidade e revezamento entre os guitarristas. Fui surpreendido pela execução ao vivo desta música. E já estávamos chegando ao final do show com a "One Hundred Years". Que coisa séria. O cara já acha uma baita música e aqui toda a banda carrega o piano para ele tocar, fazer solo e cantar. Baixo e bateria excelentes, lembrando os primeiros discos ao vivo e bootlegs do Cure. E terminou com 'End'.

Bis. Quando vi o setlist do RJ, me dei conta que eles tocaram 'Plainsong', 'Prayers for Rain' e 'Disintegration' e achei péssimo #prontofalei. E em SP o que aconteceu ? Tocaram 'The Kiss' com o botão de F*&%-se ligadaço no máximo, como se dissessem. “Agora vamos mostrar como se toca de verdade !”. O momento instrumentista da banda com muitas, mas muitas notas por minuto. Em seguida a maravilhosa 'If Only Tonight We Could Sleep' e terminaram com o tijolo quente nos tímpanos 'Fight' !!! Daí sim ! Trocaram as mais xaropentas por 3 clássicos.

Bis 2. Jogando pra torcida e dando olé agora, só sucessos pop. 'Dressing Up', 'Lovecats' (outro baixo absurdo !), 'Catterpilar'. Na "Close to Me" (foi quando ele fez, segundo a Iris Borges, a dança de "Bonecão do Posto", que já tinha arriscado lá na "Lullaby") o povo da frente ficou batendo palmas como no clipe. Ele o o O´Donnel ficaram faceiros e sorriram com esta interação. Aliás, faceiro tava o tecladista, credo ! 'Hot, Hot, Hot!!!', 'Let´s go to Bed', 'Why Can´t I Be You', encerram esta fase pop do segundo bis.

E daí vem o triunvirato 'Boys Don´t Cry', '10:15 Saturday Night' e a impressionante 'Killing An Arab' com uma pitadinha punk na bateria e o Robert mostrando que quem faz os solos nessa música é ele. Terminando com a rotação em alta ! E para mim uma referência muito bacana, pois descobri o Cure ouvindo o 'Concert' que termina justamente com esta música.

No chorômetro (aparelho que marca quantas vezes a pessoas chora em músicas nos shows) ficou assim: "Push", 'Play for Today', 'A Forest', 'Charlotte...', 'Trust', "One Hundred Years", 'If Only Tonight...' e 'Boys Don´t Cry'.

Olha Mr. Smith, acho que o Sr está errado. This boy “craiou” horrores.
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foto: Christian Ordoque
SETLIST
Open
High
The End of the World 
Lovesong 
Push
In Between Days
Just Like Heaven 
From the Edge of the Deep Green Sea 
Pictures of You 
Lullaby
Fascination Street
Sleep When I'm Dead
Play for Today
A Forest
Bananafishbones
Shake Dog Shake
Charlotte Sometimes
The Walk
Mint Car
Friday I'm in Love
Doing the Unstuck
Trust
Want
The Hungry Ghost
Wrong Number
One Hundred Years
End


Bis:

The Kiss
If Only Tonight We Could Sleep
Fight


Bis 2: 
Dressing Up 
The Lovecats 
The Caterpillar 
Close to Me 
Hot Hot Hot!!! 
Let's Go to Bed 
Why Can't I Be You? 
Boys Don't Cry 
10:15 Saturday Night 
Killing an Arab





sexta-feira, 5 de abril de 2013

The Cure - HSBC Arena - Rio de Janeiro (04/04/2013)


Uma noite Como Essa
por Cly Reis

foto: site Terra
O The Cure está definitivamente redimido comigo. Como se precisasse depois da quantidade de músicas que me proporcionaram embalando minha vida há quase 30 anos. Mas se redimiramem relação ao show do Hollywood Rock de 1996, para o qual fui cheio de expectativas e saí relativamente desapontado. Digamos que fizemos as pazes no que diz respito a apresentações ao vivo.

Desta vez não! Uma banda vibrante, pilhada, motivada, entrosada, fez um show entusiástico e impecável. Tirando o baterista Jason Cooper, que eu nunca engoli desde que entrou na banda, para mim um músico afoito, sem naturalidade, ao contrário de seu antecessor, Boris Williams que tocava limpo, sem fazer esforço, o time agora parece estar redondinho, funcionado como um relógio. O resultado disso foi uma performance coletiva competentíssima, salientando a do baixista Simon Gallup, que além de esmerilhar no instrumento, em especial em "Fascination Street" e "Disintegration", tem uma performance de palco muito bacana, com o baixão lá na metade da coxa e se movimentando intensamente o tempo todo.

A gente sempre fica naquela curiosidade sobre que música vai abrir o show e tal, ainda mais no caso do Cure, de grandes inícios de discos, e entre tantas boas alternativas, a opção da banda foi a lógica: abriu com “Open” do álbum “Wish”. Nada mais apropriado, não? Aliás a primeira parte do show, bem longa conforme prometido, começou e fechou com as faixas deste álbum: “Open” na entrada e “End” pra encerrar. No meio disso uma viagem ao longo de toda a discografia, intercalando grandes sucessos com outras menos populares. Teve "In Between Days" levando a galera à loucura; uma “Shake Dog Shake’ ganhando em peso e energia mas perdendo um pouco a identidade (quase não reconheci de início); “Trust”, a única balada, executada lindamente; uma “Love Song” emocionante e até dancinha de aranha de Robert Smith na ótima "Lullaby".

Não chorei tanto quanto no show do Morrissey, aqui no Rio, há pouco tempo atrás, mas em “Play for Today”, por exemplo, sequer consegui acompanhar aquele “ôôô” criado pelo público no disco “Paris”, por conta das lágrimas; e ainda, de sacanagem comigo, Mr. Smith e sua turma resolveram emendar, na sequência, o clássico “A Forest” pra desmontar qualquer sistema emocional. Aí não teve jeito, tive que assistir a essa parte do show com a vista toda embaçada.

Depois de “End”, excessivamente barulhenta por conta do som do ginásio que foi piorando gradualmente, terminada a primeira parte, a banda deu aquele tempinho, bebeu aquela aguinha esperta e voltou para um bloquinho "Disintegration", iniciando com a própria abertura do álbum, "Plainsong", linda e apaixonante, seguida da surpreendente "Prayers for Rain", e fechando o primeiro bis com a faixa-título do que é para mim o melhor disco da banda, "Disintegration", cheia daquele efeitinhos de vidro quebrando, que na verdade, são um charme a mais na música.

O terceiro bis, e a última parte do show foi pra galera, empilhando hits de modo a não despontar ninguém. Foi “Why Can’t I Be You?”, “Hot Hot Hot!!!”, "Close to Me", “Boys Don’t Cry” e até “The Caterpillar”, não muito comum em concertos, reservando a reta final para aquela sequenciazinha já tradicional dos encerramentos do Cure, com “10:15 Saturday Night”, que levou o público à loucura, e “Killing na Arab”, matadora, já num estado de êxtase coletivo.

Destaques também para “Just Like Heaven”, talvez a mais festejada; para "Push", com o público cantando junto o “go, go, go!!!” ; “From the Edge of Deep Green Sea” pouco conhecida do grande público e longa para shows mas mesmo assim com ótima receptividade da audiência;  “Sleep When I’m Dead” que eu, particularmente não conhecia e gostei muito; e ainda para “Want” , a única música aproveitável do sofrível álbum “Wild Mood Swings”. Agradáveis surpresas foram “Bananafishbones”, impecavelmente bem executada e “The Lovecats”, extremamente rara nas set-lists de shows, e interessantes ausências foram, para mim, “Primary”, que considero uma música com pique bom para apresentações ao vivo, e "A Night Like This", uma das grandes da banda e que certamente teria uma boa receptividade, mas que não fizeram tanta falta assim a ponto de comprometer o conjunto geral do espetáculo.

Se eu tinha alguma seqüela daquele showzinho bem mais ou menos de 1996, posso dizer agora que finalmente estou curado. Um show empolgante, vigoroso, numa noite memorável. Uma noite para guardar na memória pois uma noite como essa não é sempre que se tem a oportunidade de presenciar.

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SETLIST
Open
High

The End Of The World
Love Song
Push
In Between Days
Just Like Heaven
From The Edge Of The Deep
Pictures Of You

Lullaby
Fascination Street
Sleep When I´m Dead
Play For Today
A Forest
Bananafishbones
Shake Dog Shake
Charlotte Sometimes
The Walk
Mint Car
Friday I´m In Love
Doing The Unstuck
Trust
Want
The Hungry Ghost
Wrong Number
One Hundred Years
End
Plainsong
Prayers For Rain
Desintegration
Dressing Up
The Love Cats
The Catterpillar
Close To Me
Hot Hot Hot
Let´s Go To Bed
Why Can´t I Be You
Boys Don´t Cry
Saturday Night
Killing an Arab

quinta-feira, 4 de abril de 2013

The Cure - "The Head on the Door" (1985)



The Cure - The Head on the Door (clyblog)
"Acho que muitos fãs gostam desse disco porque ele está balanceado.
Tem o nosso lado mais soturno como em 'The Blood',
mas há momentos muito relaxados como em 'In Between Days' e 'Close to Me' ."
Robert Smith
“The Head on the Door” , de 1985, é certamente o disco mais pop do The Cure. Mas isso não significa que a banda tenha meramente se entregado ao mercado musical fazendo o que a 'indústria' e o grande público desejavam. O álbum é resultado de toda uma bagagem que o Cure foi agregando ao longo de sua trajetória desde o punkzinho dos dois primeiros discos, a atmosfera dark da fase seguinte, o synth-pop da época que o Cure foi apenas uma dupla, chegando à metade dos anos oitenta tão bem constituída a ponto de dar subsídio para que a banda conseguisse produzir um trabalho extremamente variado sem abrir mão de sua identidade sonora e de suas convicções, com qualidade e personalidade.

“In Between Days “ que abre o disco dá a mostra do quão acessível é esse trabalho da banda, num dos maiores hits de sua carreira. Uma base com um violão marcante, um teclado fluído e inconfundível e um refrão daqueles de não tirar da cabeça. A segue “Kyoto Song”, uma belíssima e perturbadora balada de característica sonora bem à japonesa; uma levada agressiva de violões à espanhola dão início e pautam toda a forte e intensa “The Blood” que vem na sequeência, cujos versos "I'm paralized by the blood of Christ" são resultado de alucinações causadas por um vinho português; vem em seguida “Six Different Ways”, psicodélica, interessante, mas nada mais que apenas graciosa; mas “Push”, a seguinte, com uma introdução longa, típica do Cure, apresentando primeiro toda a parte sonora antes de entrar com a letra, tem um dos melhores trabalhos de guitarra de Robert Smith, nesta que é para mim uma das grandes músicas do álbum.

“The Baby Screams”, que durante algum tempo até mesmo abriu shows da banda, é uma interessante mistura de guitarras com recursos eletrônicos com Robert Smith verdadeiramente gritando, numa interpretação muito legal e interessante; vem na sequência outro super-hit, “Close to Me” com sua batida seca, vocal quase sussurado e tecladinho adorável. Não precisaria nem dizer que é uma das melhores da banda até hoje. O acerto pela simplicidade. “A Night like This’ é outra jóia do disco. Música belíssima, bem composta, tristinha (como de costume) mas de uma leveza impressionante.  Tem um solo de sax lindíssimo que, se o ouvinte não estiver derretido até ali, cai de vez depois dele. Gosto muito de “Screw”, esquisitona, quebradiça, com destaque especial para o ótimo Simon Gallup e seu baixão distorcido. E então o disco fecha magistralmente com a ‘climosa’ “Sinking”, sombria, soturna, depressiva, para, se havia ficado alguma dúvida, ter-se certeza de que tudo o que ouviu-se até então era realmente o bom e velho The Cure.

Um trabalho perfeito de síntese musical dos anos 80. A mistura exata entre o clima de obscurantismo do início da década com a fórmula pop que consegue atirngir o grande público. Com sua melhor formação e auge técnico, o Cure conseguia com um álbum impecável atingir o sucesso comercial, não trair a si próprio, ganhar novos fãs e manter os existentes sem desagradá-los. Nem é meu preferido, até porque sou mais fã dos discos bem ‘góticos’ por assim dizer, como "Disintegration", “Faith”, "Pornography", mas reconheço sua alta qualidade e não estranharia e não tiraria a razão de algum fã se me afirmasse ser este o melhor disco do The Cure.
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FAIXAS:
  1. "In Between Days" – 2:57
  2. "Kyoto Song" – 4:16
  3. "The Blood" – 3:43
  4. "Six Different Ways" – 3:18
  5. "Push" – 4:31
  6. "The Baby Screams" – 3:44
  7. "Close to Me" – 3:23
  8. "A Night Like This" – 4:16
  9. "Screw" – 2:38
  10. "Sinking" – 4:51
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Ouvir:

terça-feira, 2 de abril de 2013

"The Cure In Orange", de Tim Pope (1987)




Na semana em que o The Cure retorna ao Brasil para shows aqui no Rio e em São Paulo, aproveito para destacar o filme, registrando um concerto épico da banda na França, num anfiteatro romano na província de Orange, que por sinal empresta seu nome e cor ao filme: “The Cure in Orange”.
Dirigido por Tim Pope, amigo dos integrantes e diretor de diversos clipes da banda, o filme registra um concerto na íntegra transcorrendo desde o entardecer até o cair da noite, o que associado ao cenário das ruínas do bem conservado anfiteatro, reforça toda uma atmosfera cenográfica e apropriada ao visual e proposta do grupo. Com uma forma muito particular de conduzir o filme, o diretor se vale da identidade visual dos próprios videoclipes para compor a filmagem do concerto, balançando a câmera, levando-a quase no rosto dos músicos e trabalhando cores vivas em “Inbetween Days”, utilizando um discreto slow-motion em “A Night Light This”; imitando raios de sol entrando entre árvores em “A Forest”; ou perseguindo o cantor em “Close to Me”.
Robert Smith, de cabelo 'normal'
revelado pelo amigo Gallup
O show tem uma particularidade interessante registrada pelo diretor logo no início do filme: na entrada da banda para o palco, ao som de “Relax” do The Glove como música de entrada, Robert Smith, de cabelo cortado, provavelmente para não desapontar o público que sempre espera vê-lo com a tradicional juba desgrenhada e arrepiada, entra no palco com uma peruca imitando a ele próprio, mas logo é ‘desmascarado’ pelo baixista Simon Gallup que tira o adereço jogando-o longe. Aí, de cabelo curto mesmo, abrem o showzaço com a matadora “Shake Dog Shake” que mesmo não sendo lá tão enérgica já abre a roda de pogo na galera; mas “Play for Today”, sim, de apelo pós-punk mais evidente incendeia o pessoal da frente do palco e a roda punk come solta. O show, impecável do início ao fim, traz diversos grandes momentos musicais e visuais, como as já citadas “Inbetween Days”, “Close to Me” e “A Forest”; "One Hundred Years" intensa e com uma iluminação sinistra e misteriosa; “Sinking” mais sombria do que nunca; "Faith" em uma execução belíssima e emocionante; e uma “Give Me It” enlouquecida com uma filmagem totalmente agitada, movimentada e tremida.
A proximidade do final do show vai revelando um êxtase crescente por uma apresentação até então enlouquecedora e que a cada música parecoia reservar um encerramento não menos que grandioso. E é o que acontece com a sequência que costumava fechar muitos shows da banda naquela época; depois de “10:15 Saturday Night” que sempre empolga o público, a banda fechava com a tradicional “Killing na Arab” vibrante, elétrica, agressiva botando abaixo o resto das ruínas do anfiteatro de Orange.
Um final apoteótico. Extático. Catártico.
Um dos melhores registros em filme de uma banda ao vivo, com uma performance competente e inspirada, muitíssimo bem filmada e dirigida, num cenário altamente sugestivo e apropriado.
Como não é todo dia que o Cure passa por aqui, é recomendável aos fãs terem em casa e assistirem sempre que baterem as saudades. Satisfação garantida.

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O anfiteatro de Orange,
cenário espetacular para um show não menos incrível
FAIXAS:
1. "Relax", do The Glove (introdução)
2.  "Shake Dog Shake"
3. "Piggy in the Mirror"
4. "Play for Today"
5. "A Strange Day"
6. "Primary"
7. "Kyoto Song"
8. "Charlotte Sometimes"
9. "Inbetween Days"
10. "The Walk"
11. "A Night Like This"
12. "Push"
13. "One Hundred Years"
14. "A Forest"
15. "Sinking"
16. "Close to Me"
17. "Let's Go to Bed"
18. "Six Different Ways"
19. "Three Imaginary Boys"
20. "Boys Don't Cry"
21. "Faith"
22. "Give Me It"
23. "10.15 Saturday Night"
24. "Killing an Arab"
25. "Sweet Talking Guy", dos The Chiffons (música de encerramento)


Cly Reis

sexta-feira, 4 de maio de 2012

The Cure- "Pornography" (1982)

"As críticas foram muito divididas,
não ia muita gente aos shows,
mas eu sentia que finalmente
havíamos feito um grande disco."
Robert Smith


Durante muito tempo este foi o disco da minha vida. Hoje em dia tenho que admitir que não é mais "O" disco da minha vida, conheci muitos outros, descobri coisas interessantíssimas de alta qualidade, alto valor técnico, histórico, referencial, etc., mas posso afirmar tranquilamente que ainda é "UM DOS" grandes álbuns da minha discoteca. Naquela época, metade dos anos 80 quando descobri o The Cure, auge da minha fase darkzinha, se tinha um disco traduzia precisamente todo aquele clima e atmosfera era certamente o "Pornography" do The Cure. Um disco denso, pesado, de letras mórbidas, sofridas, sombrias e negativas, muito centralizado nos trabalhos de bateria e com arranjos de guitarra marcantes e bem desenhados.
A pessimista "One Hundred Years" ("It doesn't matter if we all die") que abre o disco exemplifica bem isso: uma programação de bateria contínua muito bem desenvolvida com uma guitarra estridente e angustiante como que solando o tempo todo e teclados preenchendo os espaços sufocantemente. "One Hundred Yeras" parece sangrar.
Com uma batida tribal lenta e cansada, a bizarra, surreal e inquietante "Siamese Twins" traz outro trabalho de guitarra notável de Robert Smith em uma interpretação dolorida e agonizante.
'The Figurehead", outra das grandes do álbum tem por sua vez destaque para o baixo de Simon Gallup, numa condução firme, com uma melodia dura, acompanhando uma batida de tons militares de Tolhurst, numa canção que aborda o tema das drogas, tão presente no grupo naquele momento, e os efeitos de estar preso a elas ("I will never be clean again").
"Strange Day", talvez a mais leve do disco também traz outra performance legal de Gallup no baixo, com uma base que lembra muito a de "Charlotte Sometimes"; "A Short Term Effect" vem com uma 'confusão' de guitarras zunindo, dando rastantes, cortando o ar, quase sufocadas pelo som da beteria que parece querer estourar; a gélida "Cold" depois de iniciar com um violoncelo aterrador, explodir numa batida alta e poderosa, se transforma numa suplicante e sombria canção de amor ("Your name like ice into my heart"); e "Hanging Garden", o single do álbum, mostra o perfeito conjunto na proposta do projeto, desde a programação de bateria em rolos contínuos de Tolhurst, ao baixo seguro e preciso de Gallup, e na guitarra aguda e perturbadora de Robert Smith, completada por sua interpretação amedrontadora.
O Cure que sempre deu bons desfechos para seus discos, neste não fez diferente e, se não trata-se de uma grande canção, esta que é o título do álbum, "Pornography", sem dúvida alguma, no mínimo faz com que fiquemos com as sensações de inquietude e angústia vivas mesmo depois que a música barulhenta e claustrofóbica, cheia de ruídos e de diálogos de filmes incompletos e indecifráveis, é interrompida quase que abrupatamente terminando a audição. De deixar sem fôlego.
Certamente até hoje, um dos grandes discos da minha vida.

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FAIXAS:
  1. One Hundred Years
  2. A Short Term Effect
  3. The Hanging Garden
  4. Siamese Twins
  5. The Figurehead
  6. A Strange Day
  7. Cold
  8. Pornography
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Ouça:
The Cure Pornography



Cly Reis

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

The Glove - "Blue Sunshine" (1983)



"Foi um ataque real sobre os sentidos, quando estávamos fazendo o álbum.
Estávamos praticamente saindo do estúdio às seis  da manhã... assistindo todos aqueles filmes mentais e em seguida indo dormir e tendo sonhos realmente dementes...
Deus, nós devemos ter visto uns 600 filmes naquela época.
Devem ter sido todas aquelas pós-imagens que surgiram nas canções."
Robert  Smith

Numa época em que tinha grandes dificuldades financeiras para comprar LP's e, no mais das vezes, o máximo que conseguia era pagar para gravar em K7 muitas coisas que gostava, com grande esforço consegui adquirir o "Blue Sunshine" do The Glove. Um exemplar bonito, uma edição japonesa bem legal que, não precisaria nem dizer mas passou a ser o xodó dos meus vinis. Mas não tinha esse carinho todo apenas por ter sido caro, ser importado, ou por ter sido suado; o disco era muito bom mesmo!
Em recesso com suas respectivas bandas, Robert Smith do  The Cure e Steven Severin dos Banshees da cantora Siouxsie Sioux, resolveram dar um tempo com seus times titulares e juntaram-se num projeto paralelo para criar o The Glove, banda que contava ainda com a bailarina e performer Jeanette Landray nos vocais, e com o baterista Andy Anderson que futuramente viria a tocar no Cure também, além de músicos de cordas convidados. A brincadeira durou apenas um disco mas, talvez pela liberdade de poderem atuar sem o peso dos nomes consagrados de seus grupos, produziram um trabalho diferenciado em relação aos próprios produtos originais, sem abandonar contudo o clima sombrio e soturno característico de ambas as bandas.
“Blue Sunshine” é uma viagem etílica alucinógena demente por um mundo fantástico de cidades coloridas, personagens absurdos, crimes brutais, perversões e sonhos. Regados a drogas e álcool, a dupla mergulhada em filmes B, terror trash, quadrinhos e ficção científica produziu uma série de atmosferas sonoras repletas de imagens e cores fascinantes, amarradas quase que continuamente por sons de trechos de filmes que ficam ao fundo ligando uma faixa à outra.
O Homem-Cassino, o Homem-Guarda-Chuva,  são heróis e vilões improváveis no mundo miniatura da adorável “Looking-Glass Girl”, uma canção leve pontuada por uma linha de cordas apaixonante. “Sex-Eye-Make-Up” traz um clima pesado, tenso, misterioso, com uma atmosfera sonora densa, uma narração sombria de Landry ao vocal, e solos arrasadores e desconcertantes de Robert Smith com uma guitarra rascante, destorcidísima e ruidosa. Em “Like na Animal”, a primeira do disco, quem se destaca, por sua vez, é Steve Severin com uma linha de baixo precisa, contínua e uniforme deslizando sobre a música como se estivesse solando o tempo inteiro.
Robert Smith: "Não me lmebro muito bem do que rolou.

Estávamos muito bêbados o tempo inteiro."
Robert Smith canta em apenas duas faixas, “Mr. Alphabet Says”, canção que começa com um piano numa linha quase circense e que surpreendentemente desemboca numa bateria tribal acompanhada por uma condução de um violoncelo choroso e tristonho; e também na ótima “Perfect Murder”, uma canção pop graciosa com uma base de teclado bem oriental e um vocal descontraído contrastando com o tema sangrento. O vocalista do Cure classificava Jeanette Landray como uma cantora apenas razoável mas em “Orgy”, uma das melhores do disco, provavelmente até ele deva admitir que ela teve sua melhor interpretação, passeando no limite entre o sensual e o mórbido. “Orgy” com sua base indiana programada, hipnótica e repetitiva, sobre uma bateria tribal retumbante, é intensa, é brutal, exala sexo e violência. Uma naja hipnótica e mortal.
O disco tem duas instrumentais, “A Blues in a Drag”, uma elegia melancólica com o teclado dobrado e ecoado; e a derradeira do álbum, a excepcional “Relax”, uma viagem psicodélica alucinante cheia de efeitos, sintetizadores e samples de vozes em japonês desfilando sobre uma base de guitarra à espanhola e uma linha de teclado característica de filmes de ficção científica, numa trip que mais se aproxima, na verdade, de uma espécie de pesadelo sonoro.
 Em parte pouco conhecido, em parte subestimado, “Blue Sunshine” do Glove, é, no entanto, um dos grandes discos dos anos 80 e, particularmente, um dos melhores que conheço num âmbito mais geral.
Não tenho mais o vinil japonês que mencionei no início, o meu é o CD simplezinho, que até tem três faixas extra, mas e só. Soube que há algum tempo atrás saiu uma super-ediçao de luxo com um CD extra com as versões demo cantadas por Robert Smith. Talvez adquira uma hora dessas. De qualquer forma, o meu, mesmo sendo só o basiquinho continua sendo um dos maiores xodós da discoteca. Daqueles que se tem respeito, sabe? Daqueles que não se ouve sempre. Que, se for para ouvir sem dar atenção, melhor pegar outra coisa. Aqueles dos quais não se desperdiça uma audição em vão. E quando se pega para ouvir é aquela coisa superior: "Vou ouvir o 'Blue Sunshine'".

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FAIXAS:
01 Like An Animal
02 Looking Glass Girl
03 Sexy-Eye-Make-Up
04 Mr. Alphabet Says
05 A Blues In Drag
06 Punish Me With Kisses
07 This Green City
08 Orgy
09 Perfect Murder
10 Relax

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Ouça:
The Glove Blue Sunshine




Cly Reis

sábado, 27 de setembro de 2008

The Cure- "Disintegration" (1989)


O MAIOR DISCO DO MUNDO



"Disintegration é o maior disco do mundo!"


Tem um episódio do South Park em que a Barbra Streisand vira um monstro (se é que já não é), tipo aqueles de seriados japoneses, começa a destruir tudo e então as crianças da cidade chamam Sydney Pottier para combatê-la. Este se transforma em gigante, usa todas as suas forças e não consegue vencê-la, ao que chamam então Robert Smith, do The Cure, que fica também gigante, como um Ultraman, um Jaspion, e consegue derrotá-la. No final, quando Bob Smith está indo embora, um dos meninos o chama, ele se volta e o garoto diz, "Disintegration é o maior disco do mundo!" e Robert segue e some no horizonte.
Não, Disintegration não é o maior disco do mundo. Mas é bom pra caralho!!! E é com certeza um dos melhores desta banda da qual sou fãzaço.
Costumam colocá-lo numa espécie de 'trilogia das sombras' com o Pornography e o Bloodflowers. Concordo com o Pornography, que acho também um discaço, mas só aceito colocá-los juntamente com o Bloodflowers pelo clima mais deprê dos álbuns, mas não por qualidade, uma vez que o Bloodflowers é muitíssimo inferior.
Disintegration abre com a mágica "Plainsong" com seus tilintares que parecem uma explosão estrelar, segue a adorável e doce "Pictures of You", sempre num clima pesado passa-se por "Closedown", "Lovesong" e pelo sombrio hit "Lullaby", chegando à que considero a melhor música do álbum, a intensa "Fascination Street". Com um fio condutor que é uma linha de baixo violenta e arrasadora, a música ganha efeitos sobrepostos que dão uma atmosfera alucinante e guitarras que parecem quase que como independentes do restante da música estando porém em plena harmonia o tempo todo. É a mais emplogante do disco.
Segue com "Prayers for Rain" que abre com uma guitarra forte e se desenvolve com uma melancolia agressiva, vai à triste e longa "The Same Deep Water as You" com seus efeitos de chuva e chega novamente a outro ponto alto, a faixa-título "Disintegration". Esta um pouco mais "pra cima" , também com uma linha de contrabaixo marcante que orienta toda a canção, na melhor interpretação vocal de Robert Smith no disco. O álbum fecha com "Untitled", que é uma faixa simples, delicada, mas que mantém esse clima de escuridão mas que serve pra fechar bem um disco grandioso. Eu listei assim porque tive este disco primeiro em LP, no CD tem duas faixas extras, "Last Dance" e a ótima "Homesick", que fica melhor ao vivo, no mini-álbum Entreat.
Desde que vi o tal episódio de South Park, sempre que vou à minha prateleira de CD's pegar o Disintegration pra ouvir, penso: "É o maior disco do mundo!"
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FAIXAS:
1. “Plainsong”
2. “Pictures Of You”
3. “Closedown”
4. “Lovesong”
5. “Last Dance”
6. “Lullaby”
7. “Fascination Street”
8. “Prayers For Rain”
9. “The Same Deep Water As You”
10. “Disintegration”
11. “Homesick”
12. “Untitled”

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Ouça: