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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

"Mãe!", de Darren Aronofsky (2017)



Não vou dar spoilers. Juro! Mas preciso falar sobre “Mãe!”, novo filme de Darren Aronofsky. Se você viu o trailer deve imaginar um filme de terror, certo? Ele, de certa forma, é e não é. Uma montanha russa que te choca seria uma descrição mais apropriada. Porque você não vai ficar indiferente a ele. Pode não gostar. Pode até se irritar ou se ofender, mas indiferente você não vai ficar.

Tudo é uma grande alegoria. Não apenas um tópico da história. Toda ela! É a perspectiva de Aronofsky sobre toda a tradição judaico-cristã. Há o Éden. Há o sexto dia da Criação. Há Caim e Abel. Há uma viagem por toda a Bíblia, do antigo ao novo testamento, mas é, sem sombra de dúvida, a visão de um judeu secular sobre as narrativas canônicas.

Para Aronofsky, Deus é um criador narcisista e um péssimo governante. Há muito espaço para críticas a forma como nós, humanos, lidamos com a vida. Porém, ainda que a criação não seja nada digna de louvores, isso não diminui quem o Criador é - o que pode ser um interessante paralelo para pensarmos sobre o debate público sobre arte e o que ela representa.

Isso segue muito a lógica judaica, retratada com excelência na série “Decálogo”, do diretor polonês Krzysztof Kieslowski - que é uma grande leitura aplicada das mitzovt, ou os Dez Mandamentos -, no episódio sobre não tomar o nome de Deus em vão: tome cuidado ao pedir que Deus participe da suas decisões, você pode não gostar dos resultados. Afinal, ele é Deus, você não. Isso basta!

Jennifer Lawrence e Javier Barden no polêmico filme de Aronofsky
É a grande diferença da perspectiva judaica para a cristã. Enquanto a segunda, através da história, se esforçou para construir narrativas teológicas que justificassem o mundo e suas incongruências de uma forma palatável - ainda que profunda e belíssima, diga-se de passagem, tendo sempre o amor como centro -; a primeira aceita as incongruências como parte de algo muito superior - há vertentes do cristianismo que dialogam com isso; o jensenismo, no catolicismo, e o calvinismo, no protestantismo, são exemplos disso.

O filme retrata e fala muito sobre a perspectiva de Aronofsky sobre a cosmovisão judaica. Incomoda e muito, como disse antes. Não apenas por filmar algo que sacode nossa posição religiosa, mas principalmente por nos situar como participantes ativos no caminho de destruição que o mundo parece seguir.

O Deus de Aronofsky é judeu e não cristão. E se você está familiarizado com o antigo testamento sabe bem como Ele lida com as coisas quando elas não saem como o esperado. É uma bela experiência para mostrar que ainda que irmãs, as tradições canônicas NÃO são a mesma coisa!

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Trailer de "Mãe!"



por Eduardo Dorneles

segunda-feira, 29 de maio de 2017

quarta-feira, 29 de março de 2017

"T2: Trainspotting", de Danny Boyle (2017)



T2: Trainspotting e o Eterno Retorno
por Eduardo Dorneles

"Você está aqui por nostalgia", diz Sick Boy (Jonny Lee Miller) a Renton (Ewan McGregor) em certa altura de “T2: Trainspotting”. A fala condiz com os temas que o filme aborda e a metalinguagem que se estabelece. Afinal, todos no cinema - inclusive eu - aguardavam ansiosamente essa continuação que levou vinte anos para ser lançada.

“Trainspotting” chegou aos cinemas em 1996 trazendo um retrato da juventude viciada em Edimburgo, capital da Escócia. A história dos já citados Renton e Sick Boy, aliada a de Spud (Ewen Bremner) e Begbie (Robert Carlyle), transcendeu esse escopo e se tornou um dos manifestos cinematográficos dos anos 1990 - ao lado de "Clube da Luta".

As problematizações a respeito da forma como jovens adultos precisam lidar com os processos de amadurecimento era o cerne de sustentação de toda a trama do primeiro filme. Por isso a subversão do lema "Choose life" - ou "escolha a vida" -, uma campanha contra as drogas muito popular nos fim dos anos 1980 e início dos anos 90, em uma sequência marcada pela escolha em não escolher. Méritos do diretor Danny Boyle e do roteirista John Hodge, que conseguiram adaptar magistralmente o texto de Irvine Welsh.

“T2”, que recém chegou aos cinemas brasileiros, deixa de lado o conceito do "escolha não escolher", um típico dilema juvenil, para abraçar uma questão mais madura. Talvez não no sentido intelectual, mas sim no aspecto cronológico, mesmo. Afinal, atormenta gente mais experiente: o que eu fiz da minha vida?, é só isso?
Sick Boy, Renton e Spud mais de 20 anos depois

A história dos quatros personagens inicia a partir deste ponto: quarentões frustrados precisam encarar o fato que a vida não se tornou aquilo que eles esperavam. O encontro do grupo é uma tentativa de buscar sentido em uma existência vazia. Tudo se repetiu. As experiências se esvaíram - inclusive as lisérgicas. Restou a memória de quando tudo era novo, as possibilidades eram muitas e as oportunidades inesgotáveis.

A busca desenfreada por algo que possa trazer esperança é o que faz a história andar. É um contínuo Eterno Retorno, a la Nietzsche, onde tudo parece se repetir em círculos constantes e intermináveis. Boyle sabe disso e brinca com os elementos narrativos que estão a sua disposição, é claro. O humor cínico e ácido está lá. Porém, tudo é a nostalgia que move. Tanto dos personagens quanto do espectador que também está afetivamente ligado àquela história desde o filme original.

Talvez este seja o grande trunfo de “T2”. Apesar da excelência cinematográfica que a obra apresenta, apenas o tempo poderá demonstrar se ela se tornará tão grande quanto seu antecessor. Entretanto, é inegável apontar o exercício de metalinguagem existente.

Os personagens envelheceram. O expectador também. Os personagens buscam no passado e nas certezas da memória algum sentido na fluidez do presente e nas incertezas do futuro. O expectador também.
McGregor como Renton enfrentando as consequências
do eterno retorno

Afinal, você também não ri e se emociona das aventuras vividas no passado enquanto bebe e come ao lado de amigos ao invés de estar desfrutando e criando novas lembranças com eles?  Você também não sente suas certezas se abalarem com o tempo que passa e a consciência de sua pequenez diante da realidade que se impõe? Seus olhos não se enchem de lágrimas quando você percebe que não é a pessoa que aquele adolescente sonhou se tornar? Você não fica triste quando todas suas experiências parecem apenas simulacros vazios de grandes momentos que ficaram no passado?

O passado é um porto seguro, uma boia de salvação, um farol de emergência diante do drama de suportar o misterioso destino que nos aguarda. Olhar para os "anos dourados" da existência é mais fácil e mais prazeroso do que encarar o Eterno Retorno que nos atormentará até o fim.

Renton, Sick Boy, Spud e Begbie, à sua maneira, sabem disso. De uma forma ou de outra, enquanto abraçam este fato, convidam o expectador a fazer o mesmo: aceitar a nostalgia como alívio ao niilismo perturbador.

Escolha.

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trailer de “T2: Trainspotting”


sábado, 18 de fevereiro de 2017

“Manchester À Beira-Mar”, de Kenneth Lonergan (2016)


Precisava escrever sobre “Manchester À Beira-Mar”
Por Eduardo Dorneles


Um amigo, leitor assíduo e crítico construtivo do que escrevo, uma vez me disse: "seus textos, sem querer ofender, às vezes são muito para baixo".

Não me ofendeu. Ele tinha razão. Porém, respondi, não tenho muito o que fazer quanto a isso. Esse é o mundo que vejo. E já há tanta gente dizendo que a vida é maravilhosa, que os sonhos vão acontecer, que os amores serão eternos, que somos especiais, que não vejo motivo de ser mais um a contar essas mentiras - ainda que estes ganhem mais dinheiro e tenham mais leitores, evidentemente.

A vida é complexa, cinza e imprevisível. Somos contraditórios, egocêntricos - nossa geração mais ainda - e não temos controle sobre nosso próprio ser. Sinto-me mais útil apontando e rindo disso do que cantando glórias que não existem.

Talvez por isso o filme “Manchester À Beira-Mar”, escrito e dirigido por Kenneth Lonergan e com Casey Affleck – o irmão mais novo do Ben Affleck – no elenco, tenha me arrebatado ao ponto de dedicar muitas horas do meu dia em pensar na mensagem de seu texto.

O filme conta a história de Lee Chandler, um zelador de condomínio na cidade de Boston, com seus quase quarenta anos, frequentador de bares locais, adepto de brigas sem motivos e nada entusiasta dos ritos sociais fugazes – como as conversas supérfluas com os moradores dos prédios que atende ou um flerte com a garota que se interessa por pena, por exemplo. Ele é mais um entre tantos bilhões que vive o martírio de suportar a existência vazio de maiores realizações.

Chandler e Affleck na narrativa que suscita Crime e Castigo
Até que recebe uma amarga notícia: seu irmão mais velho morreu e ele precisa retornar à sua cidade natal, Manchester. Porém, retornar para lá também é voltar a um passado cruel e amedrontador. As coisas só pioram quando ele recebe a notícia que se tornou o guardião legal de seu sobrinho de 16 anos.

Disso nasce o drama que move a narrativa: tirar o jovem da cidade onde é querido, tem amigos, duas namoradas, a titularidade na equipe hóquei da escola, uma banda, casa e o barco do pai morto; ou permanecer e ter que lidar com o passado que ainda o tortura?

A memória que funciona quase como uma maldição sobre os ombros do protagonista faz lembrar Dostoievski e seu Raskólnikov: não existe nada mais desesperador do que um crime sem castigo. O drama de Lee é a perfeita metáfora que demonstra o quão tolo é o argumento de que a culpa não passa de uma ferramenta de opressão e manipulação da “sociedade patriarcal” e da tradição judaico-cristã.

O filme conta, através de flashbacks bem introduzidos, o que aconteceu a Lee. Não vou entregar a surpresa que é fundamental para o impacto que a história quer causar. Porém, diante de um reencontro inesperado com a ex-esposa (Michelle Williams, fantástica!) e um diálogo com falta de palavras – uma das cenas mais belas e chocantes do filme –, ele balbucia a chave que traduz a mensagem do filme:

- Eu não consigo superar isso.

Lee é inocentado perante a lei e segue livre externamente, mas internamente está acorrentado a um calabouço. Ele é torturado pelas forças incontroláveis que dominam e destroem a vida de um homem.

O filme é mais que um drama para lhe fazer chorar – e Lonergan acerta muito ao não forçar um sentimentalismo barato. A obra é uma perfeita tragédia – no sentido grego da coisa, mesmo: Lee é o sacrifício entregue a Dionísio, deus do vinho e da loucura, e atormentado pela completa falta de controle sobre a contingência da vida.

Michelle Williams, atuação de destaque
“Manchester À Beira-Mar” não é um filme para você se sentir bem. A obra não dá soluções ou saídas miraculosas. Não há redenção. A vida é muito maior que uma teoria, uma oração, um exercício de respiração que você chama de meditação, um pensamento positivo ou “o segredo” em um livro de autoajuda.

Somos uma geração tola que realmente deposita fé na ilusão do controle. Os “medievais”, estes que seu professor “progressista” gosta de acusar de retrógrados, eram muito melhores do que nós neste quesito. Eles sabiam e temiam o terror que a vida, essa série de circunstâncias incontroláveis, pode causar.

“Manchester À Beira-Mar” reverencia a derrota inerente à nossa natureza. Vamos tombar. A vida em algum momento vai nos vencer. Assim como Lee, precisamos ter consciência de que para algumas coisas não vamos ter força. E tudo bem por isso.

O amigo que acha meus textos para baixo não vai gostar do filme, provavelmente. Ele vai preferir se emocionar com “La La Land” e com crônicas de outro amigo que escreve textos mais “cheirosos”.



quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

“La La Land - Cantando Estações”, de Damien Chazelle (2016)



Os sérios e os tolos
por Luan Pires

Fotografia é um dos trunfos do elogiado La La Land.
Lembro-me quando fui assistir “Os Miseráveis” no cinema e, por ser um musical todo cantado, metade das pessoas saíram no meio da sessão. Nunca entendi como musicais podem assustar as pessoas: poder imaginar como a vida seria se ao invés de "bons dias" mecânicos, conversas sobre o tempo e mau-humor rotineiro, tivéssemos que lidar apenas com sentimentos transformados em canções. Eu sempre me sinto muito bem – obrigado – quando assisto a um musical. E queria muito poder compartilhar isso. Afinal, bobo mesmo é levar a vida tão a sério.
Ensolarado, colorido, às vezes óbvio, às vezes surpreendente, “La La Land” mistura homenagem e inventividade de forma tão orgânica que é difícil discernir. As músicas podem não ser tão inventivas, mas algumas apresentam uma simplicidade grandiosa. Num mundo onde tudo é tão preto ou branco, escapar por uma janela de cor e música faz muito bem. E como diz a minha música favorita do filme, "um brinde àqueles que sonham, por mais tolos que eles possam parecer".




Não se pode ter tudo na vida
por Eduardo Dorneles

O casal romântico formado por Ryan Gosling e Emma Stone.
Uma excelente história de amor, muito bem contada que não abusa dos truques melodramáticos. Concluí isso logo depois de sair da exibição de “La La Land”. Também entendi que o filme seguiria os caminhos de outras obras com teor semelhante, como "O Artista" e "Birdman", que parecem que foram criadas para alisar o ego da indústria de Hollywood. Ou seja, oscarizados que alcançaram a unanimidade da crítica, mas logo caíram no ostracismo. Porém, mais de uma semana depois que assisti ao musical recorde de indicações ao Oscar de 2017, o filme só tem crescido dentro de mim. A cada momento que penso nele, mais camadas descubro e mais teses e interpretações faço.
Sim, é uma história de amor. Entretanto, também é uma história sobre sonhos. E também é uma história sobre “não poder ter tudo na vida”. E ainda é uma homenagem aos clássicos de Hollywood. Igualmente, é uma tentativa de avançar quanto aos processos narrativos – e é nisso que estão os pecados do filme. Enfim: é um grande filme! Se você é daqueles que recorre à arte para tentar tornar sua rotina maior que a banalidade que nos esmaga, ”La La Land” é aquela obra que para sempre servirá como metáfora para a vida. Afinal, todos nós precisamos escolher quais caminhos percorrer, quais sonhos seguir e quais abrir mão.



trailer "La La Land"





domingo, 29 de janeiro de 2017

cotidianas #494 - "Os Mosquitos da Lâmpada"



Há um tema que me debruço continuadamente: o ressentimento. Pensar essa questão é uma das minhas obsessões, admito.
Nietzsche foi o primeiro a observar o ressentimento como uma marca profunda no ser humano. Ele conta que num canto longínquo do universo, onde um planeta orbitava uma estrela, uma raça de insetos surgiu, se desenvolveu por mais de 1 milhão de anos e criou algo fundamental para sua sobrevivência: o conhecimento. Porém, a estrela um dia se apagou. E o universo continuou, indiferente aos insetos, existindo em silêncio.
Para Nietzsche, daí nasce o ressentimento. A indiferença do universo, a constatação de que o mundo não gira em torno de nós, que não somos as crianças especiais que nossos pais nos disseram que éramos, ou o futuro revolucionário que nossos professores nos fizeram acreditar, disso nasce a mágoa que nos fere.
O escritor Milan Kundera, nascido na antiga Tchecoslováquia, quando chegou a França, em 1975, depois de fugir do regime comunista em seu país, ponderou sobre algo interessante. Para ele, o homem parisiense era um ser muito curioso: acreditava piamente que porque tinha necessidade de amor, o amor era um direito. A singela e profunda observação de Kundera é o diagnóstico da raiz de um problema muito maior no ocidente contemporâneo - tanto na Europa quanto aqui no Brasil, mas essa discussão fica para outra oportunidade.
O ressentimento nos fere incansavelmente. Todos nós somos suas vítimas. Não há cura para isso. Apenas formas diferentes de lidar com ele.
Enfim.
Penso muito nesta questão porque é inevitável observar o quanto isso está presente no cerne da visão política de muita gente. Preste atenção. Analise com cuidado. Tenho convicção que você verá essa característica por trás de muitos textões no Facebook, em panfletos que você recebe no Centro de Porto Alegre ou nas manifestações que você vai.
É a substituição da fé religiosa pela esperança política. Se acreditavam que teríamos uma vida após a morte para compensar as injustiças da existência, hoje se deposita a fé nos planos mirabolantes de um mundo melhor e sem desigualdades. Como se fosse, assim, possível resolver um problema que é ontológico.
Somos os mosquitinhos de verão que voam em torno da lâmpada da sala da sua casa. Ressentidos que acreditam que a lâmpada foi criada para nós.



por Eduardo Dorneles

domingo, 6 de novembro de 2016

cotidianas #478 - Radicais do Pouco



Costumávamos jogar bola juntos. Naquela época a internet não era esse leviatã que nos entorpece e submete. Era apenas um capricho de "burguês". Não me lembro de alguém ter computador em casa. Nossas vidas aconteciam nas ruas em torno do nosso condomínio - conjunto habitacional, na verdade. Era perigoso, obviamente, mas não chegava a ser esse pânico generalizado que se propaga hoje. Havia chance de levarmos uma bala perdida. A todo o tempo. Mas isso não nos impedia de correr por todas a vielas de chão batido ou de paralelepípedo. A pé ou de bicicleta. Esse serviço que filhos de gente rica chamam de "atividades brincantes" hoje, era apenas nosso cotidiano. E isso incluía uma bola de futebol. Tudo incluía futebol naquela idade.
Eu levava jeito para a coisa. Ainda levo, modéstia à parte. Apesar, é claro, do físico não ser mais o mesmo, sei como tratar a querida. Já o Fabrício não muito. Ele atacava muito bem no gol. Sério: muito bem! Uma vez desafiamos todos os guris do nosso bloco:  ele no gol e eu na linha contra um time de cinco que se revezava. E ganhamos de lavada. O Fabrício ainda era louco. Dava umas pontes no asfalto. Os blocos de apartamento ficavam em torno de uma pequena rótula com um poste e dois transformadores. Essa era a estrutura de todos os condomínios do Ruben Berta, na Zona Norte de Porto Alegre. As goleiras eram de um lado na entrada do núcleo e no outro na garagem de um dos condomínios. E o Binho se atirava na bola sem medo de se esfolar no concreto. Era maluco. Era goleiro.
Nós éramos amigos desde sempre. Ele morava no térreo e eu no segundo andar. Fazíamos tudo juntos. Nossas mães se davam muito bem, pelo que lembro. Nossos pais nem tanto. Suportavam-se, vamos dizer assim. Meu pai, que trabalhava numa gráfica lá pelas bandas da Azenha, não entendia como ele podia ser contra o PT e contra o Olívio Dutra, que havia sido eleito governador do Rio Grande do Sul três anos antes. "Professor, pobre e preto: como pode ser contra quem luta por seus direitos?", repetia meu pai incansavelmente.
As coisas pioraram muito um ano depois. O Lula estava a frente nas pesquisas para a presidência. O mercado econômico virou uma bagunça, ele escreveu a carta de compromisso ao povo brasileiro e meu pai desfez qualquer vínculo que poderia ter com o pai do Fabrício. "Não quero ver você andando com aquele guri! Ouviu bem, Diego?", gritava meu velho. "Mas, pai!, ele é meu amigo!", tentava explicar. Nunca adiantava. Meu coroa estava convicto que aquela família de pretos ainda submissos aos interesses da elite branca não era digna de confiança e afeto. Minha mãe detestou a decisão. Prova disso é que sempre acobertou minhas idas ao apartamento dos vizinhos para jogar Mario Kart no Nintendo 64. O que gerava sérios problemas quando meu pai descobria. Mas essa história não é sobre isso.
As coisas melhoraram quando Lula venceu a eleição. Pude voltar a fazer as coisas normais que um garoto de dez anos fazia: jogar bola e falar de gurias - apesar do Fabrício não levar muito jeito com elas. Não sei se isso acontece hoje em dia. Todos são tão sensíveis. Isso pode ofender e tal. Enfim. Conseguimos voltar a ser amigos. Por pouco tempo, infelizmente. Logo eles se mudaram. O seu Euclides havia sido chamado para ser professor de matemática em uma rede de ensino particular. Conseguiram um apartamento no bairro Rio Branco. "Vendidos", foi a conclusão do meu sábio pai. Era janeiro de 2003 quando vi Fabrício pela última vez. Dias antes Luis Inácio assumia como presidente.
Os anos foram bons, até. Meu pai conseguiu uma vaga no sindicato da sua categoria e se envolveu ainda mais com sua paixão: fazer política. Eu nunca me interessei muito pelo assunto, confesso. Preferia usar meu tempo para as coisas que uma pessoa real se importa. Enquanto meu velho queria, me parece, salvar o mundo, eu me contentava em poder viver de uma maneira saudável nesse mundo. Digo, não ter problemas físicos ou jurídicos e me divertir um pouco que fosse quando tinha oportunidade.  O fato de eu ficar mais tempo atrás de mulheres do que integrado aos movimentos que meu pai sonhava que eu participasse o deixava emputecido. Sempre li as coisas que meu velho indicava, por mais que ele não as lesse. Algumas faziam sentido. Outras me nauseavam. E com outras eu apenas ria. Foi uma surpresa quando recebi um vídeo por mensagem no celular. O breve texto dizia algo como “negro que odeia negros faz discurso racista na Câmara dos Deputados!”, entre alguns erros de língua portuguesa. Ri mais uma vez. Já conhecia por experiência as típicas hipérboles falaciosas da turma do meu pai. A surpresa foi quando abri o vídeo e vi quem discursava.
Era Fabrício.
Parecia até mais velho do que a idade que, se não estou enganado, tinha: 24 anos. Porém, guardava algumas características que ainda lembravam o garoto que fora meu amigo há tantos anos atrás. Não tenho paciência para essas coisas, mas precisei assistir ao vídeo. E foi divertido. Fabrício se tornara uma versão mais refinada de seu pai. Criticava contundentemente o que chamava de racismo praticado por negros, a segregação insuflada por aqueles que se diziam tolerantes ao dividir negros e brancos, pobres e ricos, homossexuais e heterossexuais, colocando sempre uns contra os outros. Disse que era gay – o que me surpreendeu muito, confesso -, negro e que veio de uma família pobre, seria um perfeito estereótipo para as bandeiras quase hegemônicas no debate cultural brasileiro. Entretanto, se recusava a fazer parte disso porque antes disso era um ser humano, um indivíduo, e não uma peça de manipulação coletivista a serviço de um projeto de poder corrupto. Ri. Não por deboche. Longe disso. Ri porque foi uma expressão de coragem excepcional. A risada derivada da comédia aconteceu quando os gritos da platéia surgiram no áudio: fascista, racista, golpista, e alguns outros que faziam ainda menos sentido.
As reações foram as já esperadas: CUT, UNE, MST e tantos outros grupos se manifestaram repudiando a fala do meu antigo vizinho. Afirmaram que ele não sabia que era negro, que era a expressão do racismo no inconsciente coletivo, ele era subserviente às elites, essa coisa toda. Meu pai estava enfurecido. “Eu disse que aquela família não prestava! Eu disse!”, repetia incansavelmente no almoço de domingo. A gritaria não me surpreendeu. Eram reações que já estava acostumado. Até comigo já houve coisas assim. Como assim um negro que não se envolve na luta?, tinha que ouvir dos alunos da UFRGS – brancos, diga-se de passagem – que apareciam na comunidade . Meu caso era ainda pior, já que meu pai era o digníssimo Nelsinho do Papel.
Surpreendente foi a reação de todos depois que a notícia que Fabrício estava em coma.
Não se sabia o motivo. Não se sabia as circunstâncias. Sabia-se apenas que ele havia sido cruelmente agredido quando retornava para casa, no bairro de São Mateus, na Zona Leste de São Paulo. O que os grupos que diziam defender as causas das minorias falaram sobre o caso?
Nada.
Nenhuma palavra.

Fabrício estava silenciado. As divergências cessaram. O pensamento discordante não repercutiu mais. Minha mãe se entristeceu quando comentei o caso com ela. Já o meu pai não mencionou absolutamente nada. Desisti de vez de me inteirar dos assuntos do meu velho. Ele continuou cada vez mais intenso na sua pretensa luta.



Eduardo Dorneles 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

cotidianas #462



Ela deitava a cabeça sobre seu ombro. Ambos sorriam. Estavam felizes. Logo ela se levantou, o beijou e desceu do ônibus. Ele seguiu na linha que ia para a Zona Leste enquanto ela embarcou numa que vai para a Zona Sul. Quando os ônibus se afastaram, um dobrava na Ipiranga e o outro seguia na Borges, eles se avistaram pelas janelas. Acenaram. Sorriram. Foi uma linda cena. A vida é bela quando se tem amor para compartilhar.








sexta-feira, 19 de agosto de 2016

cotidianas #458




Ela era um arraso. Daquelas que dói olhar, sabe? Dói contemplá-la e não poder fazer nada. Era uma mulher digna do adjetivo "gostosa", dito de boca cheia. Gôs-tó-sa! E ele, sortudo, conseguira, depois de muito argumento e investimento, levá-la para seu apartamento. Quando ela surgiu de lingerie minúscula e marquinha de biquíni artificialmente confeccionada por aqueles sprays de estéticas localizadas no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre, quase não se conteve, quase, como dizia na adolescência, estourou a champanhe. Mas não: se conteve. Logo se despiu. Logo a beijava loucamente, apertava, lambia, mordia todo seu corpo. "Bem-aventurados os poucos que podem desfrutar de momentos assim", pensava. No ápice, no clímax, enquanto se sentia o homem mais sortudo do mundo, ouviu Malu ronronar: "ai, Guto". Oi?, ele indaga enquanto cai para o lado. Quem é Guto?, pergunta Diogo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

cotidianas #456




"Ombro a ombro" -RODRIGUES, Daniel
O dia estava para terminar. O sol descia e se escondia atrás dos altos prédios da Borges de Medeiros, no Centro de Porto Alegre, tão rápido quantos os passos de Samuel. Ele estava com pressa. Só pensava em chegar em casa, beijar a esposa e tomar um banho. Estava exausto. Foi quando o viu atravessando a rua: cabelos puxados para trás com a algum tipo de gel, barba bem aparada e uma pasta com alça transversal. Eu conheço esse cara, pensou. Seus olhos se cruzam. Ele percebe que o outro pensa a mesma coisa. É uma daqueles momentos que você não sabe explicar, ele apenas faz sentido, sabe? Ambos marcham. Vão se cruzar. Eu conheço você, pensa Samuel; mas como é seu nome, mesmo? Quando os ombros se alinham, um saúda o outro com uma rápida reverência com a cabeça e continuam. Nenhum olha para trás. A vida segue. Samuel precisa pegar o ônibus. Enfim. Afinal, quem diabos é aquele cara?



sexta-feira, 5 de agosto de 2016

cotidianas #454




Cara, é 11h30 e eu não tenho hora pra almoçar! – disse ele, esbravejando. - VOU MORRER! – afirma, com riso na voz.

- Não reclame. Eu nem almoço tenho . Nem aqui e nem em casa. – ri o outro amigo.

- Eu também não! E pior: ainda tô sem minha mãe em casa! – reclama o primeiro sujeito.

- E daí?! Eu tô sem mãe desde 2003! – ri ele.

- Sabia que você ia apelar para esse argumento. Não começa! Você já é adulto.

- Eu, adulto? Eu não tenho a mínima ideia do que tô fazendo da minha vida.

- É. Pode ser. Mas tu paga contas e vai ao hospital sozinho. Isso, pra mim, é ser adulto.



sexta-feira, 29 de julho de 2016

cotidianas #452





Nada importava. Nenhuma outra conversa era mais interessante. Tudo que pudesse ser debatido naquele círculo de amigos tão heterogêneo não era relevante. Apenas um tema era digno de atenção: ele. Cenário político? Contexto econômico? Lançamentos do cinema? Último capítulo da novela? Não. Só o que importava era ele. O tema que deveria conduzir a atenção e o diálogo dos cinco, três mulheres e dois caras, era o que ele pensava e o que tinha a dizer sobre si próprio.
Ele sofreu muito com o antigo relacionamento e hoje é uma pessoa melhor. Ele se considerava um problemático e hoje encontrou paz de espírito na meditação transcendental. Ele não ganha tão bem, mas é um vencedor se encararmos sua trajetória sempre ascendente. E ainda tentou emular Woody Allen, em “Annie Hall”, e seu monólogo sobre sua relação com as mulheres serem como a de Groucho Marx com clubes: nunca me associaria com clubes que me aceitem como sócio, nunca se relacionaria profundamente com mulheres que o aceitassem por completo.
Ele jurou que estava sendo original e encantador. Jurou que arrebatava a atenção e o apreço de todos. Ledo engano. Estava apenas revelando o que era: um narcisista com problemas de autoestima.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

cotidianas #450




- É foda levar um fora!

- Bah! Nem me diz. 

- Pois, é.

- O que houve? Levou um fora? 

- O que você acha? 

- Acho que sim! - disse ela, enquanto ria com sarcasmo. 

- É! Levei. Sério: por que vocês fazem isso? - indaga ele. 

- Para! Como se nunca tivesse levado um fora antes.

- Claro que já! É que vocês fazem com que tudo fique pior.

- Sai fora! E você nunca deu fora em ninguém?

- Óbvio que não!

- Que não! Duvido! 

- Nunca!

- E como você termina com alguém?

- Eu simplesmente paro de responder as mensagens e não atendo mais o telefone. Bem mais simples. - diz ele.




sexta-feira, 15 de julho de 2016

cotidianas #448




Há momentos na vida onde tudo se esvazia. Onde tudo aquilo que um dia fora importante simplesmente deixa de ser. Todos seus planos, sonhos, valores e princípios se dobram e tudo que realmente vale é o presente. O momento. Singelo. Banal, na maioria das vezes. Porém, naquele instante, instante que só você reconhece, um novo significado é adquirido. O recorte de tempo que passaria desapercebido se eterniza em você. 
O quê? Uma dança. Sob as luzes vermelhas e o som alto. Cercado de estranhos indiferentes a sua epifania. Tudo que importa é ela. O jeito que ela se move. A forma como se envolve com a música. A maneira como é iluminada por aquele brilho transcendental. Você sente o coração apertar. Ela viola suas barreiras. Ela derruba seus muros e proteções. Cada movimento dela é um golpe a sua obstinação egoísta. Tudo para. Tudo se renova. Tudo se resume ao instante que ela lhe fita. E sorri. Uma fração de tempo que faz a vida valer a pena.






sexta-feira, 8 de julho de 2016

cotidianas #447




Eles correram até a primeira cobertura que encontraram. Apesar da roupa molhada e do frio que sentiam, sorriam. Seus olhos brilhavam e substituíam as estrelas que, naquela noite, se escondiam atrás das nuvens. "Percebeu que sempre chove quando decidimos fazer algo?", ela pergunta. "É nossa marca. Alguns têm músicas. Outros têm locais. Nós temos a chuva. Independente do que aconteça conosco, a chuva na janela sempre significará nós. Sempre será uma lembrança feliz", ele diz.


sexta-feira, 1 de julho de 2016

cotidianas #445




Era uma mão.
Ele a apanhou com cuidado, observou com atenção e por um momento se esqueceu da dona que olhava a cena com um sorriso no rosto corado.
Cada detalhe da mãozinha magra e delicada era como o mapa de um oceano de sensações e sentimentos. Cada detalhe, das veias de um verde claro à pequena queimadura feita numa panela de brigadeiro, indicavam a confirmação de um vínculo metafísico.
- Minha mão não é bonita. - disse ela, um tanto constrangida.
Ele não deu importância. Continuou observando, acariciando e tentando esquentá-la. Não era apenas uma mão. A engenharia ali manifesta era, convenhamos, um pequeno milagre, pensava. Era um universo. Era o elo que ligava dois mundos. Ela e ele.





sexta-feira, 24 de junho de 2016

cotidianas #444




"Não acredito nisso." Pensou, enquanto lia a mensagem sem desbloquear a tela do smartphone. Era ela. A "menina má" - apelido que pensou depois de ler um livro do Llosa -, que o importunava a cada período de tempo. Eles ficaram uma vez. Há muito tempo. Ele se importou. Até pensou em ter algo a mais - o que sempre refutou diante da sua posição de solteirão convicto. Mas ela desapareceu - não respondeu mais suas mensagens, na verdade. Até que ressurgiu e, com seus beijos, despertou de novo os mesmos sentimentos. Para desaparecer em seguida. Isso se repetia. E ele sempre caía. Ela era um estorvo. Um demônio. Uma maldição. Um vício. Ele estava decidido a não lhe dar mais nenhuma chance. "Eu sei q vc já viu a msg, bom menino. Ñ se faz", dizia o outro recado. Não. Ele não ia mais cair na sua lábia. De jeito nenhum. Nunca mais!, jurava ele já digitando a resposta: "Ooi, menina má :)"



sexta-feira, 17 de junho de 2016

cotidianas #441



arte: Daniel Rodrigues
Ele foi arrebatado quando a viu. Estava sonolento. Atirado em um dos bancos do T1D. Porém, quando a avistou todo o sono foi disperso e sol começou a verdadeiramente brilhar. Os cachos dourados, os olhos da cor de mel, o ar de mulher que recém saíra da adolescência: o que era? Levava um caderno, uma bolsa que certamente custava mais do que tudo que ele trajava e uma daquelas pastas gigantes, com réguas e tudo mais. Era estudante de arquitetura? Design? Moda? O quê? Ela sentou uma fileira à frente, no outro lado do corredor. Deus!, isso é uma epifania?, se indagava. Ansiava falar com ela. Não queria ser invasivo ou desrespeitoso. Entretanto, se imaginava como em um daqueles filmes hollywoodianos onde tudo dá certo. O que diria? Foi quando reparou em uma pequena manchinha na sua bochecha esquerda. Era natural ou um deslize na maquiagem? Era natural, obviamente. Mas era um bom argumento. Decidiu usá-lo. "Oi, desculpa incomodar, mas... Não pude deixar de reparar na..." - nessa hora ele apontaria a marquinha - "É uma sujeirinha, eu acho." Ela riria envergonhada. Ele, então, aproveitaria a deixa. Isso! Estava tudo certo. Não teria erro. Claro, se ele não demorasse tanto e ela não tivesse descido do ônibus na estação anterior.




sexta-feira, 10 de junho de 2016

cotidianas #439




arte: Daniel rodrigues
O carro parou. Não era um 0km, mas não esperava que fosse lhe dar problema logo no primeiro fim de semana de praia. O jovem casal se olhou, conversaram sem dizer nenhuma palavra - algo que só casais ou amigos que vivem um romance sabem o que significa - e ele entendeu a função que lhe cabia. Desceu do uninho prata, daqueles novos, caminhou até a frente e sorriu para a jovem que lhe havia prometido o coração e lhe observava com um grande e lindo sorriso no rosto. Determinado e confiante ergueu o capô. Mas e agora: o que eu faço?, se indagou o prestativo namorado. Eu não entendo nada de carros. Nada! O que eu faço?! Há um botão que reinicia o motor? Onde devo colocar água? Eu devo colocar água? Deus! O que será que ela pensaria se me visse assim? Deve ser por isso que o capô abre desse jeito: para quem está na carona não testemunhar vexames como este, refletia humilhado. Demorou-se mais alguns minutos. Precisava dar a impressão que sabia o que estava fazendo. Só depois de algum tempo de murmúrios e manifestações friamente calculadas de raiva ele retorna a janela e reconhece: é, não vai dar, não. Ao contrário do que o acordo não verbal acertou, ele precisou chamar o guincho.



sexta-feira, 3 de junho de 2016

cotidianas #437




"Eu não quero mais ver tua cara!", gritava a menina de cabelo vermelho e olhos cheios d'água. Ao redor, uns se assustaram. Outros riram. Porém, todos pararam o que faziam e voltaram-se para o casal que discutia no Centro de Porto Alegre. Aquela vagabunda isso, seu diabo aquilo, argumentava a menina magrinha que naquela hora já tinha o rosto encharcado com as lagrimas que escorriam. Ela gesticulava. Ofendia. Alguns sujeitos diminuíram a passada para intervir caso o rapaz reagisse à cena proporcionada pela jovem. Não foi necessário. Enquanto ela o empurrava e destilava toda a mais variada forma de ofensas, ele, um gordinho de barba e cabelos desgrenhados que trajava a camiseta de alguma banda, não expunha nenhuma reação. Manteve a seriedade. Não estava gostando, era visível, mas permaneceu calado e imóvel. Ele sabia que estava em desvantagem. Ele sabia que nada que fizesse ou falasse poderia fazer com que as coisas terminassem bem para ele. Ele era o culpado. Independente se tinha ou não feito algo ou se viria ou não a fazer.