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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

cotidianas #555 - Pílula Surrealista #25


Ele voltou pra casa:
- Lucas, você aqui?!
- Sim, amor, voltei.
- Mas nos havíamos dado um tempo. Eu fui para um lado e, você, pra outro. Lembra? Foi de comum acordo!
- Sim, eu sei. Só que eu já fui e já voltei.
- Aonde você foi?
- Para o outro lado. Eu me despedi de você (não sem lágrimas nos olhos, devo admitir) e segui na direção oposta, como acordamos.
- E dai?
- E dai que eu fui adiante. Caminhei por todo o chão que foi possível. Quando acabou o chão, eu mergulhei no mar e nadei. Nadei, nadei. Nadei bastante.
- Sim...
- E depois mais pedaços com chão, com montanhas, geleiras, pontes, mangues, saleiras. Sabia que no Japão eles plantam arroz nas encostas? Passei por lá.
- Você passou por tudo isso? Pelos maremotos, pelo sol, pelo frio, pela noite, pelos monstros marinhos, pelos sírios refugiados, pelas guerras?...
- Sim, e os trouxe comigo. Estão todos aí fora.
Ela então abriu a porta da entrada e os viu todos aguardando quietos e obedientes como cachorros de estimação, o maremoto, a noite, o sol, o frio, os monstros do mar, os sírios e as guerras.
Impressionada, ela pensou alguns segundos exatamente nas palavras que iria dizer, mas preferiu trocá-las por outras.
- Você deve estar com sede, né? Deixa a mochila aí e vamos lá na cozinha navegar num copo d’água.


Daniel Rodrigues

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