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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"Terra Selvagem", de Taylor Sheridan (2017)



Está em cartaz na cidade um filme muito interessante chamado “Terra Selvagem” ("Wind River"), dirigido pelo roteirista de “Sicário” e “A Qualquer Custo”, Taylor Sheridan. Nele, o caçador de predadores Cory Lambert (Jeremy Renner) se envolve numa investigação de assassinato de uma jovem descendente de índios na cidade de Wind River, no Wyoming, onde existe uma reserva em total decadência. Ao auxiliar o FBI, na figura da agente Jane Benner (Elizabeth Olsen), o caçador é confrontado com seu próprio desejo de vingança, pois sua filha, de mãe índia, foi assassinada e o crime ficou sem solução.

A trama se desenvolve nas montanhas gélidas do Wyoming, onde os corpos vão aparecendo em meio à neve. No filme, o diretor engendra uma espécie de mistura de western/policial usando a questão indígena como parâmetro para falar de perdas. Assim como em “A Qualquer Custo”, no qual os dois jovens assaltantes tentam conseguir dinheiro para não perder as terras da família, aqui já se perdeu tudo: as terras e, especialmente, a dignidade. Os índios vivem em completo abandono. A cena em que mostra a chegada à reserva é emblemática: a esfarrapada bandeira americana está de cabeça para baixo e os trailers onde vive a população indígena estão em estado de miséria.

Renner: muito bem em seu papel
O clima dos moradores também não ajuda. Os personagens não conseguiram deixar o frio e a terra natal e acabaram presos a uma realidade sem saída. Ali se desenvolve a ação, na qual o diretor e roteirista tiram tudo o que podem de seus protagonistas. Os personagens, mesmo os pequenos, são muito bem desenhados. Jeremy Renner encarna bem o homem que perdeu a filha e se conformou com isso. Seu personagem dá uma guinada do caçador de predadores animais para homens predadores. Já o xerife índio Ben, interpretado por Graham Greene (de “Dança com Lobos”) tem de se equilibrar entre sua comunidade e a população branca.

Como no roteiro de “A Qualquer Custo”, Sheridan manipula as perdas do indivíduo como mote para seu cinema. Aqui elas são muitas: as perdas do filhos pelas drogas, pela morte e pelos personagens que não estão em cena mas que foram embora. Tudo isso num cenário imaculadamente branco, onde o sangue vem manchar o cotidiano tedioso. A música de Nick Cave e Warren Ellis é sutil e conduz a narrativa sem se intrometer ou chamar demasiadamente a atenção para si. O jovem diretor de fotografia Ben Richardson, de “Adorável Sonhadora”, aproveita bem a luminosidade da neve e o contraste do céu, ora azul límpido, ora carregado de nuvens. Há pouco contraste, como a vida neste lugar. Sem correr o perigo de se tornar mais um filme sobre a justiça pelas próprias mãos, “Terra Selvagem” encontra um epílogo solucionando a trama, mas sem final feliz. Vale a pena conferir.


"Terra Selvagem" - trailer


por Paulo Moreira

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