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sábado, 11 de novembro de 2017

"Sobre Gatos", de Charles Bukowski - ed. L&PM (2017)



O Velho Safado amolecido por essas adoráveis bolas de pelo que tanto amamos.
"Em grave divindade
meu gato vagueia sem rumo."



Assim que dei de cara com o título "Sobre Gatos" num livro de Charles Bukowski me interessei imediatamente intrigado pelo tipo de relação que este escritor pelo qual tenho grande admiração teria estabelecido com os bichanos e pela forma como isso colocaria e abordaria isso em seu texto. E o que encontrei nas páginas desta coletânea, quase predominantemente de poemas, em sua maioria inéditos, foi um Buk extremamente terno, generoso e encantado com os amigos felpudos. Bukowski que em seus últimos anos de vida passara a adotar gatos que apareciam em sua porta e tendo afeiçoado-se a eles chegara a ter nove ao mesmo tempo, revela uma identificação com estes bichos, especialmente pelos que chegavam à sua porta estropiados, judiados pelas ruas e pela vida, assim como ele mesmo ("O doutor falou: "Esse gato foi atropelado duas vezes, já levou tiro, o rabo foi cortado fora". Eu disse: "Esse gato sou eu". Ele apareceu na porta morrendo de fome. Sabia direitinho onde vir. Somos ambos vagabundos saídos das ruas."). Assim, os recebia, os acolhia e os admirava. Valorizava-os pela garra, pela bravura, pela resistência mas ao mesmo tempo pela classe, pela elegância, pela tranquilidade chegando a invejar a capacidade de se desligar do que não importa e deixar pra lá o que já passou ("eu sei. eu sei. eles são limitados, tem diferentes necessidades e preocupações/ mas observo e aprendo com eles. gosto do pouco que eles sabem que é tanto/ eles reclamam mas nunca se inquietam. caminham com uma dignidade surpreendente. dormem com uma simplicidade direta que os humanos simplesmente não conseguem entender.").
Nosso Velho, aqui muito mais sábio do que safado, do alto de sua experiência de vida e de sua capacidade de observação e síntese, desfila pequenos textos e poemas que contrastam sua tradicional crueza, rabugice e pessimismo com doses de sensibilidade e doçura ("adormecido na cama eu desperto e seu nariz está tocando o meu nariz e aqueles grandes olhos amarelos SONDANDO o que resta de minha alma/ a aí eu digo - sai, desgraçado! tira esse nariz do meu nariz(...)"). Por sua sinceridade e autenticidade, Bukowski, que na minha opinião, já é um autor que, independente do formato (poesia, crônica, conto, romance) pode ser recomendado para qualquer um que aprecie uma boa literatura sem frescura, no caso de"Sobre Gatos", em especial, para quem tem ou já teve um dessas apaixonantes e enigmáticas bolas de pelo em casa, mais do que recomendável, o livro passa a ser uma pedida indispensável.  




Cly Reis 

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