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quinta-feira, 26 de outubro de 2017

"Mistério na Costa Chanel", de Bruno Dumont (2016)



Fazia tempo que não via um filme assim, que me deixasse tão confuso. De verdade, ainda estou tentando descobrir se algumas coisas são alegorias ou simplesmente o filme estava viajando na maionese legal.
Situado no início do século XX, "Mistério na Costa Chanel" é um conto tragicômico passado em um resort à beira-mar em Pas de Calais onde duas famílias que não têm absolutamente nada em comum estão no centro de uma série de desaparecimentos misteriosos.
É uma obra exagerada em todos os sentidos e isso ora é bom e ora é muito ruim.  A veia cômica do filme é bastante forte o que por vezes acaba tirando um pouco o peso de questões que tenta abordar como, por exemplo, a diferença de classes sociais ou os preconceito de gênero que, no fim das contas, por conta da forma com é tratado, acaba ficando muito confuso.
Juliette Binoche como Aude Van Peteghem,
muito bem como sempre, mas nada que vá se destacar muito.
Com uma fotografia espetacular, o longa proporciona momentos visuais dignos que seriam dignos de se tirar uma foto e colocar num quadro de tão bonitos. Todo o tratamento visual chama muito a atenção bastante e seu cenário e figurinos são algo que impressionam. Apesar do filme pesar a mão em tornar os personagens excessivamente caricatos, o recurso até que funciona bem de modo a destacar as diferenças de classes e estilos de vida de cada um tornado seus personagens bastante singulares. Deve-se destacar as partes de Billie (Raph) e Ma loute (Brandon Lavieville), dois ótimos personagens com seu silêncio mútuo e suas descobertas proporcionando ótimos momentos no filme.
Já não se pode falar o mesmo da dupla de investigadores que por mais que sejam engraçados e estejam no filme para fazer graça, a meu juízo, não funcionaram bem.
Além dos lindos planos abertos, as melhores sequências são as que os contrastes sociais ficam mais evidentes, desde da primeira cena na qual as famílias se encontram, depois nos momentos de travessia do pequeno córrego, ou nas rotinas de cada família e seu costumes. Mas o destaque mesmo vai para a primeira cena que mostra o lado canibal da família de pescadores. Devo confessar que não esperava por aquilo e fiquei verdadeiramente chocado.
"Mistério na Costa Chanel" é uma obra bem fora do convencional. É bela sim, divertida também, mas se perde um pouco nos exageros e em repetições. Duvido um pouco que venha a agradar o grande publico uma vez que chega a ser bobo em muitos momentos. Sinto que a família burguesa, o caso dos irmãos, até mesmo mostrar mais Billie, a menina que se veste de menino ou menino que se veste de menino, poderiam ser mais bem explorados resultando num bom arco dramático que talvez retratasse melhor a realidade dos pescadores. Mas não. Fica num romance que não vai a lugar nenhum e num mistério dos assassinatos que não se resolve. Acaba valendo pela questão da luta de classes, das diferenças sociais e de costumes, pela fotografia, pelas paisagens mas, no fim das contas a comédia de humor negro que pretendia ser acaba não sendo tão engraçada quanto prometia.

Billie e Ma Loute, e olha esse cenário. Coisa mais linda!


Vagner Rodrigues

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