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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

cotidianas #532 - O Quadro Negro



- Chegou cedo para a aula de amanhã. - ironizou a professora, arrancando alguns risos abafados da classe.
O atrasadinho, num misto de constrangimento com cara-de-pau, também riu e autorizado pela professora contrariada por ter que interromper a chamada, ingressou na sala. Assim que deu um passo para dentro, a porta às suas costas bateu fortemente num estrondo.
- Não precisa quebrar a porta. Podemos precisar dela. - soltou novamente com ironia a professora.
- Mas não fui eu. - defendeu-se o atrasado.
- Ah, sim. Fui eu, então! Ou deve ter sido um fantasminha. - provocando novas risadas dos outros alunos.
Naquele mesmo momento, um rangido insuportável de giz contra a lousa irrompeu na sala de aula, causando arrepios e fazendo com que a maioria dos alunos cerrasse os dentes para conter a irritação. A professora permanecia sentada em sua mesa diante do caderno de chamada e também cobria a boca com a mão.
Todos voltaram seus olhos para o quadro negro.
Nele, o giz atritando irritantemente a superfície, escrevia sozinho, inexplicavelmente, aquela frase que fazia tanto sentido para todos os jovens presentes na sala desde a excursão do último ano, mas que todos eles faziam questão de tentar apagar de suas memórias. "Lembram de Long Valley?, dizia a mensagem. E completava logo abaixo: Voltei por vocês.".
Assim como acontecera com o giz, sem que ninguém comandasse, a tranca da porta girou fechando.
Os gritos de desespero começaram.


Cly Reis

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