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terça-feira, 2 de agosto de 2016

cotidianas #453 - Números



Ouço a sirene
na rua.
São 22 horas.
Fecho o livro.
Página 123.
Ligo a TV. Canal 5, 7, 35, 98.
Bolsa cai 1%; time vai no 4,4,2; 2 colheres de azeite, 300 gramas de tomate; expectativa média de vida cresce para 73 anos...
Tenho 58.
Nada de interessante.
Internet talvez.
(Esqueci a senha)
2808?
Não, eu mudei. É o aniversário dela: 1206
Entrei.
"Você tem 568 mensagens não lidas".
Foda-se.
Redes sociais: seguindo 422, seguidores 8.
Esquece.
Quem sabe uns videos. Quem sabe esse. Mais de 1 milhão de visualizações.
Lixo, lixo, lixo.
Desligo. Saio.
Caminho pela rua 6.
Vejo uma garota. Deve ter uns 22, 23.
Ela me diz que é 50 a hora.
Subimos.
É no 2º. Quarto 201.
Ela fica de 4.
Fazemos um 69.
50 paus, ela diz.
Uma garota dessa... Podia ser minha filha.
Deve ter uns 22, 23.
Eu tenho 58.
Pago. Saio.
São 23:35.
Volto pra casa.
Número 40 da rua 25 de maio.
Subo.
Apartamento 503.
Internet?
Não.
Jogo o computador no chão.
Ele se desfaz em mil pedaços.
TV?
Atiro contra ela a garrafa de scotch 12 anos.
Pego o livro.
Página 123.
Despedaço todas as páginas.
(uma  por uma)
Vou até a gaveta do criado-mudo.
Pego meu 38.
Só 3 balas.
É suficiente. Só preciso de uma.
Tenho 58.
Cerca de 800 mil pessoas se suicidam por ano.
Sou mais um número na estatística.
"Carro 645, Chamado na 25 de maio. Vizinhos ouviram possível tiro no 503...".
Ouve-se a sirene na rua.



Cly Reis


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