Curta no Facebook

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Cinema Marginal #3 - "A Mulher de Todos", de Rogério Sganzerla (1969)




Se o filme anterior de Rogério Sganzerla, "O Bandido da Luz Vermelha", foi um avacalho, o que dizer deste, como uma protagonista maníaca sexual, devoradora de homens, em plena ditadura brasileira? Sim, completamente anárquico.
A ninfômana Ângela Carne Osso (Helena Ignez) decide passar o fim de semana na exótica Ilha dos Prazeres. Seu marido é o extravagante Doktor Plirtz (Jô Soares) que contrata um detetive particular para comprovar a (in)fidelidade de sua esposa.
Helena Ignez, Stênio Garcia (Flávio Azteca)

e Antônio Pitanga (Vampiro), que baita elenco.
Não é demérito ser um espectador comum, mas se você for este "espectador comum" não vai gostar do filme de Sganzerla. Tem sequências bem repetitivas, fora de contexto e diálogos que parecem que não vão levar a lugar algum. Somado isso, a falta de moralidade nos personagens pode também incomodar algumas pessoas.
Ângela Carne Osso é uma personagem espetacular, “Eu sou simplesmente uma mulher do século XXI, sou um demônio antiocidental, eu cheguei antes, por isso sou errada". Ela realmente estava à frente do seu tempo e acredito que, infelizmente, talvez esteja à frente do nosso. Ela vai ditar o filme. A obra e centrada na sua figura e Helena Ignez tem uma atuação memorável. Toda sua sensualidade, seu poder, sua feminilidade está em tela no seu total. Ângela Carne Osso quer consumir homens a curto prazo abandonando-os em seguida.
Jô Soares está ótimo como bitolado.
Sim, "A Mulher de Todos" é um filme sobre sexo, mas não é um filme pornográfico. O sexo não está ali só para entreter o espectador mas sim como ferramenta narrativa, para mostrar o poder de Ângela Carne Osso. E todas as cenas mais quentes vê-se Angela, tomando a iniciativa, controlando a situação, algumas vezes até ferindo fisicamente seus parceiros.
As melhores cenas realmente são as de Angela, principalmente quando ela olha para câmera e parece estar falando conosco, falando de sua preferência pelos boçais. Outras ótimas cenas envolvem Doktor Plirtz, especialmente sua fala sobre o tipo de arte que gosta (no caso do filme ele fala de quadrinhos) é muito boa. Se você parar e refletir sobre ela pode ver o alto grau de crítica que Sganzerla colocou nela cena sem deixar de mencionar a ótima atuação de Jô Soares que está ótimo no filme.
Um filme à frente de seu tempo, assim como sua protagonista. Sganzerla mais uma vez abusa de sua anarquia, mas desta vez tem um foco: mostrar a mulher livre. Mesmo sendo mais uma vez um avacalho de filme, "A Mulher de Todos" não deixa de ser autoral e crítico. Sganzerla segue mostrando que é possível fazer cinema da miséria, do imoral, do não aceito, e a minha paixão pelos seus filmes aumenta de 4 em 4 minutos.
Ai, meu cração! Que mulher, senhoras e senhores!



Um comentário: