Curta no Facebook

sábado, 27 de dezembro de 2014

"Uma Aventura na África", de John Huston (1951)



Um filme do tempo do cinema moleque, onde um roteiro simples, mas com bons personagens, interpretados por excelentes atores, faziam grandes obras. Uma obra leve e cômica, que ao mesmo tempo consegue ser tensa, com um suspense bem feito, uma ótima direção do premiadíssimo John Huston.

Um casal de irmãos missionários Rose Sayer (Katharine Hepburn) e o reverendo Samuel Sayer (Robert Morley) vivem tranquilamente na antiga Congo Belga (atual Republica do Congo), até o inicio da primeira grande guerra, onde o exercito alemão aparece para controlar o país. Devido a luta para resistir ao controle dos alemães, o reverendo Samuel acaba morrendo, e Rose se vê sozinha, pois a maioria dos nativos foram presos ou assassinados e alguns viraram soldados do exército alemão. Se passam alguns dias e com chegada de Charlie Alnutt (Humphrey Bogart), um barqueiro que vive na região, viajando pelos rios abordo do seu barco “Rainha da África”. Charlie no primeiro encontro com Rose não causa boa impressão, mas agora ele é a única chance dela sair com vida do pequeno vilarejo e também, por que não se vingar dos alemães?

A irmã Rose despejando as bebidas do embriagado barqueiro
Rose Sayer é uma personagem de uma força de vontade incrível, que nunca perde sua feminilidade, se no começo do filme ela passa a imagem de esnobe e aristocrática, o jeito que ela olha para Charlie, as roupas que ela veste, você não consegue imaginar que ao longo do filme você vai torcer por aquela personagem. Dai vem a tragédia, a chega a guerra, ela perde tudo, só não perde seu espirito de luta, sua vontade de se vingar daqueles que acabaram com sua vida, mesmo nos momentos em que ela está frágil, que parece perdida, rapidamente ela se recompõem. Rose não é uma donzela em perigo que espera ser salva, e sim ela vai atrás da salvação, e pode se dizer que ela acaba salvando Charlie.

Charlie Alnutt logo na sua primeira aparição, diferente de Rose ele já te conquista, abordo de sua “Rainha da África” (que barco barulhento!!!), chamando atenção de todos na vila, atrapalhando a missa dos irmãos Sayer, logo depois, em uma hilariante cena onde ele almoça com os irmãos, nos é mostrado sua simplicidade e humildade. Com o passar do filme, também fica claro que ele tem problemas com as bebidas, mas com a ajuda Rose ele supera isso e consegue se transformar em um homem novo. Ele não é um galã, longe disso, ele não tem bons modos, não se veste bem, anda boa parte do filme sujo, mas a sua personalidade, o seu jeito de ser, são apaixonantes.

As dificuldades (reais) de atravessar o Rio Congo
O filme em sua grande parte se passa dentro do barco e o casal tentando atravessar o rio Congo, para destruir um grande barco alemão que dominava aquela região, mas para chegar até lá terão que passar por uma emboscada do exército alemão, sem falar dos perigos naturais do Rio do Congo. A trama mostra as diferenças deste casal sem fazer rodeios, tudo bem claro, por exemplo, o plano de destruir o barco é ideia de Rose, que Charlie é totalmente contrário, mas por ela se mostrar irredutível ele acaba ajudando, é um inicio de relacionamento difícil, mas a cada perigo superado pelo casal seus laços são fortalecidos. Uma cena que acho fantástica e que muda completamente o relacionamento dos dois, é quando Rose percebe que o humor de Charlie sempre muda após ele beber, fica agressivo, então ela toma uma decisão, jogar todo estoque de bebidas na água, uma por uma, provocando a revolta de Charlie, que na hora fica revoltado, mas em seguida percebe que não necessita mais da companhia da bebida, pois agora ele tem uma companheira muito melhor.

A produção do filme sofreu muito durante as filmagens, boa parte do filme foi gravada no Congo, atores e pessoas da produção ficaram doentes, as dificuldades de ajustar as câmeras, algumas cenas tiveram que ser refeitas em estúdio, mesmo com toda a dificuldade, o resultado final foi algo épico. Podemos reclamar de maneira injusta (pelo menos eu acho injusto) dos efeitos especiais do filme que são muito precários, é o que tinha na epoca e o filme tentou fazer o melhor, a única cena desse tipo que me incomodou, foi o momento onde o casal de protagonista foi atacado por uma nuvem de mosquitos (algo que realmente aconteceu com a equipe de filmagem), na cena os mosquitos foram colocados digitalmente, o que ficou muito falso, os atores ficaram um pouco perdidos sem saber para onde olhar, se colocassem eles se debatendo e reclamando dos mosquitos, a cena já ficaria bem clara, sem haver a necessidade de mostrar os insetos.

A memorável cena do beijo.
É realmente uma aventura na África, e você realmente entra nesta aventura, o filme é dinâmico, não cansa, apesar não ter a velocidade que estamos acostumados a ver nas produções atuais, sim ele é meio lento em alguns momentos, mas isso é muito bom, porque aí você pode ver a beleza da fotografia do filme, apreciar a bela paisagem, que o diretor faz questão de mostrar. Sem falar que temos duas estrelas no auge de suas carreiras, Katharine Hepburn e Humphrey Bogart (Bogart até mesmo ganhou seu único Oscar de melhor ator por este filme), estão incríveis, não são atores, porque a imagem que eles passam é que é tudo real, são naturais, mesmo com toda dificuldade de gravar o filme, diálogos incríveis, cenas memoráveis, como o primeiro beijo do casal, ou quando o barco encalha e os dois descem para puxar o barco, a uma perfeita química entre eles, os personagens vão se transformando, se misturando, um absorvendo o outro, fantástico o trabalho desta dupla.

Vale muito a pena ver o filme, ele é muito agradável e suave, uma obra de arte, na verdade é apenas uma historia bem contada. Simples, não? Mas os prazeres mais simples são tão bons.


Obs: Passei dias falando com um sotaque inglês “Mrs. Alnutt”.


Nenhum comentário:

Postar um comentário