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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

“Relatos Selvagens”, de Damián Szifron (2014)



O cinema argentino vive um grande momento, mesmo com a economia em ruínas e a situação caótica do país. Mais uma prova do vigor desta cinematografia que a cada dia conquista mais cinéfilos por todo o mundo é “Relatos Selvagens” do diretor Damián Szifron. Usando seu próprio roteiro, Szifron conta seis histórias bem distintas onde a interferência intrusiva da sociedade, de seus preceitos e suas limitações na vida dos indivíduos acaba por levar a mais completa e insana barbárie.
O astro Ricardo Darín no papel do homem
 que enfrenta a burocracia argentina
Os episódios se sucedem: o primeiro mostra um voo comercial aonde os passageiros vão descobrindo aos poucos que têm algo em comum. No segundo, uma jovem garçonete de um boteco de beira de estrada se vê às voltas com o homem que causou problemas em sua família. O embate entre classes é o tema do terceiro onde um burguês em seu supercarrão tem sua ultrapassagem impedida numa estrada por uma fubica toda enferrujada. No quarto episódio, o darling do cinema argentino, o ótimo Ricardo Darín, é um engenheiro de explosões que se vê envolvido com o guinchamento de seu carro e o consequente mergulho no mar da burocracia estatal. Já o episódio número 5 trata de um atropelamento e fuga que resulta em morte e em uma negociata das mais sórdidas para impedir a prisão do jovem condutor. Por fim, em plena festa de casamento, noiva descobre que uma das amantes do noivo está no salão e surta.
Erica Rivas, em primeiro plano,
se destaca como a noiva em surto
Em todos estes aparentemente distintos episódios, a reação às injustiças sociais, urbanas, pessoais e estradeiras acaba por decretar uma catarse nos personagens. O absurdo de algumas situações cotidianas enfrentadas por cada um de nós nem sempre tem o desfecho que gostaríamos. Acabamos nos acomodando e seguindo em frente, mesmo que estejamos com razão. Os personagens de Szifron não pensam assim e partem para o confronto, sempre com consequências trágicas, em uns momentos, e tragicômicas, em outros. Os espectadores mais ligados em cinema poderão lembrar-se de “Um Dia de Fúria”, de Joel Schumacher, com Michael Douglas, ou ainda de “Fora de Controle”, com Ben Affleck e Samuel L. Jackson. Mas o tratamento que Damián Szifron dá às histórias e aos personagens é infinitamente mais realista do que a visão simplista dada por Hollywood a estes casos. A violência é explícita e crua, mas também é real. Ricardo Darín é, indiscutivelmente, o astro do filme, mas cada história conta com um elenco de atores da melhor qualidade, destacando Erica Rivas como a noiva enlouquecida, Rita Cortese como a cozinheira e Mauricio Nunez, como o pai do jovem atropelador, entre outros.
Curiosamente, o filme tem produção da El Deseo, a empresa de Pedro Almodóvar e de seu irmão Agustín. A julgar pelo sucesso crítico e estilístico de “Relatos Selvagens”, poderia se esperar que Almodóvar se espelhasse em seu produzido e voltasse a fazer filmes interessantes, trilha da qual se afastou no horroroso “Os Amantes Passageiros”, um dos piores jamais vistos nos últimos tempos. “Relatos Selvagens” já é um dos melhores filmes do ano.


2 comentários:

  1. "mesmo com a economia em ruínas e a situação caótica do país"
    Eso no es verdad
    De parte de un argentino

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    Respostas
    1. Desculpe, argentino, mas as informações que se tem dão conta que a situação não é muito boa.
      'Caótica' pode ser um pouco demasiado, é verdade, mas pra boa não está.

      http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/01/entenda-crise-economica-e-politica-na-argentina.html

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