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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"Riocorrente", de Paulo Sacramento (2013)



É difícil achar um bom filme nacional (fora as comédias) nos grandes cinemas, mas em uma terça a noite eu marquei um encontro com o pensativo, intrigante, um pouco confuso e premiado (melhor fotografia e melhor montagem no Festival de Brasília) "Riocorrente", do diretor Paulo Sacramento ("O Prisioneiro da Grade de Ferro", 2003), mas não rolou nada sério, foi uma noite agradável, não vou mentir, mas vamos ser apenas bons amigos.
Neste filme acompanhamos um triângulo amoroso formado por Renata (Simone Iliescu), Marcelo (Roberto Audio) e Carlos (Lee Taylor), todos tentando levar a vida no meio de uma frenética metrópole, no filme, São Paulo, mas se encacharia tranquilamente em qualquer outra. O foco do filme é como esses três se relacionam entre eles (nenhum dos dois rapazes sabe da existência do outro), ao mesmo tempo como se relacionam com a cidade.
Renata é uma mulher moderna, que vai atrás do que quer, não tem medo de arriscar, ela visivelmente está atrás de algo, mas acho que nem ela sabe exatamente o que ela quer, enquanto ela não encontra, curte a vida. Renata consegue manter, dentro do possível, um bom relacionamento com os seus dois amantes, ela não está ficando com os dois para no final escolher um, ela quer ficar com os dois, quer ter o prazer que cada um pode lhe proporcionar, a vida comum, um dia de trabalho depois chegar em casa jantar com o namorado, contar como foi o dia, é uma boa noite de sexo, e isso ela tem com Marcelo, ou a vida loca de sair beber em um boteco qualquer, ser jogada na parede ser chamada de lagartixa, e isso ela tem com Carlos.
Renata em sua turbulenta relação com o encrenqueiro Carlos.
Marcelo é um critico de arte, que escreve criticas para um jornal, ele é o cara certinho do filme, gosta de planejar as coisas, temos uma cena que mostra que mostra isso. Certa noite, Renata o convida para pegar o carro e viajar, ele se mostra totalmente contrario: “como assim viajar, sem planejar?” Só pegar o carro e sair, nem que seja só por um final de semana, sem planejar tudo, não esta nos planos de Renato. Mas ele é o personagem mais fácil de se identificar, por que a maioria de nós (generalizando é claro) somos “Marcelos”, apenas aceitamos as coisas, não queremos mudá-las, entramos no ritmo das grandes cidades, e ficamos na zona conforto.
Carlos é um motoqueiro, ex-ladrão de carros, (que ainda se vê tendo que roubar em alguns momentos) e atualmente trabalha em uma oficina. Ele está à margem da sociedade, também está preso em suas dúvidas, em qual rumo dar a sua vida, ele tenta mudar, mas também não quer perder sua identidade, está amarado ao seu passado. Carlos tem a companhia de Exu, um menino de rua que Carlos cuida como se fosse seu filho, embora fique claro que Carlos não é pai de Exu, o filme não explica qual o ligação real dos dois, apenas sabemos que os pais do menino foram embora e Carlos pegou o menino para criar. Carlos não funciona bem como figura paterna, Exu é mostrado em diversas cenas andando pela rua sozinho cometendo pequenos delitos, não que Carlos também o abandone, pelo contrário, ele se demonstra preocupado com o menino, porem é uma figura ausente.
Exu, o menino de rua que tem forte ligação com o ex-ladrão Carlos.
Exu (Vinícius dos Anjos), esse menino, não tem nenhuma fala no filme, ele vive perambulando pela cidade de São Paulo, ele é um personagem inocente (embora em algumas cenas ela não aparece fazendo coisas “feias”), seu olhar revela isso, o jeito maravilhado que ele olha para a grande cidade, temos uma cena onde ele brinca com seu dente mole, porque ele ainda é uma criança e se encanta com coisas simples, mas também já é prisioneiro do estilo de vida de uma grande cidade, tento que dar seu jeito para se virar
"Riocorrente" me parece um poema visual, esse poemas modernos urbanos com uma linguagem “difícil”, com palavras bonitas, esse filme é isso, cheio de camadas, com metalinguagem, simbolismo, que acrescentamos uma fotografia bela e uma montagem que sai do comum, mas esse somatório de coisas fazem o filme ser um pouco “difícil”, e afastar o grande publico do filme, claro é uma opção do diretor, que felizmente consegue fazer um filme do seu jeito, a linguagem que o filme usa não e fácil de ser compreendida tem que estar muito atento ao filme. Achei o ritmo do longa confuso (mais uma vez deixo claro que foi uma opção do diretor), atrapalha um pouco a experiência, tem coisas que poderiam ser mais simples, porém o trabalho da equipe de som, dos atores que estavam ótimos e o rigor artístico que o filme tem, me fazem indicar esse filme.
Assista ao filme, caminhe pela cidade e escute uma música do maluco Arnaldo Batista.


por Vágner Rodrigues









Vágner Rodrigues é estudante de Pedagogia e Artes visuais e trabalha como professor em uma creche. É um cinéfilo e adora assistir a filmes de todos os gêneros, lugares e épocas, de preferencia comendo pipoca . É fã de quadrinhos, animes e consumidor de cultura pop em geral.
Nasceu e reside em Porto Alegre.







2 comentários:

  1. Deu vontade de assistir, Vagner. Bem legal tua resenha. Vi o "Prisioneiro...", que é um documentário, e gostei. Mas certamente trata-se de um desafio novo para o diretor, outra linguagem. Verei quando conseguir. Valeu e parabéns pela ótima estreia.

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  2. Foi o que eu tinha comentado com ele, Daniel, a grande função da resenha ele já cumpriu, que é a de despertar o interesse no leitor em assitir ao filme. E deu essa vontade.

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