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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Uma História Sem Fim - Internacional 105 Anos




Assim que eu soube da classificação do Internacional para a final da Copa Libertadores da América, eu tratei de comprar minha passagem para Porto Alegre. Bom, aqui, ainda cedo na narrativa, é necessário que eu já a interrompa pois faz-se necessário um parêntese para duas explicações: uma delas é que quando digo que SOUBE da classificação, não falo por força de expressão, fui informado sobre ela. Estava eu viajando? Trabalhando? Náufrago numa ilha deserta? Não. Antes fosse, pois me garantiria a total ignorância dos fatos que se passavam no Estádio do Morumbi naquela noite. Sim, eu, torcedor daqueles que não deixa de ver nenhum jogo do time do coração, renunciei a assistir a uma semifinal de Libertadores para poupar o coração. Evitar o sofrimento. Saí de casa antes de começar o jogo e me meti numa sessão de cinema que só acabasse depois de terminado o jogo e desliguei o celular. Logicamente, a desinformação não excluiu minha ansiedade, pois a cabeça estava lá no futebol. Assim que saí da sessão, tremendo, não resisti e liguei o celular. E lá estava a mensagem da minha irmã. Estávamos classificados. Mas, amigos, acho que acertei na minha decisão de evitar aquele desgaste emocional: soube mais tarde que a partida fora, efetivamente, de fortíssimas emoções com expulsão, frango do goleiro, virada, pressão e o escambau. Mas, enfim, estávamos em outra final de Libertadores.
Morando no Rio de Janeiro, desde 2006, e não tendo presenciado ao vivo a primeira conquista continental do clube, já havia prometido, e tornado sabido a quem interessasse, que se o Inter fosse à final eu compraria minha passagem para assistir ao jogo no Beira-Rio para, desta vez, ver o meu time Campeão da América. E aqui entra a segunda explicação necessária: quando digo que compraria a passagem, o faria sem ter ainda o ingresso na mão, aliás, antes mesmo de terem começado a ser vendidos. Era o tipo da coisa que não interessava: quando abrissem as vendas pela internet eu compraria. É, isso se eu estivesse na frente do computador durante as poucas horas que os ingressos estiveram à venda. Acabaram em pouco tempo e além do mais, eu trabalhando na rua, só soube depois que as vendas haviam aberto e já encerrado. E então? O que fazer? Bom, para mim não havia dúvidas quanto ao que fazer. Era ir para Porto Alegre com uma boa quantia de dinheiro e dar um jeito de comprar o ingresso, custasse o que custasse.
Mas ainda tinha outro probleminha, o jogo caía numa quarta-feira e eu teria que dar um jeito de faltar ao trabalho. O que eu faria? Que desculpa inventaria? Nenhuma. Simplesmente cheguei para o meu chefe, que sabe o quento eu sou fanático, e disse: "Joaquim, eu podia inventar que estou com problemas pessoais, problemas de saúde, que um tio meu morreu, mas o negócio é que eu vou pra Porto Alegre pra ver a decisão da Libertadores". Foi menos doloroso do que eu podia pensar. Ele fez uma cara de que já imaginava e disse, "Tudo bem".
Embarcava eu então, no dia do jogo, poucas horas antes, para minha cidade para ver o meu Inter ser campeão. Eu precisava daquilo. Tinha passado por toda aquela seca dos anos 90, tinha presenciado o fracasso para o Bahia numa final de brasileiro e a derrota para o Olímpia numa semifinal de Libertadores. Eu tinha que ver um grande título no Beira-Rio. Até tinha visto o título da Copa do Brasil, ali, de pé na coréia, mas depois de tantas eliminações estúpidas ara times inexpressivos naquela competição, aquilo parecia quase um acidente de percurso, sem falar que é um título bem menos relevante, até mesmo no âmbito nacional.
Desembarquei no aeroporto Salgado Filho por volta das 17 horas, sem ingresso, sendo que o jogo seria às 22h, ou seja, dali a cinco horas. Peguei um táxi que me levaria à casa de um amigo que morava no Menino Deus, próximo ao estádio, que me serviria de base para trocar de roupa, deixar minhas coisas e dormir depois do jogo, e durante a viagem expus minha situação ao taxista, por sorte colorado, perguntando se conhecia alguém que, impossibilitado não pudesse ir ao jogo e quisesse vender o ingresso, se conhecia algum cambista, algum dono de camarote que estivesse disposto a colocar mais uma pessoa lá dentro por uma boa quantia, ou qualquer coisa do tipo. Ele, percebendo minha tamanha dsposição para entrar no estádio a qualquer custo, perguntou quanto eu estaria disposto a pagar pelo ingresso. Eu disse que tinha R$ 750, 00 dedicados apenas para isso e que este era o meu limite. Ele cresceu o olho! Se interessou mais ainda pela minha situação. Especulou então se desse um jeito de que eu conseguisse, se ganharia uma parte do dinheiro. Ora, para mim, o que importava ir ao jogo, assim, claro que concordei em dar-lhe 150 pratas se conseguisse. O cidadão então tentou de todas as maneiras: ligou para um, conversou com outro taxista pela janela, tentou negociar com um grupo que se dirigia para o estádio e...nada. Deixou-me na Rua Botafogo, eu sem o ingresso e ele sem sua participação. Eu ainda tinha um problema. Um grande problema.
Meu amigo, Giuliano, que não iria ao jogo, sabia da coisa toda e começou a fazer contatos. Um não tinha, outro também não, outro ia ver, até que ligou para a namorada dele na época, que tinha bons contatos e ia ver o que conseguia. O tempo passava a hora do jogo se aproximava e não tinha como entrar ainda, até que ela ligou. Conhecia um cara que talvez tivesse ingressos. Passou o número dele para que fizéssemos contato. Liguei. Ele tinha! "Quanto vai ser?" R$500,00. Feito! Não tive dúvidas. Me encontraria perto do estádio mais ou menos uma hora antes do jogo. Eu estava quase tranquilo. Parecia que tinha conseguido. mas só ficaria completamente calmo quando estivesse com o ingresso em mãos. Do apartamento do Giuliano, pertinho, fomos à pé, eu para minha decisão e ele só para acompanhar, curtindo toda aquela movimentação pré-jogo. As pessoas indo pro estádio, as ruas iluminadas de vermelho e branco, as bandeiras nas janelas, as buzinas festivas.
No pátio do estádio, tomamos umas cervejas, participamos de uma enquete de placar do jogo e numa hora combinada, fizemos novo contato com o cambista de modo a escolher um lugar para passar o ingresso onde não houvesse nenhum risco de sermos interceptados pela polícia. Mais um motivo para tensão. Mas fomos até o local então, perto do posto de gasolina onde por alguma descrição o identificaríamos. Encontramos o cara, paguei, me deu o bilhete, sempre aquela desconfiança de "será que não é falso?". "Não, cara, pode ficar tranquilo que isso é cortesia da Federação. Não dá nada.". Então tá. Me despedi do Giuliano, fui com a multidão, subi a rampa do estádio, passei o ingresso, girei a catraca e... Bom, o final da história todo mundo já sabe.


Cly Reis

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