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sábado, 6 de agosto de 2011

Madonna - "True Blue" (1986)


“A mais bacana Rainha da Ferveção"...
"Uma combinação escandalosa de Orfãzinha Annie, Margaret Thatcher e Mae West”…
“Narcisista, rebelde, cômica....a Deusa dos Anos Noventa...”
trechos de matérias da imprensa
no encarte
da coletânea "The Immaculate Collection"



"True Blue" de 1986, representa um marco e a primeira virada na carreira de Madonna Veronica Louise Ciccone. A partir dele, a "material girl" de roupinhas sensuais, temas pueris e vocais de menina, dava lugar a uma mulher e a uma artista que sabia o que queria e onde pretendia chegar. Começava a dar rumos e um sentido artístico real e relevante à sua carreira que desde o início tivera sucesso mas que carecia de ser tomada à sério pelo público. Não que tivesse abandonado a sensualidade, a ironia, nem o apêlo pop, mas a partir de "True Blue", notava-se pela primeira vez uma certa ousadia, uma pretensão musical, intenções,  e objetivos.
Avalizada pelo sucesso comercial de seus discos anteriores, Madonna passava a escrever suas letras e compor parte delas, co-produzindo inclusive o disco e dando sua cara ao trabalho. O resultado é um disco diferenciado no âmbito vigente do pop daquele momento. "Papa Don't Preach" que abre o disco já dá mostras disso com uma introdução imponente de cordas que desemboca numa canção bem estruturada apoiada numa letra segura e madura que trata sobre aborto e gravidez precoce. Aborto? Mas isso lá é tema que se aborde numa canção para fácil consumo? Era Madonna causando polêmica e novo, mas agora não apenas por causa da lingerie. Era o início de uma rotina de afrontas aos padrões que se repetiriam e fariam uma de suas principais marcas.
"La Isla Bonita" com seu ritmo latino cheio de percussões e balanço, com partes da letra cantada em espanhol; e a pouco convencional balada confessional, "Live To Tell", longa, funkeada e com um improvável intervalo, atestam ainda mais essa diferenciação de qualidade e de estrutura do álbum em relação a seus 'similares', marcante sobremaneira pela variedade de alternativas, pelas temáticas pouco usuais, pela instrumentação qualificada com um bom time que inclui o brasileiro Paulinho da Costa na percussão, e pela cuidadosa produção.
Outra das boas do disco, a dançante e alegre "Open Your Heart", é apenas uma canção pop convencional, mas inegavelmente muito legal e um dos clássicos da rainha; a canção que dá nome ao disco,"True Blue", faz retornar um pouco aos discos anteriores com um pop juvenil, bastante simplório, porém extremamente gostoso e simpático. A boa e embalada "White Heat" vem com referências cinematográficas interessantes como o diálogo sampleado do filme "Fúria Sanguinária" que abre a música; a dedicatória da mesma a James Cagney que fizera parte do filme; além de trazer na letra o famoso bordão do personagem Dirty Harry de Clint Eastwood, o clássico "make my day" . Tem ainda a boa "Where's the Party", a frenética "Jimmy, Jimmy" e a otimista "Love Makes the World Go Round" para fechar este belo disco.
Sei que muitos torcem o nariz para a Madonna colocando-a no mesmo barco de umas outras tantas que na verdade só balançam a bunda e correm atrás e tentam imitá-la, mas a verdade é que a loira tem uma produção musical bem mais consistente, interessante e ousada que as imitações. Madonna sempre, desde o "True Blue", está um passo à frente e sempre incorporando novos elementos, ainda que às vezes sutilmente, à música pop. Ouço com frequência que Madonna não sabe cantar, que as músicas são fracas e biririborobó... Mas o curioso é que aceita-se tão facilmente artistas do metal, do punk, etc., que não cantam nada, mas para os quais se ressalta com ênfase atitude como grande mérito; bandas que não produzem mais que três acordes ou composições minimalistas de mestres tidas como geniais, a quem  a simplicidade, a força, o impacto, são celebrados como grandes virtudes, e no entanto as mesmos predicados sejam minimizados ou ignorados nesta artista extremamente relevante para a música e para o comportamento do final do século XX.
A verdade é que em se tratando de atitude, impacto, enfrentamento, polêmica, pouca gente foi mais 'punk' que Madonna nos últimos tempos. É verdade que se utiliza da mídia e da posição conquistada para expôr suas ideias, estética, conceitos e tudo mais; mas não deixa de ser até mesmo a grande ironia disso tudo, utilizar-se destes meios e ao mesmo tempo miná-los e colocá-los à prova. Coisa de artista diferenciado, coisa de uma mulher à frente de seu tempo. Gostem ou não gostem, parece que não há como negar que Madonna já pode ser considerada uma das maiores personalidades da história e uma das grandes mulheres do nosso tempo.

FAIXAS:
1. Papa Don`t Preach
2. Open Your Heart
3. White Heat
4. Live to Teel
5. Where`s The Party
6. True Blue
7. La Isla Bonita
8. Jimmy Jimmy
9. Love Makes The World Go Round

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Ouça:
Madonna True Blue


Cly Reis

Um comentário:

  1. Falou e disse, Clayton. E digo mais: há uma dificuldade incrível de muitas pessoas em compreender a amplitude do trabalho da Madonna, bem nisso que tu disseste: de estar um passo à frente (não só musicalmente, mas em tendência, moda, em audiovisual). Parece de que não entra na cabeça das pessoas que se pode fazer arte e ser pop ao mesmo tempo (que acho, particularmente, extremamente difícil; é uma ponte de equilíbrio delicadíssima). Os que tendem ao pop, embora menos críticos, e por isso mais aceitativos, estranham aquela coisa meio "complexa" que ela faz e usam pra sacolejar o esqueleto, pois serve muito bem pra isso. Os "entendidos", não aceitam por preconceito mesmo (ou seria por não compreenderem também?...) Não é só a Madonna que sofre com isso. Michael é queridinho agora que morreu, mas era perseguido em tudo o que fazia. Roberto é associado a velha e gordinha, e se faz questão de esquecer que ele escreveu algumas das maiores músicas do século passado no Brasil.
    Quanto ao True Blue, outra sacadona da loira foi chamar o Nile Rodgers como parceiro e produtor. Puta sacada! Quem pensaria nisso? Assim, ela fez com o Leonard e o Orb noutros discos. A mulher sabe muito.

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