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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"Film Socialisme", de Jean-Luc Godard (2010)



Não concordo que "Film Socialisme" seja uma reinvenção de Jean-Luc Godard como li de alguns críticos. Frequentemente se vê na obra do diretor os mesmos elementos, a mesma condução, a mesma dialética, os mesmos recursos. Não precisamos alardear uma 'reinvenção' para justificar o alto nível e qualidade da última obra do diretor. Que ela é grandiosa, é, mas o é como muitas outras dele mesmo. Com diferenças, outros meios, outros olhos, mas ainda assim um Godard autêntico.  O que considero louvável neste, é ver JLG a estas alturas, aos 80 anos, ainda incomodado, incomodando e em grande forma, com uma saudável vitalidade artística.
Com um navio, num cruzeiro marítimo, sobre a água (ou seja, sem chão) o cara consegue conter o mundo inteiro e destruir fronteiras; e nisso, utilizando-se das mais diversas formas e recursos, constrói um manifesto artístico que abrange dinheiro, política, religião, etnias, ideologias. Depois, com uma família, com quatro pessoas numa propriedade semi-rural, disseca a história política da França, sua política desde suas origens até os dias de hoje unindo (ou desunindo) quatro gerações de cidadãos franceses e suas ideias. Só que em meio a tudo isso , entre um "capítulo" e outro, entre uma "viagem" e outra, deixa perguntas no ar: no que se transformou sua França?, no que se tranformou a Europa?, no que nos transformamos?
"Film Socialisme" é um turbilhão de imagens e sons que vão compondo uma sinfonia cinematográfica que, de maneira aparentemente desordenada, mas sutilmente coordenada, vai botando o dedo nas feridas mais fundas da sociedade contemporânea. Entre cortes abruptos, diálogos inacabados, imagens desfocadas, barulhos ensurdecedores, Godard vai pontuando os temas e conduzindo aquele "caos" magistralmente como só um grande mestre do cinema poderia fazer. E, a propósito disso, no caso de Godard, quando se fala em DIRIGIR, pode-se tomar o termo literalmente, pois através de suas frases "jogadas" na tela intercalando partes, episódios, momentos, ele vai nos conduzindo e ensinando a ver seu filme.
Mestre! Mestre!
Fazia tempo que não via um Godard e  felizmente este reencontro foi para mim extremamente compensador.


Cly Reis

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