Curta no Facebook

sábado, 13 de novembro de 2010

Jorge Ben - "A Tábua de Esmeralda" (1974)



"É VERDADE
SEM MENTIRA
CERTO MUITO
VERDADEIRO"


Por diversas vezes já li por aí que seria este o maior disco da música brasileira.
É provavelmente o disco mais declaradamente influente na discografia nacional: canso de ver, ler, ouvir artistas dos mais variados dizerem que este, "A Tábua de Esmeralda"  fora o disco que mais influenciara seus trabalhos: Samuel Rosa do Skank, Fred 04 do Mundo Livre S.A., Falcão dO Rappa, Mano Brown dos Racionais, e por aí vai.
Talvez o disco brasileiro que mais tenha causado aquela vontade de tocar, de ter uma banda, de fazer um som, provavelmente por conter toda aquela brasilidade, aquele swing, aquele balanço, mas com uma linguagem (incrivelmente) tão universal, com todo aquele rock, com doses de reggae, de funk, de soul e tudo mais de todos os ritmos negros possíveis.
Depois de uma estréia incrível com o ótimo "Samba Esquema Novo", Jorge Ben meio que se repetiu na sequência com “Ben é Samba Bom” e “Sacudin Ben Samba”, e mesmo mantendo um nível de qualidade bastante interessante, não apresentou nada de muito impressionante nos discos seguintes, exceção feita, na minha opinião a “Ben” de 1972, que também merece destaque especial. No entanto, sua evolução era notória, era gradual, e agregando um elemento daqui, outro dali, experimentações, influências, experiência musical, em 1974, com “A Tábua de Esmeralda”, Jorge atingia então um patamar superior na sua obra e na música brasileira como um todo.
Sob a luz de suas novas descobertas e estudos acerca de misticismos, escritos antigos, alquimistas, santos, magos e outros assuntos metafísicos, o ‘sambista-roqueiro’ concebia então um álbum verdadeiramente mágico. Uma obra criativa, coesa, refinada e de uma sofisticação que talvez nem ele mesmo tivesse noção naquele momento. 
A produção é mais trabalhada e detalhada que nos discos anteriores, em parte, até para transmitir uma sensação etérea, algo cósmica, com ecos e efeitos; mas não se limitava a isso: há cordas em várias canções, os côros tem uma orientação direcionada ao que se pretende de cada sonoridade, o violão de Jorge Bem soa diferente a cada faixa. É primoroso.
O disco abre com “Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas” e seu côro condutor marcante, num samba bem no seu estilo característico com aquela levada forte do violão mas já com uma letra que dá a tônica do disco: o lado místico do universo. O assunto ronda praticamente todo o disco, desde a capa com gravuras que o alquimista Nicolas Flamel encontrou no livro de Abraão, passando por uma citação ao título do livro de Erich Von Däniken, “Eram os Deuses Astronautas?” na faixa “Errare Humanun Est”, ou por uma letra adaptada de um escrito antigo que o faraó Hermes Trismegisto teria feito em uma lâmina de esmeralda, gerando uma inusitada 'parceria' do músico com o tradutor da tábua, o alquimista Fulcanelli como letrista, por assim dizer; ou ainda mesmo em faixas que aparentemente não tem nada a ver com a coisa toda, como a excelente “O Homem da Gravata Florida”, que reverencia o alquimista Paracelso.
Mas fora a coisa toda de misticismo, esoterismo e coisa e tal, é mesmo musicalmente que o álbum manda ver: “Menina Mulher da Pele Preta”, uma das grandes do disco é um daqueles sambas sensuais que o cara sabia fazer como poucos; a já citada "Errare Humanum Est" vai num crescendo mágico até finalizar num ápice de cordas acompanhado de uma contagem regressiva pra subir pro espaço; “O Namorado da Viúva” é um sambinha irreverente e gostoso também bem típico dele assim como a delicada “Magnólia” que traz um saboroso refrão. “Zumbi”, uma de suas melhores letras, é um samba cheio de swing também contando com arranjo de cordas e com uma retaguarda vocal bem bacana que dá peso e força à música; a genial “Brother” é um funk cadenciado com toques de gospel e uma letra num inglês tão tosco que faz de uma música que tinha tudo pra ser apenas uma cópia de estilos americanos, torne-se algo extremamente original; e o disco fecha em grande estilo com a melancólica “Cinco Minutos (5 Minutos)” com uma interpretação fantástica, inspirada e emocionante de Jorge, com um violoncelo choroso criando toda uma atmosfera de despedida. Grand finale!
Um dos discos mais IMPORTANTES da música brasileira e um dos melhores dela. Um dos poucos que é praticamente unanimidade entre público, críticos e músicos. Infelizmente nem todos que o ouviram, se inspiraram nele, conseguiram fazer algo de bom: o tal samba-rock se popularizou e vulgarizou e no fim das contas virou um balaio de gatos só. Mas se existe tal termo e se tem alguém que possa merecer ser considerado mestre na matéria é Jorge Ben, e um disco que simbolize toda sua qualidade e criatividade, é "A Tábua de Esmeralda".
Alquimia pura!
********************************
FAIXAS:
  1. Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas
  2. O Homem da Gravata Florida (A gravata florida de Paracelso)
  3. Errare Humanum Est
  4. Menina Mulher da Pele Preta
  5. Eu Vou Torcer
  6. Magnólia
  7. Minha Teimosia, Uma Arma para te Conquistar
  8. Zumbi
  9. Brother
  10. O Namorado da Viúva
  11. Hermes Trismegisto e sua Celeste Tábua de Esmeralda (Tratado Hermético Escrito Pelo Faraó Egpicio Hermes Trimegisto e Traduzido Por Fulcanelli)
  12. Cinco Minutos (5 minutos)
*************************************
Ouça:
Jorge Ben A Tábua de Esmeralda


Cly Reis


2 comentários:

  1. Achei o máximo ver Jorge Ben cantando com Tim Maia. O namorado da viuva também é muito bom. Iara.

    ResponderExcluir
  2. Grande Tábua de Esmeraldas. O próprio "Babulina" considera este o seu melhor trabalho. Todas são fantásticas. "Eu vou torcer", por exemplo, daquelas letras simples e quase infantis do Jorge Ben, mas muito belas. Não é pra menos. "Os Alquimistas...", "Namorado da Viúva" e "5 Minutos" matam a pau, mas eu AMO "Brother". É bem como tu disseste: só o Jorge Ben pra fazer um gospel tão característico. Só ele faria aquela música. A coisa da produção cuidadosa do Tapajós é bem evidente nesta música, porque ela soa crua, basicamente vozes, violão e aquela batida seca, roots mesmo, bem diferente, por exemplo, da fineza de "5 Minutos" ou a coisa bem moderna de "Os Alquimistas...". Até gosto bastante de outros discos do Jorge Ben anteriores ao "Tábua..." que não só o "Samba Esquema Novo" e o "Ben" (tem o "Big Ben" e o "Jorge Ben" de 1969, primeiro com Trio Mocotó que admiro pra caramba"), mas é fato que depois do "Tábua..." ele entrou numa fase inspiradíssima, madura, com o "Solta o Pavão" e o "África-Brasil", principalmente. Muito bala".
    "Tem que dançar dançando".
    Dã.

    ResponderExcluir