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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Abraços Partidos" de Pedro Almodóvar (2009)




Eu, sendo um daqueles que fica indignado quando vai ao cinema e assiste uma porcaria tão grande a ponto de ter a impressão de ter desperdiçado duas horas da vida e ter jogado algumas notas de Real numa fogueira, fui assistir "Abraços Partidos" do Almodóvar sem muito interesse, mas exatamente porque, de uma forma ou de outra, a gente sabe que Almodóvar nunca é um lixo e era provável que mesmo sem empolgação no programa, não desejasse cortar os pulsos ao final da sessão.
Pois foi mais ou menos isso. O filme tem as qualidades que o diretor espanhol sempre mostrou, a estética, algumas antigas características de filmagem, outras novas incorporadas e no conjunto acaba-se digerindo bem; mas não posso esconder que desde que o diretor caiu na linha mais melodramática agradou-me menos e este, em especial, é bem característico desta fase atual.
Acho que deixei (ou reduzi) de ver seus filmes exatamente a partir do que dizem ser seu GRANDE filme, "Tudo sobre minha mãe"; também não vi o seguinte, "Fale com Ela", até dei uma chance a "Maus Hábitos" e simplesmente fui ao cinema como companhia para assistir "Volver". Na ânsia de explicar, exorcizar, se entender, externar aspectos de sua infância, seu homessexualismo, sua religiosidade, Almodóvar vai ficando cada vez mais chato nas suas temáticas e roteiros com fundos autobiográficos viram novelões.
"Abraços Partidos" é assim. É um "eu amo outro" pra cá, "fulano é seu filho" pra lá", "guardei isso por anos na consciência" acolá, num roteiro estapafúrdio que, bem como a história que o personagem roteirista Harry Caine, elabora com o rapaz que lhe faz companhia, Diego, parece fruto de um entusiamo repentino e incontido lançado para o papel deixando-se levar pela próxima idéia e pela próxima e pela próxima. O resultado são clichês de ações, personagens, revelações forçadas fora de hora, choradeira e romancezinho piegas. Talvez fosse mais interessante se ele realmente filmasse a história proposta na conversa com o garoto, um filme absurdo de vampiros chamado "Doa Sangue" pois ao menos teria-se justificado esta despreocupação com a qualidade do texto e certamente seria mais engraçado.
Principalmente é disso que sinto falta em Almodóvar: ele era divertido. E acho que dirigia melhor seus filmes quando era assim mais alegre, mais vivo e menos rançoso. É lógico que ainda hoje coloca situações engraçadas nas histórias, tem diálogos sagazes e faz uso de seus figurinos exagerados e cores vibrantes mas isso parece às vezes vir, assim, quase que como um resquício, uma sombra; algo só pra que não reste dúvidas de que trata-se de um filme seu.
De minha parte, verdadeiramente, ainda que não de todo desagradado, saí do cinema com vontade mesmo de ter visto o filme-dentro-do-filme "Garotas e Malas" que o protagonista Harry Caine havia filmado. Aquilo sim, era o velho Almodóvar. Talvez seja um sinal de que ele volte e filmar assim. Tomara!


Cly Reis


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